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Recuperação especulativa prepara catástrofe
econômica ainda maior
Por Barry Grey
17 de novembro de 2009
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Publicado originalmente no WSWS em 10 de Novembro de 2009
Na quarta-feira, dia 4/11, o Comitê Federal de Mercado
Aberto ? comissão responsável pela taxa básica
de juros do Federal Reserve, banco central dos EUA ? anunciou
a manutenção de sua taxa de juros no atual patamar
de zero a 0,25% ao ano. Embora essa decisão fosse amplamente
esperada, havia muita especulação de que o Fed,
ainda que apenas no discurso, indicaria um breve aumento nas taxas
de juros.
No evento, o Fed repetiu seu recente mantra de manter as taxas
de juros excepcionalmente baixas por um longo
período. Uma mudança no discurso de um
longo período para por algum tempo teria
sido visto como um sinal de que o Fed estaria se preparando para
mudar sua política de taxas quase-zero.
A sinalização do Fed de que não há
um fim próximo para sua política de crédito
extraordinariamente baixo fez subir as ações. Desde
o anúncio do Fed, no dia 04, o Dow Jones Industrial Average
subiu centenas de pontos, apesar do calamitoso relatório
do Departamento do Trabalho apontar uma taxa oficial de desemprego
nos EUA de 10,2%. Na segunda-feira, o Dow Jones Industrial Average
subiu 205 pontos, fechando em 10,227, o mais alto índice
em 13 meses.
Esse aumento mais recente nos preços das ações
seguiu uma tendência que surgiu nas últimas semanas:
ações movidas em estreita e inversa relação
ao valor do dólar nos mercados cambiais do mundo. No mesmo
dia 4, o dólar teve a maior queda em relação
ao euro em dois meses. Essa tendência manteve-se na segunda-feira,
dia 09, com o dólar mais uma vez caindo para 1,50 euro.
Também em sintonia com as tendências recentes,
o petróleo, o ouro e outras commodities aumentaram na medida
em que as ações subiram e o dólar caiu. A
conexão entre os preços dos ativos em alta e o dólar
em queda aponta para o caráter extremamente especulativo
e instável do que está sendo chamado de uma recuperação
global da crise financeira e da recessão de 2008 e início
de 2009.
É uma recuperação nos lucros das empresas
e bancos, assim como nos ativos financeiros, que está ricamente
beneficiando os mais poderosos interesses financeiros nos EUA
e ao redor do mundo. No entanto, medida em que aumentam o desemprego
e a pobreza, a produção continua atolada na mais
profunda crise desde a Grande Depressão. É uma "recuperação"
conduzida quase que inteiramente por uma onda de especulações
em ativos de risco que utilizam a política de crédito
praticamente livre do governo dos EUA para os grandes bancos e
um grande acúmulo de dívidas.
Como escreveu o comentarista da CNBC, Charles Gasparino, em
uma coluna em 6 de novembro no Wall Street Journal: "As
taxas de juros estão perto de zero, efetivamente, o Fed
está subsidiando a tomada de risco e a negociação
de cartas de fiança que tem permitido ao Goldman Sachs
produzir bilhões em lucros e a gratificação
infame de 16 bilhões de dólares em bônus (analistas
dizem que poderia crescer para até US$ 20 bilhões).
O Tesouro emprestou dinheiro aos bancos, garantiu a dívida
de Wall Street e declarou que toda empresa pode ser um banco comercial...
Eles são todos "grandes demais para falir" e
livres para fazer comércio como quiserem ? em cima do dinheiro
do contribuinte".
O The Wall Street Journal noticiou no último
dia 9, segundo dados do Morgan Stanley, que a quantidade de dinheiro
circulando na economia global está em seu nível
mais alto, de longe, desde que a empresa começou a monitorá-la
há 30 anos. Esta vasta onda de hot money não pode
encontrar nenhuma saída rentável na produção,
por isso é que está sendo bombeada nos mercados
de ações e especulação nos preços
das commodities e moedas. O resultado é uma colossal bolha
de ativos global que deve estourar mais cedo ou mais tarde.
Abaixo seguem algumas indicações da dimensão
dessa bolha:
"Desde a sua baixa em 9 de março , o índice
da Standard & Poor's 500 subiu mais de 50%. Um índice
de ações para 22 países de "mercados
emergentes" (incluindo o Brasil, Índia e China) dobrou
desde sua baixa recente. O petróleo, agora em torno de
80 dólares o barril, aumentou 150% desde sua recente baixa
de 31 dólares. O ouro está perto de um ponto mais
alto, em torno de 1.090 dólares por onça" (Robert
J. Samuelson, no Washington Post do dia 9).
Um componente central dessa política é um incentivo
tácito da queda contínua do dólar. Ultimamente,
o declínio do dólar é ditado pelo declínio
objetivo na posição global do capitalismo americano.
O crash financeiro e a conseqüente recessão global,
que começou nos EUA, corroeram ainda mais a confiança
global do dólar, uma vez que diminuiu seu peso do produto
interno bruto americano em relação ao produto interno
bruto global.
Esse é um elemento profundamente desestabilizador na
economia mundial, o que torna qualquer recuperação
frágil e, finalmente, insustentável. Cada vez mais,
o papel único do dólar americano como reserva mais
importante do mundo e moeda de troca está sendo colocado
em dúvida. Isso foi evidenciado também na terça-feira,
dia 10, quando o banco central da Índia anunciou a compra
de 200 mil toneladas de ouro em oferta do Fundo Monetário
Internacional.
Ao fazer o anúncio, o ministro das Finanças da
Índia disse que as economias europeia e americana entraram
em colapso. A compra indiana veio poucos meses depois
que a China, que detém cerca de US$ 1,4 trilhão
em ativos de dólar, revelou que quase dobrou suas reservas
de ouro nos últimos seis anos.
O acúmulo de reservas de ouro é parte de um movimento
crescente das nações credoras distantes do dólar.
Como a BusinessWeek noticiou no mês passado: "Em
vez de comprar apenas dólares para as reservas cambiais
estrangeiras, eles estão diversificando em outras moedas.
Os países que revelam a composição das suas
carteiras de reserva colocaram 63% de suas novas reservas em euros
e ienes no segundo trimestre, de acordo com uma análise
do Barclays Capital".
As implicações da erosão do dólar,
a médio e a longo prazo, são enormes. Um dólar
forte e estável foi o alicerce do sistema capitalista monetário
internacional estabelecido na Conferência de Bretton Woods,
no final da II Guerra Mundial. O dólar serviu por quase
sete décadas como o comércio supremo do mundo e
a moeda de reserva. A posição única e privilegiada
do dólar, que trouxe consigo imensas vantagens para o capital
dos EUA ? baseava-se na incontestável supremacia econômica
dos EUA ao final da guerra. Isso, por sua vez, foi fundado no
domínio global da indústria americana.
O declínio a longo prazo do capitalismo americano refletiu-se
principalmente na decadência da sua base industrial. Resultou
também em enormes desequilíbrios globais entre as
nações "devedoras" ? em primeiro lugar,
os EUA ? e os países credores, como a China, Japão
e Alemanha, o que levou, por fim, à implosão da
economia mundial, há pouco mais de um ano. É a transformação
dos EUA de potência industrial do mundo para o centro da
especulação financeira global e do parasitismo que,
em última análise, subjaz à erosão
do dólar na posição internacional.
Isso ressalta o caráter irresponsável da política
monetária americana. Os Estados Unidos estão diante
do desastre de uma queda abrupta do dólar, que já
caiu 15% desde sua recente alta em março passado. A explosão
total na crise do dólar causaria estragos na economia dos
EUA e do mundo.
Ela obrigaria os EUA a aumentar vertiginosamente as taxas de
juros, mergulhando a economia dos EUA em uma depressão
e falência das principais instituições financeiras.
Sufocaria o mercado dos EUA, orientado para a exportação
a países como China, Japão e Alemanha e inflamaria
desvalorizações competitivas da moeda e medidas
de guerra comercial.
No entanto, para ganhar uma pequena vantagem de negociação
contra seus rivais capitalistas e fornecer liquidez para permitir
que os grandes bancos dos EUA colham lucros abundantes e celebrar
os seus executivos e os bônus executivos recordes, os EUA,
através do Fed, realizou o equivalente eletrônico
de impressão de um trilhão de dólares e inundou
os mercados financeiros com o crédito barato. Fez sabendo
que o dólar continuará a cair, tornando as exportações
americanas mais baratas e as importações mais caras.
O efeito de curto prazo é uma intensificação
das tensões mundiais monetárias e comerciais. Na
última sexta-feira os EUA cobrou impostos sobre as importações
chinesas de tubos de aço. Isso seguiu-se à imposição
de Washington, dois meses atrás, de tarifas sobre as importações
de pneus chineses. A China respondeu na sexta-feira, denunciando
"o protecionismo abusivo" e prometendo retaliar contra
os automóveis dos EUA e outras exportações
para o mercado chinês.
Enquanto isso, o economista da Universidade de Nova York, Nouriel
Roubini, faz soar o alarme sobre um cenário alternativo
para o dólar, que teria igualmente conseqüências
econômicas desastrosas. Roubini, que se tornou conhecido
por prever em 2006 o iminente colapso da bolha imobiliária
e o colapso financeiro, avisa sobre uma recuperação
de curto prazo do dólar, que irá resultar em um
colapso da bolha de ativos globais.
Em 1 de novembro, no Financial Times, a coluna intitulada
"Mãe de Todos os Comércios enfrenta uma explosão
inevitável", Roubini escreveu: "Desde março
houve um revigoramento maciço em todos os tipos de ativos
de risco: ações, petróleo, energia e nos
preços das commodities (...) e um revigoramento ainda maior
nas classes de ativos de mercados emergentes (suas ações,
títulos e moedas).
Ele alega que, no coração dessa recuperação
está "a fraqueza do dólar dos EUA, conduzido
pela mãe de todos os carry trades". Este último
termo refere-se à prática especulativa de empréstimos
em moedas com baixas taxas de juros e investimento do dinheiro
em ativos denominados em moedas mais caras.
O dólar americano suplantou o iene como moeda de financiamento
mais importante em carry trades. Os especuladores estão
emprestando dólares em operações altamente
alavancadas, apostando que o dólar continuará a
diminuir e usando os lucros resultantes para investir em ativos
de risco em todo o mundo. Como resultado, os especuladores estão
efetivamente emprestando dólares e não a taxa de
juro zero definido pelo Fed, mas a taxas muito negativas ? tão
baixas quanto -10% ou -20% numa base anualizada.
Como resultado, afirma Roubini, os investidores de carry trades
começam a perceber o retorno total na faixa de 50-70% desde
março.
Como a "irresponsável" política dos
EUA força outros países a manter suas taxas de juros
artificialmente baixos a bolha comercial de carry trade
irá piorar (...) a bolha perfeitamente correlacionada em
todas as classes de ativos em nível mundial cresce a cada
dia".
Um dia a bolha vai estourar, como fatores econômicos
ou um evento externo ? como um ataque militar ao Irã ?
levando o dólar à "inverter e, de repente ,valorizar-se".
Roubini conclui: "Mas quanto mais longo e maior forem os
carry trades e maior a bolha de ativos, maior será o estouro
da bolha de ativos que se seguirá. O Fed e outros responsáveis
políticos parecem ignorar a bolha monstro que estão
criando. Quanto mais tempo eles permanecem cegos, mais os mercados
vão cairão".
Roubini não está sozinho. Na semana passada,
o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial emitiram
avisos de crescimento das bolhas de ativos, alimentadas pelo hot
money das economias asiáticas.
Os EUA e a burguesia internacional têm uma estratégia
para lidar com o enorme crescimento da dívida que hoje
financia a recuperação "especulativa":
impor o custo total da crise sobre a classe trabalhadora. No mês
passado, a Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), declarou que os gastos
com saúde, educação e outros programas sociais
serão cortados, já que os países têm
que lidar com os altos níveis de dívida contraídos
com a crise financeira e a recessão.
A OCDE foi apoiada pelo FMI na última semana, que emitiu
uma declaração pedindo uma década de cortes
de gastos e aumento de impostos em todo o mundo industrializado.
O FMI pediu especificamente uma redução acentuada
no crescimento da despesa em cuidados de saúde e pensões.
Por sua vez, o governo Obama está comprometido com as
mesmas políticas, prometendo reduzir custos das empresas
e do governo com a saúde, como um prelúdio para
um regime de austeridade fiscal. Seu objetivo é reduzir
o consumo da classe trabalhadora, utilizando-se do desemprego
em massa para reduzir os salários, aumentar a produtividade
do trabalho e transformar os EUA em um centro de exportação
de mão de obra barata para o mercado mundial.
[traduzido por movimentonn.org]
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