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Desemprego aumenta drasticamente em toda a Europa

Por Stefan Steinberg
14 de agosto de 2009

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Números divulgados na semana passada pela agência estatística da União Européia, Eurostat, mostram que o desemprego continuou a crescer em toda a Europa em junho. O nível oficial de desemprego, ajustado sazonalmente, para os 27 Estados-membros da União Européia (UE) aumentou para 8,9%, refletindo um aumento de 246.000 pessoas desempregadas. Os números de junho de 2009 foram 2 % mais elevados do que os números de junho de 2008 e significam que mais de 21,5 milhões de europeus ficaram sem trabalho no mês passado.

A porcentagem de pessoas sem trabalho na zona do Euro - zona das 16 nações que usam o Euro como moeda - foi ainda maior: de 9,4%, representando um aumento de 158.000 pessoas desempregadas. O desemprego na zona do Euro situou-se em 7,5% em junho de 2008.

O desemprego entre os jovens na zona do Euro é mais de duas vezes o número de adultos trabalhadores e situa-se em 19,5 por cento.

Os dados sobre o desemprego na Europa foram divulgados logo após as últimas estatísticas de desemprego no Japão, que subiu para 5,4% em junho, a maior alta em 6 anos, e nos EUA, onde o desemprego atingiu 9,5 % a maior alta em 26 anos.

Os últimos dados mostram que, embora a maioria dos grandes bancos e instituições financeiras esteja declarando sólidos lucros - e, em alguns casos, recordes - a indústria, o comércio e as empresas de serviços, que constituem a tão falada "economia real", continuam a cortar empregos a um ritmo alarmante.

Os números oficiais emitidos pelo Eurostat devem ser vistos com ceticismo. Baseiam-se em trabalhadores que se registraram como desempregados e não incluem a enorme zona cinzenta dos trabalhadores que desistiram de procurar emprego ou não são registrados porque não estão qualificados para os benefícios. O índice Eurostat também não leva em conta os milhões de subempregados em toda a Europa - aqueles que trabalham meio período ou em empregos de baixa remuneração, que mal permitem a sobrevivência dos trabalhadores e suas famílias.

Políticos europeus estão alegando que o último aumento do desemprego deve ser considerado positivamente e mostra um declínio na taxa de crescimento do desemprego, em comparação com meses anteriores em 2009. Em maio, o número de recém-desempregados em toda a UE superou 600.000.

No entanto, alguns dos principais países da UE, em especial a Alemanha e a Holanda, introduziram extensos regimes de trabalho a tempo reduzido, fornecendo assistência governamental a empresas que cortam as horas de trabalho dos seus empregados em vez de dispensá-los. Como resultado, os números oficiais de desemprego subestimam ainda mais a dimensão da pobreza e da miséria social causada pela crise econômica.

Os fundos para esses programas são esperados em breve, levando a uma nova onda de demissões e fechamento de fábricas nos próximos meses.

Quando os trabalhadores temporários e os desempregados não registrados são incluídos nos índices de desemprego, a taxa aumenta drasticamente. Na Alemanha, a taxa daqueles oficialmente contados como desempregados aumentou em 52.000 em junho, totalizando 3.460.000 desempregados. Quando são incluídos os desempregados que não foram contados e os subempregados, os números sobem para quase 6 milhões.

De acordo com o economista Martin van Vliet, do Banco ING, "Com a economia ainda em recessão e qualquer recuperação provavelmente lenta, o desemprego, infelizmente, parece destinado a continuar a subir neste ano e no próximo".

Uma série de recentes estatísticas publicadas por outras instituições econômicas internacionais indica que a crise atual pode ser ainda mais prolongada e mais profunda na Europa do que nos Estados Unidos. De acordo com as previsões emitidas pelo Fundo Monetário Internacional, a economia das 16 nações da zona do Euro irá contrair 4,8 % este ano. Isto se compara a uma previsão do FMI de 2,6 % de contração econômica nos E.U.A em 2009.

O aumento do desemprego de longa duração também é esperado para ser muito mais dramático nos países europeus, em comparação com os E.U.A. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico calcula que o desemprego de longa duração na UE poderá aumentar de 1,5%, para 9% até o final de 2010, cerca de sete vezes o aumento antecipado no Japão e nos E.U.A.

Ao mesmo tempo, as indústrias européias enfrentam efeitos adicionais devido ao aprofundamento da crise bancária. As dívidas das empresas européias estão em níveis recordes, já constituindo 96% do produto interno bruto (PIB) no final de 2008. As dívidas das empresas americanas situaram-se em 50% do PIB do país no final de 2008.

Embora um número de grandes bancos tenha sido capaz de registrar lucros enormes, muitos ainda são portadores de níveis elevados de ativos sujos e estão relutantes em conceder empréstimos às empresas que estão enfrentando insolvência. De acordo com um documento emitido pelo Banco Central Europeu em junho, os bancos europeus podem perder US$ 283 bilhões até o final de 2010. Isto é, além dos US$ 365 bilhões que eles perderam desde o início da crise em 2007.

Uma outra indicação da crescente pressão deflacionista na Europa foi o relatório de que os preços das fábrica na zona Euro diminuíram 6,6% em comparação com um ano antes. Isto é um declínio muito mais acentuado do que o registrado em maio (5,9%), e representa o maior declínio desde o recolhimento dos dados, que começou em 1981. Os preços dos produtores na Europa têm caído a cada mês de 2009.

Contra esse pano de fundo, um grande número de indústrias européias têm deixado claro que estão se preparando para maior contração.

A maior companhia aérea da Europa, o Grupo Air France-KLM, relatou uma perda líquida de 431 milhões de Euros, de abril a junho. As perdas foram muito maiores do que o esperado e a companhia aérea planeja responder à queda das receitas e à baixa demanda com uma ampla reorganização de seus negócios, o que, inevitavelmente, implicará grandes cortes de empregos. Os problemas com a Air France são iguais aos problemas enfrentados pelas companhias aéreas em toda a Europa, tal como a queda nos vôos comerciais e baixa demanda pelos vôos em feriados.

A cotação da maior fornecedora de produtos farmacêuticos da Bélgica, Omega Pharma NV, caiu acentuadamente em julho após uma forte queda em seu segundo trimestre de vendas. A empresa abandonou a sua previsão de um "ligeiro" aumento para o ano inteiro e também está planejando medidas de reestruturação.

Em 22 de julho a fábrica da Siemens AG em Munique, maior empresa de engenharia da Europa, declarou que planeja um corte adicional de 1.400 postos de trabalho de seus 409.000 trabalhadores. A empresa anunciou 17.000 cortes de emprego há um ano e um total de 19.000 empregados está trabalhando em período reduzido.

A ArcelorMittal, maior siderúrgica do mundo, também anunciou planos de grandes cortes, incluindo reduzir em 40% as horas de trabalho na sua fábrica espanhola e manter ociosa uma parte da força de trabalho para o resto do ano. Nicolas Correa SA, a maior fabricante de fresadoras da Espanha, declarou no final de julho que demitiria trabalhadores da sua fábrica no norte da Espanha, com mais demissões previstas para setembro.

Embora nenhum país europeu esteja isento das conseqüências do declínio do crescimento econômico em todo o continente, alguns países têm sido atingidos de forma especialmente dura. De acordo com os dados do Eurostat, a taxa de desemprego em alguns países europeus é mais do que o dobro da média da UE.

Na Espanha, o desemprego atingiu 18,1 % em junho. Na Europa Central, a Letônia registrou um nível oficial de desemprego de 17,2 % e a Estônia declarou uma taxa de 17 %.

A Espanha perdeu centenas de milhares de empregos no setor da construção, que praticamente desabou neste ano, e a sua taxa de desemprego juvenil é de 36,5 %, a mais elevada da Europa. De acordo com uma previsão da Comissão Européia, em maio, a taxa de desemprego da Espanha continuará a aumentar para mais de 20 % no próximo período.

Os valores para a Lituânia, Letônia e Estônia são ainda mais dramáticos. Na semana passada, a Lituânia, anunciou que a sua economia encolheu em 22,4 % durante o segundo trimestre de 2009, com quedas similares esperadas para a Letônia e Estônia. A Letônia inclusive já solicitou dois empréstimos de emergência do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Lituânia está analisando a solicitação de um empréstimo desse tipo.

Os empréstimos do FMI e da UE são inevitavelmente ligados a medidas econômicas punitivas e cortes orçamentários. O governo letão já cortou os salários do setor público em um terço neste ano e reduziu drasticamente os pagamentos de pensões.

O seguro-desemprego na Letônia dura apenas nove meses, o que significa que as dezenas de milhares de pessoas que perderam o emprego no início do ano, em breve serão privadas de qualquer renda. Os custos com aquecimento aumentaram repentinamente, e muitos letões enfrentam um inverno rigoroso. Como parte de seu último empréstimo, o FMI está exigindo que a Letônia reduza drasticamente o seu orçamento público em mais de 10 % este ano.

Escrevendo no Financial Times sobre a situação na Europa Central, Gideon Rachman advertiu que a crise na região "poderia ameaçar a frágil perspectiva de recuperação no resto da Europa." Ele acrescentou que o governo letão deverá preparar-se para um "inverno de descontentamento". Sob tais circunstâncias, Rachman advertiu, "Reduzir o pagamento da polícia em 30 % ... é um pouco imprudente".

[traduzido por movimentonn.org]

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