Publicado originalmente em inglês no WSWS no dia 2
de maio de 2009
Na quinta-feira, dia 30/04, o presidente dos EUA, Barack Obama,
informou numa conferência à imprensa que a terceira
maior montadora de veículos do país, a Chrysler,
seria incluída no Capítulo 11 da constituição
dos EUA, ou seja, no capítulo que diz respeito às
concordatas. Obama afirmou que tal medida salvaria os empregos
e que o processo seria, assim, rápido e indolor.
Dentro de poucas horas, tais palavras se revelaram como mentiras.
Todas as plantas da Chrysler serão fechadas durante o processo
de concordata e ao menos seis plantas serão fechadas permanentemente.
Enquanto isso, alguns analistas afirmam que a concordata da Chrysler
pode se enrolar na instância jurídica, vislumbrado
uma completa liquidação da empresa. Muitos operários
da Chrysler jamais pisarão novamente nas plantas em que
trabalharam.
Nos seus comentários de quinta-feira, Obama tratou os
hedge funds e um punhado de acionistas como os bodes
expiatórios de todo o processo, pois não permitiram
à Chrysler sanar seu débito. Trata-se de uma cortina
de fumaça. Na verdade, foi a gestão Obama que conduziu
a Chrysler diretamente à bancarrota.
A administração Obama, conjuntamente com o United
Auto Workers (UAW, principal central sindical dos metalúrgicos
dos EUA), com a Chrysler e a FIAT, levantou a ameaça da
falência da empresa para forçar os trabalhadores
a fazer enormes concessões de todos os tipos e, logo em
seguida, encaminhou a empresa à concordata.
O UAW desempenhou um papel fundamental em todos esse processo
conspiratório, trabalhando conscientemente para acabar
com a resistência dos trabalhadores.
Em um relato para a imprensa, executivos do UAW não
explicaram aos traballhadores como suas falsas promesas nas defesas
das concessões reverteriam a falência e salvariam
os empregos.
Caso a Chrysler contorne a bancarrota, o UAW será o
maior acionista da montadora. O que também siginificará
quase 40% das ações da GM, que também enfrenta
a bancarrota.
Tais eventos revelam que o UAW é um sindicato apenas
em seu nome. Na verdade, é uma balcão de negócios
da burguesia, permitindo o aumento da exploração
e a destruição da classe trabalhadora.
A transformação do UAW em uma empresa com interesses
coorporativos é fruto de um processo histórico de
décadas.
Na medida em que os trabalhadores resistirem à destruição
de seus empregos, níveis de vida e condições
de trabalho, encontrarão um inimigo muito maior do que
o UAW. É muito ruim que tais lutas - que precisam, desde
já, ganhar o caráter de comitês de trabalhadores
independentes do UAW - tenham por base a experiência tirada
do desastre atual.
Existem muitos componentes interrelacionados que levam à
compreensão da falência do UAW como um órgão
da classe trabaladora e sua conversão em um instrumento
da exploração capitalista. Tais componentes são:
* Defesa do capitalismo e oposição ao socialismo:
nas grandes lutas travadas nos anos 30 - que fizeram surgir o
UAW - os trabalhadores mais militantes foram influenciados pelas
idéias socialistas. No entanto, pouco depois o sindicato
abandonou qualquer perspectiva no sentido de uma transformação
radical da sociedade. Após a II Guerra Mundial, quando
os EUA emergiram como potência capitalista dominante, o
UAW alinhou-se à elite do país na busca por uma
hegemonia política mundial. Assim se explica seu apoio
às políticas da chamada Guerra Fria e à caça-às-bruxas
anti-comunista. O UAW levou a cabo uma perseguição
aos elementos mais radicais e socialistas que tiveram um papel
importante na fundação da própria entidade.
A burocracia sindical que se consolidou com tal política
reacionária identificou seus interesses com o lucro das
Três Grandes montadoras dos EUA (GM, Chrysler e Ford). Assim
que surgiu e se aprofundou a crise, tais interesses vieram à
tona claramente. O UAW, hoje, colabora abertamente com a destruição
dos empregos e condições de vida dos trabalhadores.
* Nacionalismo: A identificação dos interesses
dos trabalhadores com o dos patrões transparece no nacionalismo
do UAW. O UAW rejeita o princípio fundamental de que os
trabalhadores de todo o mundo devem se unir para lutar por seu
direitos. Na medida em que a economia mundial se tornou uma só,
integrada e dominada por coorporações transnacionais
que rodam o mundo em busca do trabalho mais barato, a orientação
nacionalista do UAW provou ser um obstáculo aos trabalhadores.
Ao invés de pressionar a burguesia por concessões
aos trabalhadores, o UAW passou a pressionar os trabalhadores
por concessões à burguesia. Jogou os trabalhadores
contra seus irmão canadenses, mexicanos, europeus ou japoneses,
insistindo que deveriam aceitar salários mais baixos e
cortes de empregos para manter as suas empresas americanas
mais competitivas.
*Aliança com o Partido Democrata: Em meio às
lutas que estabeleceram o UAW - como as sit-down strikes em Flint
e outras cidades - a direção do UAW rejeitou a luta
pela independência política e organizativa da classe
operária, atando os trabalhadores ao Partido Democrata.
Tal é a expressão política de sua defesa
do capitalismo.
Isso impediu que os trabalhadores opusessem efetivamente suas
políticas à classe dominante, numa ofensiva que
que se extendeu por mais de três décadas, iniciada
com o resgate da Chrysler em 1979-1980, tanto sob os Democratas
quanto sob os Republicanos.
Tal política culminou na eleição de Obama.
A aliança do sindicato com o Partido Democrata toma agora
a forma de uma frente sindical em defesa do governo Obama. Assim,
o UAW impõe a redução dos salários
de forma jamais vista desde a grande depressão da década
de 1930.
É mais que necessário tirar as conclusões
corretas de toda a experiência que agora culminou na bancarrota
da Chrysler (e logo a da GM).
Os trabalhadores precisam reavivar as tradições
militantes das gerações passadas. Devem lutar para
construir comitês de fábrica e de regiões
de trabalho para organizar manifestações, greves
e ocupações de fábricas contra as demissões,
fechamentos de plantas e contratos de vendas das empresas, impostos
pelo UAW. Os trabalhadores devem fazer um chamado para os outros
metalúrgicos dos EUA, Canadá, México, Europa
e Ásia para se unirem numa luta comum.
Isso está acima de qualquer luta. Deve ser erguida uma
nova perspectiva política. Os trabalhadores devem romper
com o Partido Democrata e com o sitema de bi-partidarismo e lutar
pela construção de um partido socialista de massas
da classe trabalhadora. Somente com um partido próprio
dos trabalhadores, lutando por um governo dos trabalhadores, é
possível superar realmente a crise econômica.