Publicado originalmente em inglês no wsws em 29 de
janeiro de 2009.
A Câmara dos Deputados dos EUA aprovou na quarta-feira
(28.01) a nova legislação econômica proposta
pela administração Obama, com uma ampla vitória
de 244 a 188. Doze democratas votaram contra os US$ 819 bilhões
do projeto de lei, enquanto nem mesmo um único republicano
votou a favor dele. A lei agora vai para o Senado, onde deve ser
aprovada até o dia 13 fevereiro.
Embora invariavelmente descrita na mídia como "um
plano de estímulo", a legislação, na
verdade, faz relativamente pouco para a criação
de novos postos de trabalho e não lança novos programas
sociais. Fornece apenas US$ 40 bilhões para novos gastos
em infra-estrutura e grande parte disso apenas será gasto
efetivamente em 2010 ou ainda depois.
A maior parte das previsões de gastos da lei se referem
a extensão do auxílio desemprego e cobertura do
plano de saúde aos desempregados - incluindo os outros
milhões que espera-se que sejam demitidos nos próximos
meses - ou a autorizar subsídios direto aos governos estaduais
e municipais que, de outro modo, enfrentariam a falência
(o que já se apresenta na California, Nova Iorque e Michigan).
De uma perspectiva puramente econômica, a função
do projeto de lei é evitar um colapso catastrófico
dos gastos dos consumidores e serviços públicos,
e não gerar uma recuperação econômica.
Foi por essa razão que a maioria dos lobbys das grandes
empresas, como a Câmara de Comércio dos EUA, aprovou
a legislação.
Outro dos objetivos da lei é promover uma cobertura
política às novas medidas de Obama para salvar bancos
e instituições financeiras, com centenas de bilhões
de dólares, assim como camuflar os cortes em programas
sociais básicos, como a Segurança Social e Saúde.
O projeto de lei aprovado pela Câmara é mais sobre
sobrevivência, redução de gastos e racionamento,
do que um estímulo. A sua escala é um parâmetro
para medir a enorme dimensão da catástrofe econômica
e social que se espalha nos Estados Unidos como uma consequência
do colapso dos mercados financeiros e do aprofundamento da recessão
mundial.
Há um ano, o Congresso promulgou seu primeiro pacote
de estímulo - com um custo de cerca de US$ 160 bilhões
- que deu apenas pequenos auxílios ao consumo durante o
segundo trimestre de 2008. Hoje, uma lei cinco vezes maior terá,
provavelmente, um impacto ainda menor. Afinal, a turbulência
financeira já se transformou numa depressão econômica
de dimensões globais, a pior desde os anos 1930.
A Casa Branca emitiu uma declaração por escrito
após a aprovação, afirmando: "Este plano
de recuperação irá manter ou criar mais de
três milhões de novos empregos nos próximos
anos." Mesmo que isso seja verdade, e há muitas razões
para duvidar disso, tal número é apenas uma gota
no oceano. Dada a rápida aceleração das demissões
nesta semana, já há previsões financeiras
na imprensa de que um milhão de postos de trabalho serão
eliminados somente em janeiro. Nesse ritmo, muito mais do que
os três milhões de empregos prometidos por Obam setão
cortados até a primavera.
A votação republicana foi uma bofetada pública
na cara do presidente Obama, que se reuniu separadamente com um
setor republicano da Câmara e do Senado. Obama fez inúmeras
concessões às suas exigências, destinando
um terço do pacote de estímulo à redução
de impostos, muitos deles direcionados aos interesses corporativos.
Ainda mais concessões são esperadas na versão
do projeto de lei no Senado. Uma alteração de um
republicano já foi aprovada na Comissão de Finanças
do Senado: o acréscimo de outros US$ 70 bilhões
em cortes fiscais, estendendo a insenção do Imposto
Mínimo Alternativo às famílias da classe
média alta. Ou seja, outro imposto cortado pela lei do
Senado que favorece empresas privadas.
A votação contra o plano de estímulo evidencia
a diferença fundamental entre os dois partidos. Os republicanos
são os mais intransigentes defensores descarados dos privilégios
da aristocracia financeira; já os democratas, os "reformistas",
face da mesma classe, irresoluta e covarde, devido à desonestidade
das suas pretensões populistas.
Quando George W. Bush entrou na Casa Branca em 2001, atribuído
à presidência pelo Supremo Tribunal dos EUA, ganhou
o apoio de importantes democratas do Congresso para o seu corte
de um trilhão de dólares em impostos para os ricos
e grandes negócios
Por outro lado, Obama entra na Casa Branca após ter uma
vitória decisiva, tanto no voto popular e eleitoral. No
entanto, não recebeu um único voto republicano para
uma iniciativa bastante menor do que a bonança de Bush
para os milionários - e isto sob as condições
da maior crise econômica nos Estados Unidos desde a Grande
Depressão.
Obama e os democratas assumiram um comprometimento inabalável,
empenhados na defesa do sistema capitalista assim como os republicanos.
No dia da votação na Câmara, Obama se reuniu
com um grupo de altos executivos de grandes coorporações
que apoiam o plano de estímulo e reiterou sua crença
de que o setor privado "irá determinar o nosso destino
econômico... Assim, ao final, as empresas grandes e pequenas,
que geram postos de trabalho, fornecerão salários
e serão a base sobre a qual se levanta o povo americano
e todo o seu sonho de vida".
Milhões de trabalhadores votaram nos democratas e em
Obama porque, no âmbito partidário dos EUA, os democratas
e republicanos parecem ser os únicos caminhos possíveis.
O campanha democrata e a mídia burguesa geraram grandes
ilusões nas vagas promessas de "esperança"
e "mudança" de Obama, com a perspectiva do primeiro
presidente Afro-americano.
Essas ilusões não aboliram a crise do capitalismo
global, nem a luta de classes. Na medida em que a crise avança,
a classe trabalhadora passa por novas experiências com a
administração Obama e é inevitável
que um movimento de baixo surja, desafiando o capitalismo e seus
reprsentantes políticos.