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Mercenários e assassinos: A verdadeira face da "guerra justa" de Obama

Por Bill Van Auken
15 de dezembro de 2009

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Publicado no WSWS em ingles no dia 12 de dezembro de 2009

Reportagens recentes a respeito de soldados-mercenários empregados pela conhecida Blackwater-Xe, empresa privada contratada para participar de operações da CIA no Iraque e no Afeganistão, expuseram ainda mais o verdadeiro caráter da chamada "guerra justa" de Obama, que se intensifica a cada dia.

Citando ex-funcionários da empresa e agentes da inteligência americana, o New York Times noticiou na sexta-feira que "pistoleiros da Blackwater", supostamente contratados como guardas de segurança, “participaram de algumas das atividades mais secretas da CIA: incursões clandestinas juntamente com oficiais da agência contra insurgentes no Iraque e no Afeganistão e transporte de detentos".

Essas operações — muitas delas envolvendo assassinatos de indivíduos suspeitos de participar da resistência à ocupação dos EUA — "ocorreram quase todas as noites durante o auge da insurgência do Iraque, de 2004 a 2006, tendo os funcionários da Blackwater desempenhado papeis centrais", relatou a reportagem do Times.

Tanto o Times quanto o Washington Post citaram funcionários anônimos da inteligência e ex-funcionários da Blackwater, que afirmava que o envolvimento de guardas da empresa em assassinatos e seqüestros não foi planejado. Em vez disso, alegaram que era uma questão de divisão do trabalho entre os agentes da CIA e guardas particulares, supostamente contratados com a finalidade de proteger os agentes dos ataques.

Segundo o Times, os guardas da Blackwater "deviam apenas fornecer o perímetro de segurança durante os ataques, cabendo aos agentes da CIA e ao militares das Operações Especiais capturar ou matar supostos insurgentes". Entretanto, ainda de acordo com a mesma fonte, lê-se: "Mas, no caos das operações, os papéis da Blackwater, da CIA e dos militares, por diversas vezes se misturaram".

A pretensão de que os guardas contratados da Blackwater, a maioria deles ex-agentes das tropas de Operações Especiais, seriam utilizados apenas como guardas de segurança para o pessoal da CIA é um absurdo. Qualquer que seja a justificativa dada para o contrato, o “conjunto de habilidades” que a Blackwater ofereceu foi precisamente a de assassinos altamente treinados.

Um porta-voz da Blackwater-Xe respondeu à imprensa, insistindo que nunca houve nenhum contrato com a empresa para participar de operações com a CIA ou com tropas das Forças Especiais "no Iraque, no Afeganistão ou em qualquer outro lugar." E acrescentou: "Qualquer alegação do contrário por qualquer órgão da imprensa é falsa".

A ausência de um contrato claro sobre o papel da Blackwater em missões de assassinato é surpreendente, dado que o principal atrativo da equipe de guardas para a CIA é precisamente a sua capacidade de agir sem ter que levar em consideração qualquer fiscalização do governo ou qualquer lei civil ou militar. Como afirmou o Washington Post, citando um agente secreto aposentado: "Para funcionários do governo, o trabalho com os guardas contratados oferecia formas de contornar a burocracia."

O papel da Blackwater como uma extensão extra-jurídica da Agência Central de Inteligência, encarregada das operações sujas com as quais a CIA não queria seus empregados diretamente associados, é mais do que evidente.

Um artigo publicado na edição de janeiro da Vanity Fair, escrito por Adam Ciralsky, um ex-advogado da CIA, cita fontes da inteligência que relatando que a relação com Eric Prince, o multi-milionário republicano, fundador e proprietário da Blackwater, não era apenas a de um contratado privado, mas um “empreendimento altamente desenvolvido", recrutado pela agência precisamente para tais operações.

O papel central desempenhado pela Blackwater em atividades da CIA tornou-se cada vez mais claro, na medida em que os principais funcionários da agência deixaram a CIA e assumiram posições na gestão da Blackwater. Entre estes estão J. Cofer Black, antigo chefe da Agência Central de Combate ao Terrorismo, Enrique Prado, ex-chefe do centro de operações, e Rob Richer, anteriormente o segundo comandante de serviços clandestinos da CIA.

No Iraque, os funcionários da Blackwater agiam com total impunidade, matando um grande número de civis sem serem responsabilizados pelo regime iraquiano ou pelos comandantes militares dos EUA. O alcance dessa violência chamou a atenção do público em setembro de 2007, quando um comboio de agentes da Blackwater parou na praça Nisour em Bagdá e sem motivo abriu fogo contra civis desarmados, matando 17 iraquianos.

Seis guardas da Blackwater foram acusados pelo Ministério Público Federal de homicídio voluntário sobre os assassinatos. Um deles se declarou culpado e é esperado para testemunhar contra os outros em um julgamento marcado para começar em fevereiro

Enquanto isso, a empresa é processada em diversos casos em separado, interpostos em nome dos mais de 70 iraquianos mortos por empregados da empresa no Iraque. Dois ex-empregados da Blackwater apresentaram declarações nesses casos, alegando que o cabeça da empresa, Prince, pode ter assassinado ou ordenado o assassinato de pessoas que colaboram com o Departamento de Justiça na investigação da empresa.

A reportagem de sexta-feira do Times segue uma série de revelações que vieram à tona desde junho passado, quando o diretor da CIA, Leon Panetta informou aos comitês de inteligência do Congresso sobre um programa secreto de assassinato envolvendo a Blackwater. Ele alegou ter acabado de descobri-los e denunciá-los. Panetta afirmou que o programa nunca havia sido implementado. Até então, tinha sido mantido em segredo pelo Congresso, alegadamente a mando do ex-vice presidente Dick Cheney.

Posteriormente, foi revelado que os funcionários da Blackwater, desde então renomeada como Xe Serviços em uma tentativa de deixar para trás a infame reputação da empresa, estavam ativamente envolvidos em um programa de assassinatos em curso no Afeganistão-Paquistão, realizado por meio de aviões Predator. Os guardas da Blackwater fazem a montagem e o carregamento de bombas e mísseis Hellfire usados para realizar os chamados "assassinatos seletivos", que tiraram a vida de centenas de civis. Além disso, fizeram a segurança das bases e de acordo com alguns relatos, participaram das operações da inteligência que determinaram os alvos para os ataques.

Houve pelo menos 65 desses ataques-assassinatos aéreos no Paquistão desde agosto de 2008, com um número de mais de 625 mortes relatadas. Algumas estimativas colocam o número de mortos em mais de 1.000, muitos deles mulheres e crianças. A maioria desses ataques ocorreu desde que Obama tomou posse.

Além das mais de 30.000 tropas adicionais dos EUA que estão sendo enviadas para o Afeganistão, Obama autorizou a CIA a aumentar drasticamente os ataques. Funcionários dos EUA também alertaram o governo paquistanês de que estes ataques serão estendidos para além das áreas tribais na fronteira entre o Afeganistão e o Baluquistão, e potencialmente contra a cidade de Quetta, onde supostamente líderes talibãs afegãos têm se refugiado.

Está longe de ser claro, com base na reportagem do Times, em que medida o papel da Blackwater em assassinatos dirigidos, tanto a partir do ar quanto a partir do solo, continua. Desde 2001, a empresa obteve um lucro líquido de US$ 1,5 bilhão em contratos com o governo, fornecendo guardas armados para a CIA, para o Departamento de Estado e para o Pentágono.

Uma coisa é certa, os assassinatos desse tipo, envolvendo guardas da Blackwater, serão realizados em uma escala muito maior, como parte de uma intensificação de Obama da guerra no Afeganistão.

Estes planos foram insinuados pelo chefe do Comando Central, o general David Petraeus, durante seu depoimento perante o Comitê de Relações Exteriores do Senado, na quarta-feira. "Não há dúvida de que se deve matar ou capturar os bandidos que não são reconciliáveis", disse Petraeus aos senadores. "E nós pretendemos fazer isso."

O general prosseguiu: "Na verdade, nós realmente aumentaremos o nosso componente na luta global contra o terrorismo". Ele disse que novos “elementos da missão da força nacional"chegarão ao Afeganistão até à próxima primavera

Os "elementos" citados por Petraeus incluem as unidades de Operações Especiais do exército como a Delta Force, bem como esquadrões da CIA e, com toda a probabilidade, as forças de guardas de segurança, como as enviadas pela Blackwater.

O Gen. Stanley McChrystal, indicado por Obama para dirigir a guerra do Afeganistão, foi anteriormente o cabeça do super-secreto Comando Conjunto de Operações Especiais, que consiste em tais forças especiais e esquadrões da morte.

É importante ressaltar que a controvérsia na grande mídia é centrada sobre se o uso de guardas da Blackwater para caçar e matar indivíduos suspeitos de oposição às ocupações americanas do Iraque e do Afeganistão, o que representa um uso ilegítimo de empreiteiros privados na realização de uma função central do governo.

Os assassinatos em si não são levantados como um problema. Em 1976, o presidente Gerald Ford emitiu uma ordem executiva, proibindo a CIA de exercer diretamente assassinatos ou de encomendá-los a terceiros. A decisão seguiu-se a uma onda de indignação pública contra uma série de revelações sobre planos de assassinatos da CIA ao redor do mundo, o que deu à agência o epíteto "Murder, Inc.".

Em 2001, o presidente George W. Bush derrubou a decisão de Ford, afirmando que tais restrições não mais se aplicariam à "guerra mundial contra o terrorismo". Os democratas não ofereceram oposição e a mídia tem tratado inteiramente como uma questão em andamento, enquanto obscurece qualquer relatório sério sobre a carnificina resultante e sobre as vítimas.

Tal como acontece com todas as outras questões essenciais, o presidente Barack Obama adotou a política de Bush. "Assassinatos seletivos", rendição extraordinária, a utilização de guardas de segurança privados, todos os crimes sórdidos realizados sob a administração Bush continuam. Esses métodos brutais estão prestes de serem novamente lançados com força redobrada contra os povos do Afeganistão e do Paquistão, na medida em que Obama orienta novos crimes de guerra.

[traduzido por movimentonn.org]

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