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Bolívia: Morales é reeleito com maioria esmagadora

Por Bill Van Auken
15 de dezembro de 2009

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Publicado no WSWS em ingles no dia 8 de dezembro de 2009

O presidente boliviano, Evo Morales, se reelegeu com uma maioria esmagadora na segunda-feira, dia 7, recebendo pelo menos 62% dos votos contra os 23% de seu rival mais próximo. Os resultados da votação deram a Morales um segundo mandato de cinco anos, enquanto seu partido, Movimento ao Socialismo (MAS), ganhou uma maioria de dois terços na câmara alta do Congresso boliviano e uma maioria substancial na Câmara.

No entanto, os resultados expõem a persistente divisão do país entre os pobres, o altiplano predominantemente indígena e as regiões de planície, o centro da elite empresarial do país e da sua riqueza agrícola e energética.

A escala da vitória eleitoral de Morales foi praticamente igual a outras votações recentes, incluindo a derrota esmagadora de um referendo de reconvocação das eleições visando derrubá-lo em agosto do ano passado e um referendo constitucional em janeiro passado em que ele garantiu o direito de buscar um segundo mandato.

Morales foi originalmente eleito presidente em 2005, quando ganhou com um pouco mais de 53% dos votos. Ele ganhou destaque político como líder do movimento cocaleiro da Bolívia, que defende os interesses dos pequenos plantadores de coca contra os esforços dos governos boliviano e americano para erradicar o cultivo. A produção de coca se tornou uma atividade econômica cada vez mais importante sob condições em que os empregos no setor de mineração do país foram dizimados e a viabilidade econômica de outras culturas diminuiu.

A primeira língua de Morales é o aymara, e ele descreve-se como primeiro chefe de estado indígena do país.

A margem da vitória na eleição é, em parte, expressão da popularidade dos diversos programas de assistência social que o governo Morales conseguiu implementar — graças ao aumento das receitas de energia do país após a “nacionalização” dos hidrocarbonetos bolivianos, em 2006. Anunciado com grande alarde, essa ação não envolveu desapropriações de produtores de energia estrangeiros, consistindo essencialmente em um aumento dos impostos sobre os seus lucros.

Os principais programas de assistência social implementados pelo governo de Morales consistem em subsídios em dinheiro pagos às mulheres grávidas, crianças e idosos. Embora estes programas sejam muito populares e tenham reduzido a taxa de pobreza da Bolívia, ela continua entre as mais altas do mundo, com 60% da população classificada como pobre e quase a metade desse número em extrema pobreza.

Os programas de ajuda não alteraram de maneira nenhuma as relações de classe que moldam a sociedade boliviana. Eles têm tido pouco impacto sobre o emprego, com a maioria da população ainda subsistindo fora da chamada economia formal.

Ao promover a autonomia política e cultural para os povos indígenas da Bolívia, o governo tem feito pouco para melhorar as condições para as massas de camponeses através da reforma agrária. A distribuição de terras na Bolívia permanece entre as mais desiguais do mundo, com 91% das terras cultiváveis nas mãos de apenas 5% da população.

Após a eleição, o vice-presidente de Morales, Alvaro Garcia Linera, prometeu, ao diário argentino Clarín, que não haveria desapropriações de terra, insistindo que a constituição do país garante o direito da propriedade privada e o "papel econômico e social que ela deve desempenhar".

Apesar do uso da palavra "socialismo" no nome de seu partido e a retórica de Morales e outros membros do governo, Garcia Linera insistiu que o programa real do governo é o do "capitalismo andino-amazônico", que significa a utilização do Estado para promover o desenvolvimento capitalista.

O governo de Morales vivenciou uma das maiores taxas de crescimento na história da Bolívia - e, atualmente, a mais elevada em todo o hemisfério - em grande parte graças à acentuada elevação dos preços da energia e dos minerais. Em 2008, a economia cresceu a uma taxa de 6,2%. Com um declínio tanto dos preços quanto das exportações, esta taxa caiu para a previsão de crescimento de 3% para 2009.

O presidente e seu partido, o MAS, se beneficiaram do desarranjo de seus rivais da ala-direita, que se mostraram incapazes de montar uma chapa eleitoral unificada. O principal candidato da direita, com 23% dos votos, foi Manfred Reyes Villa, um capitão do Exército e ex-governador de Cochabamba, que já foi julgado por corrupção. Em seguida veio o magnata da conctrução civil Samuel Doria Medina, com cerca de 8%.

O caráter da oposição de direita foi apresentado na escolha de Reyes Villa como companheiro de chapa. O vice-candidato presidencial, Leopoldo Fernández, conduziu sua campanha eleitoral atrás das grades. O ex-chefe do departamento de Pando foi preso sob a acusação de ter ordenado o massacre de pelo menos 13 camponeses e estudantes na cidade de El Porvenir, em setembro do ano passado.

O massacre veio na esteira do "golpe cívico", lançado pelas elites empresariais na chamada Media Luna (Meia Lua - nomeada pela a sua forma geográfica), departamentos de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija, que possuem a parte do leão das reservas de gás natural, bem como a maioria das propriedades agrícolas maiores e mais rentáveis. Em apoio à procura da secessão da Bolívia, a ação incluiu saques de escritórios do governo e outros atos de violência que deixaram grande quantidade de mortos e feridos.

Morales e o MAS conduziram sua campanha eleitoral com o objetivo de apaziguar algumas dessas camadas mais ricas e, em especial, ganhando setores mais abastados da pequena burguesia. Ao fazer ganhos na região, Morales ficou logo atrás em três das províncias, conseguindo garantir uma votação ligeiramente maior do que a oposição de direita só em Tarija, onde 49% votam no candidato à reeleição, em oposição a 40% para Reyes Villa e 8% de Doria Medina.

Após o anúncio dos resultados eleitorais, o vice-presidente, Garcia Linera, disse à imprensa: "Espero que os grupos de oposição abandonem a oposição feroz dos últimos quatro anos, baseada na rejeição de qualquer iniciativa do governo, de diálogo e de ofertas de consenso".

Sua derrota nas urnas não tornará a direita boliviana e as elites empresariais mais afeiçoáveis ao programa do governo. Pelo contrário, vão procurar outros meios de oposição ao governo Morales, que incluem a ameaça de recorrer a um instrumento tradicional na Bolívia para derrubar chefes de Estado - o golpe militar.

A oposição continua a se beneficiar do apoio de Washington. Na sequência dos acontecimentos de setembro de 2008, Morales ordenou a expulsão do embaixador dos EUA por causa das ligações da embaixada com o "golpe cívico". A administração Bush retaliou expulsando o embaixador boliviano de Washington.

Não houve restauração de relações diplomáticas normais com Obama. Pelo contrário, a nova administração democrata restabeleceu a principal medida punitiva tomada sob Bush, o cancelamento de isenção de direitos de importação que valem US$ 25 milhões anuais para a economia boliviana. O pretexto para essa ação era de que o governo Morales não tinha combatido suficientemente o cultivo de coca — isso apesar do fato de que o aumento da produção de coca na Bolívia é uma fração do aumento da Colômbia, que continua a ser o principal aliado de Washington na região. Estima-se que a sanção comercial custará cerca de 20.000 empregos de trabalhadores bolivianos, principalmente na produção têxtil e de couro.

[traduzido por movimentonn.org]

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