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Um ano desde a eleição de Barack Obama
Por Patrick Martin
10 de novembro de 2009
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Publicado originalmente em inglês no WSWS em 4 de
novembro de 2009
Há um ano atrás, em 4 de novembro de 2008, Barack
Obama ganhou a eleição presidencial dos EUA no que
era, para todas as finalidades práticas, um recuo político.
O candidato Democrata derrotou seu rival Republicano por uma margem
de 10 milhões de votos, a maior vitória em mais
de 50 anos. Foi vitorioso em 28 estados e seu partido, o Partido
Democrata, ganhou a mais ampla maioria no congresso em 30 anos,
tanto na Câmara quanto no Senado.
O resultado das eleições constituiu uma rejeição
popular à política reacionária seguida pelo
governo Bush nos últimos oito anos. Dezenas de milhões
foram às urnas incluindo um número sem precedentes
de eleitores que votaram pela primeira vez, como minorias e jovens
para expressar sua oposição à guerra
no Iraque, ao aprofundamento da recessão, aos ataques aos
direitos democráticos e a um governo que abertamente favorecia
os ricos e tratava de forma indiferente o sofrimento das massas
trabalhadoras, expresso incisivamente, por exemplo, na resposta
de Bush ao furacão Katrina.
No âmbito do sistema bipartidário nos Estados
Unidos, o ódio para com a administração Republicana
só poderia encontrar expressão massiva em uma vitória
dos Democratas, apesar do fato de que a liderança Democrata
do Congresso havia colaborado com a Casa Branca de Bush e fornecido
o apoio necessário para o aprofundamento da política
de guerra e reação social.
Muitos dos que votaram em Obama acreditaram, sem dúvida,
que um presidente afro-americano, em virtude da sua origem étnica,
seria mais simpático às necessidades dos trabalhadores
e das pessoas pobres, e que a vitória do candidato da mudança
sinalizaria uma ruptura de décadas de reação
política e o início de políticas progressistas.
Um ano depois, essas ilusões se transformam em raiva,
frustração e uma sensação de que apenas
lhes foram vendidas imagens. Milhões de trabalhadores passaram
por uma experiência fundamental, não só com
a administração Obama, mas com todo o sistema político
e econômico. O que surge hoje, em resposta ao servilismo
do governo à Wall Street e à indiferença
para com a crise social que enfrenta a classe trabalhadora, bem
como à continuação de uma política
externa baseada na guerra imperialista, é um primeiro reconhecimento
de que todo o sistema político serve aos interesses de
classe de uma oligarquia financeira.
A eleição de 2008 reflete um movimento da população
trabalhadora para a esquerda. Obama, porém, não
foi o porta-estandarte desse movimento. Mais exatamente, foi o
instrumento dos setores mais poderosos da elite dominante. Eles
depositaram seu apoio em Obama a fim de fazer algumas mudanças
táticas na política externa e melhorar a imagem
internacional dos Estados Unidos após o fracasso dos anos
de Bush, buscando também desviar a crescente oposição
interna aos programas do grande capital. Trata-se, assim, de algo
imposto por uma fragilidade de dominação.
Como o World Socialist Web Site escreveu apenas uma
semana após a eleição:
Para lidar com o declínio prolongado e visível
do capitalismo americano, onde o sistema financeiro e as indústrias
estão à beira de colapso, essas seções
patrocinaram e financiaram a campanha de Obama, com um olho na
instalação do mais popular e, ao mesmo tempo, inteiramente
confiável representante dos interesses de classe e dos
objetivos globais do imperialismo americano. A indústria
norte-americana pode ser tudo, mesmo falida, mas os EUA continuam
o líder mundial em marketing. Uma campanha de marketing
bem desenvolvida e generosamente financiada foi feita para dar
ao imperialismo norte-americano uma nova marca, sob a forma do
jovem senador afro-americano de Illinois.
A vitória de Obama na disputa pela nomeação
presidencial democrata foi em grande parte devido à sua
oposição professada à guerra no Iraque. Sua
principal rival, Hillary Clinton, votou pela autorização
da guerra do Iraque no Senado. Mas, uma vez eleito, Obama rapidamente
desfez sua promessa de trazer mudança para Washington,
preenchendo os principais postos da Casa Branca e do gabinete
com uma combinação de líderes democratas
do Congresso, como Clinton e Rahm Emanuel, e remanescentes da
administração Bush, como Robert Gates que, como
secretário de Defesa de Bush, tinha supervisionado a invasão
militar no Iraque.
Obama encheu seus postos-chave da economia e do orçamento
com representantes de banqueiros ou aqueles, como o Presidente
do New York Federal Reserve, Timothy Geithner, que tinham laços
de longa data com Wall Street.
O ano que passou apresentou algumas alterações
cosméticas no estilo, mas, no essencial, as políticas
reacionárias da administração Bush foram
mantidas.
Na política externa, Obama manteve a ocupação
dos EUA no Iraque, aderindo ao nível de tropas decidido
por Bush antes de deixar a Casa Branca. Ele despachou um adicional
de 21.000 soldados dos EUA para o Afeganistão e está
à beira de decidir sobre uma nova escalada da guerra no
teatro Afpak.
Na política interna, Obama adotou a decisão mais
importante da administração Bush, a salvação
dos bancos através da injeção de US$ 700
bilhões de dólares. Na verdade, ela a expandiu,
tornando disponíveis até US$ 23,7 trilhões
de dólares em empréstimos, garantias, subsídios
e infusões de dinheiro para Wall Street. O mercado de ações
mergulhou durante o período de transição
de Bush para Obama, chegando à sua baixa no início
de março, mas subiu quando os grandes interesses financeiros
tiveram certeza de que a nova administração tornaria
disponíveis infinitos recursos do Tesouro.
Subsequentes iniciativas internas decorreram de tal caráter
de classe da administração Obama. Assemelhou-se
a um governo de Wall Street: a falência forçada e
os cortes-salariais na General Motors e na Chrysler; uma reestruturação
do sistema de saúde para reduzir os custos para as empresas
e para o governo em detrimento de milhões de trabalhadores
e aposentados; a continuação da ofensiva da administração
Bush contra os direitos democráticos e liberdades civis.
Tais medidas foram realizadas, até agora, com a oposição
popular relativamente velada. Esse é o serviço crítico
prestado à burguesia por Obama. A administração
McCain-Palin teria igualmente salvo Wall Street às custas
dos trabalhadores, expandido a guerra no Afeganistão e
exigido cortes nos salários para os trabalhadores da indústria
automobilística. No entanto, existiria um risco muito maior
de provocar uma explosão social e política, especialmente
na medida em que desemprego se aproximou dos 10%
No entanto, esse processo têm limites definidos. Apesar
da adulação em Wall Street e nos meios de comunicação,
as políticas econômicas do governo Obama não
têm resolvido a crise econômica mundial, nem revertido
o declínio histórico do capitalismo americano.
Em 4 de novembro de 2008, uma onça de ouro valia US$
741,85. Um ano depois, o preço do ouro atingiu um recorde
de US$ 1.085,07 a onça, o que representa um declínio
de 32% no valor do dólar em apenas um ano. Esse valor,
e não o Dow Jones Industrial Average, indica o estado real
das coisas para o capitalismo americano. Os desembolsos massivos
do Tesouro para escorar Wall Street estão levando a economia
dos EUA à falência, e o preço será
pago pelos trabalhadores, através da inflação,
do corte de salários e empregos e do corte de gastos federais
com necessidades sociais, como saúde, educação
e segurança social.
A erosão das ilusões populares com Obama é
refletida de forma limitada nas pesquisas de opinião, que
mostram crescente desgosto com ambos os grandes partidos, e nos
resultados eleitorais de fim de ano, onde houve uma queda desproporcional
na votação democrata como resultado do desapontamento
generalizado com o governo.
O sinal mais claro de mudança nos sentimentos da classe
trabalhadora se expressou na votação dos trabalhadores
da Ford, que negaram o contrato de concessões exigido pela
empresa e apoiado pelo sindicato United Auto Workers (UAW). Mais
de três quartos dos votantes rejeitaram um contrato que
lhes teria imposto os mesmos cortes infligidos aos trabalhadores
da GM e da Chrysler pelo governo Obama.
Enquanto a classe trabalhadora caminha rumo a uma oposição
ao governo, os liberais de classe média e ex-radicais cerram
fileiras com Obama. Seu governo tornou-se o veículo político
através do qual essas forças políticas movem-se
ainda mais para a direita, alinhando-se próximos a uma
extrema-direita e defendendo os interesses do imperialismo americano
no estrangeiro. Sua evolução política está
ligada a uma rejeição da classe como categoria social
fundamental e sua adoção de uma política
baseada em raça, sexo etc.
Enquanto isso, o próprio Obama nos oferece uma lição
fundamental: as divisões na sociedade são as de
classe, não as de raça. O resultado de sua eleição
ressalta a futilidade de buscar uma verdadeira mudança
dentro do sistema político existente e suas instituições
oficiais, ambos dominados pela classe que detém e controla
os meios de produção.
Um dia após a eleição de Obama, o World
Socialist Web Site declarou:
Qualquer satisfação que o Partido Democrata
retire de sua própria vitória é logo relativizada
pelo círculo íntimo do presidente eleito Obama,
pela liderança do partido e pela elite política,
pois sabem eles que as expectativas e esperanças das massas,
despertadas pela eleição, não serão
facilmente contidas. O resultado da eleição prepara
o palco para um novo e prolongado período de intenso conflito
de classes nos Estados Unidos.
Essa previsão será confirmada nas próximas
semanas e meses, na medida em que os trabalhadores retomarem a
luta para defender seus postos de trabalho, seus padrões
de vida, benefícios sociais, e contra a guerra imperialista.
Essa luta exige uma nova estratégia política. A
classe trabalhadora deve romper consciente com o Partido Democrata
e tomar o caminho da luta política contra o sistema do
lucro capitalista, baseado em um programa socialista e internacionalista.
[traduzido por movimentonn.org]
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