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Governo de Bangladesh põe fim a revolta dos Guarda Fronteira

Por K. Ratnayake
21 de março de 2009

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Publicado originalmente em inglês no wsws em 28 de fevereiro de 2009

O motim de 33 horas dos guarda fronteira de Bangladesh, os Bangladesh Rifles (BDR), apavorou o governo e os militares. Depois de ter persuadido os amotinados a se entregarem com a oferta de anistia geral aos amotinados e ameaça de uso do aparato militar, o Governo da Primeira Ministra Sheik Hasina retoma brutalmente sua autoridade.

O exército e a polícia já contabilizaram 200 homens do BDR que abandonaram seus postos. Hasina já esqueceu sua promessa de anistia e declarou que os envolvidos serão levados à justiça. "Eles cometeram um crime hediondo... Tais atos devem ser condenados" disse ontem a primeira ministra.

Os corpos dos oficiais da guarda continuam sendo encontrados em valas rasas e esgotos dentro do QG do BDR na capital de Dhaka. Até o anoitecer de ontem, 44 corpos haviam sido encontrados, elevando a contagem dos mortos para 66, incluindo 4 civis. O comandante do BDR, Major General Shakil Ahmed, estava entre os mortos. Doze outros oficiais ainda estão desaparecidos.

Desviando o foco da atenção para os oficiais assassinados, o governo e a mídia tentam criar o clima político para represálias. As forças de segurança de Bangladesh são famosas por seus métodos de tortura e assassinatos extra-judiciais.

O motim começou na manhã de quarta-feira (25). Cerca de 2 mil soldados do BDR, indignados com os privilégios dos comandantes do exército deixaram seus postos no QG do BDR em Dhaka e invadiram o salão em que ocorria a conferência anual dos alto-comandantes do BDR.

O estopim da revolta foi a tentativa dos oficiais de ocultar as reivindicações dos soldados quando a Primeira Ministra Hasina esteve presente no quartel. Os amotinados tomaram 100 oficiais como reféns, incluindo o Major General Ahmed, bloquearam estradas dos arredores e publicaram uma pauta de reivindicações.

As unidades do BDR em todo o país se juntaram à rebelião, incluindo a de Chittagong, Rangpur, Chapainawabganj, Satkhira e Jessore. O motim não aparenta ter sido premeditado ou configurar um tentativa de tomada do poder. Foi muito mais uma revolta explosiva contra as péssimas condições de vida e o papel secundário do BDR nas forças armadas.

O BDR é uma força paramilitar auxiliar do exército de Bangladesh, com quase 70 mil homens, responsável pelo patrulhamento da extensa fronteira. Para garantir que se mantenham firmemente sob o controle do exército, somente oficiais do exército ocupam os altos postos, configurando uma aristocracia militar que se tornou alvo principal dos amotinados.

Entre suas reivindicações estão melhores salários, melhores condições de trabalho e a exigência de que os oficiais comandantes sejam escolhidos de dentro da própria tropa do BDR, ao invés de serem selecionados do exército regular, com o direito de responderem diretamente ao Ministério do Interior. Os soldados também exigiam o direito de servir nas bem pagas missões de paz da ONU no exterior.

As tropas do BDR recebem um soldo mensal de apenas $70 dólares, junto com uma ração de arroz, trigo e açúcar. Um soldado do BDR entrevistado pela rede de TV ATN disse: "Todos sabem como nós vivemos na miséria. Não podemos trabalhar livremente, não temos o nosso próprio departamento... Nós queremos dizer a eles [ao Governo] que queremos liberdade".

O contingente do BDR recebe rações suficientes para apenas 3 meses do ano, enquanto funcionários do exército contam com rações e privilégios ao longo do ano todo. Os soldados queriam acabar com essa anomalia e acusaram os seus comandantes de serem corruptos e abusivos. "Nós fomos privados e torturados pelos burocratas do exército. Não estamos recebendo o nosso salário e benefícios e ainda por cima os burocratas do exército nos humilharam e torturaram", disse um membro do BDR.

Um motivo que explica o fato do governo não ter ordenado imediatamente a supressão do motim é o expressivo apoio público de que gozavam os rebelados. A Associated Press publicou imagens de pessoas comuns saudando os amotinados. As reivindicações dos soldados foram de encontro a um verdadeiro coro de trabalhadores que enfrentam a mesma situação de aumento dos preços e aprofundamento da miséria. Há ainda grande hostilidade popular em relação ao exército, que controlou o país de janeiro de 2007 à dezembro de 2008.

Em carta aberta ao Primeiro Ministro, os rebelados do BDR se apoiaram na ampla rejeição contra os militares, afirmando: "Que tipo de nação somos nós que necessitamos de militares por todo lado"? Porque todo o nosso povo é mantido refém por eles? E pra que serve o Ministério do Interior se o BDR, os Ansar [guardas de vilarejos], os bombeiros, os carcereiros e o BAR [Batalhão de Ação Rápida] estão sob comando e controle militar?"

Nas eleições de dezembro, o povo votou massivamente na Liga Sheik Hasina´s Awami e seus aliados como um modo de expressar sua hostilidade ao militarismo do regime anterior com seus métodos repressivos. O governo, que possui 260 cadeiras no parlamento de 300 cadeiras, surpreendeu-se claramente com o irromper do motim apenas 2 meses depois da eleição.

Cautelosamente, Hasina participou de uma vídeo-conferência com 14 dos rebeldes do BDR para discutir suas reivindicações. Ela prometeu uma anistia total, melhores salários e um fim qualificado ao controle do exército sobre o BDR que ocorreria "gradativamente". Em carta endereçada à nação, no entanto, alertou: "Não queremos usar a força para acabar com a paralisação. Mas não brinquem com nossa paciência. Não hesitaremos em fazer o que for preciso para acabar com a violência caso os meios pacíficos não sejam suficientes."

O exército enviou tropas e tanques para as áreas no entorno dos quartéis dos BDR, mas os amotinados do BDR aceitaram os termos da rendição. No entanto, mesmo com as promessas de Hasina, centenas de soldados do BDR abandonaram seus postos e levantaram acampamento em Dhaka e outros locais. A polícia e as tropas do exército armaram bloqueios rodoviários por todo o país, revistando ônibus e barcos.

Em pronunciamento às viúvas dos oficiais mortos, a Primeira Ministra Hasina, juntamente com o comandante do exército General Moeen Uddin, declarou: "Ninguém conseguiria ter feito a rebelião por si só. Deve haver algum grupo por trás do ocorrido. Não eram todos que estavam envolvidos, mas um certo grupo". O comentário aponta claramente que represálias e uma verdadeira caça às bruxas estão sendo preparadas.

Refletindo o medo das elites locais, Bhaskar Roy, um analista de segurança do Grupo de Análise do Sul Asiático em Nova Delhi, disse ao Los Angeles Times: "Estes eventos devem ser mantidos nas fronteiras de Bangladesh, mas a instabilidade é preocupante".

Sob o impacto da crise econômica global, o desemprego e a pobreza crescem aceleradamente em todo o subcontinente. Bangladesh já é um dos países mais pobres do mundo, com uma renda per capta anual de $450 dólares, cerca de 40% da população vive abaixo da linha de pobreza. Não bastasse isso, dezenas de milhares de postos de trabalho foram destruíddos nos últimos meses como resultado da baixa das exportações da indústria têxtil.

Apesar da rebelião ter surgido no interior das forças de segurança de Bangladesh, isto já é um sinal de um descontentamento muito mais agudo entre a classe operária, que se tornará maior a medida que as condições de vida se tornam cada vez mais intoleráveis.

[traduzido por movimentonn.org]