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A tragédia da Revolução Chinesa de 1925-1927

Parte 3

Por John Chan
10 de febrero de 2009

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Publicado originalmente em inglês wm nosso site no dia 7 de janeiro de 2009

Abaixo segue a terceira e última parte de uma palestra realizada na escola de verão do Socialist Equality Party (SEP — Partido da Igualdade Socialista) em Ann Arbor, Michigan, em agosto de 2007.

A virada para a ala "esquerda" do KMT

Apesar das matanças brutais de Chiang, o PCC manteve consideráveis reservas em Wuhan, um grande centro industrial, assim como no movimento camponês de milhões ao longo do Yang-Tsé. Uma política correta poderia ter derrotado a contra-revolução de Chiang. Stalin, porém, não retirou qualquer conclusão das lições sangrentas de Xangai. Em seu "Questão da Revolução Chinesa", publicado em 21 de abril de 1927, proclamou que sua política havia sido, e continuava a ser, a "única linha correta". O massacre de Chiang, declarou ele, demonstrava apenas que a grande burguesia havia desertado a revolução.

A ala "de esquerda" do KMT ainda representava, segundo Stalin, a pequena-burguesia revolucionária, que lideraria a revolução agrária no "segundo estágio" da revolução. "Significa que, através de uma luta resoluta contra o militarismo e o imperialismo, o Kuomintang revolucionário em Wuhan se tornará de fato o órgão de uma ditadura revolucionária-democrática do proletariado e campesinato..." Ele insistiu então que o PCC deveria manter sua cooperação próxima com a "esquerda" do KMT, e se opôs às exigências de Trotsky e da Oposição de Esquerda pela construção de Soviets e pela independência política do PCC. (On the Opposition, J. V. Stalin, Foreign Language Press, Pequim, 1974, pp. 663-664)

Respondendo às testes de Stalin, Trotsky submeteu a teoria do "bloco de quatro classes" a uma crítica violenta. "É um erro grosseiro pensar que o imperialismo unifica mecanicamente todas as classes da China, externamente... A luta revolucionária contra o imperialismo não enfraquece, mas fortalece a diferenciação política das classes," explicou. "Tudo o que subjuga as massas oprimidas e exploradas inevitavelmente empurra a burguesia nacional num bloco aberto com os imperialistas. A luta de classes entre a burguesia e as massas de trabalhadores e camponeses não é enfraquecida, mas, ao contrário, é aprofundada pela opressão imperialista, colocando a possiblidade da guerra civil em todo conflito sério" (Problems of the Chinese Revolution, Leon Trotsky, New Park Publications, Londres, 1969, p. 5)

Trotsky insistiu que a tarefa mais urgente era estabelecer a independência política do Partido Comunista em relação à "esquerda" do KMT. "Precisamente, sua falta de independência é a fonte de todos os males e de todos os enganos. As teses, em vez de acabarem de uma vez por todas com as práticas de ontem, propõe retê-las 'mais do que nunca'. Mas isso significa que eles querem reter a dependência ideológica, política e organizacional do partido proletário em relação ao partido da pequena burguesia, que inevitavelmente é convertido em instrumento da grande burguesia" (ibid., p. 18).

Em 13 de maio de 1927, Stalin defendeu seu "bloco de quatro classes" perante os estudantes da universidade de Sun Yat-sen, baseada em Moscou, utilizando um método que só pode ser descrito como uma paródia do marxismo. "O Kuomintang não é um partido da pequena burguesia 'comum'. Existem diferentes tipos de partidos da pequena burguesia. Os mencheviques e os socialistas revolucionários na Rússia também eram partidos da pequena burguesia; mas ao mesmo tempo eles eram partidos imperialistas, porque estavam numa aliança militante com os imperialistas franceses e britânicos... pode se dizer que o Kuomintang é um partido imperialista? Obviamente não. O Kuomintang é um partido anti-imperialista, do mesmo modo que a revolução na China é anti-imperialista. A diferença é fundamental" (On the Opposition, J. V. Stalin, Foreign Language Press, Pequim, 1974, p. 671).

A idéia absurda de que Chiang Kai-shek era um "anti-imperialista" porque a revolução chinesa era anti-imperialista foi refutada não apenas por Trotsky, mas pela própria história. A oposição do KMT a uma ou outra das grandes potências não constituía uma oposição ao imperialismo como tal. Os líderes do KMT estavam apenas manobrando entre as potências imperialistas, enquanto exibiam slogans "anti-imperialistas" para confundir as massas. Confrontado com a invasão japonesa das décadas de 1930 e 40, por exemplo, Chiang não hesitou em voltar-se em direção à Grã-Bretanha e aos Estados Unidos. O líder da "esquerda" do KMT, Wang Ching-wei, foi um passo além e se tornou o cabeça do regime-marionete do Japão. Deveria ser gravado na memória de todos que Chiang, que viveu seus últimos dias como o dirigente de uma desprezada ditadura anti-comunista em Taiwan, brindou certa vez à revolução socialista em Moscou, ao lado da direção stalinista.

A derrota em Wuhan

Enquanto Stalin saudava o "centro revolucionário" em Wuhan na Oitava Plenária do Comitê Executivo da Internacional Comunista, um número de comandantes da "esquerda" do KMT, violando a política oficial do partido, já estava em greve contra os comunistas, os sindicatos e as associações de camponeses. Em 17 de maio de 1927, logo antes da plenária, um dos mais sangrentos atos de repressão ocorreu em Changsha, mas nenhuma menção a isso foi feita no encontro. No lugar, Stalin denunciou as exigências da Oposição de Esquerda pela construção de Soviets como entraves à aliança continuada do PCC com a "esquerda" do KMT. "Será que a Oposição compreende que a criação de Soviets de delegados operários e camponeses agora é equivalente à criação de um governo duplo, compartilhado entre os Soviets e o governo de Hankow, e leva necessária e inevitavelmente à luta pela derrubada do governo de Hankow?", defendeu Stálin (A Tragédia da Revolução Chinesa, Harold R. Isaacs, Universidade de Stanford, 1961, p. 241)

A resposta de Trotsky permaneceu não publicada por um ano. Com uma séria advertência sobre o que estava por vir, ele repudiou a política de Stalin e convocou o Comintern a fazer o mesmo. "Nós dizemos aos camponeses chineses: os líderes da Esquerda do Kuomintang da laia de Wang Ching-wei e Companhia irão inevitavelmente trai-los se vocês seguirem os dirigentes em Wuhan em vez de formar seus próprios Soviets independentes... Políticos da laia de Wang Ching-wei, sob condições difíceis, se unirão dez vezes com Chiang Kai-shek contra os trabalhadores e camponeses. Sob tais condições, dois Comunistas em um governo burguês se tornam reféns impotentes, senão uma máscara para a preparação de mais um golpe contra as massas trabalhadoras... A revolução burguesa democrática na China irá adiante e será vitoriosa na forma soviética, ou não será" (Leon Trotsky on China, Monad Press, Nova Iorque, 1978, pp. 234-235, ênfase no original).

Novamente, os avisos de Trotsky se provaram corretos. Após o banho de sangue em Xangai, capitalistas e latifundiários na região de Wuhan perceberam rapidamente o regime de Chiang Kai-shek, buscando apoio. Eles resistiram às greves dos trabalhadores com o fechamento de fábricas e lojas. Organizaram deliberadamente saques de bancos e enviaram sua prata para Xangai. Em áreas rurais, mercantes e agiotas se recusavam a emprestar dinheiro aos camponeses, tornando-os incapazes de comprar sementes para os meses da primavera. As potências imperialistas se juntaram ao programa de sabotagem fechando suas firmas, enquanto especuladores levavam os preços a níveis insuportáveis. Os colapsos econômicos e o crescente movimento de massas aterrorizaram Wang Ching-wei, que demandou que os dois ministros comunistas em seu governo — o da agricultura e o do trabalho — usassem sua influência para aleviar as ações "excessivas" dos camponeses e trabalhadores.

A política oficial do PCC entrava em conflito direto com o movimento de massas. Em muitas áreas rurais, associações de camponeses haviam expulsado os latifundiários e funcionavam como autoridades locais. Em duas grandes cidades, Wuhan e Changsha, a inflação e falências haviam acertado os trabalhadores em cheio, compelindo-os a levantar demandas revolucionárias pelo controle de fábricas e lojas. A reivindicação de Trotsky pela construção de Soviets era muito coerente. Os Soviets não eram, como Stalin argumentava, simplesmente um meio para a direção da insurreição armada, mas veículos democraticamente eleitos através dos quais os trabalhadores, durante o ascenso revolucionário, poderiam começar a reorganização da vida social e econômica e defender seus interesses contra a contra-revolução.

Peng Shuzi explicou mais tarde que os sindicatos e organizações campesinas em Hunan e Hubei tinham uma contagem de membros na casa dos milhões. "Essa era uma grande força de massas organizada. Se o PCC tivesse seguido o conselho de Trotsky na época e confiado nessa grande massa organizada, ao mesmo tempo convocando a organização de soviets dos trabalhadores-camponeses-soldados para se tornarem a organização revolucionária central, e, através desses soviets armados levasse adiante a revolução agrária, dando terra aos camponeses e soldados revolucionários, eles não apenas poderiam ter aglutinado todas as massas pobres de Huan e Hupeh nos soviets, mas também poderiam ter destruído imediatamente as bases dos oficiais reacionários e desestabilizado indiretamente o exército de Chiang. Desse modo, a revolução poderia ter se desenvolvido da destruição das raízes do poder contra-revolucionário e avançado pela estrada da ditadura do proletariado" (Leon Trotsky on China, Monad Press, Nova Iorque, 1978, p. 66, ênfase no original).

Apesar da glorificação estúpida que fazia da "esquerda" do KMT, Stalin também percebeu que sua política estava desmoronando. Em 1 de junho de 1927, emitiu uma ordem ao PCC para que criasse seu próprio exército com 20.000 comunistas e 50.000 trabalhadores e camponeses. Mas revoluções não são suscetíveis ao falatório burocrático. Como Trotsky apontou, as pré-condições para a construção de um exército revolucionário eram a consolidação da autoridade do partido sobre as massas e os meios concretos para cimentar a aliança entre a classe trabalhadora e o campesinato. Rejeitando a construção de Soviets, Stalin impediu que o PCC estabelecesse a base necessária para a criação de seu próprio exército.

Na medida em que se tornava mais óbia a traição iminente de Wang Ching-wei, o líder do PCC Chen Duxiu novamente exigia que o partido se retirasse do KMT. Mas, uma vez mais, o Comintern recusou sua proposição. No início de julho, Chen raivosamente renunciou ao cargo de secretário-geral do partido. Seu sucessor, Chu Quibai, imediatamente demonstrou sua lealdade a Stalin declarando, mesmo nesse momento de vida e morte, que o KMT "está naturalmente na posição de liderança da revolução nacional".

No dia 15 de julho, Wang Ching-wei emitiu uma ordem formal exigindo que todos os comunistas se retirassem do KMT ou enfrentariam punições severas. Como Chiang, foi Wang que espremeu o PCC "como um limão" e então o jogou fora, iniciando outra onda, mais brutal ainda, de repressão aos comunistas e às massas insurgentes.

Segundo relatou um artigo de jornal contemporâneo: "Nos últimos três meses, a reação se espalhou do baixo Yang-Tsé até se tornar dominante em todo o território sob o assim chamado controle nacionalista. Tang Sheng-chih se provou mais eficaz como um comandante de esquadrões de execução do que de exércitos em batalha. Em Hunan seus generais subordinados levaram adiante uma limpeza contra os 'Comunistas' que Chiang Kai-shek mal pode igualar. Os métodos usuais de matar à bala e decapitar foram substituídos por métodos de tortura e mutilação que remetem aos horrores da Idade das Trevas e da Inquisição. Os resultados são impressionantes. As associações campesinas e trabalhistas de Hunan, provavelmente as mais eficientemente organizadas de todo o país, estão completamente esmagadas. Aqueles líderes que não foram queimados em óleo, e os que não foram enterrados vivos ou vagarosamente estrangulados por corda fina, fugiram do país ou estão em esconderijos tão secretos que não podem ser facilmente encontrados..." (The Tragey of the Chinese Revolution, Harold R. Isaacs, Stanford University Press, 1961, p. 272).

Mesmo assim, Stalin insistiu mais uma vez que suas políticas haviam sido corretas e pôs a culpa das derrotas sobre a liderança do P,cc particularmente Chen. Com as críticas da Oposição de Esquerda encontrando uma audiência cada vez maior na classe trabalhadora soviética, Stalin buscou salvar sua reputação mudando de posição repentinamente, saindo do oportunismo e caminhando ao seu exato oposto — o aventureirismo. Tendo sido responsável por duas gigantescas derrotas contra o PCC e as massas chinesas, Stalin ordenou que o partido em frangalhos levasse adiante uma série de insurreições armadas, que já estavam fadada ao fracasso. Em antecipação à sua teoria ultra-esquerdista do "Terceiro Período", elaborada no início da década de 1930, Stalin atribuiu ao proletariado a tarefa imediata de tomar o poder, bem no ponto onde a revolução chinesa estava se retraindo. Como Trotsky explicou, na verdade, era necessário um reagrupamento do PCC e da classe trabalhadora, slogans democráticos defensivos e, acima de tudo, que se chegasse às lições necessárias — a tudo isso Stalin se opôs resolutamente.

A lição do "Soviet" de Cantão

O suspiro final da revolução chinesa — o levante de Cantão em dezembro de 1927 — foi nada menos que criminoso. Foi agendado para coincidir não com um movimento de massas em Cantão, mas com a abertura do XV Congresso do Partido Comunista Soviético. Seu principal propósito era melhorar a reputação da liderança stalinista e barrar as críticas da Oposição de Esquerda. Sem apoio nas massas, a tentativa de criar um governo soviético com milhares de quadros do partido não possuía qualquer possibilidade de ser vitoriosa. Cerca de 5.700 pessoas, muitas delas entre os melhores quadros revolucionários sobreviventes, foram mortas na heróica batalha para defender o "Soviet" de Cantão, que teve curta existência.

A teoria dos Soviets elaborada por Stalin foi finalmente posta à prova. Ao longo da revolução, Stalin havia argumentado que os soviets só deveriam ser criados no último momento, como os meios da organização da insurreição e, principalmente, não antes do estágio "democrático" ter sido completado. Mas, como Trotsky ainda insistia, os soviets eram, na realidade, os meios para trazer amplas camadas do povo trabalhador para a luta política. Eles não poderiam ser impostos de cima, mas emergiam da base do movimento revolucionário, incluindo os comitês de fábrica e de greve. Conforme a crise revolucionária se desenvolvia, os soviets evoluiriam em novos órgãos do poder operario.

Em Cantão, o PCC estabeleceu burocraticamente um organismo chamado "soviet", como meio de executar uma insurreição na cidade. Mas a "tremenda resposta" antecipada por Stalin não se realizou, pois os trabalhadores e camponeses comuns sequer sabiam quem eram seus "delegados" nesse assim chamado soviet. Apenas uma minúscula minoria de trabalhadores apoiava o governo "Soviet" de Cantão", que foi rapidamente despedaçado.

Stalin defendeu que as tarefas do levante de Cantão eram democrático-burguesas. Mas, como apontou Trotsky, mesmo nessa aventura falida, o proletariado foi compleido a tomar a dianteira. Durante sua vida limitada, o PCC foi forçado a tomar o poder sozinho e implementar medidas sociais radicais, incluindo a nacionalização das indústrias e bancos. Como Trotsky declarou, se essas medidas eram "burguesas", então seria difícil imaginar o que seria uma revolução proletária na China. Em outras palavras, mesmo na insurreição de Cantão, a liderança do PCC foi compelida a seguir a lógica da Revolução Permanente, e não a grosseira teoria dos "dois estágios" de Stalin.

O fracasso do levante de Cantão marcou o fim da revolução nos centros urbanos. Os líderes do PCC que não se juntaram à Oposição de Esquerda, como Mao Zedong, fugiram para o campo. Pressionada pela burocracia stalinista a implementar a linha do Comintern do "Terceiro Período" e criar "Soviets", uma nova corrente emergiu no PCC. Dirigida por Mao, essa tendência efetivamente rompeu com as raízes na classe trabalhadora e se baseou inteiramente no campesinato. Para continuar a "luta armada", o PCC criou o "Exército Vermelho", composto principalmente de camponeses, e estabeleceu "Soviets" nas zonas rurais isoladas. No início da década de 1930, o PCC havia praticamente abandonado seu trabalho dentro da classe trabalhadora urbana.

Mao, cuja perspectiva política possuía mais em comum com o populismo camponês do que com o marxismo, emergiu naturalmente como o novo líder dessa tendência. Antes de juntar-se ao Partido Comunista, havia sido profundamente influenciado por uma escola de socialismo utópico, a "Nova Vila", que se inspirou nos Narodniks russos. A Nova Vila promovia o cultivo coletivo, o consumo comunal e o auxílio mútuo entre vilas autônomas como o caminho para o "socialismo". Esse "socialismo rural" refletia, na verdade, não os interesses do proletariado revolucionário, mas a hostilidade do campesinato decadente diante da destruição do cultivo de pequena escala sob o capitalismo.

Mesmo após ter se juntado ao Partido Comunista, Mao não abandonou essa orientação em relação ao campesinato e esteve na ala direita do partido durante os levantes de 1925-1927. Mesmo no ápice do movimento de classe trabalhadora em 1927, Mao continuou a afirmar que o proletariado era um fator insignificante na revolução chinesa. "Se alocarmos dez pontos à realização da revolução democrática, então... Os que vivem nas cidades e as unidades militares representariam apenas três pontos, enquanto os sete pontos restantes seriam dos camponeses..." (Stalin's Failure in China 1924-1927, Conrad Brandt, The Norton Library, Nova Iorque, 1966, p. 109).

As consequências da derrota

Logo após a derrota da revolução chinesa, Trotsky foi expulso do Partido Comunista, submetido a um exílio interno e, depois, expulso da URSS. Os registros de 1925-1927 na China deixam claro que Trotsky e a Oposição de Esquerda estavam bem cientes do que estava em jogo na Revolução Chinesa para a classe trabalhadora internacional. Trotsky estava engajado em uma luta política titânica para transformar a política do Comintern e criar as melhores condições para uma vitória revolucionária. Mostrar-se formalmente correto era o menos importante.

Em sua autobiografia, Minha Vida, escrita durante seu exílio em 1928, Trotsky recordou o que aconteceu na União Soviética depois de Chiang Kai-shek ter afogado em sangue os trabalhadores de Xangai. "Uma onda de excitação tomou conta do partido. A oposição levantou sua cabeça... Muitos camaradas mais jovens pensaram que a patente falência da política de Stalin inevitavelmente adiantaria o triunfo da oposição. Durante os primeiros dias do golpe por Chiang Kai-shek eu fui obrigado a jogar baldes de água fria sobre as cabeças quentes dos meus jovens amigos — alguns não tão jovens. Tentei mostrar a eles que a oposição não poderia ascender com base na derrota da revolução chinesa. O fato de que nossa previsão havia sido provada correta poderia atrair mil, cinco mil, ou mesmo dez mil novos apoiadores. Mas, para os milhões, o significativo não era nossa previsão, mas o fato do esmagamento do proletariado chinês. Após a derrota da revolução alemã em 1923, após a quebra da greve geral inglesa de 1926, o novo desastre na China iria apenas intensificar o desapontamento das massas sobre a revolução internacional. E foi esse mesmo desapontamento que serviu como a principal fonte psicológica para a política nacional-reformista de Stalin" (My Life: An Attempt at an Autobiography, Leon Trotsky, Penguin Books, 1979, pp. 552-553).

Embora Stalin tenha tentado isolar Trotsky do resto do Comintern e do P,cc seus esforços foram apenas parcialmente bem-sucedidos. Um grupo de estudantes chineses na União Soviética caiu na esfera de influência da Oposição de Esquerda e participou de seu protesto em 7 de novembro de 1927, na Praça Vermelha, em meio às celebrações do décimo aniversário da Revolução de Outubro. Ao final de 1928, ao menos 145 estudantes chineses haviam formado organizações trotskistas secretas em Moscou e Leningrado.

Ao mesmo tempo, durante o Sexto Congresso do Comintern, Trotsky escreveu sua famosa crítica ao programa do Comintern. Alguns delegados do P,cc incluindo Wang Fanxi, puderam ler os textos de Trotsky e aceitaram a análise da Oposição de Esquerda. Depois que alguns desses estudantes chineses retornaram à China em 1929, uma seção da liderança do P,cc incluindo Chen Duxiu e Peng Shuzi, voltou-se ao trotskismo e formou a Oposição de Esquerda chinesa.

Na China, o KMT, que havia estendido sua influência explorando os levantes revolucionários de massas, se provou absolutamente incapaz de manter a coesão no país ou de governar "democraticamente". O "terror branco" do Kuomintang durou anos. De abril até dezembro de 1927, foram executados aproximadamente 38.000, e 32.000 foram presos como prisioneiros políticos. De janeiro até agosto de 1928, mais de 27.000 foram sentenciados à morte. Em 1930, o PCC estimou que 140.000 foram assassinados ou morreram em prisões. Em 1931, 38.000 foram executados como inimigos políticos. A Oposição de Esquerda chinesa não só foi caçada pela polícia do KMT, mas também entregue às autoridades pela liderança stalinista do PCC.

As consequências políticas da revolução fracassada se estenderam para muito além das fronteiras da China. Uma vitória teria enorme impacto em toda a Ásia e outros países coloniais. Entre outras coisas, teria dado grande ímpeto à classe trabalhadora japonesa em suas lutas contra o ascenso do militarismo japonês na década de 1930 e o mergulho rumo à guerra mundial.

Enquanto o capitalismo global mergulha mais uma vez em uma crise, enquanto se intensificam os impulsos de militarismo e da guerra, a classe trabalhadora chinesa e internacional somente podem se preparar para os levantes que começam a ser vislumbrados através da assimilação cuidadosa das lições políticas da derrota da Revolução Chinesa.

[traduzido por movimentonn.org]