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A Desvalorização do dólar e a classe
trabalhadora
Por Barry Grey
20 de outubro de 2009
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Publicado originalmente em inglês no WSWS no dia 13
de outubro de 2009.
Existem cada vez mais sinais de uma grande mudança nas
relações cambiais a escala mundial. Desde março,
o dólar americano caiu constantemente, depreciando-se em
13,3%. Na semana passada o declínio acelerou-se, elevando
o preço do ouro a níveis recordes, ocasionando a
intervenção de diversos bancos centrais asiáticos
para desacelerar a queda da moeda americana.
Em vez de alarmar sobre as implicações dessa
erosão no valor das principais moedas mundiais, publicações
financeiras de destaque e comentadores econômicos argumentam
que a tendência é bem-vinda e que, a longo-prazo,
deve-se permitir que o valor do dólar caia ainda mais.
No sábado (10.10), o Financial Times londrino publicou
um editorial com o título Um EUA forte precisa de
um dólar fraco. A publicação afirma
que essa queda no valor, embora grande, não deve
ser temida ou impedida. (...) Seria, na verdade, bastante útil
que o dólar se enfraquecesse ainda mais... O efeito de
um dólar mais barato seria ajudar os exportadores americanos
e tornar as importações aos EUA mais caras.
Isso é o que a América e o mundo
precisam. A médio prazo, como o Sr. Summers [principal
conselheiro econômico de Obama, Lawrence Summers] colocou
no começo deste ano, 'a economia americana reconstruída
precisa ser mais orientada para exportações e menos
orientada para o consumo'. Resumindo, os EUA precisam começar
a viver com seus próprios meios, e o resto do mundo precisa
parar de confiar em sua extravagância.
Já no Financial Times de segunda-feira apareceu uma
matéria do colunista econômico Wolfgang Münchau
com o título Razões para um dólar mais
fraco. Münchau defende um rebalanceamento da economia
mundial, onde o massivo déficit financeiro dos EUA seria
drasticamente reduzido, o superávit asiático seria
eliminado e o déficit dos 16 países da zona do euro
cresceria de forma significativa.
A longo prazo, escreve ele, "o mundo necessitaria
de uma reforma significativa no sistema monetário internacional.
A curto prazo, uma queda na taxa de câmbio do dólar
nos ajudaria a chegar lá.
Ele advoga que as declarações em defesa
de um dólar forte, proferidas por políticos
americanos, são insinceras e que os EUA estariam encorajando
um maior declínio do dólar como parte de uma estratégia
de recuperação encabeçada pelo foco nas exportações.
Münchau continua afirmando que a necessária reforma
a longo prazo no sistema monetário internacional envolve
um papel permanentemente reduzido do dólar na arena mundial.
Segundo ele, o mundo se move em direção a um sistema
dual no qual o dólar e o euro agem como as moedas de reserva
de facto.
Esse e outros comentários similares se desviam dos imensos
riscos que inevitavelmente acompanham uma desvalorização
permanente do dólar e uma diluição de seus
status de moeda de reserva. Tal projeto contém o gérmen
de um ruptura no mercado mundial. Assumir que essa mudança
ocorreria de forma ordenada, sem catalisar desvalorizações
de competitividade na Europa e Ásia, a formação
de blocos econômico-monetários, a erupção
de uma guerra comercial e, ulteriormente, de um conflito militar
entre grandes potências, é algo altamente duvidoso.
Entre os comentários mais superficiais em favor do enfraquecimento
do dólar está o do economista americano e colunista
do New York Times Paul Krugman. Numa matéria de destaque
publicada segunda-feira, Krugman qualifica aqueles que se preocupam
com as implicações a longo prazo de um declínio
do dólar como pouco mais que excêntricos.
Sem considerar as implicações internacionais
de uma queda continuada no dólar, ou suas consequências
para as relações sociais dentro dos EUA, Krugman
faz coro aos seus e afirma o seguinte sobre o dólar declinante:
A verdade é que a queda é uma boa notícia.
Um dólar mais baixo é bom para os exportadores
dos EUA, escreve ele, e nos ajuda a fazer a transição
dos grandes déficits comerciais para uma posição
internacional mais sustentável. Krugman argumenta
em favor da taxa referencial de juros hoje efetivamente
no zero congelada pelos próximos dois anos
ou mais. Não diz nada a respeito das consequências
de um dólar depreciado para a posição da
moeda americana enquanto moeda de reserva do mundo.
O que é certo, no entanto, é que a perda do status
de reserva monetária inconteste pelo dólar tem implicações
devastadoras para a classe trabalhadora americana.
Um dólar forte e estável foi o fundamento para
o sistema monetário capitalista internacional estabelecido
na conferência de Bretton Woods, ao final da Segunda Guerra
Mundial. O dólar tem servido por quase setenta anos como
a suprema moeda de reserva e comércio em todo o mundo.
A posição única e privilegiada do dólar
que trouxe imensas vantagens ao capital dos EUA
foi baseada na supremacia econômica dos EUA ao final da
guerra. Essa supremacia, por sua vez, foi fundada na dominância
global da indústria americana.
O declínio a longo prazo do capitalismo americano, refletido
principalmente na decadência de sua base industrial, resultou
nos desequilíbrios massivos entre nações
devedoras a mais importante delas sendo os EUA e
nações credoras, como China, Japão e Alemanha,
o que levou à implosão da economia mundial um ano
atrás. É a transformação dos EUA de
grande polo industrial do mundo em centro da especulação
e parasitismo financeiros que, em última análise,
subjaz à erosão da posição internacional
do dólar.
Permitir que o dólar continue a cair é reconhecer
a realidade do declínio dos EUA e a necessidade do capitalismo
mundial encontrar uma nova base para seu crescimento. No coração
desse rebalanceamento econômico está
a restruturação fundamental das relações
de classe nos Estados Unidos.
Bretton Woods deu à burguesia americana uma grande vantagem
na administração das relações sociais
dentro dos EUA. A classe dominante dos EUA pôde utilizar
empréstimos e políticas de inflação
para fazer concessões às exigências da classe
trabalhadora porque o mundo aceitava o dólar de qualquer
maneira. Sem essa vantagem, os EUA precisam agora aderir a onerosas
limitações fiscais e monetárias, cujo fardo
deverá ser colocado sobre a classe trabalhadora.
Esse processo já está bem encaminhado. Em nome
do rebalanceamento econômico global e da reforma interna,
a administração Obama procura cortar o consumo da
classe trabalhadora, reduzir custos de produção
e impulsionar as exportações dos EUA.
Isso se traduz em submeter os trabalhadores americanos ao tipo
de terapia de choque econômica que o Fundo Monetário
Internacional tem prescrito para um número de países
endividados do terceiro mundo nos últimos 25 anos.
Desvalorização da moeda, acompanhada por cortes
em investimentos estatais para serviços sociais e por uso
do desemprego em massa para reduzir os salários e aumentar
a exploração esses são os métodos
que agora estão sendo empregados contra a classe trabalhadora
americana.
O processo pelo qual os EUA fecharam seus complexos fabris,
entregando a produção para paraísos de mão
de obra barata ao redor do mundo o que gerou a confiança
insustentável dos EUA em infusões de crédito
vindas de nações superavitárias como China
e Japão deve ser revertido. No entanto, se a indústria
nos EUA reviver, dentro dos marcos do capitalismo, será
na base da destruição dos salários, condições
de trabalho e padrões de vida da classe trabalhadora.
Os EUA devem se tornar produtores de baixo custo de bens para
o mercado mundial. A classe trabalhadora americana deve experimentar
níveis de exploração que não enfrenta
há um século. Seus salários e condições
de vida devem ser trazidos a um maior alinhamento com aqueles
enfrentados pelos trabalhadores super-explorados da Ásia.
Essa política de luta de classes está na base
do assalto de Obama aos empregos e salários de trabalhadores
da indústria automotiva, de sua recusa em fornecer auxílio
a Estados e localidades falidas, e de seu ânimo em dilacerar
benefícios de saúde para trabalhadores, atacando
programas como o Medicare.
A América mais uma vez estabeleceu um exemplo para o
capitalismo mundial servindo como o modelo para ataques
similares contra os trabalhadores de todos os países.
A classe trabalhadora dos Estados Unidos, no entanto, não
tem qualquer interesse na própria miséria e no empobrecimento.
O palco está sendo montado para que se manifeste a luta
de classes nos EUA e internacionalmente, numa escala colossal.
[traduzido por movimentonn.org]
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