Publicado originalmente em inglês wm nosso site no
dia 7 de janeiro de 2009
Abaixo segue a terceira e última parte de uma palestra
realizada na escola de verão do Socialist Equality Party
(SEP Partido da Igualdade Socialista) em Ann Arbor, Michigan,
em agosto de 2007.
A virada para a ala "esquerda" do
KMT
Apesar das matanças brutais de Chiang, o PCC manteve
consideráveis reservas em Wuhan, um grande centro industrial,
assim como no movimento camponês de milhões ao longo
do Yang-Tsé. Uma política correta poderia ter derrotado
a contra-revolução de Chiang. Stalin, porém,
não retirou qualquer conclusão das lições
sangrentas de Xangai. Em seu "Questão da Revolução
Chinesa", publicado em 21 de abril de 1927, proclamou que
sua política havia sido, e continuava a ser, a "única
linha correta". O massacre de Chiang, declarou ele, demonstrava
apenas que a grande burguesia havia desertado a revolução.
A ala "de esquerda" do KMT ainda representava, segundo
Stalin, a pequena-burguesia revolucionária, que lideraria
a revolução agrária no "segundo estágio"
da revolução. "Significa que, através
de uma luta resoluta contra o militarismo e o imperialismo, o
Kuomintang revolucionário em Wuhan se tornará de
fato o órgão de uma ditadura revolucionária-democrática
do proletariado e campesinato..." Ele insistiu então
que o PCC deveria manter sua cooperação próxima
com a "esquerda" do KMT, e se opôs às exigências
de Trotsky e da Oposição de Esquerda pela construção
de Soviets e pela independência política do PCC.
(On the Opposition, J. V. Stalin, Foreign Language Press,
Pequim, 1974, pp. 663-664)
Respondendo às testes de Stalin, Trotsky submeteu a
teoria do "bloco de quatro classes" a uma crítica
violenta. "É um erro grosseiro pensar que o imperialismo
unifica mecanicamente todas as classes da China, externamente...
A luta revolucionária contra o imperialismo não
enfraquece, mas fortalece a diferenciação política
das classes," explicou. "Tudo o que subjuga as massas
oprimidas e exploradas inevitavelmente empurra a burguesia nacional
num bloco aberto com os imperialistas. A luta de classes entre
a burguesia e as massas de trabalhadores e camponeses não
é enfraquecida, mas, ao contrário, é aprofundada
pela opressão imperialista, colocando a possiblidade da
guerra civil em todo conflito sério" (Problems
of the Chinese Revolution, Leon Trotsky, New Park Publications,
Londres, 1969, p. 5)
Trotsky insistiu que a tarefa mais urgente era estabelecer
a independência política do Partido Comunista em
relação à "esquerda" do KMT. "Precisamente,
sua falta de independência é a fonte de todos os
males e de todos os enganos. As teses, em vez de acabarem de uma
vez por todas com as práticas de ontem, propõe retê-las
'mais do que nunca'. Mas isso significa que eles querem reter
a dependência ideológica, política e organizacional
do partido proletário em relação ao partido
da pequena burguesia, que inevitavelmente é convertido
em instrumento da grande burguesia" (ibid., p. 18).
Em 13 de maio de 1927, Stalin defendeu seu "bloco de quatro
classes" perante os estudantes da universidade de Sun Yat-sen,
baseada em Moscou, utilizando um método que só pode
ser descrito como uma paródia do marxismo. "O Kuomintang
não é um partido da pequena burguesia 'comum'. Existem
diferentes tipos de partidos da pequena burguesia. Os mencheviques
e os socialistas revolucionários na Rússia também
eram partidos da pequena burguesia; mas ao mesmo tempo eles eram
partidos imperialistas, porque estavam numa aliança militante
com os imperialistas franceses e britânicos... pode se dizer
que o Kuomintang é um partido imperialista? Obviamente
não. O Kuomintang é um partido anti-imperialista,
do mesmo modo que a revolução na China é
anti-imperialista. A diferença é fundamental"
(On the Opposition, J. V. Stalin, Foreign Language Press, Pequim,
1974, p. 671).
A idéia absurda de que Chiang Kai-shek era um "anti-imperialista"
porque a revolução chinesa era anti-imperialista
foi refutada não apenas por Trotsky, mas pela própria
história. A oposição do KMT a uma ou outra
das grandes potências não constituía uma oposição
ao imperialismo como tal. Os líderes do KMT estavam apenas
manobrando entre as potências imperialistas, enquanto exibiam
slogans "anti-imperialistas" para confundir as massas.
Confrontado com a invasão japonesa das décadas de
1930 e 40, por exemplo, Chiang não hesitou em voltar-se
em direção à Grã-Bretanha e aos Estados
Unidos. O líder da "esquerda" do KMT, Wang Ching-wei,
foi um passo além e se tornou o cabeça do regime-marionete
do Japão. Deveria ser gravado na memória de todos
que Chiang, que viveu seus últimos dias como o dirigente
de uma desprezada ditadura anti-comunista em Taiwan, brindou certa
vez à revolução socialista em Moscou, ao
lado da direção stalinista.
A derrota em Wuhan
Enquanto Stalin saudava o "centro revolucionário"
em Wuhan na Oitava Plenária do Comitê Executivo da
Internacional Comunista, um número de comandantes da "esquerda"
do KMT, violando a política oficial do partido, já
estava em greve contra os comunistas, os sindicatos e as associações
de camponeses. Em 17 de maio de 1927, logo antes da plenária,
um dos mais sangrentos atos de repressão ocorreu em Changsha,
mas nenhuma menção a isso foi feita no encontro.
No lugar, Stalin denunciou as exigências da Oposição
de Esquerda pela construção de Soviets como entraves
à aliança continuada do PCC com a "esquerda"
do KMT. "Será que a Oposição compreende
que a criação de Soviets de delegados operários
e camponeses agora é equivalente à criação
de um governo duplo, compartilhado entre os Soviets e o governo
de Hankow, e leva necessária e inevitavelmente à
luta pela derrubada do governo de Hankow?", defendeu Stálin
(A Tragédia da Revolução Chinesa, Harold
R. Isaacs, Universidade de Stanford, 1961, p. 241)
A resposta de Trotsky permaneceu não publicada por um
ano. Com uma séria advertência sobre o que estava
por vir, ele repudiou a política de Stalin e convocou o
Comintern a fazer o mesmo. "Nós dizemos aos camponeses
chineses: os líderes da Esquerda do Kuomintang da laia
de Wang Ching-wei e Companhia irão inevitavelmente trai-los
se vocês seguirem os dirigentes em Wuhan em vez de formar
seus próprios Soviets independentes... Políticos
da laia de Wang Ching-wei, sob condições difíceis,
se unirão dez vezes com Chiang Kai-shek contra os trabalhadores
e camponeses. Sob tais condições, dois Comunistas
em um governo burguês se tornam reféns impotentes,
senão uma máscara para a preparação
de mais um golpe contra as massas trabalhadoras... A revolução
burguesa democrática na China irá adiante e será
vitoriosa na forma soviética, ou não será"
(Leon Trotsky on China, Monad Press, Nova Iorque, 1978,
pp. 234-235, ênfase no original).
Novamente, os avisos de Trotsky se provaram corretos. Após
o banho de sangue em Xangai, capitalistas e latifundiários
na região de Wuhan perceberam rapidamente o regime de Chiang
Kai-shek, buscando apoio. Eles resistiram às greves dos
trabalhadores com o fechamento de fábricas e lojas. Organizaram
deliberadamente saques de bancos e enviaram sua prata para Xangai.
Em áreas rurais, mercantes e agiotas se recusavam a emprestar
dinheiro aos camponeses, tornando-os incapazes de comprar sementes
para os meses da primavera. As potências imperialistas se
juntaram ao programa de sabotagem fechando suas firmas, enquanto
especuladores levavam os preços a níveis insuportáveis.
Os colapsos econômicos e o crescente movimento de massas
aterrorizaram Wang Ching-wei, que demandou que os dois ministros
comunistas em seu governo o da agricultura e o do trabalho
usassem sua influência para aleviar as ações
"excessivas" dos camponeses e trabalhadores.
A política oficial do PCC entrava em conflito direto
com o movimento de massas. Em muitas áreas rurais, associações
de camponeses haviam expulsado os latifundiários e funcionavam
como autoridades locais. Em duas grandes cidades, Wuhan e Changsha,
a inflação e falências haviam acertado os
trabalhadores em cheio, compelindo-os a levantar demandas revolucionárias
pelo controle de fábricas e lojas. A reivindicação
de Trotsky pela construção de Soviets era muito
coerente. Os Soviets não eram, como Stalin argumentava,
simplesmente um meio para a direção da insurreição
armada, mas veículos democraticamente eleitos através
dos quais os trabalhadores, durante o ascenso revolucionário,
poderiam começar a reorganização da vida
social e econômica e defender seus interesses contra a contra-revolução.
Peng Shuzi explicou mais tarde que os sindicatos e organizações
campesinas em Hunan e Hubei tinham uma contagem de membros na
casa dos milhões. "Essa era uma grande força
de massas organizada. Se o PCC tivesse seguido o conselho de
Trotsky na época e confiado nessa grande massa organizada,
ao mesmo tempo convocando a organização de soviets
dos trabalhadores-camponeses-soldados para se tornarem a organização
revolucionária central, e, através desses soviets
armados levasse adiante a revolução agrária,
dando terra aos camponeses e soldados revolucionários,
eles não apenas poderiam ter aglutinado todas as massas
pobres de Huan e Hupeh nos soviets, mas também poderiam
ter destruído imediatamente as bases dos oficiais reacionários
e desestabilizado indiretamente o exército de Chiang. Desse
modo, a revolução poderia ter se desenvolvido da
destruição das raízes do poder contra-revolucionário
e avançado pela estrada da ditadura do proletariado"
(Leon Trotsky on China, Monad Press, Nova Iorque, 1978,
p. 66, ênfase no original).
Apesar da glorificação estúpida que fazia
da "esquerda" do KMT, Stalin também percebeu
que sua política estava desmoronando. Em 1 de junho de
1927, emitiu uma ordem ao PCC para que criasse seu próprio
exército com 20.000 comunistas e 50.000 trabalhadores e
camponeses. Mas revoluções não são
suscetíveis ao falatório burocrático. Como
Trotsky apontou, as pré-condições para a
construção de um exército revolucionário
eram a consolidação da autoridade do partido sobre
as massas e os meios concretos para cimentar a aliança
entre a classe trabalhadora e o campesinato. Rejeitando a construção
de Soviets, Stalin impediu que o PCC estabelecesse a base necessária
para a criação de seu próprio exército.
Na medida em que se tornava mais óbia a traição
iminente de Wang Ching-wei, o líder do PCC Chen Duxiu novamente
exigia que o partido se retirasse do KMT. Mas, uma vez mais, o
Comintern recusou sua proposição. No início
de julho, Chen raivosamente renunciou ao cargo de secretário-geral
do partido. Seu sucessor, Chu Quibai, imediatamente demonstrou
sua lealdade a Stalin declarando, mesmo nesse momento de vida
e morte, que o KMT "está naturalmente na posição
de liderança da revolução nacional".
No dia 15 de julho, Wang Ching-wei emitiu uma ordem formal
exigindo que todos os comunistas se retirassem do KMT ou enfrentariam
punições severas. Como Chiang, foi Wang que espremeu
o PCC "como um limão" e então o jogou
fora, iniciando outra onda, mais brutal ainda, de repressão
aos comunistas e às massas insurgentes.
Segundo relatou um artigo de jornal contemporâneo: "Nos
últimos três meses, a reação se espalhou
do baixo Yang-Tsé até se tornar dominante em todo
o território sob o assim chamado controle nacionalista.
Tang Sheng-chih se provou mais eficaz como um comandante de esquadrões
de execução do que de exércitos em batalha.
Em Hunan seus generais subordinados levaram adiante uma limpeza
contra os 'Comunistas' que Chiang Kai-shek mal pode igualar. Os
métodos usuais de matar à bala e decapitar foram
substituídos por métodos de tortura e mutilação
que remetem aos horrores da Idade das Trevas e da Inquisição.
Os resultados são impressionantes. As associações
campesinas e trabalhistas de Hunan, provavelmente as mais eficientemente
organizadas de todo o país, estão completamente
esmagadas. Aqueles líderes que não foram queimados
em óleo, e os que não foram enterrados vivos ou
vagarosamente estrangulados por corda fina, fugiram do país
ou estão em esconderijos tão secretos que não
podem ser facilmente encontrados..." (The Tragey of the
Chinese Revolution, Harold R. Isaacs, Stanford University
Press, 1961, p. 272).
Mesmo assim, Stalin insistiu mais uma vez que suas políticas
haviam sido corretas e pôs a culpa das derrotas sobre a
liderança do P,cc particularmente Chen. Com as críticas
da Oposição de Esquerda encontrando uma audiência
cada vez maior na classe trabalhadora soviética, Stalin
buscou salvar sua reputação mudando de posição
repentinamente, saindo do oportunismo e caminhando ao seu exato
oposto o aventureirismo. Tendo sido responsável
por duas gigantescas derrotas contra o PCC e as massas chinesas,
Stalin ordenou que o partido em frangalhos levasse adiante uma
série de insurreições armadas, que já
estavam fadada ao fracasso. Em antecipação à
sua teoria ultra-esquerdista do "Terceiro Período",
elaborada no início da década de 1930, Stalin atribuiu
ao proletariado a tarefa imediata de tomar o poder, bem no ponto
onde a revolução chinesa estava se retraindo. Como
Trotsky explicou, na verdade, era necessário um reagrupamento
do PCC e da classe trabalhadora, slogans democráticos defensivos
e, acima de tudo, que se chegasse às lições
necessárias a tudo isso Stalin se opôs resolutamente.
A lição do "Soviet"
de Cantão
O suspiro final da revolução chinesa o
levante de Cantão em dezembro de 1927 foi nada menos
que criminoso. Foi agendado para coincidir não com um movimento
de massas em Cantão, mas com a abertura do XV Congresso
do Partido Comunista Soviético. Seu principal propósito
era melhorar a reputação da liderança stalinista
e barrar as críticas da Oposição de Esquerda.
Sem apoio nas massas, a tentativa de criar um governo soviético
com milhares de quadros do partido não possuía qualquer
possibilidade de ser vitoriosa. Cerca de 5.700 pessoas, muitas
delas entre os melhores quadros revolucionários sobreviventes,
foram mortas na heróica batalha para defender o "Soviet"
de Cantão, que teve curta existência.
A teoria dos Soviets elaborada por Stalin foi finalmente posta
à prova. Ao longo da revolução, Stalin havia
argumentado que os soviets só deveriam ser criados no último
momento, como os meios da organização da insurreição
e, principalmente, não antes do estágio "democrático"
ter sido completado. Mas, como Trotsky ainda insistia, os soviets
eram, na realidade, os meios para trazer amplas camadas do povo
trabalhador para a luta política. Eles não poderiam
ser impostos de cima, mas emergiam da base do movimento revolucionário,
incluindo os comitês de fábrica e de greve. Conforme
a crise revolucionária se desenvolvia, os soviets evoluiriam
em novos órgãos do poder operario.
Em Cantão, o PCC estabeleceu burocraticamente um organismo
chamado "soviet", como meio de executar uma insurreição
na cidade. Mas a "tremenda resposta" antecipada por
Stalin não se realizou, pois os trabalhadores e camponeses
comuns sequer sabiam quem eram seus "delegados" nesse
assim chamado soviet. Apenas uma minúscula minoria de trabalhadores
apoiava o governo "Soviet" de Cantão", que
foi rapidamente despedaçado.
Stalin defendeu que as tarefas do levante de Cantão
eram democrático-burguesas. Mas, como apontou Trotsky,
mesmo nessa aventura falida, o proletariado foi compleido a tomar
a dianteira. Durante sua vida limitada, o PCC foi forçado
a tomar o poder sozinho e implementar medidas sociais radicais,
incluindo a nacionalização das indústrias
e bancos. Como Trotsky declarou, se essas medidas eram "burguesas",
então seria difícil imaginar o que seria uma revolução
proletária na China. Em outras palavras, mesmo na insurreição
de Cantão, a liderança do PCC foi compelida a seguir
a lógica da Revolução Permanente, e não
a grosseira teoria dos "dois estágios" de Stalin.
O fracasso do levante de Cantão marcou o fim da revolução
nos centros urbanos. Os líderes do PCC que não se
juntaram à Oposição de Esquerda, como Mao
Zedong, fugiram para o campo. Pressionada pela burocracia stalinista
a implementar a linha do Comintern do "Terceiro Período"
e criar "Soviets", uma nova corrente emergiu no PCC.
Dirigida por Mao, essa tendência efetivamente rompeu com
as raízes na classe trabalhadora e se baseou inteiramente
no campesinato. Para continuar a "luta armada", o PCC
criou o "Exército Vermelho", composto principalmente
de camponeses, e estabeleceu "Soviets" nas zonas rurais
isoladas. No início da década de 1930, o PCC havia
praticamente abandonado seu trabalho dentro da classe trabalhadora
urbana.
Mao, cuja perspectiva política possuía mais em
comum com o populismo camponês do que com o marxismo, emergiu
naturalmente como o novo líder dessa tendência. Antes
de juntar-se ao Partido Comunista, havia sido profundamente influenciado
por uma escola de socialismo utópico, a "Nova Vila",
que se inspirou nos Narodniks russos. A Nova Vila promovia o cultivo
coletivo, o consumo comunal e o auxílio mútuo entre
vilas autônomas como o caminho para o "socialismo".
Esse "socialismo rural" refletia, na verdade, não
os interesses do proletariado revolucionário, mas a hostilidade
do campesinato decadente diante da destruição do
cultivo de pequena escala sob o capitalismo.
Mesmo após ter se juntado ao Partido Comunista, Mao
não abandonou essa orientação em relação
ao campesinato e esteve na ala direita do partido durante os levantes
de 1925-1927. Mesmo no ápice do movimento de classe trabalhadora
em 1927, Mao continuou a afirmar que o proletariado era um fator
insignificante na revolução chinesa. "Se alocarmos
dez pontos à realização da revolução
democrática, então... Os que vivem nas cidades e
as unidades militares representariam apenas três pontos,
enquanto os sete pontos restantes seriam dos camponeses..."
(Stalin's Failure in China 1924-1927, Conrad Brandt, The
Norton Library, Nova Iorque, 1966, p. 109).
As consequências da derrota
Logo após a derrota da revolução chinesa,
Trotsky foi expulso do Partido Comunista, submetido a um exílio
interno e, depois, expulso da URSS. Os registros de 1925-1927
na China deixam claro que Trotsky e a Oposição de
Esquerda estavam bem cientes do que estava em jogo na Revolução
Chinesa para a classe trabalhadora internacional. Trotsky estava
engajado em uma luta política titânica para transformar
a política do Comintern e criar as melhores condições
para uma vitória revolucionária. Mostrar-se formalmente
correto era o menos importante.
Em sua autobiografia, Minha Vida, escrita durante seu exílio
em 1928, Trotsky recordou o que aconteceu na União Soviética
depois de Chiang Kai-shek ter afogado em sangue os trabalhadores
de Xangai. "Uma onda de excitação tomou conta
do partido. A oposição levantou sua cabeça...
Muitos camaradas mais jovens pensaram que a patente falência
da política de Stalin inevitavelmente adiantaria o triunfo
da oposição. Durante os primeiros dias do golpe
por Chiang Kai-shek eu fui obrigado a jogar baldes de água
fria sobre as cabeças quentes dos meus jovens amigos
alguns não tão jovens. Tentei mostrar a eles que
a oposição não poderia ascender com base
na derrota da revolução chinesa. O fato de que nossa
previsão havia sido provada correta poderia atrair mil,
cinco mil, ou mesmo dez mil novos apoiadores. Mas, para os milhões,
o significativo não era nossa previsão, mas o fato
do esmagamento do proletariado chinês. Após a derrota
da revolução alemã em 1923, após a
quebra da greve geral inglesa de 1926, o novo desastre na China
iria apenas intensificar o desapontamento das massas sobre a revolução
internacional. E foi esse mesmo desapontamento que serviu como
a principal fonte psicológica para a política nacional-reformista
de Stalin" (My Life: An Attempt at an Autobiography,
Leon Trotsky, Penguin Books, 1979, pp. 552-553).
Embora Stalin tenha tentado isolar Trotsky do resto do Comintern
e do P,cc seus esforços foram apenas parcialmente bem-sucedidos.
Um grupo de estudantes chineses na União Soviética
caiu na esfera de influência da Oposição de
Esquerda e participou de seu protesto em 7 de novembro de 1927,
na Praça Vermelha, em meio às celebrações
do décimo aniversário da Revolução
de Outubro. Ao final de 1928, ao menos 145 estudantes chineses
haviam formado organizações trotskistas secretas
em Moscou e Leningrado.
Ao mesmo tempo, durante o Sexto Congresso do Comintern, Trotsky
escreveu sua famosa crítica ao programa do Comintern. Alguns
delegados do P,cc incluindo Wang Fanxi, puderam ler os textos
de Trotsky e aceitaram a análise da Oposição
de Esquerda. Depois que alguns desses estudantes chineses retornaram
à China em 1929, uma seção da liderança
do P,cc incluindo Chen Duxiu e Peng Shuzi, voltou-se ao trotskismo
e formou a Oposição de Esquerda chinesa.
Na China, o KMT, que havia estendido sua influência explorando
os levantes revolucionários de massas, se provou absolutamente
incapaz de manter a coesão no país ou de governar
"democraticamente". O "terror branco" do Kuomintang
durou anos. De abril até dezembro de 1927, foram executados
aproximadamente 38.000, e 32.000 foram presos como prisioneiros
políticos. De janeiro até agosto de 1928, mais de
27.000 foram sentenciados à morte. Em 1930, o PCC estimou
que 140.000 foram assassinados ou morreram em prisões.
Em 1931, 38.000 foram executados como inimigos políticos.
A Oposição de Esquerda chinesa não só
foi caçada pela polícia do KMT, mas também
entregue às autoridades pela liderança stalinista
do PCC.
As consequências políticas da revolução
fracassada se estenderam para muito além das fronteiras
da China. Uma vitória teria enorme impacto em toda a Ásia
e outros países coloniais. Entre outras coisas, teria dado
grande ímpeto à classe trabalhadora japonesa em
suas lutas contra o ascenso do militarismo japonês na década
de 1930 e o mergulho rumo à guerra mundial.
Enquanto o capitalismo global mergulha mais uma vez em uma
crise, enquanto se intensificam os impulsos de militarismo e da
guerra, a classe trabalhadora chinesa e internacional somente
podem se preparar para os levantes que começam a ser vislumbrados
através da assimilação cuidadosa das lições
políticas da derrota da Revolução Chinesa.