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A Guerra Civil Espanhola e a Frente Popular

Parte 2

Por Ann Talbot
23 de fevereiro de 2009

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Abaixo está a segunda e última parte de palestra ministrada na escola de verão do Socialist Equality Party (SEP — Partido da Igualdade Socialista) em Ann Arbor, Michigan, agosto de 2007.

O governo da Frente Popular não deu qualquer passo no sentido de resistir à deflagração do golpe militar em julho de 1936 e recusou todas as demandas por armamento aos trabalhadores. Mas, em Barcelona, uma das cidades mais industrializadas da Espanha, a classe trabalhadora resistiu.

A maior organização da classe trabalhadora na Catalunha era a federação sindical anarquista CNT (Confederación Nacional del Trabajo). A influência do Partido Socialista e do Partido Comunista era pequena se comparada à do POUM. Trabalhadores comandavam armas, explosivos e veículos motorizados. Eles convocavam os soldados a recusar as ordens dos oficiais.

Inspirados pelos trabalhadores catalães, trabalhadores em Madri e Valença fizeram o mesmo. Os mineradores asturianos enviaram uma coluna de 5.000 dinamiteiros em auxílio a Madri. Em Malaga, os trabalhadores não tinham acesso às armas e primeiro usaram combustível para atear fogo ao redor das bases militares. Os marinheiros tomaram o controle de suas embarcações. O governo da Frente Popular ficou sem um exército, sem uma força policial, sem guardas de fronteira ou qualquer meio de imposição de autoridade. Em âmbito nacional, regional e local, a máquina do Estado entrara em colapso em face do levante fascista.

Todo o aparato estatal havia se desintegrado, e seu papel foi assumido por comitês improvisados conforme trabalhadores tomavam o controle das fábricas e começavam a organizar as cidades, enquanto no campo os camponeses ocupavam a terra e estabeleciam cooperativas. A campanha militar continuada contra os fascistas estava nas mãos de milícias de trabalhadores, que iniciavam uma ofensiva e estendiam a revolução ao território que recapturavam.

Escrevendo sobre essa experiência, Trotsky disse: "O proletariado espanhol apresentava atributos militares de primeira ordem. Em seu peso específico quanto à vida econômica do país, em seu nível político e cultural, o proletariado espanhol estava, no primeiro dia da revolução, não abaixo, mas acima do proletariado russo do começo de 1917."

Na Rússia, os bolcheviques não haviam sido capazes de resolver o problema da coletivização imediata da terra, mas na Espanha, os próprios camponeses, que haviam sido altamente proletarizados pelo desenvolvimento do capitalismo, começaram a coletivização. Franco havia precipitado a revolução que ele esperava prevenir.

Os republicanos e os socialistas sabiam perfeitamente onde o verdadeiro poder estava. O presidente Luis Companys disse a um grupo de anarquistas em 20 de julho: "Hoje vocês são senhores da cidade de Catalunha... Vocês a conquistaram e tudo está em seu poder. Se não precisam de mim ou não me querem como presidente da Catalunha, me digam agora e eu devo me tornar simplesmente outro soldado na luta contra o fascismo." Companys havia sido um advogado sindical e sabia o que estava fazendo. Ele estava preparado para aceitar os comitês de trabalhadores como o poder de facto na Catalunha até que pudesse desestabilizá-los e restaurar o Estado burguês.

Mas o Estado trabalhador espanhol permaneceu embrionário. O que havia emergido na Espanha era uma situação de dualidade de poder. Felix Morrow, o autor de Revolução e Contra-Revolução na Espanha, se refere à "Revolução de 19 de Julho", como uma revolução incompleta que permaneceu equilibrada no fio da navalha. Nenhum dos partidos, certamente não o POUM, demandou que os comitês de trabalhadores fossem centralizados em conselhos nacionais de soldados e trabalhadores. Em vez disso, os comitês permaneceram locais e espalhados fragmentadamente. O governo foi capaz de usar seu controle do banco nacional e das reservas de ouro para exercer o controle financeiro. O POUM e a CNT nunca tentaram assumir os bancos.

No decurso das sete semanas seguintes, as organizações de trabalhadores se aproximaram da República porque, ao não construir soviets, o POUM concedeu tacitamente o direito de governar à Azaña, Companys e todo o resto. Em 7 de setembro, o próprio Nin demandou que os ministros burgueses fossem derrubados, mas, em 18 de setembro, a posição do POUM havia mudado. Seu jornal declarou que o movimento de esquerda republicano era "de uma profunda natureza popular". Agora, afirmava que o governo da Frente Popular podia garantir o socialismo.

Nin chegou à conclusão lógica e se juntou ao governo catalão. Foi a violação de um século de experiência revolucionária acumulada. Marx havia reconhecido na época da Comuna de Paris que a classe trabalhadora não poderia simplesmente tomar o controle das instituições estatais existentes, mas deveria substituí-las por uma nova forma de Estado que refletisse seus próprios interesses de classe. Os bolcheviques não entraram no governo de Kerensky mesmo quando ele foi ameaçado por Kornilov.

Um dos primeiros atos do novo governo na Catalunha foi dissolver os comitês revolucionários que os trabalhadores haviam estabelecido em 19 de julho. Esse foi o primeiro grande avanço da contra-revolução. Foi seguido de um decreto que desarmou os trabalhadores.

No curso dos 8 meses seguintes, os governos de Madri e Barcelona destruíram as conquistas obtidas pelos trabalhadores em Julho. A presença de Nin deu aos governos a autoridade que precisavam para tomar tais medidas. O processo contra-revolucionário se movia com a maior lentidão na Catalunha, mas seu sentido era o mesmo que no resto da Espanha republicana.

Em dezembro, quando já não era mais necessário, o POUM foi expulso do governo graças à insistência do cônsul soviético, Antonov-Oyvseyenko. Mas Nin não aprendera nada e ainda dizia que a Espanha não precisava de soviets. Suas críticas ao governo eram na realidade conselhos e sugestões e, embora tenha clamado pelo controle trabalhador do exército, ele respeitosamente pediu ao governo que conseguisse isso. Semanas antes do Estado apontar suas armas para os trabalhadores da Catalunha, Nin ainda argumentava que os trabalhadores tomariam o poder pacificamente. Ele permaneceu comprometido com a perspectiva da Frente Popular.

Em março de 1937, Trotsky avisou: "Se essa política [do POUM] continuar, o proletariado catalão será vítima de uma terrível catástrofe comparável àquela da Comuna de Paris de 1871". Suas palavras se provaram demasiadamente proféticas.

Em maio de 1937, o governo e os stalinistas deflagraram um assalto militar contra a companhia telefônica de Barcelona, ocupada pelos trabalhadores desde julho de 1936. O prédio não era apenas um símbolo visível da dualidade de poder, mas também uma construção estratégica, cujo controle permitia aos trabalhadores monitorar as conversas telefônicas dos ministros do governo. O governo republicano jamais teria o controle de Barcelona se não retomasse o controle da central telefônica.

A tentativa pegou os líderes do POUM e da CNT de surpresa, mas provocou resistência massiva da classe trabalhadora, que espontaneamente se levantou em defesa das conquistas da revolução. Todos os documentos disponíveis hoje confirmam que os trabalhadores teriam conseguido tomar o poder, mas, em vez disso, os líderes do POUM e os anarquistas insistentemente chamavam pelo cessar-fogo durante a semana de batalhas de rua que se seguiu. Apenas um pequeno grupo de bolcheviques-leninistas afiliados à Oposição de Esquerda, alguns membros de base do POUM e o grupo anarquista Amigos de Durruti chamaram a tomada do poder pelos trabalhadores e denunciaram o cessar-fogo.

Em 3-4 de maio, a cidade de Barcelona estava nas mãos dos trabalhadores. Naquela noite, os executivos do POUM, CNT, FAI (Federación Anarquista Ibérica) e Juventude Libertária se encontraram numa sessão conjunta. Julián Gorkin depois relembrou, "Colocamos o problema nestes termos precisos: 'Nenhum de nós chamou as massas de Barcelona a tomar essa ação. Essa é uma resposta espontânea a uma provocação stalinista. É um momento decisivo para a revolução. Ou nos colocamos na liderança do movimento para destruir o inimigo interno ou então o movimento cairá e o inimigo nos destruirá. Precisamos fazer nossa escolha entre revolução e contra-revolução'".

Não se podia colocar com mais clareza e, de fato, eles fizeram sua escolha.

"Não nos sentíamos espiritual ou fisicamente fortes o bastante para assumir a liderança e organizar as massas para a resistência," disse depois um membro da executiva do POUM. A executiva do POUM admitiu: "Teria sido possível tomar o poder, mas nosso partido, uma força minoritária no movimento da classe trabalhadora, não pôde assumir a responsabilidade de emitir esse slogan".

Se eles houvessem chamado a tomada do poder, fossem ou não um partido pequeno, os trabalhadores da CNT que estavam muito à esquerda de seus líderes certamente os teriam ouvido. O próprio POUM possuía por volta de 40.000 membros e um destacamento de milícia de 10.000.

Mas, se os trabalhadores de Barcelona tivessem tomado o poder, como os líderes do POUM e CNT admitem que poderia ter acontecido, estariam isolados? De maneira alguma.

Se uma república dos trabalhadores tivesse sido declarada em Barcelona, isso teria implicado na galvanização da classe trabalhadora francesa. Teria sido muito difícil para o governo de Frente Popular na França manter um embargo de armas com sua própria classe trabalhadora em alerta. Trabalhadores e camponeses do resto da Espanha, tanto na área republicana quanto na nacionalista, certamente teriam respondido se os trabalhadores de Barcelona tivessem tomado medidas socialistas para colocar as fábricas nas mãos dos trabalhadores e a terra nas mãos dos camponeses. O exército de Franco teria se despedaçado, especialmente se uma república dos trabalhadores tivesse declarado seu apoio à auto-determinação colonial. Tal slogan teria impactado não somente nas colônias espanholas, mas também as britânicas e francesas.

Não se luta em uma guerra civil apenas por meios militares. É preciso ter uma estratégia política. A história dá muitos exemplos disso. A abolição da escravidão por Lincoln foi descrita por um político europeu como "a mais insana e infame revolução da história". Ainda assim ela se provou um meio de ganhar apoio por trás das linhas inimigas entre os escravos e também internacionalmente. Os trabalhadores do algodão nas cidades fabris se mobilizaram aos milhares em apoio à abolição da escravidão e à vitória do Norte. O governo britânico não ousou intervir em prol dos donos de escravos sulistas. Em Barcelona, o POUM não possuía uma estratégia revolucionária tão ousada como essa.

Quando o cesar-fogo foi finalmente acordado, provou ser o prelúdio do expurgo sangrento de todos os elementos de oposição em Barcelona e outros lugares da Espanha. O POUM foi acusado de organizar um golpe em coalizão com as polícias secretas alemã, italiana e franquista. Sua imprensa foi banida, Nin foi preso e a organização foi posta na ilegalidade. Os líderes do POUM foram levados a uma prisão stalinista em Madri — uma ex-igreja em Calle Atocha.

O próprio Nin foi separado dos outros e levado à Alcalá de Henares, onde o interrogaram por três dias. Quando se recusou a confessar ser um agente fascista, foi torturado até a morte. Seu corpo foi enterrado nos arredores da cidade. A GPU, então, ordenou aos voluntários da Brigada Internacional Alemã que tomassem de assalto a prisão onde Nin havia sido mantido. Para dar a impressão de que a Gestapo veio resgatá-lo, deixaram para trás notas do banco nacionalista, distintivos falangistas e documentos falsos.

Depois da morte de Nin, Trotsky o descreveu como um "velho e incorruptível revolucionário." Os membros do POUM, Trotsky disse, "lutaram heroicamente em todas as frentes contra os fascistas da Espanha". Mas ao entrar na Frente Popular, participar do governo de Frente Popular na Catalunha e recusar a chamada pela tomada do poder em maio de 1937, Nin cometeu uma traição que se provou fatal não apenas para si mesmo, como também para a revolução espanhola.

Nas semanas seguintes, a polícia secreta stalinista juntou todos os elementos de oposição na Catalunha, os aprisionou e torturou, execuntando muitos milhares. Um Tribunal Especial para Espionagem e Alta Traição foi estabelecido para julgar os militantes do POUM e os anarquistas acusados por colaborar com a insurreição. Quase todos os enviados a esse tribunal foram considerados culpados. Outros desapareceram, como Nin, nas prisões secretas da GPU — conhecidas como Preventoriums. Cerca de 20.000 prisioneiros foram enviados a campos de trabalho forçado. Sobreviventes relataram privação de sono, negação de alimento, falsas execuções, isolamento, confinamento em espaços minúsculos, mutilação, negação de atenção médica, total escuridão, luzes ofuscantes, quase-afogamento e, é claro, espancamentos.

A repressão havia começado muito antes dos Dias de Maio. Alexander Orlov, o cabeça da GPU na Espanha, enviou um número de agentes a Barcelona com ordens para confraternizar com o POUM e identificar alvos para sequestro e assassinato. Erwin Wolf, o ex-secretário de Trotsky, foi assassinado na Espanha. Um voluntário inglês, David Crook, contou depois como foi recrutado da Brigada Internacional para prestar serviços especiais. O relato que faz de sua vida nos dá um bom entendimento de como as operações na Espanha se encaixavam em uma campanha contra-revolucionária mais ampla que possuía sua face mais pública nos Processos de Moscou.

Crook foi levado à escola de treinamento de oficiais em Albacete, onde Ramon Mercader, que depois assassinaria Trotsky no México, o ensinou a língua espanhola. De lá, foi a Barcelona para espionar o POUM e seus apoiadores britânicos do Partido Trabalhista Independente (ILP — Independent Labour Party). Crook caiu nas graças de Eileen Blair, esposa de George Orwell, o que lhe deu a oportunidade de roubar documentos dos escritórios do ILP. Quando os líderes do POUM foram presos, ele foi posto conjuntamente na cela da prisão, para coletar informações. Também teve um papel importante no sequestro do trotskista austríaco Kurt Landau.

Da Espanha, Crook foi a Xangai, onde espionou suspeitos de trotskismo. Fica claro, a partir do relato de Crook, que os Dias de Maio não foram um evento único e isolado, mas parte de uma campanha muito mais ampla e previamente preparada para ter ramificações globais. A Espanha se tornou um campo de treinamento para os espiões, provocadores e assassinos stalinistas. Quando Ignace Reiss — o agente do serviço secreto soviético que rompeu com Stalin e se aproximou de Trotsky — foi assassinado na Suiça, seus assassinos esqueceram no país uma peça de roupa feita na espanha. Eric Hobsbawn descreve sua experiência de juventude na Frente Popular em Paris em termos esplendorosos, mas, na realidade, a Frente Popular era inseparável da repressão dos Processos de Moscou e da Espanha.

Alguns historiadores afirmam que nunca houve mais que 20 ou 40 operativos da GPU em toda a Espanha. Esse número parece estar em discrepância com as evidências e, em todo caso, ignora os stalinistas que, não sendo membros da polícia secreta, estavam de qualquer modo engajados em exterminar os oposicionistas. O Partido Comunista da Espanha era pequeno em 1936, mas um ano depois havia se tornado o mais poderoso partido da Frente Popular. Havia crescido em parte pela absorção do movimento de juventude do Partido Socialista, mas também pelo recrutamento de camponeses que estavam insatisfeitos com a coletivização e mesmo trabalhadores das áreas rurais, além de funcionários civis, magistrados e oficiais do exército nas cidades. Nessas camadas sociais, a GPU encontrou o material humano para seu trabalho: entre eles estavam gangsters, ladrões e ex-fascistas — e todos encontraram um lar natural no aparato de terror stalinista.

E a atividade repressora dos stalinistas não estava confinada à Catalunha. José Cazorla e Santiago Carillo, ambos membros do comitê central do PCE (Partido Comunista Espanhol), ilegalmente aprisionaram trabalhadores que haviam sido inocentados pelos tribunais populares em Madri e os enviaram à frente de batalha para servirem como "fortificações" humanas. O jornal da CNT Solidaridad Obrera identificou uma rede de prisões privadas "operando sob uma liderança unificada e um plano pré-concebido em escopo nacional".

Enquanto as derrotas militares se acumulavam, um ar de pânico começou a permear o comando militar stalinista após o esmagamento da classe trabalhadora catalã. Relatórios da inteligência soviética falam de uma "bactéria contaminante" entre as Brigadas Internacionais. Um relatório em tom quase histérico descreve como toda uma companhia foi desarmada e aprisionada e seus oficiais foram mortos. Uma "organização trotskista de espionagem e terrorismo" de suposta larga escala foi exposta na décima-quarta brigada e um homem morreu sob interrogatório. André Marty, o líder do Comintern francês responsável pela organização das Brigadas Internacionais, admitiu ter matado 500 membros desses brigadas. É um décimo do total de mortos entre os das Brigadas Internacionais.

Todos esses crimes foram executados sob os auspícios dos liberais e "democráticos" políticos Socialistas e Republicanos da Frente Popular. Seus defensores afirmam que eles eram ignorantes sobre as ações da GPU, o que é facilmente refutado pelos registros históricos. Um documento interessante que grava a conversa entre um conselheiro soviético e o Presidente Juan Negrin em dezembro de 1938 lança um pouco de luz sobre a atitude do governo da Frente Popular em relação à democracia.

Nessa conversa, Negrin parece ter mapeado uma estratégia política de pós-guerra que envolvia um Estado unipartidário — "Pode ser chamado de frente nacional ou frente espanhola ou união", disse Negrin. O regime que vislumbrou estaria sob a liderança de uma figura militar. Para Negrin e os outros líderes da República, a democracia podia ser desejável, mas a verdadeira questão era a ordem a supressão da revolta vinda de baixo. Para isso, uma aliança com o Kremlin era essencial e eles estavam dispostos a dar ao aparato repressivo que havia sido criado na luta contra o trotskismo o controle sobre a Espanha se essa fosse a única forma de defender a propriedade privada. A GPU agia meramente como o braço mais resoluto da Frente Popular.

Ao final de 1937, Trotsky escreveu em "Lições da Espanha: Um Último Aviso": "Quando os trabalhadores e camponeses entram no caminho da revolução — quando tomam as fábricas e fazendas, expulsam os velhos proprietários, conquistam o poder nas províncias — então a contra-revolução burguesa — tanto faz se democrática, stalinista ou fascista — não tem outro modo de pôr em xeque esse movimento senão a coerção sangrenta, suplementada por mentiras e artifícios. A superioridade da clique stalinista nessa via consistiu na sua habilidade em aplicar instantaneamente medidas que estavam além da capacidade de Azaña, Companys, Negrin e seus aliados de esquerda."

Na Espanha, escreveu Trotsky, dois programas irreconciliáveis se confrontavam. Havia o programa que consistia em "salvar do proletariado, a qualquer custo, a propriedade privada, e salvar de Franco, na medida do possível, a democracia; e, do outro lado, o programa de abolição da propriedade privada pela conquista do poder pelo proletariado. O primeiro programa expressou os interesses do capitalismo através da aristocracia trabalhista, da cúpula dos círculos pequeno-burgueses e, especialmente, da burocracia soviética. O segundo programa traduziu para a linguagem do marxismo as tendências do movimento revolucionário de massas, não plenamente consciente, mas poderoso. Com pesar para a revolução, entre o punhado de bolcheviques e o proletariado estava a parede contra-revolucionária da Frente Popular."

O heroísmo dos trabalhadores, camponeses da Espanha e dos voluntários internacionais que foram para lá é demasiadamente usado como meio para encobrir o verdadeiro caráter das políticas da Frente Popular. Qualquer um que critique a República e seus apoiadores é acusado de sujar a reputação desses lutadores abnegados. Na realidade, a reputação dessas figuras heróicas é melhor servida por um exame objetivo da história e, particularmente, da Frente Popular.

Nesta palestra, tentei mostrar que uma revolução proletária vitoriosa era possível na Espanha e que a razão de sua derrota não foi a imaturidade do proletariado espanhol, o atraso da economia ou o desfavorecimento das condições internacionais, motivos tão frequentemente apontados, mas a existência da Frente Popular. As massas da Espanha permaneceram na teia da Frente Popular até o momento em que já era tarde demais, pois nenhuma direção genuinamente revolucionária foi construída.

O partido que estava em melhor posição para levar adiante a tarefa de construir uma direção revolucionária era o POUM, mas ele se provou o maior obstáculo a isso. Se houvesse adotado uma política intransigentemente revolucionária, o POUM teria se encontrado na liderança da classe trabalhadora em Maio, senão antes. Uma enorme responsabilidade pela derrota na Espanha recai sobre o POUM e suas políticas centristas. As massas, como Trotsky disse uma vez em seus últimos escritos, buscaram seu caminho na direção correta, mas descobriram ser impossível construir uma direção revolucionária no calor da revolução. Se a revolução espanhola tivesse sido vitoriosa, a história do século vinte teria sido imensuravelmente diferente.

Concluído

[traduzido por movimentonn.org]