Publicado originalmente em inglês em nosso site no
dia 11 de Fevereiro de 2009
O Novo Partido Anti-Capitalista (Nouveau Parti Anticapitaliste,
NPA) realizou seu congresso de fundação de 6 a 8
de fevereiro em La Plaine Saint-Denis, subúrbio ao norte
de Paris. Preparado e organizado por membros da Liga Comunista
Revolucionária (LCR), o congresso do NPA aconteceu imediatamente
após o congresso de dissolução da LCR em
5 de fevereiro.
O congresso marcou uma ruptura pública e oficial com
toda associação retórica ou simbólica
com o trotskismo, um repúdio formal a toda associação
com políticas socialistas revolucionárias e, desta
forma, traçou as bases para a integração
do NPA às estruturas políticas burguesas.
As deliberações do congresso focaram-se em como
eliminar formulações trotskistas politicamente inconvenientes
dos documentos de fundação e como melhor traçar
as bases para futuras participações em um governo
de coalizão da esquerda burguesa. A tarefa mais imediata
era, portanto, definir a plataforma do partido para as eleições
européias de 2009 e decidir como formular suas negociações
com o Partido Comunista Francês (PCF), com o recém-fundado
Partido de Esquerda (Parti de Gauche, PG), e com partidos
menores e organizações políticas que estão
a sua volta.
Os delegados do congresso eram, em sua maiorira, desinteressados
ou francamente hostis à teoria marxista. Uma tentativa
de substituir referências ao "socialismo" com
"ecossocialismo" foi derrotada, mas recebeu o apoio
de aproximadamente um quarto dos delegados. A formulação
de Marx, levantada por Luxemburgo e Trotsky, de que as alternativas
postas à humanidade pela crise do capitalismo são
"socialismo ou barbárie", foi rejeitada como
sendo "etnocêntrica".
Na plataforma eleitoral européia, referências
aos "Estados Unidos Socialistas da Europa" - uma formulação
de longa data do movimento trotskista para chamar a unificação
da Europa em uma base socialista - foram substituídas por
"Europa dos trabalhadores e do povo". A sangrenta dissolução
da Iugoslávia, o risco de um colapso étnico na Bélgica
e um número de movimentos (notavelmente o nacionalismo
irlandês e o separatismo catalão na Espanha) que
o LCR apoiou, mostra o caráter da elevação
da etnia como uma base para unidade política. A mudança
da concepção da Europa como uma unidade de classe
para uma visão da Europa como uma coleção
de nacionalidades distintas é algo perigoso e reacionário.
O tópico discutido mais amplamente no congresso foi
como formular as condições do NPA para uma ampla
aliança eleitoral com o PG, o PCF e grupos associados.O
congresso do NPA definiu a declaração de que o NPA
é "favorável a um duradouro acordo com todas
as forças que se declaram como anti-capitalistas".
O contexto político para este debate é a criação
do PG no último novembro e sua proposta de formar a Frente
de Esquerda - incluindo o PG, PCF e o NPA - nas eleições
européias. O PG foi formado pelo Senador Jean-Luc Mélenchon
como uma cisão do Partido Socialista (PS), o principal
partido francês da esquerda do governo. Depois do congresso
de fundação do PG, de 29 a 31 de Janeiro, Mélenchon
lançou um apelo público ao candidato presidencial
da LCR, Olivier Besancenot: "Olivier Besancenot tem responsabilidades
com a história, ele não está mais na liderança
de um pequeno grupo". Mélenchon acrescentou "Se
ele recusar a Frente de Esquerda, o re-equilíbrio da esquerda
será impossível. Derrotando o PS, isto pode ser
feito." Pesquisas de opinião mostram que a Frente
de Esquerda receberia 14.5 por cento dos votos se as eleições
européias acontecessem hoje.
O objetivo a longo prazo de uma aliança do tipo Frente
de Esquerda, sob condições de uma crise política
e de descrença no governo de direita de Sarkozy, seria
permitir a formação de um governo de coalizão
da esquerda burguesa francesa.
A liderança do NPA repetidamente assinalou seu interesse
em tal aliança. Isso demonstra um chamado conjunto por
um dia de ação e greve geral, organizado pelo PG
e PCF no dia 29 de janeiro. Em 3 de fevereiro assinaram, com um
grupo de partidos incluindo o PS, PG e PCF, uma crítica
conjunta ao modo como o Presidente Nicolas Sarkozy gere a crise
econômica.
O NPA também permitiu ao PG e PCF circular apelos a
seus membros no congresso. O PG escreveu que os trabalhadores
"sofrerão com a crise do capitalismo se uma alternativa
não confrontá-lo. Nós sabemos que vocês
levam este argumento a sério[...] Nós temos certeza
de que nossas diferenças não são significantes
o suficiente para impedir-nos de ajudar a mudar o mundo."
Em discussões da plataforma eleitoral européia
e a Frente de Esquerda, os delegados do congresso mostraram-se
fortemente a favor da "unidade da esquerda". A maioria
das pessoas que intervieram eram a favor da Frente de Esquerda,
embora uma significante minoria expressou dúvidas sobre
Mélenchon, cujas posições como membro de
longa data do PS e ministro da educação profissional
no governo de 1997-2002 do primeiro ministro do PS Lionel Jospin
são bem conhecidas. Contudo, um delegado que o chamou de
"traidor da classe operária", foi vaiado.
A proposta da frente de Esquerda do PG cria um problema tático
para o NPA: ele teme que perderá apelo popular e poder
de negociação se entrar muito rapidamente em uma
aliança de Frente de Esquerda. Na questão de como
juntar-se a uma formação do tipo Frente de Esquerda,
o NPA dividiu-se rigidamente da seguinte forma: a maioria da LCR,
conduzida por Alain Krivine, procura seguir uma linha mais independente;
a minoria da LCR, conduzida por Christian Picquet, é favorável
a entrada imediata na Frente de Esquerda.
Um repórter do WSWS falou com Picquet no congresso.
Um homem com uma fria avaliação do potencial eleitoral
e político da promoção de Besancenot em celebridade
da mídia. Ele está tão preocupado com o descontentamento
e com oposições políticas na classe operária
que ele acredita que o NPA precisa rapidamente aliar-se com estabelecimentos
de esquerda para preceder uma explosão na classe operária.
Picquet disse, "Aqueles que quebram a unidade [dos partidos
de "esquerda" incluindo o NPA, PCF e PG] pagarão
um pesado preço político. [A maioria do NPA] acredita
no sucesso eleitoral do NPA e de Besancenotn é uma
escolha eleitoral e eu acho que eles estão se equivocando.
Pessoas que estão desapontadas com o PS não entendem
por que não existe uma esquerda confiável em oposição
à direita". Ele acrescentou que a maioria, não
abraçando uma aliança do tipo Frente de Esquerda
que poderia formar um governo, está "surdo para a
profunda raiva neste país."
Perguntado sobre o que a maioria do NPA arriscou com tal tomada
de posiçao, Picquet respondeu: "Uma grande decepção,
um repentino movimento da opinião política".
As concepções políticas que o NPA está
promovendo no interior dos membros - um "anti-capitalismo"
que mistura todas as ideologias da esquerda pequeno-burguesa -
estavam mais claramente explícitas no discurso de abertura
de Besancenot. Ele começou notando que "nada será
estabelecido precisamente" em seu discurso, que era simplesmente
uma " introdução aos debates do congresso".
De qualquer modo, sua perspectiva essencial era que o colapso
da USSR eliminou todas as distinções politicamente
significativas entre as tendências do estabelecimento da
esquerda francesa, que poderia ser unificada em torno de uma plataforma
de protestos políticos.
O colapso da USSR de 1991 "fechou" o que Besancenot
chamou "o ciclo de 1917" e o "século aberto
por 1917"- ou seja, pela Revolução de Outubro
na Rússia. Não existem mais "divisões
entre formas de revolução", ele explicou: "
Ecossocialismo, autogestão [anarquismo] a palavra
é o que menos importa."
Para explicar porque a LCR só fundou o NPA 18 anos depois
do colapso da USSR, Besancenot ressaltou que a LCR falhou repetidamente
nas tentativas de construir blocos com outros partidos políticos,
chamando tais tentativas de "cartéis de cima".
Essas tentativas envolveram a LCR em negociações
públicas com partidos que estavam associados ao PS. Apresentando
uma concisa versão dos argumentos da maioria contra uma
integração rápida demais com a Frente de
Esquerda, Besancenot disse que tais alianças "enfraqueceram
a dinâmica da mobilização"
Besancenot notou que a crise econômica global criou uma
atmosfera mais favorável ao NPA: "Mais uma vez, não
existe desmoralização generalizada".Citando
os protestos de massa que surgiram na Grécia depois que
Alexandros Grigoropoulos, de 15 anos, foi morto baleado, ele disse:
"A síndrome grega assustou as pessoas".
Ele citou problemas ambientais como aspectos chave para a crise
econômica e encorajou as pessoas "a produzir somente
o que é estritamente necessário". Ele propôs
séries de reivindicações: interdição
das demissões, um aumento de 300 no salário
mínimo, o uso de casas vazias e apartamentos para amparar
os sem-teto. Ele ao final chamou por "ativistas voluntários"
e "transformação social".
Besancenot não conclui dos levantes insurrecionais da
classe operária que existe uma necessidade objetiva para
uma perspectiva socialista e revolucionária entre os trabalhadores.
Para Besancenot, nenhuma lição política pode
ser tirada das derrotas das sucessivas ondas de greve contra a
política de austeridade social na França desde 1995.
Aliás, o desenvolvimento de uma crise econômica e
política em uma escala não vista desde 1930 é
tido como o criador das melhores condições para
mobilizações de protesto realizadas em unidade com
sindicatos e partidos como o PCF e o PG.
Desde sua criação, o NPA é uma organização
política firmemente ligada à ala esquerda da política
burguesa francesa. Na medida em que se desenvolva entre a classe
operária a vontade revolucionária, ela encontrará
no NPA um determinado inimigo.