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Plano de bases militares dos EUA impulsiona tensões
na América Latina
Por Bill Van Auken
12 de agosto de 2009
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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia
Um plano revelado pelos EUA e Colômbia de abrir mais
bases colombianas para o uso de militares dos EUA impulsionou
o crescimento das tensões na América Latina.
O plano originalmente anunciado previa quatro bases, mas foi
divulgado na terça-feira que o exército, a força
aérea e a marinha dos EUA terão acesso a um total
de sete instalações espalhadas pela Colômbia,
por um período de até 10 anos.
A maior dessas instalações é a Base Aérea
de Palenquero, localizada ao norte da capital colombiana de Bogotá.
Ela reconhecidamente serve para o pouso de grandes aviões
de carga e transporte de tropas. Há também a base
de Malambo, perto da cidade caribenha de Barranquilla e próxima
da fronteira venezuelana. A marinha dos EUA terá acesso
à duas bases, uma na cidade portuária caribenha
de Cartagena e outra em Bahia Malaga, costa do Oceano Pacífico.
Há ainda uma base na cidade meridional de Florência,
próxima da fronteira com o Equador.
Relatos sobre o acordo de bases militaresaparentemente
acertado entre o presidente dos EUA Barack Obama e o presidente
colombiano Álvaro Uribe durante uma visita à Casa
Branca no final de junhoprovocaram protestos e declarações
de preocupação vindas de um número de países
latino-americanos.
Washington e Bogotá lançaram o acordo como uma
resposta ao fechamento da base aérea americana de Manta,
Equador, pelo governo do presidente Rafael Correa. A instalação
de Manta era ostensivamente utilizada para operações
contra o tráfico de drogas. O escopo do pacto EUA-Colômbia
e o número e localização das bases envolvidas,
porém, indicam que Washington tem objetivos regionais bem
mais amplos.
O jornal diário de Bogotá El Tiempo apontou
que a ausência de um complexo de pouso perto do Pacífico,
através do qual passam as principais rotas do tráfico
de drogas, é notável. A base de Manta era
na costa do Equador, voltada para o Pacífico.
As forças armadas americanas já operam a partir
de nove bases militares na Colômbia, com pessoal militar
e empresas fornecendo auxílio aos militares colombianos,
que lutam numa guerra prolongada contra o movimento de guerrilha
das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia),
guerra que até hoje resultou na morte de cerca de 40.000
pessoas e causou o deslocamento de 2.5 milhões. Sob o Plano
Colômbia, iniciado em 2000, último ano da administração
Clinton, Washington despejou aproximadamente $5 bilhões
em ajuda militar para a Colômbia, tornando-a de longe o
maior recipiente de tal auxílio em todo o hemisfério.
O presidente da Venezuela Hugo Chávez afirmou que as
bases estavam sendo montadas para preparar um ataque contra a
Venezuela. Eles estão nos cercando com bases,
ele disse na última semana.
Chávez, conhecido por sua retórica afiada contra
Washington, não está de maneira alguma sozinho em
sua postura, porém.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva disse
que questionaria Obama diretamente sobre seus motivos para o estabelecimento
de novas bases. Uma nova base [dos EUA] na Colômbia
não me deixa feliz, Lula disse durante encontro na
última semana em Brasília, com a presidente chilena
Michelle Bachelet.
Voltando ao assunto dias depois, Lula expressou a preocupação
de que as bases colombianas estejam ligadas ao estabelecimento
da Quarta Frota (reativada ano passado depois de meio século
desativada, com a função de patrulhar as águas
da América Central e Latina) por cima de novas
grandes reservas de petróleo recentemente encontradas na
costa brasileira. O Brasil também expressou a preocupação
de que as bases na região possam ser uma ameaça
à Amazônia, que por conta de seus recursos não-explorados
é vista pelo governo brasileiro e pela elite dominante
como estratégica.
De sua parte, Bachelet descreveu o plano como inquietante.
Para discutir o assunto, ela e Lula concordaram em organizar um
encontro do Conselho de Defesa Sul-Americano, uma agência
da UNASUR (União de Nações Sul-Americanas),
formada para promover a integração latino-americana,
aglutinando os blocos comerciais do Mercosul e da Comunidade Andina.
O presidente colombiano Álvaro Uribe, porém,
anunciou que não participará do encontro da UNASUR,
e em vez disso irá embarcar num tour pela América
Latina com o objetivo de encontrar-se com os chefes de estado
de virtualmente todos os países da União, exceto
o Equador de Correa e a Venezuela de Chávez, países
mais críticos do pacto EUA-Colômbia. Um porta-voz
do governo colombiano disse que Uribe pretende discutir o assunto
do terrorismo em seu país.
O pacto também foi alvejado pelo ministro das relações
exteriores brasileiro Celso Amorim e sua contraparte na Espanha,
Miguel Angel Moratinos.
O jornal Folha de São Paulo citou Amorim, que
atribuiu ao governo brasileiro a preocupação de
que o acordo militar envolva objetivos dos EUA que se estendem
para muito além da situação interna na Colômbia.
Ele se recusou a comentar se o acordo contradizia ou não
as promessas de Obama de uma não-intervenção
e desmilitarização das relações EUA-América
Latina, feitas durante a campanha eleitoral nos EUA.
Amorim deixou claro que o acordo foi estabelecido sem qualquer
consulta ao Brasil e disse que mais transparência
era necessária. Ele apontou a aparente contradição
entre as freqüentes alegações da Colômbia
de que o movimento de guerrilha das FARC havia sido esmagado e
a invocação desse movimento como uma ameaça
que justifica um grande aumento da presença militar dos
EUA no país.
O ministro das relações exteriores da Espanha
comentou, precisamos evitar o militarismo na América
Latina. Ele não é a melhor resposta à problemas
regionais.
A administração Obama despachou o conselheiro
de segurança nacional dos EUA General Jim Jones para uma
discussão em Brasília, com Amorim e o ministro da
defesa brasileiro Nelson Jobim, sobre o acordo militar.
Entre as questões que os ministros brasileiros devem
levantar está o significado de um documento da força
aérea dos EUA, emitido em abril, que identifica a base
aérea de Palenquero como parte de uma estratégia
mais ampla dos EUA para estender o poderio militar americano por
todo o hemisfério.
O documento, encaminhado pelo Comando de Mobilidade Aérea,
observa: Até recentemente, as preocupações
de segurança na América do Sul estavam focadas na
missão anti-narcóticos. Essa missão não
exigiu o uso de recursos aéreos estratégicos para
sua execução. Recentemente, o USSOUTHCOM passou
a se interessar em estabelecer uma localidade no continente Sul-Americano
que pudesse ser usada ... como uma localidade da qual operações
de mobilidade pudessem ser executadas.
O documento continua com a afirmação de que a
base de Palenquero foi associada a esse propósito. Dessa
localidade, quase metade do continente pode ser coberto por um
C-17 sem reabastecimento de combustível. Se combustível
adequado estiver disponível no destino, um C-17 pode cobrir
todo o continente, com exceção da região
do Cabo Horn no Chile e Argentina.
Além disso, como Gary Leech do Colombia Journal
observou recentemente, sob a administração Obama
a composição do auxílio militar americano
dispensado sob o Plano Colômbia está mudando rapidamente,
indicando uma escalada, ao invés de uma diminuição,
do militarismo norte-americano.
Embora o pacote de auxílio proposto para 2010 represente
um pequeno decréscimo ($518 milhões comparado a
$545 bilhões) em relação ao montante oferecido
pela administração Bush, a parcela que está
sendo direcionada às forças armadas colombianas
aumentou em 30%, enquanto aquela destinada à unidades policiais
anti-narcóticos foi cortada em 13%.
Leech também aponta que, embora as forças dos
EUA operando na base de Manta no Equador fossem formalmente incapazes
de auxiliar os militares colombianos em sua guerra civil contra
as FARC, não haverão restrições do
mesmo tipo para aviões americanos saídos das novas
bases aéreas colombianas.
O pacote de ajuda da administração Obama
indica que o novo governo em Washington não só está
continuando as políticas militaristas da administração
Bush na Colômbia, mas de fato está intensificando-as,
Leech conclui.
Um gêiser de lama do governo direitista de Uribe vem
acompanhando a crescente controvérsia quanto ao acordo
de bases militares EUA-Colômbia. Ele acusou o presidente
equatoriano Correa de aceitar contribuições de campanha
das FARC e responsabilizou o governo Chávez na Venezuela
por dar armamentos aos guerrilheiros colombianos, apontando para
a suposta descoberta de mísseis suíços de
10 anos de idadeoriginalmente vendidos à Venezuelanum
acampamento das FARC invadido pelas forças colombianas.
Em resposta, o governo Chávez retirou seu embaixador
na Colômbia e ameaçou congelar o comércio
entre os dois países. O Equador rompeu relações
com Bogotá em março do ano passado após a
Colômbia, com o auxílio do Pentágono, ter
realizado uma operação de combateque invadiu
o território do Equador para perseguir forças das
FARC que haviam se refugiado no paísque matou 24
pessoas, incluindo o segundo-comandante do grupo, Raul Reyes,
que negociava a liberação de reféns.
O New York Times impulsionou a campanha colombiana contra
a Venezuela nesta semana com um artigo por Simon Romero que incluía
alegações insubstanciadas de que oficiais venezuelanos
haviam fornecido armamentos e outros auxílios para as FARC.
O jornal reconheceu que o artigo era baseado inteiramente em material
de uma agência de inteligência, presumivelmente
a CIA.
Claramente, a preocupação dentro dos círculos
dominantes, tanto no Brasil e demais países Latino Americanos,
quanto na Europa e China, é que o imperialismo dos EUA
esteja preparando a utilização de sua força
militar residual para compensar seu dramático declínio
em influência e peso econômico através da América
Latina. A burguesia brasileira, que tem utilizado cada vez mais
seu crescente poder econômico para afirmar um papel hegemônico
na América do Sul, respondeu com agilidade porque vê
sua posição e interesses de lucro sendo ameaçados.
A escalada da presença militar dos EUA na Colômbia,
combinada com o papel de Washington no golpe direitista de 28
de junho em Honduras, tornam claro que, por trás da retórica
de Obama sobre uma parceria igualitária e respeito
mútuo, o imperialismo dos EUA está preparado
para utilizar os tradicionais métodos de agressão
militar e violência contra-revolucionária para evitar
ceder seu domínio numa região que há muito
tempo considera seu próprio quintal.
[traduzido por movimentonn.org]
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