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Peru: grandes passeatas contra o governo García e o massacre na Amazônia

Por Luis Arce
20 de junho de 2009

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Publicado em inglês no WSWS em 2 de junho de 2009

Uma onda de grandes passeatas e marchas varreu todo o Peru quinta-feira, dia 11, como repúdio popular ao recente massacre de índios amazônicos pelo governo.

A população indígena da região da Amazônia, mineiros, camponeses andinos, trabalhadores urbanos, incluindo grandes contingentes de professores, operários da construção civil e outros setores, se incorporaram a estudantes secundaristas e universitários naquilo que constituiu a maior ação até agora contra o desacreditado governo de 3 anos do presidente Alan Garcia e seu partido, o APRA.

Os protestos se defrontaram com a violência policial em várias cidades, incluindo a capital Lima.

O dia de protestos expressou o ódio das massas peruanas quanto ao ato do governo García de ordenar um violento ataque policial em 5 de junho contra índios amazônicos que bloqueavam a rodovia Fernando Belaúnde Terry, perto da cidade setentrional de Bagua. O ataque policial deixou dezenas de mortos e centenas de feridos.

Os números oficiais divulgados pelo governo afirmam que 24 policiais e apenas 9 índios foram mortos no confronto. Hospitais e organizações religiosas na área, porém, relataram um número de mortos civis muito maior, e testemunhas oculares relatam terem visto a polícia queimando os corpos de civis mortos, colocando-os em sacos pretos e jogando-os no rio. Muitos permanecem desaparecidos. Alguns dos corpos que foram recuperados mostraram sinais de terem sido queimados e recebido repetidos tiros faciais após terem sido mortos.

Os manifestantes também exigiram na terça-feira o fim de dois decretos — o 1090 e 1064 — que estabeleceram os termos para a abertura da Amazônia peruana à exploração de energia e recursos minerais, assim como extração de madeira por companhias multinacionais. Os manifestantes também demandaram a resignação do presidente Alan García, do primeiro ministro Yehude Simon e de outros membros do gabinete.

Numa tentativa de apaziguar o crescente inconformismo e ódio popular quanto ao massacre de Bagua, o Congresso peruano decidiu suspender os decretos por um período indefinido. Os manifestantes rejeitaram essa manobra, exigindo o imediato fim das medidas, que os críticos caracterizam como inconstitucionais, porque violam regulamentos estabelecidos pela Organização Internacional do Trabalho e foram adotadas sem que a população indígena da região fosse consultada.

Apoiando essa caracterização, a Corte Constitucional do Peru aceitou um processo aberto pelo Escritório de Promotoria Pública afirmando a inconstitucionalidade do decreto 1064.

O governo do APRA é resolutamente contrário ao fim dos decretos, porque eles representam um componente central do Acordo de Livre Comércio assinado com Washington. O presidente García teme que os EUA declarem o tratado nulo e inválido, o que representaria uma derrota para a política econômica direitista do governo.

Em Lima, mais de 20.000 pessoas iniciaram uma marcha pacífica a partir da Plaza Dos de Mayo em direção ao congresso e o palácio governamental, residência do presidente. Entre os organizadores da marcha estavam a Confederação Geral de Trabalhadores do Peru (CGTP), o Sutep (sindicato dos professores), organizações estudantis e diversos partidos de esquerda.

Um dos manifestantes de Lima enviou a seguinte descrição ao WSWS:

"Às 2 da tarde, eu cheguei à Avenida Colmena na esquina da Tacna, que estava fortemente defendida pela polícia. De repente, ouvi os professores do Sutep chegando, vindos da Avenida Colmena.

"Eram muitos deles e eles estavam na rua, cantando palavras-de-ordem de denúncia ao massacre de Bagua...

"Então vieram [até a Plaza Dos de Mayo] as federações estudantis da PUCP e San Marcos... que também denunciavam García e o massacre. Eles carregavam estandartes com várias mensagens, todas em apoio aos índios e em repúdio a García.

"Eventualmente, a multidão começou a seguir pela Avenida Colmena — eram milhares de nós — passando pela Plaza San Martín. Assim que chegamos à Avenida Abancay, repentinamente a polícia nos atacou com gás lacrimogêneo. Seu objetivo era impedir que chegássemos ao palácio do governo (onde a manifestação deveria acabar).

"Todos os manifestantes corriam enquanto o gás nos alcançava. Os olhos de todos os que corriam perto de mim ficaram vermelhos e cheios de lágrimas — imagino que os meus também.

"As pessoas gritavam: `Não temos um presidente, temos um genocida!` Caminhamos de volta à Avenida Colmena até alcançarmos a Plaza San Martín, onde a manifestação acabou. Membros das diferentes organizações falaram contra o governo e contra a repressão jogada sobre o protesto. Eu vi uma pessoa, que havia sido atacada pela polícia, ensangüentada e espancada."

Outro jovem que participou da marcha em Lima também enviou um relato ao WSWS dizendo, "O protesto foi complicado, porque houve muita repressão pela polícia, muita raiva e muito caos, mas não muita organização. Havia muita gente jovem de diferentes universidades."

Essa nota curta aponta para uma característica importante das manifestações de 11 de junho. Elas marcam a entrada na luta política de uma nova geração de estudantes. Também notável nas ações em Lima e ao redor do país foi o papel proeminente de novas organizações que surgiram em oposição ao governo, independentes dos velhos partidos e das burocracias sindicais.

Também houve protestos em várias cidades do norte. Em Trujillo, terra-natal do APRA, estudantes universitários e organizações populares marcharam contra o governo e em apoio aos índios.

Em Chiclayo os manifestantes, incluindo estudantes e membros dos sindicatos, foram bloqueados pela polícia de entrar no parque central da cidade. Os estudantes queimaram um retrato de Alan García.

Os protestos em Lima e no norte do país foram particularmente significativos, politicamente falando, porque essas foram as únicas regiões onde o APRA venceu na última eleição, levando García à presidência.

Seu oponente, o ultra-nacionalista ex-oficial do exército e membro do Partido Nacionalista Peruano, Ollanta Humala, derrotou García com larga vantagem precisamente nas áreas que agora estão à beira da rebelião contra o governo — a região andina e a selva amazônica.

Embora a maior parte dos partidos da burguesia peruana — o APRA, os Fujimoristas e o direitista Unidad Nacional — tenham se unido para apoiar a suspensão dos dois decretos, o partido de Humala foi contrário, chamando por seu fim.

No sul do país aconteceram confrontos nas ruas das principais cidades. Em Puno, um grupo de 500 estudantes da Universidade de Altiplano, armados com varas e pedras, enfrentou a polícia. Foi relatado que em Tacna — uma cidade na fronteira com o Chile — massas de pessoas tomaram as ruas, fechando com barricadas a Rodovia Pan-americana.

Os camponeses em Sicuani começaram uma greve geral de duração indeterminada, erguendo barricadas ao longo de seções das estradas ligando Cusco e Puno, Cusco e Arequipa e Cusco e Puerto Maldonado.

Em Arequipa, a segunda maior cidade do Peru, manifestantes ocuparam a Plaza de Armas, onde queimaram o retrato de García e fizeram fogueiras.

As cidades do altiplano central também se mostraram contrárias aos atos de violência do governo e sua política econômica. Em Ayacucho o protesto foi massivo, com muitos marchando de faces pintadas.

Em Huancayo, o centro comercial dos altiplanos centrais, estudantes universitários bloquearam a rodovia principal e resistiram às tentativas da polícia de dispersá-los.

Como se antecipava, a região mais convulsiva foi a selva amazônica. Em abril, os povos indígenas liderados pela Asociación Interétnica de Desarrollo de la Selva Peruana (Aidesep) começou uma série de ações de protesto exigindo a queda dos decretos que abriam a região à exploração. A Aidesep representa 1.350 comunidades, o que consiste em cerca de 600.000 índios amazônicos.

Os protestos rapidamente ganharam amplo suporte popular. Em face da intransigência do governo, a população indígena intensificou suas ações, começando uma série de bloqueios à rodovias e sabotagens de óleodutos. Em apoio a essas ações, houve marchas e greves de 24 horas em várias cidades da área.

Em resposta, o governo emitiu um ato permitindo que as forças armadas auxiliassem a polícia nacional. Também declarou estado de emergência. É sabido que um dos representantes dos EUA nas negociações do acordo de livre comércio expressou as preocupações de Washington de que se o Peru falhasse em ir de encontro aos seus compromissos de abrir à selva ao capital estrangeiro, os EUA proporiam o fim do acordo.

Inquestionavelmente, o atitude do governo dos EUA teve um papel protagonístico na decisão de García de provocar atos de violência, primeiro expulsando índios que haviam assumido o controle de um duto no sul do país, e depois orquestrando o massacre em Bagua.

Em face do chamamento do dia de ação em 11 de junho, o governo realizou a mobilização em massa do polícia nacional e das forças armadas nos centros populacionais da selva amazônica.

Ordenou a mobilização da polícia e dos marines em Pucalpa. A cidade de Iquitos foi militarizada, com o governo ordenando a intervenção do exército, dos marines, da força aérea e da polícia. Pucalpa e Iquitos são as principais cidades comerciais da selva peruana. Enquanto a força aérea tomava conta dos aeroportos, a marinha tomava os portos principais nos rios Ucayali e Amazonas.

Desafiando essa extraordinária mobilização militar, os povos indígenas da Amazônia se levantaram. Milhares de shipibo-cunibos, ashaninkas, awajún, sharanahuas e cashibo-cacataibos viajaram a Pucalpa para participar das ações de protesto conjuntas com o CGTP e outras organizações.

Mais de 600 estudantes indígenas da Universidade Intercultural da Amazônia Peruana em Yarinacochas se juntaram à marcha em Pucalpa.

Enquanto isso, cerca de 3.000 shipibos e ashaninkas na área de Iparia anunciaram sua intenção de bloquear o rio Ucayali. Semelhantemente, os índios da área do Lago Imiria, uma hora a norte de Pucalpa, ameaçaram bloquear o Rio Imiria. Ameaças de outro bloqueio vieram de Tamaya, perto da fronteira com o Brasil, onde 2.000 ashaninkas afirmaram que iriam interromper o transporte no Rio Tamaya.

Escolas e negócios pararam ao longo da selva para o dia de protesto.

Em face dessa mobilização em massa dos povos indígenas e do amplo apoio fornecido pelas massas de trabalhadores peruanos, os atos de repressão do governo do APRA apenas serviram como gasolina jogada ao fogo.

O primeiro ministro Yehude Simon, que na década de 1990 foi preso por supostamente ser um simpatizante de grupos esquerdistas, se tornou o principal porta-voz do gansterismo e perspectiva ditatorial do governo do partido APRA. Simon declarou que não permitirá que um grupo de pessoas na selva amazônica afetem a democracia. Agora ele afirma que está preparado para estabelecer um diálogo com a população indígena, mas baniu o Aidesep das negociações, e o líder do grupo, Alberto Pizango, foi forçado a refugiar-se na embaixada nicaraguense.

Na campanha publicitária cujo único motivo foi fazer a opinião pública voltar-se contra os índios amazônicos, o governo transmitiu fotografias de policiais mortos durante os confrontos em Bagua, denunciando os índios como «selvagens.»

A resposta da população peruana — os índios amazônicos, os camponeses, trabalhadores e estudantes — foi uma clara e massiva condenação dos atos de violência estatal. O governo García rapidamente perde os meios para continuar a governar o país através de formas da democracia burguesa e está se movendo em direção a métodos ditatoriais para defender o Acordo de Livre Comércio e os interesses tanto do capital estrangeiro quanto do seu parceiro junior, a oligarquia do Peru.

[traduzido por movimentonn.org]

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