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Plano de resgate emergencial para a Grécia: uma nova
etapa na crise econômica mundial
Por Stefan Steinberg
21 de abril de 2010
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A crise econômica provocada pela falência do Lehman
Brothers em 2008 está entrando numa nova fase, visto que
nações européias se apressaram para organizar
o primeiro resgate da história de um país-membro
da União Européia. Os incansáveis esforços
durante o fim de semana para improvisar um pacote de resgate europeu
para a Grécia, em colaboração com o Fundo
Monetário Internacional, ocorreu após intensa pressão
das agências de notação e intensa especulação
dos comerciantes que apostam que o governo grego não pagaria
suas dívidas.
O plano de emergência europeu para a Grécia representa
uma inversão substancial do acordo feito na cúpula
da UE há apenas duas semanas. Na reunião em Bruxelas
no final de março, os chefes de Estado europeus concordaram
com a proposta impulsionada pelo governo alemão para evitar
um resgate da economia grega. Na cúpula, a delegação
alemã, liderada pela chanceler Angela Merkel, ofereceu
uma garantia para o governo grego, com a condição
de pagar taxas de juros punitivas para o reembolso da sua dívida,
deixando claro que qualquer ajuda seria dada apenas como um "
último recurso ".
A posição imposta pela Alemanha foi equivalente
a declarar que a Europa não ofereceria condições
mais favoráveis para a Grécia do que aquelas atualmente
disponíveis para os mercados financeiros internacionais.
O objetivo das duras condições exigidas pela
Alemanha foi maximizar a pressão sobre o governo grego
para continuar seu programa de cortes de gastos severos e medidas
de austeridade, com o objetivo de convencer os bancos a oferecerem
crédito para Atenas a uma taxa mais favorável. A
Alemanha também queria enviar um claro alerta aos outros
países europeus altamente endividados Espanha, Irlanda,
Portugal, Itália de que não haveria dinheiro
fácil a partir de Bruxelas.
Esses cálculos desapareceram no espaço de duas
semanas com a intensificação da crise, o que obrigou
os ministros das finanças europeus a chegarem a um pacote
de emergência destinado a apaziguar os bancos internacionais
e fundos de hedge. Confrontado com o colapso da economia
grega e a potencial dissolução da moeda européia,
o governo alemão sinalizou, com relutância, o seu
consentimento ao plano europeu.
Na semana passada, agentes financeiros gregos viajaram a Washington
para incitar os bancos americanos a comprar títulos gregos.
O governo social-democrata do primeiro-ministro George Papandreou
pediu por ajuda como um "mercado emergente", salientando
que podia contar com os sindicatos do país para reprimir
a resistência da classe operária e ajudar a impor
as medidas austeridade.
Wall Street deu de ombros a essa iniciativa. Papandreou, em
seguida, realizou uma série de reuniões com os funcionários
europeus visando desenvolver uma rede de segurança para
a economia grega.
Após um aumento explosivo da taxa de juros dos títulos
do governo grego, chegando a mais de 7% em 8 de abril, a bolsa
de valores grega entrou em um pânico de vendas, com ações
dos bancos gregos caindo vertiginosamente. Um jornal grego falou
sobre a "quinta-feira negra" no mercado de Atenas, enquanto
o jornal Independent afirmou que a crise financeira grega
tornou-se "nuclear".
O pânico de vendas de quinta-feira estendeu-se para a
maioria dos mercados de bolsas europeus. Temendo um pânico
financeiro em larga escala e um ataque à moeda do euro,
o presidente do banco central europeu, Jean-Claude Trichet afirmou
que a UE não iria permitir a inadimplência da Grécia.
O declínio do mercado de ações foi acompanhado
por uma crescente corrida aos bancos gregos por depositantes preocupados,
além de um movimento crescente de retirada de fundos da
Grécia pelas camadas mais ricas do país.
Ao mesmo tempo, a agência de notação Fitch
cortou as notas de risco de crédito de longo prazo da Grécia
em moeda estrangeira e local de BBB+ para BBB -. Ela também
cortou sua nota de risco de crédito de cinco bancos, incluindo
o Banco Nacional da Grécia. Segundo um comentarista, o
rebaixamento da Grécia sobre os mercados internacionais
de dinheiro agora a coloca em igualdade com o Iraque.
A França e Itália lançaram um apelo por
um pacote de emergência para evitar a inadimplência
grega. Após reuniões com o primeiro-ministro italiano
Silvio Berlusconi na sexta-feira, o presidente francês Nicolas
Sarkozy anunciou que a UE estava disposta a implementar um plano
de ajuda à Grécia.
Em uma forma que lembra a enxurrada de reuniões que
ocorreram na véspera do colapso do Lehman, em setembro
de 2008, chefes de governo, ministros das finanças e banqueiros
trabalharam freneticamente para surgir com algo que poderia ser
anunciado antes da abertura dos mercados mundiais na segunda-feira
de manhã.
Os principais detalhes do plano, como relatados até
agora, envolvem um empréstimo de 30 bilhões
da UE com taxas de juros de cerca de 5%. Essa taxa é inferior
aos 7% atualmente exigidos pelos bancos pelos títulos de
longo prazo gregos, mas muito maiores do que a taxa paga pela
maior economia da Europa, a Alemanha (3%).
Salientando que o futuro do euro estava em jogo, o investidor
bilionário George Soros disse à Radio Bloomberg
em 9 de abril que aos gregos "deve ser dada alguma ajuda
da Europa ou do FMI com taxas concessivas. ... É o momento
para o Euro resistir ou quebrar e é uma questão
de se a vontade política para manter a Europa unida existe
ou não. "
A decisão de resgatar a Grécia tem profundas
implicações econômicas e políticas.
Em primeiro lugar, estabelece um precedente para outras economias
européias em uma situação similar para pedir
pela assistência financeira das economias mais fortes da
Europa.
O fato é que, no entanto, todas as nações
européias, incluindo as maiores economias, Alemanha e França,
são confrontadas com enormes dívidas estaduais e
estão tentando impor os seus próprios programas
de austeridade severos, a fim de recuperar os enormes montantes
gastos para socorrer seus respectivos sistemas bancários.
Os bancos, que receberam trilhões em fundos públicos,
estão agora ditando os termos pelos quais a classe operária
européia deve pagar pela crise.
O plano de emergência para a Grécia não
trará alívio para a população trabalhadora.
Um plano similar da UE-FMI já foi imposto no pequeno Estado-membro
da UE, a Letônia. O governo letão impôs o programa
de austeridade mais duro da Europa, que consiste em cortes no
valor de dez por cento do produto interno bruto do país.
O Estado reduziu os salários dos funcionários públicos
em até 45%, aumentou os impostos, cortou aposentadorias
e assistência para as crianças, e agora tem o maior
nível de desemprego na Europa, mais de 20%.
A elite dominante de toda a Europa está unida em sua
determinação para assegurar que todo o peso da crise
seja transferido para as costas da classe trabalhadora, mas como
a crise econômica está cada vez mais fora de controle,
os interesses do Estado nacional e as rivalidades vêm cada
vez à tona. Discorrendo sobre a divisão crescente
entre a Alemanha e seus vizinhos europeus, o colunista do Financial
Times, Martin Wolf comentou recentemente: "Existe uma
maneira satisfatória de resolver o dilema? Nenhuma que
eu possa ver. Isso é realmente assustador. "
Duas coisas, em particular, tornaram-se claras com o desenvolvimento
na Europa nas últimas duas semanas. Em primeiro lugar,
o discurso de uma recuperação global da crise que
irrompeu em 2007-2008 não tem fundamentos sérios.
A economia mundial permanece equilibrada no fio da navalha de
um novo pânico financeiro e de uma recessão ainda
mais profunda.
Nada foi resolvido. Em vez disso, a falência de grandes
bancos tem sido descarregada nos governos nacionais, produzindo
uma crise sem precedentes de dívida soberana que pode propagar
facilmente dos chamados países periféricos como
a Grécia para as grandes potências, incluindo França,
Grã-Bretanha e os EUA.
Em segundo lugar, não há qualquer perspectiva
de uma estratégia coerente acordada internacionalmente
para gerir a crise de uma forma não-tumultuada e pacífica.
Em vez disso, a contradição fundamental entre a
economia mundial e o sistema de Estado-nação uma
contradição intrínseca ao capitalismo
está se afirmando com virulência cada vez maior.
A postura agressiva da Alemanha e as crescentes divisões
dentro da Europa estão entre as expressões mais
graves deste desenvolvimento global.
Esses desenvolvimentos reforçam a urgência da
unificação progressiva da Europa através
da mobilização unificada e revolucionária
da classe operária, com base num programa socialista para
a nacionalização dos bancos e grandes indústrias
sob o controle democrático da classe operária.
(traduzido por movimentonn.org)
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