Abaixo segue a primeira parte, de três, de palestra
ministrada na escola de verão do Partido da Igualdade Socialista
(Socialist Equality Party SEP) em agosto de 2007.
A Greve Geral britânica de maio de 1926 permanece, depois
de mais de 80 anos, um momento determinante na história
do movimento dos trabalhadores. Suas lições são
essenciais para o desenvolvimento de uma estratégia revolucionária,
na Grã-Bretanha e no mundo.
A greve geral deveria ter sinalizado o início de um
desenvolvimento pronunciado em direção ao socialismo
revolucionário pelos trabalhadores britânicos e uma
ruptura organizacional e política com a burocracia dos
sindicatos e do Partido Trabalhista. A greve tinha o potencial
de desenvolver-se num confronto revolucionário entre capital
e trabalho. Desde os seus primeiros dias, envolveu milhões
de trabalhadores, incluindo mais de um milhão de mineradores.
Ainda assim, historiadores retratam a greve como um episódio
excepcional dentro de um movimento reformista, legalista e pacífico
desenvolvimento que se desenvolvia nos trabalhadores ingleses
uma sociedade caracterizada por antagonismos agudos, mas
que poderiam ser controlados dentro do quadro da democracia parlamentar.
Essa interpretação é auxiliada pelos escritos
de historiadores do trabalho de caráter social-democrata
e stalinista, que insistem que a revolução nunca
foi uma possibilidade ou que, se o perigo se apresentasse, sua
realização teria sido o maior desastre já
abatido sobre o povo britânico. As ações incendiárias
dos responsáveis, caso a revolução houvesse
acontecido, ameaçariam os esforços de assegurar
um acordo industrial aceitável para ambos os lados.
Como afirma um livro recente, Uma Greve Muito Britânica,
3-12 de maio de 1926, pela jornalista do Guardian Anne Perkins:
"Em grande medida, a Greve Geral britânica em 1926
foi quase um produto acidental do medo da revolução;
em uma atmosfera mais calma, poderia não ter havido um
catalisador."
A greve foi supostamente um grande mal entendido, resultado
de uma reação interna exagerada a uma ameaça
que era na verdade externa.
Esse retrato é geralmente sustentado com anedotas sobre
jogos de futebol entre grevistas e polícia (o que de fato
aconteceu, cortesia dos líderes sindicais os grevistas
ganharam por 2 a 1), e sobre fura-greves pertencentes à
um grupo cômico de estudantes. Acima de tudo, o argumento
para chamar a greve de infeliz incidente está em sua curta
duração e no curso de desenvolvimento subseqüente
da classe trabalhadora.
De fato, era a avaliação dos perigos contidos
na greve feita por representantes da burguesia britânica
no governo, e não a dos intérpretes dos dias posteriores,
que estava correta. Era uma avaliação compartilhada
pelo Congresso e por líderes do Partido Trabalhista, que
responderam vendendo a greve após meros nove dias, abandonando
os mineradores, que lutaram sozinhos até a derrota.
Foi a rejeição pelo Partido Comunista de uma
perspectiva revolucionária, em favor do Conselho Geral
do TUC (Congresso dos Sindicatos) e em particular dos esquerdistas,
que desarmaram politicamente a classe trabalhadora e facilitaram
essa traição histórica. A facção
de Stalin do Partido Comunista Soviético e do Comintern
impuseram essa linha sobre o Partido Comunista da Grã-Bretanha
(PCGB).
Stalin e seus aliados retiraram da derrota na Alemanha em 1923
a conclusão de que o capitalismo estava entrando em um
período de estabilização no qual não
havia chance real de um desenvolvimento revolucionário
na Europa. A tarefa central era, desse modo, resguardar a União
Soviética da ofensiva imperialista.
Na Inglaterra, esse rumo oportunista tomaria a forma do Comitê
Anglo-Russo estabelecido em 1925 uma aliança entre
os sindicatos russos e o TUC feita para garantir o auxílio
mútuo e o apoio entre sindicalistas dos dois países,
opor a guerra e encorajar relações amigáveis
entre a Inglaterra e a URSS.
A Oposição de Esquerda, formada por Leon Trotsky
em 1923, era contrária a essa perspectiva.
Para estimar o significado da greve geral e sua traição,
é necessário colocar a questão: havia ou
não uma situação pré-revolucionária
na Inglaterra?
Stalin negava tal possibilidade. Falando sobre sua perspectiva
do socialismo em um só país e sua batalha contra
Trotsky, ele declarou em 10 de fevereiro de 1926, "Ora, se
a vitória da revolução no Ocidente está
um tanto atrasada, nada podemos fazer, aparentemente, a não
ser esperar... Há um longo, longo caminho entre o apoio
dos trabalhadores no Ocidente e a vitória da revolução
no Ocidente..."
Qual era a posição de Trotsky sobre a situação
na Inglaterra e a política da facção de Stalin?
Ele explica em sua autobiografia Minha Vida:
"O destino da Inglaterra após a guerra era um assunto
de grande interesse. A mudança radical em sua posição
não poderia deixar de trazer mudanças igualmente
radicais em sua correlação de forças interna.
Estava claro que mesmo se a Europa, incluindo a Inglaterra, restaurasse
certo equilíbrio social por um período mais ou menos
estendido de tempo, a própria Inglaterra poderia alcançar
tal equilíbrio somente pelo meio de sérios conflitos
e abalos. Eu acreditei ser possível que na Inglaterra,
se comparada com todos os lugares, a luta da indústria
do carvão levaria a uma greve geral. A partir disso, assumi
que a contradição essencial entre as velhas e as
novas organizações da classe trabalhadora e suas
novas tarefas históricas seriam, é claro, reveladas
no futuro próximo. Durante o inverno e a primavera de 1925,
enquanto estava no Cáucaso, escrevi um livro sobre isso
Whither England? [Para Onde Inglaterra?]. O livro abordava
principalmente a concepção oficial do Politbureau,
em suas esperanças de uma evolução para a
esquerda do Conselho Geral Britânico e de uma penetração
gradual e sem dor do comunismo nas fileiras do Partido Trabalhista
Britânico e dos sindicatos."
Trotsky complementou: "...dentro de alguns meses, a greve
dos mineradores de carvão se tornou uma greve geral. Eu
não havia esperado uma confirmação tão
prematura de minha previsão."
Na introdução de 24 de maio de 1925 à
edição americana de Whither England?, publicada
depois como "Where is Britain Going?" [Para Onde Vai
a Inglaterra?], Trotsky escreveu:
"A conclusão que eu alcanço em meu estudo
é que a Grã-Bretanha se aproxima, em máxima
velocidade, de uma época de grandes levantes revolucionários...
A Grã-Bretanha se move na direção da revolução
porque a época do declínio capitalista se assentou.
E se procurarmos os perpetradores, então em resposta à
questão de quem ou o que está propelindo a Inglaterra
a percorrer a estrada para a revolução precisamos
dizer: não Moscou, mas Nova Iorque.
"Uma resposta como essa pode parecer paradoxal. Ainda
assim, corresponde inteiramente à realidade. A poderosa
e sempre crescente pressão mundial dos Estados Unidos torna
a problemática da indústria britânica, do
comércio britânico, das finanças britânicas
e da diplomacia britânica crescentemente irresolvível
e dramática.
"Os Estados Unidos não podem deixar o rumo da expansão
no mercado mundial, ou o excesso ameaçará sua própria
indústria com um golpe.' Os Estados Unidos somente
podem expandir às custas da Inglaterra."
A mineração de carvão se tornou central
na luta para reorganizar a economia e a vida social britânica.
Havia passado ao controle governamental durante a guerra e era
pesadamente subsidiada.
Frente à rigorosa competição global por
mercados, ainda mais com a retomada da produção
no Ruhr, os subsídios governamentais precisavam acabar
mesmo diante do risco de provocar a oposição
feroz da classe trabalhadora.
O conservadorismo e gradualismo que permeavam o movimento trabalhista
na Inglaterra são submetidos à crítica implacável
de Trotsky. Mas ele sabia que a base objetiva desses traços
a dominação de uma aristocracia trabalhista
e o cultivo deliberado da colaboração de classes
pela classe dominante entrava em colapso juntamente com
a hegemonia global da Grã-Bretanha.
A radicalização da classe trabalhadora britânica
já havia se manifestado imediatamente após a guerra,
com três vezes mais dias de greve entre 1919 e 1921 do que
nos anos do pré-guerra.
Mas essa onda militante havia se dissipado após a Sexta-feira
Negra, 15 de abril de 1921, quando a liderança dos sindicatos
ferroviário e do transporte renegaram seu compromisso da
Tripla Aliança de entrar em greve em apoio aos mineradores.
Muitos trabalhadores rasgaram seus cartões do sindicato
em desprezo, decididos que nenhuma traição similar
ocorreria no futuro uma motivo chave, junto com a rejeição
de qualquer processo de conciliação pelo governo,
pelo qual cinco anos depois o TUC se sentiu compelido a chamar
uma greve geral.
A classe trabalhadora buscou uma solução política,
respondendo com um governo Trabalhista em 1924. O governo foi
derrubado depois de apenas nove meses como resultado de uma caça
às bruxas anti-comunista.
O temperamento militante e revolucionário da classe
trabalhadora também se expressava na crescente influência
do Partido Comunista da Grã-Bretanha, formado em 1920.
O PCGB, que possuía apenas 4.000 membros em 1923, formou
o NMM [National Minority Movement Movimento Nacional de
Minoria] nos sindicatos, que nos anos seguintes, cresceu para
englobar cerca de um quarto do corpo de membros dos sindicatos
e teve sucesso em eleger Arthur James Cook como líder do
sindicato dos mineradores em 1924. Também formou o Movimento
de Esquerda Nacional dentro do Partido Trabalhista em 1925, fazendo
campanha pelo direito de afiliação e contra a expulsão
Trabalhista dos Comunistas.
Os Comunistas haviam tido sucesso em tornarem-se delegados
nos comitês trabalhistas e na conferência do Partido
Trabalhista. Na conferência de 1923 havia 430 delegados
Comunistas, e na eleição geral de dezembro de 1923
o PC elegeu nove candidatos, sete dos quais integrantes do Partido
Trabalhista. Os candidatos do PC receberam 66.500 votos. O Workers'
Weekly vendia então cerca de 50.000 cópias, mais
que qualquer outro semanal socialista.
Enquanto Trotsky terminava Whither England?, os proprietários
das minas de carvão pressionavam por um choque frontal
com os mineradores. Mas o governo Conservador de Stanley Baldwin
decidiu que não estava pronto, e em 31 de julho de 1925,
a "Sexta-feira Vermelha," recuou e garantiu mais subsídio
aos proprietários das minas de carvão para adiar
as demandas por cortes salariais massivos e reestruturação.
Nos nove meses que se seguiram, a classe dominante também
se preparou para o conflito com a classe trabalhadora. Estabeleceu
a Organização para a Manutenção dos
Suprimentos (OMS) para liderar operações quebra-greve,
incluindo o treinamento de forças militares e o recrutamento
de voluntários civis. A OMS se tornou uma casa oficial
para praticamente todo elemento fascista e de extrema-direita
na Bretanha. A Lei de Poderes Emergenciais de 1920 permitiu a
prisão sem mandado de qualquer um que fosse simplesmente
suspeito de um crime, e buscas sem mandado e se necessário
forçadas. O secretário de estado foi capacitado
a usar as forças armadas conforme julgasse necessário.
Winston Churchill era então o Chanceler de Exchequer.
Ele assumiria o papel-chave no trabalho para esmagar a greve geral,
junto com o secretário doméstico William Joynson-Hicks.
Em 14 de outubro de 1925, a polícia invadiu os quartéis-generais
nacional e de Londres do PCGB, da Jovem Liga Comunista, do NMM
e do Workers Weekly. No total, doze líderes foram presos
oito na época, quatro depois incluindo Willie
Gallacher, Harry Pollitt, e Robin Page Arnott quase todo
o birô político. Eles foram encarcerados e acusados
de incitação ao motim, sob um ato datado de 1797.
Permaneceram na cadeia por seis meses ou um ano, e a maioria ainda
estava presa quando a greve geral começou.
Cento e sessenta e sete mineradores da Federação
de Mineradores de Gales do Sul também foram levados a julgamento
por conta de uma greve em julho e agosto. Cinquenta foram mandados
à prisão.
A prisão dos líderes do PC evocou protestos em
massa. Ocorreram marchas, uma de 15.000 pessoas, para a Prisão
de Wandsworth todo fim de semana, e um comício no Queen's
Hall de Londres em 7 de março, descrito pelo membro do
Partido Trabalhista George Lansbury como "um dos maiores
encontros já organizados em Londres". Lansbury notou
que parlamentares do Partido Trabalhista usaram linguagem sediosa
para desafiar o secretário doméstico a prendê-los.
Cerca de 300.000 assinaturas foram colhidas para uma petição
exigindo a soltura dos 12, e um prisioneiro membro do PCGB, Wally
Hannington, foi eleito para o comitê executivo do Conselho
Sindical de Londres.
No coração dos avanços do PCGB estava
uma linha política que direcionava o partido à classe
trabalhadora e à uma disputa com a burocracia sindical
e Trabalhista pela direção do movimento. Essa política
se baseava na linha desenvolvida pelo Comintern em 1921 sob o
slogan, "Às massas". Mas o sucesso de tal disputa
dependia acima de tudo da exposição das pretensões
dos representantes de "esquerda" da burocracia.
Enquanto direitistas como Walter Citrine e Jimmy Thomas da
União Nacional de Ferroviários eram oponentes explícitos
do comunismo, esquerdistas como Alonzo Swales da união
dos engenheiros, Alfred Purcell do comércio de mobílias
e George Hicks dos construtores civis afagavam o PCGB e discursavam
com retórica radical e mesmo marxista para melhor enganar
a classe trabalhadora.
Purcell era presidente do TUC e Bromley seu secretário.
Sua eleição era medida do humor militante dentro
dos sindicatos. Purcell havia se juntado ao PCGB em seus primeiros
dias, junto com o líder da Federação de Mineradores,
A. J. Cook. Ambos saíram logo e estabeleceram um certo
grau de independência, mantendo ao mesmo tempo uma conveniente
conexão com o partido, o que lhes dava credenciais esquerdistas.
Suas declarações mais radicais geralmente eram
feitas com relação a questões de política
externa oposição à guerra e chamada
pelo estabelecimento de relações com a URSS, questões
que eles tratavam porque não os comprometiam com nada de
prático e não interferiam em sua aliança
com a direita. Na conferência do Partido Trabalhista de
1925, em Liverpool, que assumiu a decisão de excluir os
Comunistas do corpo de membros do Trabalho, eles não disseram
nada.
Foi a partir da iniciativa dos "esquerdistas" que
o Congresso do TUC de 1924 decidiu enviar uma delegação
para visitar a Rússia em novembro-dezembro. A visita levou
à formação do Comitê (de Unidade) Anglo-russo
em abril de 1925.
Trotsky não havia se oposto à formação
do Comitê Anglo-russo. Era correto, disse ele, tirar vantagem
da virada para a esquerda da classe trabalhadora, à qual
os "esquerdistas" estavam se adaptando retoricamente.
Mas a tarefa era expor os "esquerdistas" do TUC e, assim
fazendo, travar uma guerra contra toda a burocracia, construindo
a influência do Partido Comunista.
A linha stalinista era o pólo oposto de tal perspectiva.
Como Trotsky explicou em Sobre o Esboço de Programa do
Comintern em 1928, "O ponto de partida do Comitê Anglo-russo,
como vimos, foi a impaciência de pular por cima do Partido
Comunista, jovem e lento demais em seu desenvolvimento. Isso investiu
toda a experiência com um falso caráter mesmo antes
da greve geral.
"O Comitê Anglo-russo era visto não como
um bloco episódico no topo que teria de ser quebrado e
que inevitavelmente e demonstrativamente seria quebrado no primeiro
teste, comprometendo o Conselho Geral. Não, não
apenas Stalin, Bukharin, Tomsky e outros, mas também Zinoviev,
viram em uma "parceria" duradoura, um instrumento para
o revolucionamento sistemático das massas trabalhadoras
inglesas, e se não um portão, ao menos uma aproximação
em direção ao portão através do qual
cavalgaria a revolução do proletariado inglês.
Quanto mais longe ia, mais o Comitê Anglo-russo se transformava,
de uma aliança episódica, em um princípio
inviolável parado acima da luta de classes real. Isso se
revelou na época da greve geral."
Para resumir, a linha de Stalin era baseada em:
1) Um profundo ceticismo quanto à possibilidade da revolução,
como evidenciado por seu argumento de um novo período de
estabilização capitalista.
2) Um desvio para longe da tarefa de construir um Partido Comunista,
em favor de alianças oportunistas com a burocracia sindical.
3) A noção de que essas forças poderiam
eventualmente ser empurradas para a esquerda por pressão
militante e de que agiriam como substitutas ao partido.
4) O abandono ou diminuição da crítica
aos aliados de Moscou, ao menos aos "esquerdistas",
e uma recusa em retirar quaisquer conclusões práticas
mesmo quando se tornava impossível permanecer em silêncio.
Zinoviev declarou em 1924, no Quinto Congresso do Comintern:
"Na Inglaterra estamos agora passando pelo começo
de um novo capítulo do movimento Trabalhista. Não
sabemos exatamente de onde o partido comunista de massas da Inglaterra
virá, se pela porta Stewart-MacManus [do PCGB Bob
Stewart e Arthur MacManus eram líderes do PCGB] ou se por
outra porta."
Trotsky apresenta uma crítica paralisante à posição
da facção de Stalin e seus cálculos políticos
em Minha Vida:
"Stalin, Bukharin, Zinoviev nessa questão
eles estavam todos em solidariedade, ao menos no primeiro período
buscavam substituir o Partido Comunista Inglês por
uma "corrente mais ampla" que tinha em sua cabeça,
certamente, não membros do partido, mas "amigos,"
quase-comunistas, de qualquer forma bons homens e bons conhecidos.
Os bons homens, os "líderes" sólidos,
não queriam, é claro, submeterem-se à liderança
do pequeno e fraco Partido Comunista. Era seu pleno direito; o
partido não pode forçar ninguém a submeter-se
a ele. Os acordos entre os Comunistas e os "esquerdistas"
(Purcell, Hicks e Cook) na base de tarefas parciais do movimento
sindical eram, é claro, bem possíveis e em certos
casos inevitáveis. Mas sob uma condição:
o Partido Comunista precisava preservar uma completa independência,
mesmo dentro dos sindicatos, agir em seu próprio nome em
todas as questões de princípio, criticar seus aliados
de "esquerda" sempre que necessário, e desse
modo, ganhar a confiança das massas passo a passo.
"Esse único caminho possível, porém,
parecia longo demais e incerto para os burocratas da Internacional
Comunista. Eles consideraram que por meios de influência
pessoal sobre Purcell, Hicks, Cook e outros (conversas nos bastidores,
troca de correspondência, banquetes, tapinhas amigáveis
nos ombros, exortações gentis), iriam encaminhar,
de forma gradual e imperceptivelmente, a oposição
de "esquerda" ("a corrente ampla") para o
rio da Internacional Comunista. Para garantir o sucesso dessa
empreitada com maior segurança, os queridos amigos (Purcell,
Hicks e Cook) não deveriam ser contrariados ou incomodados,
não deveriam sofrer de insatisfação como
alvos de críticas inoportunas, intransigência sectária
etc... Mas já que uma das tarefas do Partido Comunista
consiste precisamente em atrapalhar a paz e alarmar todos os centristas
e semi-centristas, uma medida radical teve de ser tomada na subordinação
do Partido Comunista ao "Movimento de Minoria." No campo
do movimento sindical apareciam apenas os líderes desse
movimento. O Partido Comunista britânico havia praticamente
deixado de existir para as massas."
Essa foi a traição política fundamental
da clique de Stalin. Em Lições de Outubro, Trotsky
avisara:
"Sem um partido, à parte de um partido, sobre a
cabeça de um partido, ou com o substituto de um partido,
a revolução proletária não pode ser
vitoriosa. Essa é a principal lição da década
passada. É verdade que os sindicatos ingleses podem se
tornar um nivelador em favor da revolução proletária;
eles podem, por exemplo, até tomar o lugar dos soviets
dos trabalhadores sob certas condições e por um
certo período de tempo. Eles podem ter tal papel, porém,
não à parte de um Partido Comunista, e certamente
não contra o partido, mas somente sob a condição
de que a influência comunista se torne a influência
decisiva nos sindicatos."
Em um artigo publicado no Internacional Comunista logo após
a Greve Geral, Problemas do Movimento Sindical Britânico,
Trotsky citou passagens de sua correspondência de janeiro-março
de 1926, imediatamente antes da greve, onde explicou:
"O movimento de oposição liderado pelos
esquerdistas, semi-esquerdistas e pelos de extrema-esquerda reflete
uma profunda mudança social nas massas."
Porém, ele continou, "A lanosidade dos "esquerdistas"
britânicos junto com seu elcetismo teórico, e sua
indecisão política, para não dizer covardia,
torna a clique de MacDonald, Webb e Snowden senhora da situação,
o que por sua vez é impossível sem Thomas. Se os
chefes do Partido Trabalhista britânico formam uma rédea
posta sobre a classe trabalhadora, então Thomas é
a fivela na qual a burguesia insere as rédeas...
"O atual estágio de desenvolvimento do proletariado
britânico, onde a enorme maioria responde com simpatia aos
discursos dos "esquerdistas" e apóia MacDonald
e Thomas no poder, não é, certamente, acidental.
E é impossível pular por cima desse estágio.
O caminho do Partido Comunista, como o futuro grande partido das
massas, passa não apenas por uma luta irreconciliável
contra a agência especial do capital sob a forma da clique
Thomas-MacDonald, mas também pelo desmascaramento sistemático
dos burros "esquerdistas" por meio dos quais MacDonald
e Thomas podem manter suas posições."