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França: professores e estudantes se mobilizam em defesa
da educação
Por Antoine Lerougetel
2 de dezembro de 2009
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Publicado originalmente no WSWS em ingles o dia 25 de novembro
de 2009.
Mais de 40% de todos os professores do ensino fundamental e
médio de milhares de escolas em toda a França entraram
em greve dia último dia 24 e organizaram manifestações
contra os cortes de emprego e contra a deterioração
da educação em todo o sistema de ensino francês.
A mobilização faz parte de uma resistência
no mundo inteiro por parte dos professores e alunos contra as
políticas de destruição da educação,
a ser implementadas por governos em todo o mundo, como pode ser
visto recentemente na Alemanha, Áustria e Estados Unidos.
A ação foi organizada pela principal federação
sindical da educação, a FSU (Federação
Sindical Única), pela CGT (Confederação Geral
do Trabalho) e pela SUD (Solidariedade-Unidade-Democracia). O
principal sindicato dos estudantes universitários, a UNEF
(União Nacional dos Estudantes da França) e organizações
de estudantes do ensino médio convocaram os alunos a apoiar
os professores.
Mais de 15% dos carteiros do país também entraram
em greve contra a privatização e o fechamento de
agências. Reuniram, no mesmo dia, em separado, mais de 3.000
trabalhadores em uma manifestação.
A FSU contabilizou 8.000 pessoas na manifestação
em Paris. Havia um grande grupo de alunos secundaristas e um grupo
menor de estudantes universitários, principalmente da Sorbonne
e de universidades do centro de Paris. A juventude parecia superar
o número de professores. Manifestações menores
foram registradas nas principais cidades da França.
As principais questões que trazem estudantes e professores
às manifestações são a sistemática
redução do número de professores e a deterioração
de sua formação, juntamente com o fechamento de
vagas de emprego regulares na educação em meio ao
aumento do desemprego, que na juventude atinge 20% ou mais.
Cerca de 16.000 postos de trabalho no ensino deverão
ser cortados em 2010, totalizando 50.000 em cinco anos, quase
a metade dos 136.000 empregos que estão sendo cortados
nos serviços públicos no mesmo período, em
consonância com a política governamental de substituir
apenas um em cada dois trabalhadores que se aposentam no serviço
público.
A declaração conjunta da FSU/CGT afirma: "O
efeito cumulativo dos cortes de empregos para todas as categorias
e a falta de recrutamento está provocando a deterioração
das condições de trabalho e estudo (...), privando
muitos jovens do acesso aos empregos do serviço público.
As reformas que implementadas ou planejadas são guiadas
pela vontade de cortar os recursos e tornar o sistema de ensino
orientado para o mercado. "Os sindicatos da educação
também estão pedindo um aumento salarial para os
trabalhadores da educação, cujo poder de compra
está em declínio há décadas",
afirma a declaração.
A UNEF, além do pedido de abertura de mais alojamentos
estudantis e de um subsídio maior, cita a oposição
em massa para a "reforma regressiva e escandalosa da formação
de professores".
Essa medida irá substituir o atual curso de pós-graduação
de dois anos, que inclui um ano de estudo acadêmico do tema
a ser ensinado e outro de teoria educacional, no final dos quais
o candidato passa por um exame competitivo, que é a porta
para um cargo de professor permanente. Os candidatos aprovados,
apenas 5% das pessoas na disputa, ensinam algumas horas por semana
no segundo ano, sob a supervisão de um professor experiente
e da equipe de formação de professores, e continua
com os cursos sobre a arte de ensinar.
Sob o novo sistema planejado, todos os futuros professores
terão de esperar para completar um curso de dois anos de
mestrado, no final do qual vai prestar o exame de admissão
para vagas nas escolas primárias e secundárias.
Em seguida, são jogados para ensinar sob as mesmas condições
que os professores experientes.
O estado poupará um ano sobre os salários dos
professores inexperientes. Outra vantagem para as finanças
do Estado é que muitos dos candidatos não aprovados
não terão mestrado em educação e podem
constituir um grupo de professores a serem contratados temporariamente
com condições de trabalho, salários e direitos
muito reduzidas.
Outra questão fundamental que motiva os protestos dos
alunos do ensino médio e professores é a reforma
dos liceus (escolas). Ela está sendo imposta pelo ministro
da Educação, Luc Chatel, e é uma versão
reduzida do seu antecessor, Xavier Darcos, que teve que adiá-la
em face de movimentos de massa nas universidades e liceus do ano
letivo passado. Esta reforma reduz a obrigação dos
liceus em fornecer quantidades específicas de tempo de
ensino de disciplinas escolares, a fim de abrir caminho para o
"apoio personalizado", que, segundo as organizações
de professores, tenderão a colocar os alunos de baixo desempenho
em situação de desvantagem, enquanto favorece os
melhores alunos.
As declarações dos sindicatos omitem qualquer
avaliação das experiências dos últimos
anos, quando os movimentos de massa, como em 2003 (cortes de pensão),
2006 (contra os ataques sobre os direitos trabalhistas), 2007/8
(direitos de pensão e as condições de trabalho
no setor público) foram realizados mesmo com a oposição
dos sindicatos, que fizeram tudo o que podiam para dividir, limitar
a luta à um dia de mobilização e dispersar
os protestos.
Eles não atacam a ofensiva do governo contra os direitos
e condições dos trabalhadores e da juventude, mas,
pelo contrário, a encorajam. Isso permitiu que o governo,
além de reduções significativas nas condições
dos trabalhadores, fizesse sérias incursões no direito
de greve no transporte público e educação
através da legislação de serviços
mínimos.
As declarações dos sindicatos ignoram a crise
econômica e financeira mundial, que está conduzindo
os governos de todo o mundo ao empobrecimento da classe trabalhadora
e da juventude para possibilitar que seus capitalistas continuem
a competir na arena mundial.
A declaração da CGT/FSU solicita mais emprego,
melhores condições de trabalho e estudo, melhor
formação de professores e o fim dos contratos temporários,
ameaçando com "um grande e duradouro conflito"
caso essas exigências não sejam atendidas. Esta ameaça
é direcionada principalmente aos seus próprios membros,
buscando convencê-los da validade da perspectiva do sindicato,
em grande parte desacreditado.
A FSU, após o relatório de uma participação
de quase 40% na greve, emitiu uma ameaça sem efeito: "O
ministro só realiza rodadas de discussões, recusando-se
a ouvir a base das reivindicações dos funcionários.
Caso o ministro não levasse em conta as opiniões
dos trabalhadores, a SNES (braço da FSU entre professores
das escolas secundaristas), juntamente com a FSU, tomaria mais
medidas para impor outras políticas para a educação
e os seus funcionários".
A UNEF, também reclamou que "Luc Chatel não
aproveitou o adiamento por um ano da reforma, de modo a abrir
um diálogo real", e lamentou seu desprezo "para
o diálogo social".
Nenhum dos partidos políticos de "esquerda"
- o Novo Partido Anti-Capitalista de Besancenot, o Partido de
Esquerda de Jean-Luc Mélenchon e o Partido Comunista -
propõe qualquer outra perspectiva a não ser a pressão
sobre o governo para fazer concessões.
Apenas a declaração da seção alemã
da Internacional Estudantil pela Igualdade Social (ISSE) "Por
um movimento independente da classe trabalhadora para defender
a educação", distribuído por apoiadores
da ISSE na manifestação de Paris, recordou que a
luta por um sistema de educação decente para todos
estava intimamente ligada à luta pela transformação
socialista da sociedade, envolvendo o desenvolvimento de um movimento
social mundial que visa substituir o capitalismo.
Repórteres do WSWS entrevistaram alguns manifestantes.
Amelie, do Liceu Jacques Decoures em Paris, está em
seu segundo ano de estudo de literatura. Ela relatou que o liceu
foi ocupado pelos alunos. "Se eles estão cortando
professores e cultura geral, é porque querem se livrar
de metade dos trabalhadores do governo", disse ela. Amelie
acrescentou que é bom que os estudantes estejam se mobilizando
em outros países.
Sofyan do Liceu Newton em Clichy (Paris) disse: "Estão
cortando os professores e os programas de ensino com o objetivo
de privatização, para o interesse das grandes empresas.
A educação deveria ser gratuita para todos, independentemente
das origens. Será difícil desestabilizar a direita
com Sarkozy lá. Nosso futuro é difícil. O
atual sistema precisa mudar. Temos de fazer tudo para que isto
aconteça".
Bertrand, em seu primeiro ano no Liceu Rodin em Paris, disse:
"A pressão das ruas fez Darcos voltar atrás".Ele
disse que os jovens eram capazes de lutar como fizeram no passado,
mas pensou que não poderia haver solução
através dos sindicatos e partidos políticos atuais.
"As guerras devem ser interrompidas e uma paz estabelecida,
mas é complexo, porque a sociedade está dividida,
com interesses diferentes", disse ele.
Morgan é um professor estagiário em Paris. Ele
disse: "Nós sabemos sobre os movimentos em defesa
da educação no resto da Europa. Estamos sempre comparando
situações. O Estado está tentando economizar
livrando-se de professores e da cultura em geral. Estão
cortando a educação especial. Isso significa que
teremos mais professores com contratos temporários".
Ele concordou que a pressão das ruas não era
suficiente. "Muitas pessoas não percebem que os professores
estagiários não vão ter uma experiência
prática", disse ele. "Nós poderíamos
ter adiado a reforma universitária no ano passado [a LRU,
que aponta para universidades autônomas financiadas por
grandes empresas]. No entanto, os sindicatos não estiveram
muito presentes".
[traduzido por movimentonn.org]
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