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WSWS : Portuguese

Um ano do colapso do Lehman Brothers

Por Nick Beams
23 de setembro de 2009

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Publicado originalmente em inglês em 15 de setembro de 2009 no WSWS.

Há um ano atrás, a quebra do Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimento dos EUA, desencadeou uma avalanche que ameaçou esmagar todo o sistema financeiro mundial.

Dois dias depois, foi anunciado um pacote de resgate de US$ 85 bilhões pelo governo americano para a gigante dos seguros AIG, American International Group, e, nas semanas seguintes, teve sequência a injeção de US$ 3,6 trilhões no mercado monetário internacional. O mercado de papel comercial, que fornece facilidades financeiras para a economia capitalista global, paralisou. As operações financeiras praticamente pararam em todos os mercados, visto que os bancos e estabelecimentos financeiros detiveram seu dinheiro, temendo que eles mesmos pudessem precisar ou que aqueles a quem eles emprestassem o dinheiro pudessem entrar em colapso.

As origens imediatas da crise residem na retração do mercado de financiamento hipotecário dos EUA, no início de 2007, após o estouro da bolha imobiliária, alimentada pelo crédito barato dos primeiros anos da década. A compra e venda de seguros hipotecários assumiram uma importância crescente para os bancos de Wall Street e para as casas de investimento, levando a uma vasta expansão do chamado mercado "subprime" baseado cada vez mais nos investimentos de risco.

O fim da bolha imobiliária impactou Wall Street no sentido de um declínio no mercado acionário em agosto de 2007 - em um certo momento havia previsões de uma queda de 1.000 pontos em um único dia - visto que a crise começou a se espalhar internacionalmente, com o resgate de dois bancos alemães que tinham sido expostos ao mercado hipotecário americano.

O Federal Reserve americano interveio, assim como havia sido feito em tempestades financeiras anteriores - o colapso de Wall Street em Outubro de 1987, a crise econômica asiática de 1997, a falência do Long Term Capital Management em 1998 e o estouro da bolha das empresas "ponto-com" em 2001 - através do corte de taxas de juro e da facilitação das condições de crédito. Mas, desta vez, estas medidas não conseguiram aliviar a crise.

Durante os meses que se seguiram, os problemas nos mercados financeiros se agravaram, até que explodiram em março de 2008, quando o governo dos EUA montou uma operação que custou US$ 30 bilhões para garantir a aquisição do banco de investimentos Bear Stearns pelo JP Morgan Chase. O Bear Stearns, a segunda maior seguradora vinculada a hipotecárias dos EUA, foi atingido pelo colapso de dois de seus hedge funds em julho passado e havia crescentes temores de que ele não tinha dinheiro para atender as reivindicações de seus credores.

Uma declaração do conselho editorial do World Socialist Web Site de 18 de março comentava as implicações do colapso do Bear Stearns: "Independente do que acontecer em Wall Street durante as próximas semanas, não há dúvida de que uma crise de magnitude histórica está se desenvolvendo agora. Depois de uma geração de implacáveis propagandas de mídia, que exaltaram a infalibilidade do mercado capitalista e a genialidade dos magos financeiros de Wall Street, a economia dos Estados Unidos está à beira de uma crise econômica em uma escala não vista desde a Grande Depressão".

Apenas seis meses depois, este aviso foi confirmado.

A crise de setembro e outubro de 2008 desencadeou uma operação de resgate por parte da administração dos EUA e de governos de todo o mundo em uma escala sem precedentes. Enquanto a injeção maciça de fundos para sustentar o sistema financeiro - somente nos EUA, o compromisso total, se plenamente satisfeito, equivaleria a 23,7 trilhões de dólares - tem sido apontada como um meio para evitar uma catástrofe econômica, a forma como esta operação foi organizada desde o início revelou seu propósito essencial - proteger a todo custo os interesses financeiros mais poderosos.

Os planos iniciais foram elaborados por um pequeno grupo, liderado pelo então secretário do tesouro americano e ex-presidente da Goldman Sachs, Henry Paulson, reunidos na sede do Federal Reserve em Nova York. Entre os presentes estava Timothy Geithner, o atual secretário do tesouro americano, que na época era o presidente do Federal Reserve de Nova York, e o presidente do Goldman Sachs, Lloyd Blankfein.

Nas semanas posteriores, a questão foi muitas vezes levantada: Por que o Lehman Brothers não foi resgatado, sendo que apenas dois dias depois foi dada uma assistência de US$ 85 bilhões para a AIG? Embora este fato não fosse amplamente conhecido na época, o Goldman Sachs era o maior parceiro comercial da AIG e poderia perder pelo menos US$ 20 bilhões caso a gigante dos seguros caísse.

As reuniões de emergência iniciais estabeleceram o padrão a ser seguido posteriormente: os resgates foram organizados por e para os bancos, com funcionários do governo encarregados da tarefa de organizar a legislação e financiamento necessários.

Desde o início da crise financeira global e do início da mais profunda recessão após a década de 1930 - a queda na produção industrial mundial, o comércio mundial e os preços líquidos globais de junho deste ano foram maiores do que no período correspondente em 1929-30 - os maiores governos gastaram trilhões de dólares em resgates bancários e pacotes de estímulo, estima-se que equivalente a pelo menos 18% do produto interno bruto global.

Isso produziu sinais de "recuperação" sob a forma de um aumento nos mercados de ações, certa estabilização do sistema financeiro e, sobretudo, aumento de lucros para os bancos. Mas as condições que a classe operária enfrenta pioram constantemente, com o desemprego agora na iminência de 10% nos EUA e na Europa.

Enquanto trilhões de dólares foram gastos, nenhum dos principais problemas que levaram à crise foi resolvido, nenhum dos responsáveis foi responsabilizado e todos os mesmos métodos financeiros que levaram à quebra continuam a ser empregados.

A crise não foi resolvida. Tudo o que tem acontecido é que as enormes dívidas e "ativos tóxicos" dos bancos e empresas financeiras foram tomadas pelo Estado capitalista, que atua como o comitê executivo da aristocracia financeira. Agora, essa dívida é paga por meio de ataques às condições sociais da classe trabalhadora.

Em um recente discurso sobre a necessidade de preparar uma "estratégia de saída", o diretor-geral do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, definiu a agenda, que agora deve ser adotada: "O passo mais importante é conter pensões e custos com assistência médica... Embora as reformas para corte de custos nesta área possam ser politicamente difíceis, elas são essenciais para garantir a sustentabilidade fiscal".

Este programa já está sendo implementado. Nos EUA, depois da "reestruturação" da indústria automobilística, a administração de Obama se move para cortar a assistência médica. Na Grã-Bretanha, qualquer partido que chegue ao poder após as próximas eleições, cortará gastos em uma escala maciça. Um recente artigo do Financial Times londrino insistiu que o consumo na Grã-Bretanha teria que ser reduzido em 20% em relação aos níveis de 2006-2007. Na Austrália, que não entrou oficialmente em recessão, o governo trabalhista de Rudd alertou sobre a "dor da recuperação", ao mesmo tempo em que se compromete a reduzir o déficit orçamental.

Enquanto o "novo discurso" oficial se alonga sobre "recuperação" e "superação da crise", os comentaristas mais perspicazes têm notado que nada foi resolvido e que os perigos de um colapso ainda maior estão aumentando.

De acordo com o ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional, Simon Johnson, há uma pequena "reforma" do sistema financeiro em curso. Os "fatos relevantes", observa ele, são simples: "Nossos bancos e suas " inovações financeiras ", não foram desarmadas. Na verdade, eles estão cada vez mais perigoso. ... Vivemos uma crise tremenda e aprendemos quão perto chegamos de uma segunda Grande Depressão - e nada é feito até agora para evitar uma repetição de algo semelhante no futuro".

Um ano depois, a classe trabalhadora deve tirar as lições necessárias a partir desta crise. Seja qual for o curso imediato dos acontecimentos econômicos, ela deve tomar os problemas em suas próprias mãos e se esforçar para eliminar a ameaça de uma catástrofe que paira sobre sua cabeça.

Não há uma solução racional para a crise histórica dentro da estrutura do capitalismo. Só acabando com o sistema de lucros e derrubando a oligarquia financeira, que tem concentrado o poder político efetivo em suas mãos, o futuro pode ser assegurado através da criação de um economia socialista internacionalista planejada. Essa é a perspectiva do Comitê Internacional da Quarta Internacional e do World Socialist Web Site.

[traduzido por movimentonn.org]

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