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Setenta anos desde o pacto Hitler-Stalin
Por Alex Lantier
2 de setembro de 2009
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Há setenta anos atrás, em 23 de agosto de 1939,
o Ministro de Relações Exteriores da Alemanha Nazista
Joachim von Ribbentrop e o Ministro de Relações
Exteriores soviético Vyacheslav Molotov, um homem de confiança
de Joseph Stalin, reuniram-se em Moscou para assinar um pacto
de não-agressão, negociado às pressas, entre
a Alemanha hitlerista e a URSS.
O acordo foi feito para preparar o caminho para a Alemanha
realizar a guerra na Europa sob condições mais favoráveis
para os nazistas. Quando Ribbentrop viajou para Moscou, o regime
nazista estava desesperado para conseguir um acordo com a URSS,
que lhe permitisse atacar a Polônia sem enfrentar uma guerra
de duas frentes contra a URSS e as duas principais potências
imperialistas da Europa Ocidental, Grã-Bretanha e França.
Além da promessa de não-agressão, o conteúdo
do pacto incluía uma divisão secreta da Polônia
e dos países do Báltico entre a Alemanha nazista
e a URSS. A Alemanha recebeu o oeste da Polônia e a Lituânia,
enquanto a URSS tomou o leste da Polônia, a Letônia
e a Estônia.
Uma declaração formal de guerra em 3 de setembro
de 1939 seguiu a invasão nazista da Polônia em 1
de Setembro. Isto marcou o início da II Guerra Mundial
na Europa, uma guerra que pôs fim à vida de 50 milhões
a 70 milhões de pessoas. As forças soviéticas
entraram no leste da Polônia em 17 de setembro de 1939.
A neutralidade soviética permitiu que os nazistas, após
derrotar rapidamente as tropas polonesas, pudessem concentrar
suas forças contra a Europa Ocidental em 1940. Com a anuência
de Stalin, Hitler conquistou a Dinamarca, Noruega, Holanda, Bélgica
e França. Quando a inevitável invasão nazista
da URSS começou em junho de 1941, a URSS estava completamente
isolada do continente europeu. Stalin, ignorando as provas irrefutáveis
de uma iminente invasão nazista, continuou cumprindo os
termos do tratado. O Kremlin enviou as últimas remessas
de matérias-primas estratégicas para a Alemanha
nazista horas antes do início da invasão na manhã
de 22 de junho de 1941.
O aspecto mais importante do tratado foi o total desprezo e
indiferença do Kremlin em relação à
opinião da classe operária internacional. Durante
as negociações, Stalin exaltou Hitler, dizendo:
"Eu sei o quanto o povo alemão ama o seu Führer".
Seguindo a linha do Kremlin, os Partidos Comunistas da França
e da Grã-Bretanha adotaram uma política oficial
de neutralidade em relação ao regime fascista, a
materialização da reação anti-classe
operária.
Ambas as forças nazistas e soviéticas cometeram
crimes em grande escala nas regiões ocupadas. Forças
nazistas lançaram a Operação Tannenberg,
executando dezenas de milhares de figuras da vida intelectual,
cultural e política polonesa. Em março de 1940,
as forças soviéticas organizaram o massacre de oficiais
poloneses na floresta de Katyn.
Para surpresa de Hitler, durante as negociações
do pacto, Stalin não pediu aos nazistas a libertação
do dirigente comunista alemão Ernst Thälmann, que
tinha sido conduzido a um campo de concentração
desde pouco depois da chegada dos nazistas ao poder, em janeiro
de 1933. Thälmann foi posteriormente assassinado pelos nazistas,
pouco antes do colapso do Terceiro Reich.
O pacto Hitler-Stalin era, na superfície, uma impressionante
reviravolta na política externa, tanto da Alemanha quanto
da URSS. O regime nazista tinha se apresentado como o baluarte
da resistência à URSS e à ameaça do
comunismo. O regime stalinista, por sua vez, afirmou ser o adversário
irreconciliável do imperialismo nazista. Assim, a assinatura
do acordo foi recebida com choque e incredulidade pela Grã-Bretanha
e França. Entretanto, não houve nenhuma hipocrisia
em suas condenações ao pacto, na medida em que as
duas principais potências imperialistas da Europa tinham
a esperança de chegar a um acordo com Hitler, às
custas da URSS.
Até agosto de 1939, as facções poderosas
da França e a classe dominante britânica esperavam
que Hitler usasse a Wehrmacht não contra o Ocidente, mas
contra a URSS. Esta foi a base do acordo de Munique de 1938: em
troca de uma promessa nazista sem valor, a qual o premier britânico
Neville Chamberlain chamou de "paz no nosso tempo",
a Grã-Bretanha e a França concordaram com o desmembramento
da Tchecoslováquia pelos nazistas.
Havia um observador para quem a reviravolta na política
soviética não veio como uma surpresa: Leon Trotsky,
o líder da Quarta Internacional, que estava então
vivendo como exilado político no México.
Com sua característica perspicácia, Trotsky previu
que Stalin, enfrentando agudas crises internas e uma série
de regimes hostis na Europa, produzidos por suas próprias
políticas, poderia tentar afastar o perigo de uma guerra
através de uma aliança com Hitler. Em junho de 1939,
escreveu: "No congresso do partido em março deste
ano, Stalin declarou abertamente pela primeira vez que, economicamente,
a União Soviética ainda está muito atrás
dos países capitalistas. Ele teve que fazer essa admissão,
não só para explicar os recuos no campo da política
externa. Stalin está disposto a pagar muito caro, para
não dizer qualquer preço, pela paz. Não porque
ele "odeia" a guerra, mas porque ele está morrendo
de medo das consequências.
"Desse ponto de vista, não é difícil
avaliar as vantagens comparativas das duas alternativas para o
Kremlin: o acordo com a Alemanha ou a aliança com as "democracias".
A amizade com Hitler significaria a remoção imediata
do perigo de guerra na frente ocidental e, assim, uma grande redução
do perigo de guerra na frente do Extremo Oriente. Uma aliança
com as democracias significaria apenas a possibilidade de receber
ajuda em caso de guerra. Claro que, se nada resta a não
ser lutar, então é mais vantajoso ter aliados do
que se manter isolado. Mas a tarefa básica da política
externa de Stalin não é criar as condições
mais favoráveis, em caso de guerra, mas evitar a guerra.
Este é o significado oculto das declarações
frequentes de Stalin, Molotov, e Voroshilov, de que a URSS "não
precisa de aliados." ( "The Riddle of the USSR,"
The Writings of Leon Trotsky, 1938-1939 (Nova York: Pathfinder
Press , 2002) p. 403-404).
Trotsky baseou seu julgamento da política externa do
Kremlin, em uma avaliação mais ampla das políticas
contra-revolucionárias que a burocracia soviética
tinha levado a cabo durante a década anterior.
Como os temores de uma guerra soviético-alemã
cresceram depois que Hitler chegou ao poder em 1933, o Kremlin
buscou alianças com a burguesia e os partidos social-democratas
contra o fascismo na Europa Ocidental. A base dessas relações
foi a subordinação política da classe operária
às regras do capitalismo. Stalin esperava conseguir favores
da burguesia européia, reprimindo, política e fisicamente,
a esquerda e os movimentos revolucionários. Trotsky descreveu
sucintamente as resultantes alianças de "Frente Popular"
como uma "aliança do liberalismo burguês e da
GPU", a polícia secreta do Kremlin.
Na França, a greve geral de maio-junho de 1936 foi vendida
pelos sindicatos e pelo Partido Comunista Francês (PCF)
stalinista. O líder do PCF Maurice Thorez, então
colaborando politicamente com uma coligação da Frente
Popular do governo formada pelo Partido Socialista e pelo burguês
Partido Radical, famosamente anunciou que "alguém
tem que saber como terminar uma greve". O governo da Frente
Popular entrou em colapso em 1938, trazendo para o poder o governo
conservador de Daladier.
Na Espanha, a estratégia da Frente Popular amarrou o
proletariado espanhol à burguesia durante a Revolução
Espanhola e a Guerra Civil de 1936-1939 contra o líder
do golpe fascista, o general Francisco Franco. O Kremlin insistiu
que os destacamentos de operários armados deveriam voltar
as suas armas para o governo burguês de Manuel Azaña,
a quem eles também deixariam o controle político
e militar da guerra.
Como trotskistas salientaram, o governo de Azaña temia
a revolução espanhola muito mais do que temia Franco.
Manteve-se implacavelmente hostil a uma chamada para nacionalizar
a terra para conquistar os exércitos camponeses de Franco.
A França e a Grã-Bretanha, embora fossem aliados
soviéticos, impuseram um bloqueio à assistência
à República espanhola, por medo de que a revolução
pudesse se espalhar para além de Espanha. O resultado final
foi a vitória dos fascistas espanhóis.
Trotsky comentou: "O traço fundamental da política
internacional de Stalin, nos últimos anos tem sido este:
ele vende o movimento da classe operária assim como ele
vende petróleo, manganês e outros bens. Nesta declaração,
não há um pingo de exagero. Stalin trata as seções
da Internacional Comunista em vários países e a
luta de libertação das nações oprimidas
como uma mudança muito pequena nos acordos com as potências
imperialistas"(What lies behind Stalin's bid for agreement
with Hitler?", ibid. p. 235).
Dentro da própria URSS, Stalin procurou agradar a si
mesmo e a seus recém-encontrados aliados imperialistas
e procurou amenizar o descontentamento político, liquidando
a oposição ao seu governo. Nos processos de Moscou
e os decorrentes Grandes Expurgos 1936-1938, Stalin massacrou
os velhos quadros bolcheviques e grande parte da intelectualidade
socialista. Isto incluiu o assassinato de três quartos do
corpo de oficiais soviéticos, incluindo veteranos como
o marechal Mikhail Tukhachevsky e o General Iona Yakir, com conseqüências
devastadoras para a batalha de preparação do Exército
Vermelho.
Trotsky escreveu: "Durante os últimos três
anos, Stalin chamou todos os companheiros de Lênin de agentes
de Hitler. Ele exterminou a elite da equipe do general. Ele matou,
exonerou, ou deportou cerca de 30.000 funcionários, todos
sob a mesma acusação de serem agentes de Hitler
e seus aliados. Depois de ter desmembrado o partido e decapitado
o exército, agora Stalin está colocando abertamente
sua própria candidatura para o papel de ... principal agente
de Hitler"(Stalin's Capitulation," ibid. p. 254).
Chegando no final dessa sequencia de traições,
o Pacto Hitler-Stalin constituiu uma tentativa desesperada de
Stalin e, por fim, mal-sucedida, de evitar uma guerra pela qual
suas próprias políticas tinham grande responsabilidade.
Quando a Alemanha invadiu a URSS menos de dois anos depois, a
União Soviética estava lamentavelmente despreparada.
Cerca de 30 milhões de soldados soviéticos e cidadãos
pereceram na luta para repelir o ataque fascista.
Em última análise, no entanto, os incríveis
sacrifícios do povo soviético foram traídos
pela dissolução da URSS em 1991 - o resultado final
das políticas contra-revolucionárias do stalinismo.
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