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China: morte de mineradores revela face brutal do capitalismo
mundial
Por John Chan
2 de dezembro de 2009
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Este texto foi publicado originalmente no WSWS em ingles
o dia 25 de novembro de 2009.
A morte trágica de 104 operários no dia 21/11
em exploção de uma mina de carvão, ocorrida
na cidade de Hegang, província de Heilongjiang, é
um exemplo verdadeiro da exploração brutal a que
são submetidos os 400 milhões de trabalhadores do
país, cujo suor e labuta são bases para o capitalismo
chinês e mundial.
Enquanto a imprensa financeira mundial fala da China como o
destaque da economia global e cita várias estatísticas
de grande produção e crescimento, os salários
de fome, as condições opressoras e inseguras de
trabalho e os grandes custos sociais envolvidos são sistematicamente
ignorados.
As mortes dos mineradores em Heilongjiang são um resultado
da transformação da China em uma grande fábrica
hiper-exploradora para o capital mundial. Em meio à pior
crise econômica desde a década de 1930, o impulso
por super-lucros na China apenas se intensificou, presidida por
um Estado policial stalinista que suprime implacavelmente qualquer
oposição dos trabalhadores.
Milhares de mineradores morrem todos os anos conforme a indústria
de carvão da China se expande para preencher as altíssimas
e crescentes demandas por energia e aço. A produção
anual aumentou de um bilhão de toneladas em 2000 para 2,63
bilhões ano passado. A China hoje consome mais de um terço
da produção total de carvão do mundo e a
demanda deve provavelmente ultrapassar 3 bilhões de toneladas
em 2010. Na corrida pelo lucro, a vida dos cinco milhões
de mineradores de carvão chineses são simplesmente
dispensáveis.
O desastre é o segundo em menos de 4 anos no grupo Heilongjiang
Longmei Mining Holding, uma das maiores e mais modernas companhias
de carvão estatais. Em novembro de 2005, 171 mineradores
perderam suas vidas na mina da companhia em Dongfeng.
O que aconteceu na mina de Hegang nos últimos dias é
uma repetição da tragédia em Dongfeng há
alguns anos. Quando os mineradores de Dongfeng morreram, o governo,
nos níveis central e provincial, fizeram controle de danos
para aplacar a raiva da população. Alguns gerentes
foram presos e viraram bodes-expiatórios. Políticos
prometeram em frente às câmeras que não haveria
mais desastres. Uma investigação descobriu que medidas
de segurança básicas foram ignoradas para aumentar
a produção. Uma escalada cosmética nas medidas
de segurança foi iniciada para fechar pequenas minas ilegais,
deixando as grandes estatais e companhias privadas ilesas. Quaisquer
protestos pelas famílias das vítimas foram rapidamente
silenciados pela polícia. Assim que os olhos do público
se voltaram para outros assuntos, as companhias mineradoras continuaram
seus negócios de sempre até a próxima
grande catástrofe.
Em média, 13 mineradores morrem na China todo dia. A
maioria das mortes acontece em milhares de pequenas minas privadas,
onde as condições são bárbaras. Em
2007, um escândalo eclodiu nas províncias de Shanxi
e Henan quanto ao uso de trabalho escravo em minas de carvão
e fábricas de tijolos. Centenas de trabalhadores, muitos
deles crianças, haviam sido vendidos como escravos para
suportar 16 horas por dia em condições de sujeira
e perigo físico. Mas como o último desastre demonstra,
as condições de exploração brutal
não estão restritas a pequenos operadores privados.
Embora a mina de Hegang tivesse equipamentos atualizados e procedimentos
de segurança em seus manuais, na prática recorreu
a atalhos perigosos para maximizar a produção e
os lucros.
Em 2006, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma
divulgou um plano para concentrar a indústria do carvão
em cinco ou seis conglomerados gigantes pela fusão ou fechamento
de todas as pequenas minas nas principais províncias de
mineração até 2015. O grupo Heilongjiang
Logmei Holding é um dos conglomerados emergentes, com 88.000
empregados somente na cidade de Hegang. Longe de melhorar a segurança,
o plano de fusões produzirá desastres de maior escala.
A última tragédia na mineração
é mais um testemunho contra o maoísmo e o stalinismo,
que sempre se basearam na rejeição explícita
ao marxismo e ao internacionalismo socialista. Da década
de 1980 em diante, o regime de Estado policial estabelecido por
Mao em 1949 se provou particularmente atraente para os investidores
globais, conforme esses procuravam força de trabalho barata
para superar a lucratividade em queda e a curva para baixo da
economia mundial.
A catástrofe em Hegang não apenas evidencia as
horrorosas condições de trabalho que enfrentam os
operários nas minas e em toda a acelerada indústria
chinesa, mas também constitui um aviso aos trabalhadores
de todo o mundo. Os processos de consolidação e
reestruturação que acontecem na indústria
de carvão da China são uma resposta típica
da classe capitalista de todos os países à crise
econômica global. No esforço de sobreviver, corporações
estão engajadas em uma marcha brutal para reduzir e cortar
gastos em detrimento da classe trabalhadora. A cada dia, as condições
de super-exploração que os trabalhadores chineses
enfrentam estão se tornando o parâmetro de trabalhadores
do mundo inteiro.
A explosão da mina no nordeste da China ocorreu poucos
dias após a visita do presidente dos EUA Barack Obama a
Xangai e sua declaração de admiração
pela General Motors na China hoje a operação
mais lucrativa da gigantesca montadora norte-americana. Embora
a GM tenha falido e anunciado cortes e demissões devastadores
nos EUA, sua produção na China continua a crescer
rapidamente. Os salários e condições de trabalho
nos EUA irão se alinhar rapidamente com os da China conforme
a corporação utiliza o enorme exército de
reserva de trabalho barato na China para abater a resistência
dos trabalhadores nos EUA e outros países.
Numa maior escala, Obama chamou pelo "rebalanceamento"
das relações econômicas globais, apontando
em particular para a colossal dívida com a China e as grandes
compras de títulos de dívida pela China. Os fardos
do "rebalanceamento" irão inevitavelmente recair
sobre a classe trabalhadora. Tornar as mercadorias americanas
"competitivas" na China, onde o salário mínimo
é cerca de US$ 150 por mês, significará cortes
de custos massivos pelas firmas dos EUA. Reduzir a montanha de
dívidas do governo dos EUA significará um aprofundamento
do processo selvagem de cortes contra serviços sociais
essenciais, como saúde e educação.
Assim como o "rebalanceamento" da GM resultou em
fechamento de plantas na América do Norte e expansão
na China, do mesmo modo processos mais amplos levarão à
destruição sistemática de empregos, rebaixamento
dos salários, aumentos nas jornadas e condições
cada vez mais perigosas e insalubres que inevitavelmente levarão
à tragédias como a da mina de Hegang. A corrida
pela "competitividade internacional" e lucros nunca
termina. Uma queda no consumo dos trabalhadores americanos irá,
por sua vez, cortar a demanda por exportações chinesas,
levando a fechamento de fábricas, perda de empregos e maiores
cortes de gastos na China.
Dentro dos limites do capitalismo não há saída
para essa espiral de queda infinita. Trabalhadores na China, nos
EUA e em todo o mundo podem defender seus interesses de classe
comuns somente pela unificação de suas lutas contra
o capital global e seus representantes políticos. Em muitos
casos, como na GM, esses trabalhadores são empregados pelas
mesmas corporações, que procuram colocá-los
uns contra os outros. Um fim para essa competição
fratricida é possível somente sobre uma base socialista,
através da abolição do sistema de lucro e
da organização sistemática dos vastos recursos
produtivos mundiais para suprir as urgentes necessidades sociais
da humanidade e não os lucros da rica elite corporativa.
[traduzido por movimentonn.org]
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