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A tragédia da Revolução Chinesa de 1925-1927

Parte 1

Por John Chan
06 de fevereiro de 2009

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Publicado originalmente em inglês no WSWS em 5 de janeiro de 2009.

Abaixo segue a primeira parte de uma palestra realizada na escola de verão do Socialist Equality Party [SEP - Partido da Igualdade Socialista] em Ann Arbor, Michigan, em agosto de 2007.

A ascensão e queda da Segunda Revolução Chinesa de 1925-1927 foi um dos mais significativos eventos politicos na história do século XX. Essa revolução fracassada terminou com a morte de milhares de trabalhadores comunistas e a destruição total do Partido Comunista Chinês (PCC) como movimento de massas organizado da classe trabalhadora. Não se pode compreender os problemas fundamentais da história moderna chinesa - e em particular o da natureza do regime maoísta estabelecido em 1949 - sem compreender as lições de 1925-27.

Em 1930, Trotsky fez o seguinte apelo: "Um estudo da revolução chinesa é assunto de enorme importância e urgência para todo comunista e trabalhador avançado. Não é possível falar seriamente sobre a luta internacinal do proletariado pelo poder sem o estudo, pela vanguarda proletária, dos eventos fundamentais, forças-motrizes e métodos estratégicos da revolução chinesa. Não é possível compreender o que é o dia sem compreender o que é a noite; não é possível compreender o que é o verão sem haver experimentado o inverno. Da mesma maneira, não é possível compreender o significado dos métodos do levante de outubro sem um estudo da catástrofe chinesa" (Leon Trotsky on China, Monad Press, Nova Iorque, 1978, p. 475).

A perspectiva da revolução chinesa estava no coração da luta de Trotsky contra a burocracia stalinista. Nesta luta, sua teoria da Revolução Permanente foi submetida a um gigantesco teste - pela segunda vez. Com o apoio do aparato burocrático soviético, Stalin prevaleceu, levando à traição de uma das mais promissoras oportunidades revolucionárias desde 1917. A derrota na China foi um golpe decisivo contra a Oposição de Esquerda. Ao final de 1927, Trotsky foi expulso do Partido Comunista da União Soviética e, em seguida, da URSS.

Esta palestra examinará e destacará o papel central da direção revolucionária, em direta oposição às análises da escola pós-soviética de falsificação. Os métodos e argumentos desenvolvidos por dois membros dessa tendência, os historiadores britânicos Ian Thatcher e Geoffrey Swain, já foram minuciosamente expostos e refutados por David North em seu trabalho recente, Leon Trotsky & the Post-Soviet School of Historical Falsification [Leon Trotsky & a Escola Pós-soviética de Falsificação Histórica] (Mehring Books, Detroit, 2007). As posições desses intelectuais quanto à revolução chinesa merecem nossa atenção.

De acordo com Thatcher - sobre os eventos de 1925-27 - Stalin e Trotsky compartilhavam a mesma posição sobre a "necessidade de uma China socialista". Trata-se da mistura de duas perspectivas diametralmente opostas. Trotsky representava a tendência internacionalista, que reconhecia que a primeira revolução socialista na Rússia atrasada não teve como principal fator condicionante as especificidades nacionais, mas sim as contradições mundiais do capitalismo. A Revolução de Outubro foi apenas o começo de uma revolução socialista mundial nos países capitalistas avançados, assim como nas colônias oprimidas. Trotsky sustentou que o proletariado chinês, assim como a classe trabalhadora russa, estava em posição de tomar o poder porque a burguesia nacional não era mais capaz, na época do imperialismo, de assumir um papel historicamente progressista.

Contrariamente, Stalin ignorou o fato de que as forças produtivas na época imperialista haviam superado os antiquados estados-nação. Ele pensava a opressão imperialista meramente como um obstáculo externo ao ascenso do capitalismo "nacional" chinês e que ainda seria possível seguir a via das revoluções burguesas clássicas da Europa Ocidental e América do Norte. Para permitir que a burguesia chinesa completasse suas tarefas nacional-democráticas, Stalin insistiu que a classe trabalhadora precisava primeiro subordinar-se ao regime burguês do Kuomintang (KMT). Assim, a perspectiva da revolução proletária era adiado por anos, ou até mesmo décadas.

Essas duas concepções opostas produziram políticas muito diferentes. Trotsky exigiu a independência política da classe trabalhadora; Stalin forçou os Comunistas Chineses a se tornarem serviçais do Kuomintang. Trotsky chamou a construção de Sovietes como organismos de poder dos trabalhadores e camponeses; Stalin considerou o próprio KMT um tipo de regime revolucionário democrático. Trotsky avisou os trabalhadores chineses sobre o perigo iminente de ambas as alas de direita e esquerda do KMT. Stalin primeiro capitulou para todo o KMT e, então, depois que Chiang Kai-shek massacrou os trabalhadores de Xangai em abril de 1927, ordenou aos Comunistas que se voltassem à liderança de "esquerda" do KMT, sob Wang Ching-wei, em Wuhan - apenas para vê-los liquidados em um banho de sangue três meses depois.

Após a revolução entrar em um periodo de declínio na segunda metade de 1927, Trotsky convocou uma retirada sistemática para proteger o partido; Stalin ordenou criminosamente que o PCC levasse adiante golpes, o que apenas levou à morte milhares de quadros e à destruição total das já despedaçadas organizações comunistas de trabalhadores nos principais centros populacionais.

Apesar dessas diferenças fundamentais, Thatcher argumenta que ela são completamente irrelevantes diante do trágico fim da Segunda Revolução Chinesa. Afirma ele que, mesmo que o Partido Comunista tivesse abandonado o Kuomintang em 1926, como defendia Trotsky, "não há evidência para sugerir que [o Partido Comunista] obteria maior sucesso em 1927" (Trotsky, Ian D. Thatcher, Routledge, 2003, p. 156).

Para Thatcher, programa revolucionário, perspectiva, direção e tática não têm qualquer influência sobre o desenrolar dos eventos decisivos na história humana.

As origens da Revolução Chinesa

Embora a primeira revolução socialista, a Revolução Russa, tenha ocorrido em outubro de 1917, sua preparação teórica dentro do movimento marxista levou décadas. Na China não houve um desenvolvimento prolongado como o ocorrido na Rússia. Assim como o surgimento da classe trabalhadora chinesa foi produto da direta importação de capital estrangeiro e equipamento industrial para um país semi-colonial atrasado, o desenvolvimento do movimento marxista chinês foi extensão direta da Revolução Russa, pulando por cima de séculos de pensamento social ocidental e de tradição social-democrata. A experiência da Revolução de Outubro foi fundamental para a China, por possuir características muito similares de desenvolvimento histórico e social. Ambos os países lutavam para subjugar o campo e possuíam questões democráticas não resolvidas, com um pequeno, mas rápido, desenvolvimento da classe trabalhadora.

A grande tragédia da revolução chinesa se deu porque a autoridade monumental da Revolução Russa foi utilizada, sob a liderança de Stalin, para defender uma política oportunista, baseada na teoria menchevique dos "dois estágios".

Para um estudo mais detalhado das três concepções da Revolução Russa - a teoria dos "dois estágios", a fórmula de Lenin da "ditadura democrática do proletariado e campesinato" e a teoria da Revolução Permanente de Trotsky - ver a palestra de David North ministrada em 2001, "Towards a reconsideration of Trotsky's legacy and his place in the history of the 20th century" [Para uma reconsideração do legado de Trotsky e seu lugar na história do Séc. XX].

A teoria da Revolução Permanente, afirmada num sentido positivo pela Revolução Russa, também foi afirmada - embora em um sentido trágico e negativo - pelas derrotas sofridas na revolucão chinesa.

A principal questão sobre a revolução chinesa é muito similar à que havia emergido na Rússia. Diante das divisões criadas pelos senhores-guerreiros e potências imperialistas; das reformas agrárias para centenas de milhões de camponeses pobres, famintos por terra e por um fim às barbaridades da exploração semi-feudal, a China enfrentava a tarefa urgente da unificação nacional e da independência. Mas, a burguesia chinesa se provou ainda mais venal que sua contraparte russa - era dependente do imperialismo, incapaz de integrar a nação, organicamente amarrada aos latifundiários e usurários rurais e, assim, impossibilitada de levar adiante a reforma agrária. Acima de tudo, a burguesia chinesa temia profundamente a jovem e combativa classe trabalhadora do país.

Como na Rússia, a ascensão da indústria chinesa dependeu do capital internacional. Entre 1902 e 1914, o investimento estrangeiro na China dobrou. Nos 15 anos seguintes, o capital estrangeiro dobrou novamente, totalizando 3,3 bilhões de dólares e predominando nas principais indústrias chinesas, particularmente a têxtil, a ferroviária e a portuária. Em 1916, havia 1 milhão de trabalhadores industriais na China; em 1922, o número era duas vezes maior. Esses trabalhadores estavam concentrados em uns poucos centros industriais como Xangai e Wuhan. Dezenas de milhões de semi-proletários - artesãos, lojistas, escriturários e os pobres urbanos - compartilhavam aspirações sociais com a classe trabalhadora.

Apesar de fisicamente pequeno - alguns milhões em uma população de 400 milhões - o proletariado chinês era impulsionado pelas contradições mundiais do capitalismo a assumir um papel de vanguarda nas lutas revolucionárias do começo do século XX. O fracasso da primeira revolução chinesa em 1911, sob a liderança de Sun Yat-sen, demonstrou que a burguesia chinesa era absolutamente incapaz de completar suas próprias tarefas históricas.

Sun Yat-sen começou a ganhar apoio na década de 1890, depois que a dinastia Manchu rejeitou os apelos pelo estabelecimento de uma monarquia constitucional. Inspirado pelas revoluções burguesas clássicas da França e América, Sun advogou os "Três Princípios do Povo" - a derrubada do sistema imperial, a instituição de uma república democrática e a nacionalização da terra. Não fez, porém, qualquer tentativa de construir um movimento político de massas e de um modo geral se limitou a atividades conspiratórias: pequenos golpes armados ou ações terroristas contra oficiais dos Manchu.

A assim chamada "revolução" de 1911 significou um simplês peteleco, que derrubou uma estrutura amplamente apodrecida. Financeiramente, o governo imperial estava à beira da falência após décadas de pilhagem pelas potências estrangeiras. Politicamente, a corte dos Manchu estava completamente desacreditada após a anexação pelas potências imperialistas de territórios chineses na forma de colônias, como Hong Kong e Taiwan, ou na forma de "concessões" em cidades portuárias, onde tropas estrangeiras, polícia e sistema legal dominavam o poder político. Em 1900, a dinastia Manchu, moribunda, precisou confiar em tropas estrangeiras para pôr abaixo a Rebelião Boxer - um amplo levante anti-colonial pelos camponeses e pobres urbanos.

Quando a dinastia Manchu finalmente prometeu a reforma constitucional, já era tarde demais. Seções significativas da burguesia, burocracia e exército chineses haviam se voltado na direção de Sun Yat-sen. Em 10 de outubro de 1911, milhares de soldados em Wuchang, na província de Hubei, ensaiaram uma rebelião e proclamaram a república. A revolta rapidamente se espalhou por todas as províncias chinesas, mas a falta de qualquer movimento de massas genuíno deixou intactos os interesses velados. O resultado foi uma "República da China" levemente federada, com Sun ocupando o cargo de presidente provisório.

Essa nova república, porém, estava de fato nas mãos do velho aparato burocrático-militar, que se opunha a qualquer tentativa de dar terras ao campesinato. Sun rapidamente se comprometeu com essas forças reacionárias, querendo apenas reconhecimento internacional para a república chinesa. Mas as potências imperialistas exigiram que Sun entregasse a presidência ao último primeiro ministro da dinastia Manchu, Yuan Shikai, considerado pelas grandes potências um governante mais confiável - alguém com quem se podia contar para manter a China no estado de país semi-colonial. Depois que Yuan se tornou presidente, deu as costas a Sun e seu KMT, ou partido Nacionalista, jogou fora a constituição e dissolveu o parlamento. Em 1915, com o apoio do Japão, Yuan se autoproclamou imperador. Sua curta tentativa de restaurar o sistema imperial apenas terminou com revoltas dirigidas por generais do sul da China que apoiavam a república. Yuan foi forçado a renunciar e morreu pouco tempo depois.

Embora a república chinesa ainda existisse nominalmente, foi fragmentada por senhores-guerreiros rivais, cada um apoiado por diferentes potências imperialistas. O KMT sobreviveu no sul da China, em Guangzhou (Cantão), com o suporte de generais locais. Sun apelou aos senhores guerreiros menores, pedindo que desafiassem os maiores e unificassem o país, mas ninguém respondeu a seu chamado.

O Movimento de 4 de Março e a Revolução Russa

O fracasso de 1911 impactou profundamente certas camadas da intelectualidade chinesa. Chen Duxiu, fundador do Partido Comunista e do movimento trotskista chinês, foi pioneiro na busca por novos horizontes intelectuais. Essa foi uma era extraordinária, que viu a rápida politização de muitos jovens, que começaram a participar ativamente em lutas ideológicas, culturais e políticas de enorme amplitude, impulsionadas pela ambição de mudar o curso da história. A revista de Chen, a Nova Juventude, mais tarde se tornou o órgão oficial do Partido Comunista. Chen atraiu um grande número de estudantes, que o viam como um guerreiro incorruptível contra a influência reacionária do confucianismo. Assumiu a iniciativa radical de introduzir a literatura e a filosofia ocidentais a esses jovens chineses.

Os motores políticos decisivos vieram dos acontecimentos internacionais. A deflagração da Primeira Guerra Mundial em 1914, apesar de ter se dado principalmente na Europa, teve um grande impacto sobre a China, assim como a vitória da Revolução Russa em 1917, com suas implicações monumentais. Li Dazhao, co-fundador do PCC, foi o primeiro a introduzir o marxismo na China. Um dos primeiros ensaios marxistas da China foi seu "The Victory of Bolshevism" [A Vitória do Bolchevismo], escrito em 1918 e largamente inspirado na obra de Trotsky, A Guerra e a Internacional.

Li argumentou que a Primeira Guerra Mundial marcou o início da "luta de classes... Entre as massas proletárias do mundo e os capitalistas do mundo".A revolução bolchevique era apenas o primeiro passo na "destruição das fronteiras nacionais atualmente existentes, que são barreiras ao socialismo, e da destruição do sistema de produção capitalista de monopólio e lucro". Li saudou a revolução de outubro como "a nova maré do século XX", o que logo foi confirmado pelos eventos na China. (Li Ta-chao and the Origins of Chinese Marxism, Maurice Meisner, Harvard University Press, 1967, p. 68)

Sob pressão das potências aliadas, a China declarou guerra contra a Alemanha e, formalmente, foi parte do campo vitorioso. Mas, na barganha da Conferência de Versalhes em maio de 1919, as potências imperialistas novamente pisaram na soberania chinesa, entregando ao Japão as concessões coloniais alemãs em Shandong.

As ilusões populares na "democracia" anglo-americana foram absolutamente despedaçadas. Houve um reconhecimento geral entre estudantes e trabalhadores de que os campos rivais na Primeira Guerra lutaram pela dominação global e pelos interesses de suas próprias classes capitalistas. Independentemente de quem ganhasse, a exploração imperialista da China e outros países coloniais não cessaria. A vitória da classe trabalhadora russa, por outro lado, abria uma nova perspectiva para as massas chinesas.

A fundação do PCC em julho de 1921, sob a liderança de Chen Duxiu e Li Dazhao, foi baseada no socialismo internacionalista. Apesar de seus números pequenos, o PCC obteve forças de seu programa e do prestígio da Revolução de Outubro, crescendo rapidamente. O PCC prontamente abraçou as táticas elaboradas pelo Segundo e Terceiro congressos da nova Internacional Comunista, ou Comintern, no sentido de lutar pela direção dos movimentos de liberação nacional que emergiam.

No Segundo Congresso, Lenin conclamou os jovens partidos comunistas dos países coloniais à participação ativa nos movimentos nacionais de liberação que surgiam, mas levantou especificamente a "necessidade da luta determinada contra a tentativa de pintar as modas democrático-burguesas de liberação em cores comunistas; a Internacional Comunista precisa apoiar os movimentos democrático-burgueses nacionais em países coloniais e atrasados somente com a condição de que, em todos os países atrasados, os elementos dos futuros partidos proletários, partidos comunistas não apenas em nome, sejam agrupados entre si e educados na apreciação de suas tarefas especiais, ou seja, lutar contra os movimentos democrático-burgueses dentro de suas próprias nações; a Internacional Comunista precisa entrar em uma aliança temporária com a democracia burguesa em países coloniais e atrasados, mas não pode se fundir com ela e precisa sob todas as circunstâncias assegurar a independência do movimento proletário mesmo em sua forma mais rudimentar... (Lenin On the National and Colonial Questions: Three Articles, Foreign Language Press, Pequim, 1975, p. 27).

Com a derrocada da revolução alemã em 1923 e a morte de Lenin em 1924, o eixo político essencial delimitado por Lenin foi abandonado. Em nome da oposição ao "trotskismo", uma seção conservadora da liderança bolchevique encabeçada por Stalin rejeitou as lições básicas de 1917. Em vez de encorajar uma ruptura revolucionária na China, essa direção procurou estabelecer relações com a chamada facção "democrática" da burguesia chinesa, para reverter a pressão do imperialismo britânico e japonês no extremo leste.

Juntando-se ao Kuomintang (KMT)

De início, a política do PCC de formação de uma aliança temporária com o Kuomintang foi baseada na manutenção da independência dos dois partidos, cada um com sua própria organização. Mas, em agosto de 1922, a liderança do Comintern ordenou que os membros do PCC se juntassem, individualmente, ao KMT.

O PCC foi contra tal decisão, mas suas objeções foram suprimidas pela liderança do Comintern sob Zinoviev. Zinoviev justificou a decisão na base de que o liberal-democrático KMT era o "único grupo nacional-revolucionário sério" da China. O movimento independente da classe trabalhadora ainda era fraco, logo, o pequeno PCC deveria entrar no KMT para expandir sua influência.

Muitos anos depois, em novembro de 1937, Trotsky escreveu a Harold Isaacs: "A entrada em si em 1922 não foi um crime, e possivelmente nem mesmo um erro, especialmente no sul, assumindo que o Kuomintang nessa época possuía um número de trabalhadores e o jovem partido Comunista era fraco e composto quase totalmente de intelectuais... Nesse caso, a entrada teria sido um passo episódico na direção de um partido independente, passo análogo à sua entrada no Partido Socialista. A questão é: qual era a finalidade deles ao entrar e qual foi a política subseqüente?" (The Bolsheviks and the Chinese Revolution 1919-1927, Alexander Pantrov, Curzon Press 2000, p. 106).

Enquanto Stalin assumia o controle do Comintern, defendia a entrada do PCC no KMT cada vez mais não como um passo na construção de um partido de massas independente, mas como uma política de longo-prazo, com o objetivo de assegurar uma revolução democrático-burguesa na China. Aos olhos de Stalin, a significância do KMT superava largamente aquela da seção chinesa do Comintern. Em 1917, tal ponto de vista teria sido denunciado pelos bolcheviques como uma capitulação política em favor da burguesia. Mas, agora, Stalin estava impondo sua política sobre a China, afirmando que representava a continuidade do leninismo e a herança da Revolução de Outubro.

Após o Terceiro Congresso do Comintern, o PCC formalmente convocou todos os membros do partido a juntarem-se ao KMT e praticamente abandonou sua própria atividade independente. Quando o Comintern despachou Mikhail Borodin como seu novo delegado para a China, este agiu como um conselheiro para o KMT, que foi reestruturado de cima à baixo segundo linhas organizacionais "bolcheviques". Dez membros líderes do PCC foram colocados no Comitê Executivo Central do KMT, cerca de um quarto do total. Os quadros comunistas frequentemente assumiam aspectos do trabalho do KMT.

O aparato militar do KMT foi produto direto da política do Comintern. Até estabelecer seu "Exército Revolucionário Nacional" em 1924, Sun Yat-sen possuía apenas 150-200 guardas leais - em comparação aos 200.000-300.000 soldados controlados por cada um dos senhores guerreiros no norte. A dependência de Sun quanto aos generais do sul se tornou óbvia em 1922, quando foi forçado a fugir para Xangai após uma tentativa de golpe local. Só então, Sun pediu ajuda à Moscou.

A Academia Militar de Whampoa, em Guangzhou - a base sobre a qual Chiang Kai-shek mais tarde subiu ao poder - foi estabelecida com a assistência de conselheiros soviéticos. Sem a ajuda militar soviética e a habilidade do PCC para mobilizar trabalhadores e camponeses, a construção de um exército do KMT, capaz de derrotar os poderosos senhores guerreiros, seria completamente impensável.

Continua.

[traduzido por movimentonn.org]