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Alemanha: grandes perdas para os conservadores nas eleições estaduais

Por Peter Schwarz
8 de setembro de 2009

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Os resultados das três eleições estaduais realizadas na Alemanha no último domingo nos dá uma visão do real estado das relações sociais no país.

Em Sarre e Turíngia, onde uma mudança de governo estadual e da política já aparecia como possível, um número consideravelmente maior de eleitores compareceu - se comparado com a última eleição. Em ambos os estados, a reinante União Democrática Cristã (CDU) sofreu perdas dramáticas, também sentidas, em menor grau, pelo Partido Liberal Democrata (FDP). Nos dois estados onde a CDU já teve uma maioria absoluta, o colapso do apoio foi tão acentuado que agora não dispõe de meios para formar uma coligação com o FDP.

Na Turíngia, o Partido de Esquerda e Partido Social Democrata (SPD), juntos, conquistaram votos suficientes para formar um governo de estado. Em Sarre, o SPD e o Partido de Esquerda vão formar um governo com o apoio dos Verdes.

Na Saxônia, no entanto, onde as pesquisas de opinião descartaram uma mudança de governo, o número de eleitores afundou na pior baixa de todos os tempos. A CDU continua sendo o principal partido, apesar de seu pior resultado desde 1990, e pôde escolher um parceiro de coligação do FDP, do SPD ou dos Verdes.

Os resultados das eleições no Sarre e na Turíngia refletem níveis de oposição social que vão muito além do sugerido pela mídia. De acordo com uma pesquisa da emissora de televisão alemã ARD, a principal preocupação dos eleitores era a busca por uma igualdade social. A intervenção do exército alemão no Afeganistão foi outro pronto levantado com preocupação pelos eleitores.

O Partido de Esquerda foi capaz de lucrar em ambos os casos. Na sua campanha eleitoral, defendeu a abolição do Hartz IV, o miserável subsídio pago aos desempregados após um ano em vez de subsídios de desemprego, e se opôs ao aumento da idade para aposentadoria, aos 67. Ele também defendeu a retirada das tropas alemãs do Afeganistão.

No Sarre, onde o ex-primeiro ministro de estado do SPD e hoje presidente do Partido de Esquerda, Oskar Lafontaine, saiu como candidato, o Partido de Esquerda obteve um sucesso notável. Com 21,3% dos votos, apareceu como o terceiro partido mais forte no estado e foi capaz de ultrapassar o resultado de seu antecessor - o Partido do Socialismo Democrático - em 2004, por 19%. O Partido de Esquerda ganhou votos dos simpatizantes de outros partidos, incluindo 26.000 do SPD, mas o maior núcleo de seu apoio (43.000 da sua votação total de 114.000) era de camadas que não tinham votado anteriormente. A taxa de participação eleitoral de 68% foi 12% maior do que cinco anos antes.

O maior perdedor nas eleições estaduais foi a CDU do primeiro-ministro Peter Müller, que perdeu 13%. O FDP quase duplicou a sua votação para 9,2% mas só foi capaz de obter uma pequena porção de ex-votos da CDU. O FDP obteve apoio principalmente dos setores do grande capital e da ala direita da CDU, que acusa a chanceler Angela Merkel (CDU) de ser demasiado conciliadora com o SPD. O SPD também perdeu 6% e, com 24,5% dos votos, apenas por pouco bateu os votos do Partido de Esquerda.

O equilíbrio de poder no parlamento do estado do Sarre é detido pela CDU e pelo FDP, de um lado, e pelo SPD e pelo Partido de Esquerda, por outro. A futura composição da administração do Estado está nas mãos dos três deputados do Partido Verde que ainda têm de comprometer-se a uma coligação. Os Verdes analisam hoje a possibilidade de uma coligação com a CDU e o FDP. Outra variante do potencial do Estado é uma "grande coalizão" da CDU e do SPD.

A taxa de participação eleitoral também aumentou na Turíngia, embora o aumento tenha sido menor do que em Sarre. 56% do eleitorado foram às urnas. Em 2004 tinha sido praticamente 54%. O Partido de Esquerda e o SPD foram capazes de aumentar ligeiramente os seus votos, enquanto a CDU liderada pelo primeiro-ministro de estado, Dieter Althaus, perdeu 12% e obteve apenas 31,2%. Os Verdes e o FDP foram capazes de reentrar no parlamento estadual, enquanto o neo-fascista Partido Nacional Alemão (NPD) por pouco não conseguiu ganhar os 5% necessários para a representação no parlamento estadual. O NPD recebeu 4,3% e melhorou a sua marca em relação a 2004, por 3%.

No parlamento estadual da Turíngia o Partido de Esquerda e o SPD têm uma maioria de dois lugares. É questionável, no entanto, se o SPD vai concordar com uma coligação com o Partido de Esquerda. Até agora, o SPD enfatizou que só está disposto a introduzir uma coligação com o Partido de Esquerda caso possa exercer o cargo de liderança de primeiro-ministro. Dado que o Partido de Esquerda tem 27,4% dos votos, muito aquém do SPD (18,5%), é improvável que o Partido de Esquerda estaria disposto a aceitar esta condição.

Na Saxônia, a CDU, o SPD e o Partido de Esquerda perderam votos, enquanto o FDP e os Verdes adquiriram. A participação eleitoral diminuiu 7,4% em relação a 2004 e apenas a metade do eleitorado compareceu. Na década de 1990 a CDU teve cerca de 60% de apoio. Desta vez, seu apoio caiu para cerca de 40%. O SPD, que teve seu primeiro resultado de um único dígito na Saxônia em 2004, foi capaz de passar raspando a marca de 10% neste momento, mas ainda perdeu votos devido ao fraco comparecimento às urnas. O Partido de Esquerda, que é notório na Saxônia pela sua prática de políticas direitistas, perdeu 3 pontos, marcando 20,6% dos votos.

A extrema direita, NPD, pela primeira vez na história do pós-guerra alemão, foi capaz de manter sua presença no parlamento estadual. Ela perdeu votos em relação a 2004, quando recebeu quase tantos votos quanto o SPD, mas foi capaz de atravessar a barreira dos 5%.

O resultado das eleições estaduais no domingo passado reflete o enorme abismo que se abriu entre o estabelecimento político e os sentimentos de amplas camadas do povo trabalhador alemão. Somente a escassa esperança de uma mudança para melhor foi suficiente para mobilizar milhares no Sarre e na Turíngia, invertendo uma tendência de aumento de abstinência dos eleitores e rompendo completamente as relações políticas existentes. A perspectiva de uma coligação da CDU e do FDP em nível federal, prevista por muitos analistas, e que é o objetivo desejado do campo conservador, recebeu um duro golpe quatro semanas antes da eleição federal.

No entanto, essas esperanças, que levaram a um balanço político à esquerda no Sarre e na Turíngia, estão fadadas ao frustramento diante das políticas do SPD e do Partido de Esquerda. O SPD já contempla grandes coligações com a CDU na Turíngia e no Sarre, enquanto a direção do SPD descartou a possibilidade de uma coligação com o Partido de Esquerda em âmbito federal após a eleição do Bundestag, no final de agosto.

Na sequência deste último fracasso para a CDU, o SPD espera que seu candidato, Frank-Walter Steinmeier, possa se tornar chanceler, no final de setembro, com o apoio dos Verdes e do liberal FDP. "Preto e amarelo (as cores da CDU/CSU e do FDP) não são bem-vindas neste país", afirmou Steinmeier na noite da eleição, durante celebração com seus apoiadores. Ao mesmo tempo, Steinmeier também não descarta a continuação da grande coalizão existente na sequência da eleição federal.

No entanto, mesmo que as coligações do Partido de Esquerda e do SPD sejam formadas no Sarre e na Turíngia, não haveria alteração substancial das políticas e nas condições de vida da esmagadora maioria da população. Qualquer administração continuaria basicamente a mesma política da CDU. Em Berlim, onde o Partido de Esquerda e seu antecessor, o Partido do Socialismo Democrático (PDS), governam por oito anos em uma coalizão com o SPD - assim como em vários municípios do leste alemão, onde detém o poder - têm subordinado suas políticas aos interesses dos bancos e das grandes empresas. Sempre que entra em um governo, o Partido de Esquerda - foi formado em 2007 através da fusão do PDS stalinista do leste alemão e uma secção de adeptos insatisfeitos do SPD, incluindo o ex-presidente do partido, Lafontaine - subordina suas políticas às restrições dos grandes interesses comerciais e financeiros.

O Partido de Esquerda emprega retórica esquerdista a fim de decapitar o crescente descontentamento social e conduzi-lo a canais inofensivos. Ele não tem a intenção nem a capacidade de realizar suas promessas de mudanças sociais. Sob as condições da crise econômica global nenhum problema social pode ser resolvido sem mudar o poder da elite financeira, a burguesia, os senhores da vida econômica e social. O Partido de Esquerda recua a qualquer tarefa. Pelo contrário, procura incentivar as ilusões sobre a possibilidade de um retorno aos tipos de políticas sociais reformistas dos anos 1960 e 70, hoje abandonadas pelos governos burgueses em todo o mundo.

A frustração e decepção que inevitavelmente fluem da política cínica do Partido de Esquerda caem nas mãos da extrema-direita. Neste contexto, a entrada renovada dos nazistas do NPD no parlamento estadual da Saxônia deve ser tomada como um aviso.

O Partido da Igualdade Socialista da Alemanha (Soziale Partei für Gleichheit-PSG), seção do Comitê Internacional na Alemanha, concorre às eleições parlamentares para lutar pela construção de um novo partido político de massas da classe trabalhadora em busca de avançar uma resposta socialista e internacionalista contra a ameaça aos direitos democráticos, contra o crescimento das desigualdades sociais e do militarismo.

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