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França: Novo Partido Anti-Capitalista realiza congresso de fundação

Por Alex Lantier
27 de fevereiro de 2009

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Publicado originalmente em inglês em nosso site no dia 11 de Fevereiro de 2009

O Novo Partido Anti-Capitalista (Nouveau Parti Anticapitaliste, NPA) realizou seu congresso de fundação de 6 a 8 de fevereiro em La Plaine Saint-Denis, subúrbio ao norte de Paris. Preparado e organizado por membros da Liga Comunista Revolucionária (LCR), o congresso do NPA aconteceu imediatamente após o congresso de dissolução da LCR em 5 de fevereiro.

O congresso marcou uma ruptura pública e oficial com toda associação retórica ou simbólica com o trotskismo, um repúdio formal a toda associação com políticas socialistas revolucionárias e, desta forma, traçou as bases para a integração do NPA às estruturas políticas burguesas.

As deliberações do congresso focaram-se em como eliminar formulações trotskistas politicamente inconvenientes dos documentos de fundação e como melhor traçar as bases para futuras participações em um governo de coalizão da esquerda burguesa. A tarefa mais imediata era, portanto, definir a plataforma do partido para as eleições européias de 2009 e decidir como formular suas negociações com o Partido Comunista Francês (PCF), com o recém-fundado Partido de Esquerda (Parti de Gauche, PG), e com partidos menores e organizações políticas que estão a sua volta.

Os delegados do congresso eram, em sua maiorira, desinteressados ou francamente hostis à teoria marxista. Uma tentativa de substituir referências ao "socialismo" com "ecossocialismo" foi derrotada, mas recebeu o apoio de aproximadamente um quarto dos delegados. A formulação de Marx, levantada por Luxemburgo e Trotsky, de que as alternativas postas à humanidade pela crise do capitalismo são "socialismo ou barbárie", foi rejeitada como sendo "etnocêntrica".

Na plataforma eleitoral européia, referências aos "Estados Unidos Socialistas da Europa" - uma formulação de longa data do movimento trotskista para chamar a unificação da Europa em uma base socialista - foram substituídas por "Europa dos trabalhadores e do povo". A sangrenta dissolução da Iugoslávia, o risco de um colapso étnico na Bélgica e um número de movimentos (notavelmente o nacionalismo irlandês e o separatismo catalão na Espanha) que o LCR apoiou, mostra o caráter da elevação da etnia como uma base para unidade política. A mudança da concepção da Europa como uma unidade de classe para uma visão da Europa como uma coleção de nacionalidades distintas é algo perigoso e reacionário.

O tópico discutido mais amplamente no congresso foi como formular as condições do NPA para uma ampla aliança eleitoral com o PG, o PCF e grupos associados.O congresso do NPA definiu a declaração de que o NPA é "favorável a um duradouro acordo com todas as forças que se declaram como anti-capitalistas".

O contexto político para este debate é a criação do PG no último novembro e sua proposta de formar a Frente de Esquerda - incluindo o PG, PCF e o NPA - nas eleições européias. O PG foi formado pelo Senador Jean-Luc Mélenchon como uma cisão do Partido Socialista (PS), o principal partido francês da esquerda do governo. Depois do congresso de fundação do PG, de 29 a 31 de Janeiro, Mélenchon lançou um apelo público ao candidato presidencial da LCR, Olivier Besancenot: "Olivier Besancenot tem responsabilidades com a história, ele não está mais na liderança de um pequeno grupo". Mélenchon acrescentou "Se ele recusar a Frente de Esquerda, o re-equilíbrio da esquerda será impossível. Derrotando o PS, isto pode ser feito." Pesquisas de opinião mostram que a Frente de Esquerda receberia 14.5 por cento dos votos se as eleições européias acontecessem hoje.

O objetivo a longo prazo de uma aliança do tipo Frente de Esquerda, sob condições de uma crise política e de descrença no governo de direita de Sarkozy, seria permitir a formação de um governo de coalizão da esquerda burguesa francesa.

A liderança do NPA repetidamente assinalou seu interesse em tal aliança. Isso demonstra um chamado conjunto por um dia de ação e greve geral, organizado pelo PG e PCF no dia 29 de janeiro. Em 3 de fevereiro assinaram, com um grupo de partidos incluindo o PS, PG e PCF, uma crítica conjunta ao modo como o Presidente Nicolas Sarkozy gere a crise econômica.

O NPA também permitiu ao PG e PCF circular apelos a seus membros no congresso. O PG escreveu que os trabalhadores "sofrerão com a crise do capitalismo se uma alternativa não confrontá-lo. Nós sabemos que vocês levam este argumento a sério[...] Nós temos certeza de que nossas diferenças não são significantes o suficiente para impedir-nos de ajudar a mudar o mundo."

Em discussões da plataforma eleitoral européia e a Frente de Esquerda, os delegados do congresso mostraram-se fortemente a favor da "unidade da esquerda". A maioria das pessoas que intervieram eram a favor da Frente de Esquerda, embora uma significante minoria expressou dúvidas sobre Mélenchon, cujas posições como membro de longa data do PS e ministro da educação profissional no governo de 1997-2002 do primeiro ministro do PS Lionel Jospin são bem conhecidas. Contudo, um delegado que o chamou de "traidor da classe operária", foi vaiado.

A proposta da frente de Esquerda do PG cria um problema tático para o NPA: ele teme que perderá apelo popular e poder de negociação se entrar muito rapidamente em uma aliança de Frente de Esquerda. Na questão de como juntar-se a uma formação do tipo Frente de Esquerda, o NPA dividiu-se rigidamente da seguinte forma: a maioria da LCR, conduzida por Alain Krivine, procura seguir uma linha mais independente; a minoria da LCR, conduzida por Christian Picquet, é favorável a entrada imediata na Frente de Esquerda.

Um repórter do WSWS falou com Picquet no congresso. Um homem com uma fria avaliação do potencial eleitoral e político da promoção de Besancenot em celebridade da mídia. Ele está tão preocupado com o descontentamento e com oposições políticas na classe operária que ele acredita que o NPA precisa rapidamente aliar-se com estabelecimentos de esquerda para preceder uma explosão na classe operária.

Picquet disse, "Aqueles que quebram a unidade [dos partidos de "esquerda" incluindo o NPA, PCF e PG] pagarão um pesado preço político. [A maioria do NPA] acredita no sucesso eleitoral do NPA e de Besancenotn— é uma escolha eleitoral e eu acho que eles estão se equivocando. Pessoas que estão desapontadas com o PS não entendem por que não existe uma esquerda confiável em oposição à direita". Ele acrescentou que a maioria, não abraçando uma aliança do tipo Frente de Esquerda que poderia formar um governo, está "surdo para a profunda raiva neste país."

Perguntado sobre o que a maioria do NPA arriscou com tal tomada de posiçao, Picquet respondeu: "Uma grande decepção, um repentino movimento da opinião política".

As concepções políticas que o NPA está promovendo no interior dos membros - um "anti-capitalismo" que mistura todas as ideologias da esquerda pequeno-burguesa - estavam mais claramente explícitas no discurso de abertura de Besancenot. Ele começou notando que "nada será estabelecido precisamente" em seu discurso, que era simplesmente uma " introdução aos debates do congresso". De qualquer modo, sua perspectiva essencial era que o colapso da USSR eliminou todas as distinções politicamente significativas entre as tendências do estabelecimento da esquerda francesa, que poderia ser unificada em torno de uma plataforma de protestos políticos.

O colapso da USSR de 1991 "fechou" o que Besancenot chamou "o ciclo de 1917" e o "século aberto por 1917"- ou seja, pela Revolução de Outubro na Rússia. Não existem mais "divisões entre formas de revolução", ele explicou: " Ecossocialismo, autogestão [anarquismo] — a palavra é o que menos importa."

Para explicar porque a LCR só fundou o NPA 18 anos depois do colapso da USSR, Besancenot ressaltou que a LCR falhou repetidamente nas tentativas de construir blocos com outros partidos políticos, chamando tais tentativas de "cartéis de cima". Essas tentativas envolveram a LCR em negociações públicas com partidos que estavam associados ao PS. Apresentando uma concisa versão dos argumentos da maioria contra uma integração rápida demais com a Frente de Esquerda, Besancenot disse que tais alianças "enfraqueceram a dinâmica da mobilização"

Besancenot notou que a crise econômica global criou uma atmosfera mais favorável ao NPA: "Mais uma vez, não existe desmoralização generalizada".Citando os protestos de massa que surgiram na Grécia depois que Alexandros Grigoropoulos, de 15 anos, foi morto baleado, ele disse: "A síndrome grega assustou as pessoas".

Ele citou problemas ambientais como aspectos chave para a crise econômica e encorajou as pessoas "a produzir somente o que é estritamente necessário". Ele propôs séries de reivindicações: interdição das demissões, um aumento de €300 no salário mínimo, o uso de casas vazias e apartamentos para amparar os sem-teto. Ele ao final chamou por "ativistas voluntários" e "transformação social".

Besancenot não conclui dos levantes insurrecionais da classe operária que existe uma necessidade objetiva para uma perspectiva socialista e revolucionária entre os trabalhadores. Para Besancenot, nenhuma lição política pode ser tirada das derrotas das sucessivas ondas de greve contra a política de austeridade social na França desde 1995. Aliás, o desenvolvimento de uma crise econômica e política em uma escala não vista desde 1930 é tido como o criador das melhores condições para mobilizações de protesto realizadas em unidade com sindicatos e partidos como o PCF e o PG.

Desde sua criação, o NPA é uma organização política firmemente ligada à ala esquerda da política burguesa francesa. Na medida em que se desenvolva entre a classe operária a vontade revolucionária, ela encontrará no NPA um determinado inimigo.

[traduzido por movimentonn.org]