Publicado originalmente em inglês em nosso site no
dia 28 de fevereiro de 2009.
A economia dos EUA retraiu 6,2% no último trimestre
de 2008, de acordo com números divulgados ontem [27/02]
pelo Departamento de Comércio do país. O número
é significativamente maior que o da estimativa original
do departamento, que previa um declínio de 3,8%. Trata-se
do declínio mais acentuado em apenas um semestre desde
1982 e marca, por isso, um significativo aprofundamento da recessão.
Além dos gastos governamentais, todos os setores da
economia retraíram no trimestre passado. As exportações,
varejo e despesas empresariais lideraram o declínio. Além
disso, também foi significante a diminuição
nos gastos dos consumidores do país.
Entre todos, o setor dos gastos empresariais teve o maior declínio.
O investimento em equipamentos e software, por exemplo, caiu à
taxa anual de 28,8%. No geral, as despesas empresariais caíram
a uma taxa de 21,1% no terceiro trimestre.
As exportações também caíram muito
mais que o previsto, reforçando a natureza global da crise.
A queda das exportações se deu com taxa anual de
23,6%, em vez dos 19,7% antecipados. De acordo com o Wall Street
Journal, o declínio nas trocas cortou meio ponto percentual
da taxa de crescimento do PIB.
Os novos números apontam que os estoques diminuíram
US$ 19,9 bilhões, em vez de crescerem US$ 6,2 bilhões
como as estatísticas anteriores estimavam. Os preços
caíram rapidamente no terceiro trimestre, desvalorizando
os estoques dos armazéns. As reduções nestes
indicam que as companhias estão cortando a produção
em resposta à queda da demanda, o que resultará
em mais demissões e gastos reduzidos.
O gasto do governo federal aumentou consideravelmente, aumentando
6,7%, em comparação à estimativa de 5,8%
de aumento. Os governos estaduais e locais, enfrentando crises
de orçamento em todo os EUA, cortaram em 1,4% seus gastos.
O gasto do consumo, que representa cerca de 70% do PIB, caiu
4,3%. Estatísticas anteriores estimavam uma queda de 3,5%.
Esta queda veio após outra de 3,8%, no trimestre anterior.
Vendas de produtos não-perecíveis produtos
de consumo caros como carros caíram 22,1%. Esse
declínio exacerbará ainda mais a crise forçando
os produtores a reduzir a produção, fechar fábricas
e demitir mais trabalhadores. A confiança dos consumidores
neste mês mergulhou ao nível mais baixo 56,3
desde que a Comissão de Conferência começou
o levantamento em 1967.
No mês passado, os pedidos de seguro-desemprego alcançaram
o patamar mais alto em 27 anos, levando muitos economistas a esperar
que a taxa de desemprego supere 8% quando as estatísticas
de janeiro forem divulgadas.
A contração no quarto trimestre se dá
após a contração de meio ponto percentual
no terceiro trimestre. A economia dos EUA cresceu 1,1% em 2008,
comparado com 2% em 2007. Usando números corrigidos para
compensar a inflação, observa-se que a queda é
a terceira pior na história dos EUA, atrás de 1957,
1980, e 1982, quando a economia contraiu-se 6,4% numa base anual.
Todos os principais indicadores da atividade econômica
do preço das casas à atividade dos investimentos,
passando pelo ânimo dos consumidores parecem estar
em queda livre. Estamos diante do que é quase certamente
a mais longa, e muito provavelmente a mais profunda, recessão
da era do pós-guerra, escreveu John Ryding, economista
da RDQ Economics, em nota a seus clientes.
A julgar pelo PIB nominal, esta já é a segunda
recessão mais profunda na história do pós-guerra
e a maior queda em mais de 50 anos. Os preços contraíram-se
rapidamente no quarto trimestre, caindo entre 3 e 5%, dependendo
do índice utilizado. O quarto trimestre do último
ano viu a mais aguda deflação de toda a história
pós-guerra dos EUA, levantando ecos da década de
1930, quando os preços caíram em um terço.
O orçamento proposto pela administração
Obama, lançado na quinta-feira, assume que a economia dos
EUA irá encolher apenas 1,2% em 2009, e retornará
a um crescimento de 3,2% no ano seguinte, estimando assim um declínio
anual cinco vezes menor do que a atual taxa de contração.
Richard Moody, economista-chefe da Mission Residential, disse
ao Financial Times: O governo é o único na
cidade que está jogando, mas os gastos governamentais não
crescerão o bastante e rápido o suficiente para
compensar a contração dos gastos do setor privado.
Economistas da Goldman Sachs predizem que a economia dos EUA
irá contrair 4,5% no primeiro trimestre, enquanto a Associação
Nacional de Economistas Empresariais prevê uma contração
de 5%.