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Irã faz concessão significativa para desarmar
acordo nuclear
Por Peter Symonds
3 de novembro de 2009
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Publicado originalmente em inglês no WSWS no dia 22
de Outubro de 2009.
Depois de três dias de debates em Viena, o esboço
de um acordo foi finalizado ontem [21 de outubro] para enviar
o grosso do urânio sub-enriquecido iraniano para Rússia
e França, onde o material será ainda mais enriquecido
e transformado em combustível, destinado a um reator nuclear
de pesquisa em Teerã. As discussões, conduzidas
sob direção da Agência Internacional de Energia
Atômica (IAEA), envolveram EUA, Rússia, França
e Irã.
O acordo, que ainda deve ser ratificado na quinta-feira por
todas as partes envolvidas, é uma concessão significativa
no que diz respeito ao Irã, que antes insistia em produzir
seu próprio combustível nuclear. Permitindo a exportação
da maior parte de seu estoque de urânio sub-enriquecido,
o Teerã reforçou a suas declarações
repetidas de que não tem intenção de construir
armas nucleares.
De acordo com as últimas estatísticas da IAEA,
o Irã produziu 1,5 toneladas de urânio enriquecido
a um nível de cerca de 4%. O enriquecimento a cerca de
90% é necessário para fabricar material de tipo
bélico. Os EUA e a mídia internacional se apropriaram
das notícias sobre o estoque iraniano para declarar que
o Irã possuía urânio enriquecido o suficiente
para construir uma bomba. Na verdade, o Irã é um
signatário do Tratado de Não-Proliferação
Nuclear (NPT) e seu estoque de urânio enriquecido é
cuidadosamente monitorado pelos inspetores da IAEA.
Os pormenores do acordo de Viena não foram divulgados.
Sabe-se que ele envolve, porém, a exportação
de 1,2 toneladas de urânio até o final do ano. Essa
quantidade seria enriquecida a 20% e, depois, transformada em
chapas de uma liga de urânio-alumínio para o reator
de Teerã, que produz isótopos médicos. Em
tal forma, nem o combustível nem os produtos finais do
reator podem ser facilmente utilizados para outros propósitos.
A maioria das estimativas indica que o Irã precisaria de
ao menos um ano para recompor seu estoque de urânio.
O acordo ocorre após semanas de intimidação
dos EUA e seus aliados europeus contra Teerã, incluindo
a ameaça de novas drásticas sanções
com o objetivo de aleijar a economia iraniana. No encontro do
G20 mês passado, o presidente dos EUA, Barack Obama, o primeiro
ministro britânico, Gordon Brown, e o presidente francês,
Nicolas Sarkozy, revelaram melodramaticamente que o Irã
possuía uma usina secreta de processamento
de urânio perto da cidade de Qom e advertiram sobre medidas
punitivas. O Irã havia informado a IAEA quatro dias antes
sobre a existência da usina, ainda em construção.
O anúncio, acompanhado de uma intensa campanha na mídia
internacional, foi projetado para pressionar não apenas
o Irã, mas também a Rússia e a China, que
têm sido relutantes em concordar com as novas penalidades
da ONU, antes das negociações em Gênova no
dia 1 de outubro. Essas negociações entre os assim-chamados
P5+1 EUA, Inglaterra, França, Rússia, China
e Alemanha resultaram em dois passos concretos: um acordo
para exportar o urânio sub-enriquecido do Irã, e
a inspeção pela IAEA da usina de Qom, que deve acontecer
no dia 25 de outubro.
O encontro em Viena para resolver os aspectos técnicos
do acordo de exportação foi acompanhado de constantes
acusações na mídia dos EUA sobre a inconfiabilidade
do Irã e sua má-vontade em ir adiante com o acordo.
Teerã certamente fez alguma pose, insistindo que não
desistiria do enriquecimento de urânio e fazendo objeções
quanto a França como uma das partes do acordo, sobre a
base de que não era confiável. No final, parece
que a Rússia será a principal parte envolvida no
contrato, com aspectos da produção de combustível
sub-contratadas à França.
O impasse subjacente ao enriquecimento de urânio, ainda
que em baixo grau, pelo Irã, que não foi assunto
de discussão em Viena, permanece sem solução.
Os EUA já fizeram passar três conjuntos de sanções
pelo Conselho de Segurança da ONU, exigindo que o Irã
pare qualquer processo de enriquecimento de urânio. Teerã
condenou as resoluções da ONU como ilegais, apontando
que tem o direito, sob o NPT, de conduzir todos os aspectos do
ciclo de produção de combustível nuclear
para propósitos pacíficos, incluindo o enriquecimento
de urânio. O presidente Mahmoud Ahmadinejad, em particular,
impulsiona um sentimento nacionalista em seu país ao insistir
nos direitos do Irã contra as grandes potências e
exibir com orgulho seus feitos nucleares.
Abolfazl Zohrahvand, assistente sênior do chefe de negociações
para assuntos nucleares do Irã, Saeed Jalili, sugeriu na
segunda-feira uma possível concessão quanto ao problema
mais amplo. A atual proposta é que o enriquecimento
seja feito em nosso território, exceto quando se trata
de enriquecimento de grau acima de 5%, em particular para o reator
de pesquisa em Teerã, disse. Zhorahvand indicou,
porém, que o Irã pode estar disposto a estender
o atual acordo (para uma vez só) com a Rússia às
necessidades futuras de urânio enriquecido acima do nível
de 5%. Até agora, porém, os EUA insistiram para
um final a todo enriquecimento de urânio no Irã.
No atual estágio, porém, todas as concessões
vieram do lado do Irã. Teerã obviamente espera movimentos
recíprocos dos EUA e seus aliados para terminar com o isolamento
diplomático do país e remover as sanções
econômicas existentes que impactaram particularmente seu
setor bancário e financeiro e inibiram o tão necessário
investimento para atualizar sua infra-estrutura de gás
e petróleo. Os principais negociadores do Irã e
dos EUA o representante iraniano da IAEA Ali Ashghar Soltanieh
e o secretário de energia em exercício americano
Daniel Poneman se encontraram privadamente na terça-feira
para discutir os detalhes do plano.
De acordo com a revista Time, a proposta é discutida
desde junho, quando o Irã se aproximou da IAEA para encontrar
uma fonte de novo combustível para o reator em Teerã.
A administração Obama sondou a Rússia com
a ideia de processar o urânio enriquecido do Irã
no começo de julho e o plano foi apresentado ao Irã
via IAEA em meados de setembro. O arranjo foi confirmado no mês
passado quando Obama encontrou o presidente russo Dmitri Medvedev
em Nova Iorque, durante a sessão de Assembléia Geral
da ONU.
Não houve, porém, qualquer redução
na pressão de Washington sobre Teerã. Após
o anúncio de ontem, a secretária de Estado dos EUA,
Hillary Clinton, cuidadosamente declarou que embora o acordo fosse
um começo construtivo, ele precisa ser
seguido de ações construtivas. Ela afirmou:
A porta está aberta para um futuro melhor para o
Irã, mas o processo de negociação não
pode ser totalmente sem conseqüências. Não estamos
preparados para falar só por falar.
As observações ameaçadoras de Clinton
tem sido um refrão da administração Obama:
se o Irã não corresponder às exigências
e prazos dos EUA, medidas punitivas drásticas virão.
Qualquer recusa da parte do Teerã será explorada
por Washington para aumentar a pressão sobre a China e
Rússia, fazendo com que concordem com novas sanções
da ONU ou que corroborem ações unilaterais dos EUA
e seus aliados.
De sua parte, Washington não se prenderá a nenhum
acordo com o Irã. Acordos anteriores dos EUA com a Coréia
do Norte podem ser assumidos como um modelo. Tanto a administração
Clinton quanto a administração Bush renegaram atitudes-chave
de Pyongyang, levando à atual crise de seus programas nucleares.
Do mesmo modo, qualquer acordo com o Irã pode ser facilmente
desfeito por provocações dos EUA, especialmente
se Washington, até o momento, não se compromete
publicamente com nada.
As tensões contínuas apenas reforçam o
fato de que os EUA exploram a questão nuclear apenas como
um pretexto para ir adiante com suas ambições maiores
de dominância econômica e estratégica nas regiões
ricas em energia do Oriente Médio e Ásia Central.
Após as eleições presidenciais do Irã,
em junho, os EUA prepararam uma campanha extraordinária
para explorar os protestos da oposição em apoio
ao candidato derrotado Mir Hossein Mousavi, numa tentativa evidente
de restruturar o regime em Teerã de forma mais favorável
aos seus interesses.
A administração Obama tem tentado usar os programas
nucleares do Irã para propósitos similares. Chegar
a um acordo sobre a questão nuclear dependerá da
boa vontade do Teerã em servir aos interesses amplos dos
EUA na região, particularmente auxiliando na estabilização
das ocupações lideradas pelos EUA nos vizinhos Afeganistão
e Iraque.
[traduzido por movimentonn.org]
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