Publicado originalmente em inglês no nosso site em
19 de fevereiro de 2009.
O Site Socialista de Interligação Mundial
(wsws.org) presta uma homenagem à campanha, corajosa e
principista, que o Socialist Equality Party (Partido da Igualdade
Socialista) acabou de realizar nas eleições para
província no Sri Lanka, sob condições de
uma guerra civil, repressão do Estado e comunalismo. Este
é um exemplo inspirador da luta pelo internacionalismo
socialista, além de uma refutação direta
a todos aqueles que insistem em dizer que é impossível
lutar por tal programa em um mundo tão fragmentado por
uma miríade de divisões nacionais, étnicas,
linguísticas e tribais.
A questão primordial era a guerra do governo contra
o grupo separatista Tigres da Libertação do Tamil
Eelam (Liberation Tigers of Tamil Eelam, LTTE). O conflito
de 25 anos não apenas tirou a vida de mais de 70.000 pessoas,
levando morte e destruição a grande parte do norte
e leste do país, como também tem permeado todos
os aspectos da vida. Uma lembrança física constante
é a presença de postos de controle povoados por
tropas altamente armadas ao longo de toda a ilha e a constante
ameaça de uma detenção arbitrária,
principalmente para os Tamils. A vida política é
dominada pelos grandes partidos e a mídia, que estão,
de uma forma ou de outra, completamente afundados na lama da política
comunal e apoiam a guerra ativamente.
O SEP foi o único partido que se opôs à
guerra e exigiu a retirada imediata e incondicional das tropas
do norte e do leste. Seus candidatos desafiaram diretamente a
alegação do Presidente Mahinda Rajapakse de que
ele estava travando uma guerra ao terrorismo. O SEP mostrou que
as raízes da guerra foram colocadas durante décadas
de discriminação contra os Tamil por parte de sucessivos
governos Colombo. Longe de lutar por paz e democracia, o governo
insiste em travar uma guerra para assegurar o predomínio
das elites Sinhala através da manutenção
de um Estado budista desta etnia.
Ao mesmo tempo, o SEP não deu nenhum apoio político
ao LTTE e a seu programa separatista Tamil. O LTTE nunca representou
os interesses da população trabalhadora, mas aqueles
de setores da burguesia Tamil. Desde o princípio, o LTTE
rejeitou uma luta política pela unidade das massas e reivindicou,
em seu lugar, um micro-Estado Tamil, que nunca teve nenhum princípio
econômico viável. A adoração do LTTE
pela luta armada era acompanhada da eliminação física
de seus oponentes e do massacre irracional dos civis Sinhala,
fato que jogou totalmente a favor da supremacia Sinhala em Colombo.
O SEP levantou um programa para unificar a classe trabalhadora
e estabelecer sua independência política de todas
as facções da burguesia cingalesa. Seus candidatos
esclareceram que a guerra e o uso da política comunal sempre
foram dirigidos a dividir os trabalhadores e sustentar o Estado
capitalista. A guerra havia sido acompanhada por um incansável
ataque aos níveis de vida dos trabalhadores através
de reestruturações pró-mercado. A única
forma de se acabar com a guerra, com os ataques aos direitos democráticos
e com o abismo crescente entre ricos e pobres é através
da luta por um governo operário e camponês baseado
em políticas socialistas, uma República Socialista
do Sri Lanka e Eelam como parte da União dos Estados Socialistas
do Sul da Ásia.
A luta pelo socialismo internacionalista no Sri Lanka sempre
requereu um alto nível de coragem política e, de
fato, física. Desde seu início como Liga Comunista
Revolucionária, em 1968, o partido esteve sob fogo cruzado.
Seis de seus membros foram mortos, tanto pelo aparato do Estado
quando por pistoleiros chauvinistas de Janatha Vimukthi Peramuna
(JVP). Cada membro do partido já sofreu mais do que lhe
cabe em ameaças, violência física e perseguição.
Para nomear apenas dois, os membros do Comitê Editorial
Internacional do WSWS: o secretário geral do SEP Wije Dias
foi encarcerado por 51 dias em 1987 pelo crime de defender políticas
revolucionárias e K. Ratnayake teve sua casa incendiada
até o chão por capangas governistas em meio ao pogrom
anti-Tamil de 1983, que marcou o início da guerra.
As eleições na semana passada ocorreram sob uma
nuvem de intimidações, assédio político
e repressão estatal. Rajapakse e seus ministros estigmatizaram
os críticos, trabalhadores em greve e estudantes que protestavam
como Tigres terroristas. Esta ameaça não é
sem propósito. Centenas de pessoas foram assassinadas por
esquadrões da morte que operavam em conspiração
com forças de segurança. Em Agosto de 2006, o apoiador
do SEP Sivapragasam Mariyadas foi baleado em Mullipothana, no
distrito de Trincomalee no leste. Em Março de 2007, o membro
do SEP Nadarajah Wimaleswaran e seu amigo, Sivanathan Mathivathanan,
desapareceram em um posto de controle naval na ilha de Kayts no
norte. Apesar de uma campanha determinada do SEP, o governo e
as forças armadas se esquivaram e recusaram-se a providenciar
qualquer informação sobre os dois homens.
Sob tal clima político, a pressão constante é
para que se tome o caminho mais seguro, adaptar-se à situação
prevalecente e encontrar um lugar nos círculos dos partidos
nacionais burgueses. O Sri Lanka tem a sua parte de grupos de
radicais de classe-média, como o Partido Sama Samaja, cuja
história inteira resume-se em promover ilusões em
um ou outro grande partido da burguesia, das quais todas provaram-se
falsas. A LCR foi fundada em oposição direta a essas
concepções, que encontraram sua forma mais desenvolvida
na traição do Partido Lanka Sama Samaja (LSSP),
quando este abandonou abertamente os princípios o trotskimo
e juntou-se ao governo burguês da Madame Sirima Bandaranaike
em 1964.
A base do programa do SEP é a Teoria da Revolução
Permanente de Trotski, que defende que, em países de desenvolvimento
capitalista atrasado, como o Sri Lanka, a burguesia é organicamente
incapaz de levar adiante um papel progressista. Apenas a classe
trabalhadora, mobilizando as massas camponesas atrás de
si, pode cumprir as tarefas democráticas incompletas, incluindo
uma radical reforma agrária, e dar início a uma
transformação socialista da sociedade como parte
integral da revolução socialista mundial. Tal perspectiva
foi confirmada positivamente na Revolução Russa
de 1917 e centenas de vezes negativamente por toda a Ásia,
África, Oriente Médio e América Latina. Por
todo o século XX, a propaganda feita por vários
partidos stalinistas e oportunistas das qualidades progressistas
deste ou daquele líder ou partido burguês levaram
a um desastre após o outro para a classe trabalhadora,
a começar pela trágica derrota da Revolução
Chinesa de 1925-1927.
A prolongada luta do SEP por uma perspectiva de bases científica
começa a se vincular com as experiências dos trabalhadores
e da juventude, uma vez que uma crise do capitalismo global gera
um novo interesse em políticas revolucionárias.
Enquanto a campanha eleitoral oficial no Sri Lanka era dominada
pelo militarismo e pela política comunal divisora, o programa
do SEP tocou alguns daqueles que buscavam uma alternativa ao desastre
criado por sucessivos governos em Colombo. Apesar de décadas
de propaganda racial, a grande maioria dos trabalhadores - Sinhala,
Tamil e Muçulmanos - mantêm um senso elementar de
solidariedade de classe e são hostis à guerra. Daqueles
que votaram no governo, muitos o fizeram na falsa esperança
de que a derrota dos LTTE levaria ao fim do conflito comunal e
a alguma melhora em suas vidas.
O significado politico da campanha do SEP, no entanto, vai
muito além do Sri Lanka. Sua perspectiva de uma União
dos Estados Socialistas do Sul da Ásia tem relevância
imediata aos jovens e trabalhadores de todo assim chamado Terceiro
Mundo. Da mesma forma que os conflitos no Sul da Ásia podem
ser remetidos às ocupações de 1947-1948 que
dividiram o subcontinente, as tensões étnicas, comunais
e tribais e guerras que destruíram outras partes do globo
também têm suas raízes nos acordos do pós-guerra
(Segunda Guerra) que acabaram com os antigos impérios coloniais.
Em todos os casos, as elites dominantes locais receberam sua
independência em troca da garantia de salvaguardarem os
interesses econômicos e estratégicos de seus antigos
mestres coloniais. O retalhamento arbitrário de fronteiras
nacionais estabelecido pela divisão colonial do continente
africano ou imposto ao Oriente Médio após o colapso
do império otomano tem sido uma fonte ininterrupta de atritos
e conflitos. País após país, os representantes
políticos da burguesia aceitaram essas fronteiras e manipularam
vergonhosamente as divisões tribais, linguísticas
e étnicas para estabelecerem uma base para seu próprio
domínio.
Durante a Guerra Fria, essas diversas elites foram capazes
de se equilibrar entre o imperialismo e o bloco soviético.
Apoiados pelos stalinistas soviéticos e chineses em suas
próprias causas oportunistas, líderes como Sukarno
na Indonésia, Gamal Abdel Nasser no Egito e Julius Nyerere
na Tanzânia cobriram-se de uma coloração socialista
e anti-imperialista. Suas manobras, porém, acabavam invariavelmente
em desastre. Após o colapso da União Soviética,
a lógica de todas as correntes do nacionalismo burguês
tornou-se evidente de imediato. Um após o outro, todos
os proponentes da luta armada e libertação nacional,
desde a OLP no Oriente Médio à ANC na África
do Sul, fizeram sua paz com o imperialismo, trocaram suas fardas
militares por ternos executivos e abraçaram o mercado capitalista.
O SEP é o único partido que lutou corajosamente
sob a bandeira da Quarta Internacional pelos princípios
do socialismo internacional e recusou-se a curvar-se diante dos
assim chamados ícones da luta anti-imperialista. Sua campanha
eleitoral fortaleceu objetivamente a unidade da classe trabalhadora
no Sri Lanka e no mundo ao apontar um caminho político
claro para sair do pântano da pobreza, atraso econômico
e conflitos fratricidas que são o legado de 60 anos de
domínio burguês nas regiões subdesenvolvidas
no planeta.
Convocamos todos os jovens e trabalhadores a estudar o programa
do SEP cuidadosamente, assim como seus longos registros de luta
política e a juntarem-se e construírem o SEP e novas
seções do Comitê Internacional da Quarta Internacional
(CIQI) como a nova direção revolucionária
da classe trabalhadora na Ásia, África, Oriente
Médio e América Latina.