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Grã-Bretanha: campanha eleitoral tem foco na economia

Por Jordan Shilton
14 de abril de 2010

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Depois de meses de especulação, o primeiro-ministro britânico Gordon Brown finalmente anunciou na terça-feira que uma eleição geral será realizada em 6 de maio. A votação tem sido descrita como uma das mais imprevisíveis em muitos anos, sendo considerado como resultado provável um parlamento dividido.

Brown tentou jogar com o medo dos eleitores sobre o futuro econômico da Grã-Bretanha, afirmando que ele tem firmeza para guiar o país através de seus problemas financeiros. Ele alegou ser "um dentro de uma equipe" de políticos experientes, acrescentando que a recuperação econômica da Grã-Bretanha não deve ser ameaçada por um voto para os conservadores.

As diferenças entre os trabalhistas e os conservadores são apenas uma questão de ritmo. Brown defende gastos contínuos do governo a curto prazo para evitar um chamado “mergulho duplo” recessivo (double dip recession). A Grã-Bretanha foi uma das últimas entre as grandes economias a sair da recessão no ano passado, com crescimento no quarto trimestre de 0,4%, marcando o primeiro período de expansão desde a crise bancária de 2008.

Mas, com um déficit orçamental de cerca de 12% do produto interno bruto (PIB), os trabalhistas comprometeram-se a reduzir a lacuna em 50% durante o mandato do próximo parlamento, o que exigirá cortes de gastos profundos. Embora tenham procurado manter esses planos em segredo até depois da eleição, as estimativas sugerem que uma redução de despesas dessa magnitude exigirá cortes no orçamento departamental de entre 10% e 20% nos próximos quatro anos.

Tanto os trabalhistas quanto os conservadores estão tentando camuflar o inevitável programa de cortes com o qual ambos os partidos estão comprometidos.

Brown vem tentado enfatizar suas origens de "classe média" e sua suposta preocupação com o cidadão britânico “comum” com visitas arranjadas a vários locais de trabalho.

O líder conservador David Cameron afirma ser o representante dos “grandes esquecidos” da sociedade britânica, o contribuinte cumpridor da lei. A tentativa de refazer a imagem do seu partido como mais "compassivo" e "cuidadoso" tem sido um tema constante da liderança de Cameron. Nos últimos dias ele tem se concentrado em trabalhar a mensagem de um partido conservador “moderno”, que poderia oferecer aos eleitores "esperança, otimismo e mudança.”

Por trás de tal retórica, a oposição tem insistido que os cortes de gastos devem ser implementados mais rapidamente, começando logo que ocuparem o cargo em 7 de maio. Eles criticaram os trabalhistas por sua incapacidade de controlar a crescente dívida do Estado, que atualmente é de mais de £160 bilhões.

George Osborne, provável chanceler de um governo dos conservadores, denunciou um plano dos trabalhistas para aumentar as contribuições nacionais de seguridade em 1% para os empregadores, dizendo que os cortes de gastos devem ser favorecidos em detrimento do aumento de impostos.

Opiniões semelhantes foram expressas em uma carta assinada por 38 líderes empresariais, a Confederação da Indústria Britânica (CBI), e diversas figuras anteriormente vistas como simpatizantes dos trabalhistas.

A Câmara de Comércio Britânica (BCC), em um relatório divulgado para coincidir com o início da campanha eleitoral, pediu que qualquer novo governo redirecione o peso da dívida do Estado dos negócios para as costas dos trabalhadores com baixos salários, aumentando os níveis dos impostos indiretos.

David Frost, diretor geral da BCC, declarou: "Seja qual for o resultado da eleição geral, um novo governo deve evitar os impostos corporativos adicionais que poderiam sufocar a recuperação. Nos primeiros 90 dias de uma nova administração, o aumento de 1% nas contribuições patronais para a Seguridade Social, previsto para 2011, deve ser descartado e substituído por um aumento menos prejudicial de 1% no IVA".

Esse apoio da comunidade empresarial surge na seqüência de uma carta assinada em fevereiro por 20 economistas em apoio à solicitação dos conservadores por um corte mais rápido no déficit orçamental da Grã-Bretanha. A carta advertia que, se o próximo governo não indicasse a forma pela qual o déficit orçamental seria cortado e fizesse disso a sua maior prioridade, os investidores internacionais perderiam a confiança na capacidade de crédito da Grã-Bretanha. As empresas de avaliações internacionais têm indicado que o status AAA de Londres poderá ser prejudicado caso a dívida de Estado não seja mantida sob controle depois da eleição de 6 de maio.

Mas os trabalhistas também contam com o apoio de uma parte significativa das instituições financeiras, que temem que impor cortes muito rapidamente poderia precipitar um despencar econômico. Mais de 60 economistas assinaram uma carta solidarizando-se com o chanceler Alistair Darling e a intenção dos trabalhistas de retardar cortes iminentes no orçamento até 2011, quando a recuperação econômica estará supostamente segura. Como a carta disse, "Para o bem do público britânico —e para a sustentabilidade fiscal— a prioridade deve ser a restauração do crescimento econômico".

Durante os últimos 13 anos, os trabalhistas têm se mostrado totalmente subservientes à elite financeira, tendo cortado qualquer relação que tinham com a classe trabalhadora. Têm mantido muitas das reformas introduzidas pelos governos de Thatcher e de outros conservadores nos anos 1980 e 1990, expandiram a privatização dos serviços públicos e a desregulamentação da indústria, e criaram o que tem sido descrito como um paraíso fiscal interior para operações bancárias na Cidade de Londres. A desigualdade social está agora em níveis jamais vistos desde a Grande Depressão dos anos 30.

Recentemente o Financial Times observou: "A sombra ameaçadora dos cortes de gastos públicos dá aos eleitores poucos motivos para pensar que sua sorte vai melhorar. O déficit fiscal do Reino Unido é de 11,1% da produção nacional. Mesmo os planos vagos dos trabalhistas para corrigir esse desequilíbrio implicam em cortes nos orçamentos departamentais de 11,9% ao longo de um parlamento ".

Estudos recentes indicam que a posição econômica da Grã-Bretanha é cada vez mais precária, com comparações já feitas com a Grécia. O déficit orçamentário desta é comparável ao do Reino Unido, e as notícias de que o ágio da dívida grega subiu provocou a preocupação de que a Grã-Bretanha esteja indo na mesma direção.

Jonathan Loynes, do Capital Economics advertiu: "As pessoas não estão colocando o Reino Unido exatamente na mesma posição da Grécia, mas ainda há muita incerteza sobre que tipo de ação vai ser tomada e quando tentar obter o controle sobre as finanças do Reino Unido”.

O Banco de Compensações Internacionais (BIS) previu esta semana que os pagamentos de juros sobre a dívida pública da Grã-Bretanha dobrariam de 5% para 10% em uma década, um cenário que é pior do que o da Grécia. O Banco reclamou que a proposta dos trabalhistas para reduzir o déficit orçamental em 1,3% nos próximos três anos seria insuficiente para resolver este problema. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), enquanto isso, revisou para baixo as previsões de crescimento econômico no primeiro trimestre, projetando uma taxa de crescimento de 0,5%.

O mercado reagiu negativamente ao início da campanha eleitoral e à notícia de que uma vitória dos conservadores já não era tão certa como parecia há alguns meses. Uma pesquisa publicada no Guardian deu aos conservadores apenas quatro pontos de vantagem sobre os trabalhistas, que, segundo o sistema eleitoral britânico, não seriam suficientes para garantir-lhes uma maioria parlamentar. A libra caiu frente ao dólar em mais de 0,2% na terça-feira, e esta tendência deve continuar.

Como o Wall Street Journal observou: "Os investidores tiveram poucos motivos para discriminar entre o euro e a libra esterlina até agora neste ano: ambas cairam em torno de 6,3% em relação ao dólar. Mas a eleição do Reino Unido, anunciada há tempos, e agora finalmente confirmada para 6 de maio, pode mudar o quadro — embora talvez não à favor da libra esterlina".

Em qualquer parlamento dividido, os democratas liberais poderão ser convocados a entrar em uma coligação com um dos principais partidos para garantir a maioria. Apesar das várias pequenas reformas no Parlamento e o convite para abandonar o sistema eleitoral majoritário no Reino Unido, os liberais são praticamente indistinguíveis dos trabalhistas e dos conservadores, com o líder do partido, Nick Clegg, pedindo "cortes brutais".

(traduzido por movimentonn.org)

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