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Nada de "recuperação econômica"
para a classe trabalhadora
Por Barry Grey
14 de abril de 2010
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O relatório de desemprego dos EUA apresentado na última
sexta-feira, que mostrava um ganho líquido de 162 mil postos
de trabalho em março, foi apropriado pela administração
Obama e por grande parte da mídia como uma confirmação
das afirmações oficiais de que a recessão
acabou e que a recuperação do mercado de trabalho
começou.
Chamando o relatório do Departamento do Trabalho de
"a melhor notícia no front dos empregos em mais de
dois anos", o presidente Obama disse: "estamos começando
a dobrar a esquina". O New York Times começou
seu relato sobre os dados do mercado de trabalho com as seguintes
palavras: "as nuvens foram embora".
Se olharmos mais de perto para as estatísticas, porém,
as conclusões são bem menos otimistas. O ganho líquido
de postos de trabalho não-agrícolas foi muito menor
do que os 200-300 mil antecipados pela maioria dos economistas.
Além do mais, 88 mil das novas contratações
eram temporárias - incluindo 48 mil realizadas para executar
a pesquisa de censo dos EUA.
A assim chamada taxa de subemprego, que inclui aqueles que,
contra a própria vontade, trabalham meio período
e os que desistiram de procurar emprego, subiu para 16,9%, o terceiro
aumento mensal consecutivo. As fileiras de trabalhadores buscando
empregos de tempo integral e forçados a trabalhar no regime
de meio período aumentaram para um nível assustador
de 9,1 milhões de pessoas.
Talvez mais ameaçador, o número de desempregados
de longo prazo - os demitidos há pelo menos 27 semanas
- aumentou em 414 mil alcançando a marca de 6,5 milhões
de pessoas. Esta classificação abarca mais de 40%
dos trabalhadores desempregados, uma porcentagem bem mais alta
do que a da profunda recessão de 1981-82. A taxa média
de duração do desemprego aumentou para 31 semanas
em março, o patamar mais elevado já registrado em
mais de seis décadas.
O salário médio por hora continua em declínio
acentuado.
No vigésimo sétimo mês de uma recessão
que eliminou mais de 8 milhões de empregos, a economia
dos EUA produziu menos empregos em período integral do
que o necessário para acompanhar o crescimento mensal normal
da disponibilidade de força de trabalho. Apesar de uma
ligeira elevação nos setores de manufatura e construção
- após meses de contração - o relatório
mostra uma economia afundada na lama e sem qualquer perspectiva
de redução do desemprego aos níveis pré-crise.
Na medida em que um pequeno aumento na produção
ocorreu na economia real, ele esteve sempre ligado a um ataque
massivo contra os empregos, salários, benefícios
e padrões de vida da classe trabalhadora. A classe dominante,
com a liderança da administração Obama, está
usando a crise econômica para implementar uma redução
permanente das condições de vida dos trabalhadores.
Parâmetros novos e mais rebaixados estão sendo
estabelecidos para salários e condições de
trabalho e vêm para ficar. Não são temporários.
Sobre tal base, os lucros corporativos foram às alturas,
apesar do desemprego de quase dois dígitos e da redução
do consumo.
A deterioração da posição social
da classe trabalhadora é evidenciada principalmente pelas
estatísticas de produtividade. No quarto trimestre de 2009,
quando o produto interno bruto dos EUA cresceu 5,6%, a produtividade
- quantidade de produção espremida de cada trabalhador
- subiu a uma taxa anual de 6,9%. Os custos da força de
trabalho tiveram uma queda acentuada de 5,9%. O salário
por hora ajustado de acordo com a inflação mostrou
queda de 2,8% em relação ao trimestre anterior.
Os números documentam uma subida brusca na intensidade
da exploração da força de trabalho.
Outra indicação do caráter de classe da
assim chamada recuperação é a divergência
entre o PIB e a medida da renda nacional - conhecida como renda
interna bruta. No terceiro trimestre de 2009, a renda interna
bruta ainda estava em contração, mesmo enquanto
o PIB aumentava em 2,2%. O atual rombo entre o PIB e a renda interna
bruta é o maior já registrado.
Essa divergência estatística aponta que a atual
recuperação é fundamentalmente arraigada
nos lucros corporativos e na riqueza da classe dominante, enquanto
os padrões de vida da vasta maioria dos americanos continuam
a cair. É uma recuperação na qual divisões
de classe e desigualdade social estão se ampliando.
Isso também é sugerido pela lista dos 30 presidentes
corporativos mais bem pagos publicada no domingo pelo New York
Times. Dez deles presidem empresas que registraram declínios
de rendimento e renda líquida em 2009, mas ainda assim
obtiveram ganhos de "retorno total" - uma medida ligada
às variações dos preços das ações
de uma companhia. Quase todos os presidentes tiveram um aumento
de seus pagamentos com relação a 2008.
O "sucesso" dessas corporações, e de
seus chefes executivos, deu-se principalmente com base em medidas
de corte de custos que, mesmo em face da redução
dos ganhos e renda, impulsionaram os preços das ações
das firmas. Isso fornece uma imagem do grau em que a "recuperação"
se baseou em enxugamentos implacáveis, cortes salariais
e aumento da intensidade do trabalho.
Alguns exemplos:
* O terceiro presidente corporativo mais bem pago, Ray R. Irani
da Occidental Petroleum, recebeu $31,4 milhões, um aumento
de 39%. Sua firma sofreu uma queda de 37% no rendimento, um declínio
de 57% na renda líquida, mas um aumento de 38% no retorno
total.
* Susan M. Ivey, número 27 da lista, conseguiu um aumento
de 84% em seu pagamento, que atingiu $16,2 milhões. Sua
empresa, Reynolds American, registrou declínios de rendimento
e renda líquida de 5% e 28%, respectivamente, enquanto
o retorno total da companhia subiu 40%.
* Andrew N. Liveris da Dow Chemical, número 28 da lista,
recebeu $15,7 milhões, um aumento de 23%. A renda de sua
companhia caiu 22%, e a renda líquida caiu 61%, mas o retorno
total deu um salto de 87%.
Ao lado dos cortes nos custos e aumento da exploração
da força de trabalho, a recuperação foi sustentada
por resgates governamentais aos bancos e um suprimento virtualmente
ilimitado de crédito barato pelos bancos centrais dos EUA
e do resto do mundo. Isso elevou os preços das ações
de maneira desconectada com relação ao estado da
economia real e catalisou excessos especulativos ainda maiores
que os que precipitaram o crash financeiro de 2008. Nas
semanas recentes, por exemplo, vimos um crescimento explosivo
do mercado de títulos de alto risco.
Longe de resolver as contradições subjacentes
do capitalismo mundial, essa pilhagem dos recursos públicos
intensificou-as. Desequilíbrios massivos e estruturais
no cenário da economia global - particularmente entre países
deficitários, liderados pelos EUA, e países exportadores,
superavitários, liderados pela China e Alemanha - foram
ampliados e intensificados.
Enfrentando níveis recordes de endividamento público
e déficits orçamentários, os EUA procuram
elevar suas exportações à custa de seus rivais.
Mas todos os outros grandes países deficitários
fazem o mesmo, enquanto nações superavitárias
como China e Alemanha defendem com unhas e dentes seus mercados
de exportação. Simultaneamente, a pilhagem dos recursos
estatais em prol do resgate à elite financeira aumentou
a pressão por medidas de austeridade draconianas que reduzam
os gastos governamentais. Isso, por sua vez, pode apenas aprofundar
a queda no consumo, tornando a competição entre
países por mercados de exportação cada vez
mais feroz e aumentando a probabilidade de guerras comerciais
e monetárias abertas.
A administração Obama, que jurou dobrar as exportações
dos EUA em 5 anos, parece basear sua estratégia econômica
em puxar para baixo os custos da força de trabalho, de
modo que a manufatura dos EUA possa ser ao menos parcialmente
revivida enquanto um centro de mão-de-obra barata para
produtos de exportação.
Sob condições de desemprego em massa de longo
prazo, salários em queda, miséria crescente, número
recorde de falências individuais e escalada na execução
de hipotecas, toda a economia cada vez mais lembra um castelo
de cartas. O ressuscitar do mercado imobiliário, que é
chave para qualquer recuperação verdadeira, parece
altamente problemático com a expectativa de que as execuções
de hipotecas aumentem de 1,7 milhões em 2009 para 2,2 milhões
neste ano.
Para a classe trabalhadora, não existe qualquer possibilidade
de recuperação real dentro dos quadros do sistema
capitalista. Para reverter as condições sociais
cada vez mais brutais de exploração e pobreza, ela
precisa organizar sua resistência sobre a base de uma perspectiva
socialista, revolucionária e internacionalista.
(traduzido por movimentonn.org)
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