Publicado originalmente em inglês em nosso site em
2 de Abril de 2009.
Duzentos operários da fábrica da FCI Microconnections,
em Mantes-la-Jolie, nos subúrbios de Paris, França,
estão em greve em defesa de seus empregos e já ocupam
a fábrica por 45 dias. Representam metade dos 400 operários
da planta.
A ameaça aos empregos na fábrica é parte
de um processo internacional de corte de custos que envolve o
fechamento da planta da FCI em Ferté-Bernard, com corte
de mais de 280 postos de trabalho e de 90 cargos similares na
filial de Besançon.
A FCI é uma companhia global que projeta, fabrica e
fornece equipamentos eletro-eletrônicos. Emprega 12.500
pessoas em 30 complexos de produção ao redor do
mundo. Possui cinco fábricas na França, onde emprega
2.000 trabalhadores. Em 2005 foi vendida pelo grupo do setor de
energia Areva à Bain Capital, firma privada estadunidense
de investimentos.
A Bain Capital foi formada por Mitt Romney, possível
canditado republicano em 2008 para as eleições presidenciais
dos EUA. A Bain Capital administra diversas categorias de capital,
incluindo eqüidade privada, bens de alto rendimento, capital
de mezanino, capital de risco e eqüidade pública,
lidando com mais de 20 bilhões de euros em bens. Desde
sua criação em 1984, a Bain Capital fez investimentos
de eqüidade privada e aquisições em mais de
230 companhias e indústrias ao redor do mundo. Ela toma
o controle acionário de companhias em dificuldades, as
recupera e então as vende, obtendo lucro.
Esse tipo de política tem resultado em verdadeiras catástrofes
para os trabalhadores. O controle da montadora americana Chrysler
pelo firma de eqüidade privada Cerberus Capital Management
causou fechamento de fábricas, além de cortes em
salários e benefícios para trabalhadores e aposentados.
Os trabalhadores iniciaram a greve em Mantes-la-Jolie em 24
de fevereiro. Eles suspeitavam que a companhia pretendia realocar
sua produção de cartões inteligentes para
Singapura, onde abrira uma fábrica similar em 2002.
A companhia ainda não fez qualquer anúncio sobre
seu plano de restruturação na planta de Mantes-la-Jolie.
Em uma declaração em 26 de março, a administração
disse: Não há qualquer plano de realocação.
Além disso, prometeu não cortar empregos em 2009
e 2010.
Entretando, os trabalhadores mantiveram suas suspeitas. A produção
na fábrica declinou gradualmente desde 2007. Em sua projeção
para o primeiro trimestre deste ano, a companhia estimou que o
complexo está super-empregado funcionários. Em 16
de fevereiro, a empresa anunciou maiores medidas restritivas:
congelamento nas contratações, o fim dos contratos
de trabalho temporário e o adiamento dos aumentos salariais.
De acordo com a CGT (Confederação Geral do Trabalho,
vinculada ao Partido Comunista Francês), principal sindicato
da planta de Mantes-la-Jolie, a produção aumentou
em Singapura desde meados de 2008. Dois terços das
encomendas são produzidos em Singapura e um terço
na França, o que afeta os resultados da fábrica
francesa e, em última análise, deve levar a cortes
nos empregos, disse um porta-voz do sindicato.
Em 30 de março, quando os representantes do sindicato
negociavam com os chefes da FCI na administração
da empresa, cerca de 100 grevistas de Mantes-la-Jolie detiveram
três diretores por quatro horas em uma tentativa de forçá-los
a revelar os planos da companhia. Ao mesmo tempo em que reiteravam
as declarações anteriores, de que os empregos na
fábrica estariam seguros em 2009 e 2010, os diretores,
contraditoriamente, se recusaram a dar quaisquer garantia estável
aos trabalhadores.
Um operário disse aos diretores: A vida não
pode ser reduzida a 2009-2010. Temos nossas vidas inteiras para
viver.
Um relatório reproduzido no Médiapart
em 16 de abril revelou um documento administrativo interno confirmando
os maiores temores dos trabalhadores: a companhia planeja impor
um plano de demissões em novembro e se prepara ativamente
para contornar a greve que resultaria disso. A companhia acreditava
até novembro que, com a fábrica de Singapura, coseguiria
manter seus lucros. O documento também revelou que a administração
planejava remover o delegado da CGT, Eric Scheltienne, com a instrução:
Pressão sobre os sindicatos se livrem do Eric.
A situação explosiva criada pelas revelações
levou o oficial regional do governo, o préfet, a
pedir que os empresários e representantes sindicais mediassem
a luta entre operários e chefes.
Os sindicatos, liderados pela CGT, apenas reivindicam a negociação
das condições das demissões e pedem que a
produção seja mantida na planta de Mantes-la-Jolie,
em vez de ser alocada para Singapura. Na verdade, não assumem
nenhuma medida para conter as demissões.
Em 23 de março, depois de um mês de greve, o delegado
da planta de Mantes-la-Jolie, Eric Scheltienne, disse ao Le
Monde, Queremos negociar grandes compensações
no caso de um plano de demissões futuro. Porque amanhã,
quando Singapura tiver o controle de todo o processo, não
estaremos mais em uma forte posição de barganha
para fazermos isso.
A CGT não faz menção a qualquer tentativa
de contatar os trabalhadores da FCI de Singapura para organizar
uma luta conjunta e, em vez disso, debate com a companhia sobre
que fábrica continuará o trabalho, colocando assim
os trabalhadores de fábricas e países uns contra
os outros . Isso é coerente com o nacionalismo econômico
posto em prática pelo presidente Nicolas Sarkozy, com o
apoio total da CGT e outros sindicatos, como foi tão abertamente
ilustrado pelo plano de estímulo que o governo concedeu
à indústria automotiva francesa.
O trabalhador que apoia a CGT disse: Nossa exigência
central é o aumento da produção na filial
para preservar nossos emprego, que correm o risco de serem transferidos
para Singapura. Estamos pedindo a nossos chefes uma garantia de
manutenção dos empregos aqui. Não obtivemos
resposta.
Ele complementou: Mesmo se a fábrica estiver trabalhando
normalmente, não há garantia que os empregos não
serão cortados. Antes que isso aconteça, estamos
exigindo uma quantia mínima com a qual cada um de nós
pode sair.
Na época da aquisição, a companhia garantiu
a manutenção de suas cinco filiais francesas e os
empregos correspondentes por três meses. Operários
da filial de Mantes-la-Jolie disseram ao WSWS que essa garantia
foi aceita pelos sindicatos, que conclamou os trabalhadores a
aceitá-la. Quando o período de três anos acabou
novembro passado, retornaram os medos de que a companhia iniciasse
demissões na França.
Uma matéria do jornal local Le Courrier de Mantes,
datada de 28 de setembro de 2005, quando a venda da FCI por sua
antiga proprietária Areva à Bain Capital estava
quase completada, deixa claro que os sindicatos sabiam bem das
perspectivas futuras para os trabalhadores da FCI. O artigo cita
um delegado do sindicato que declara: No contrato entre
Areva e Bain Capital, há cláusulas para manter a
equipe administrativa do grupo FCI, continuar as atuais políticas
e práticas de relações trabalhistas e manter
a filial francesa aberta por um mínimo de três anos.
Isso é muito parecido com comprar paz industrial, já
que um conflito poderia ter ferido a Areva e a negociação.
Não temos qualquer garantia sobre os empregos, porque manter
as plantas funcionando não significa que não haverá
plano de demissões ou restruturação.
O Libération de 24 de maio de 2008 entrevistou
representantes do sindicato na fábrica da FCI em Ferté-Bernard.
Eles estavam plenamente cientes dos planos da Bain Capital para
a FCI e a cumplicidade do Estado francês para a Bain Capital.
Nasser Hamrani, o delegado sindical do Force Ouvrière,
declarou que uma vez vendida a firma para a Bain Capital, nenhum
investimento foi feito, nenhum trabalhador desafiado. Eles fizeram
de tudo para tornar-nos mais lucrativos, antes de começar
a mandar as máquinas para a Ásia.
Michel Divaret, do sindicato CGC de pessoal administrativo,
disse: A Areva queria se livrar da FCI. Mas como a firma
[Areva] é propriedade do Estado, era necessário
manter as aparências e evitar sujar as mãos. Então
eles decidiram passar a batata quente para um fundo de investimento,
uma `lavagem´, com a garantia de não vender por três
anos.
Apenas a recusa dos trabalhadores em aceitar a negociação
pelos sindicatos de qualquer perda de emprego, com uma luta para
defender os empregos dos trabalhadores que perpasse todas as localidades
e fronteiras nacionais pode unificar a classe trabalhadora. Em
toda fábrica e local de trabalho os trabalhadores precisam
desenvolver organizações de luta de classes independentes
dos sindicatos, vinculando-se a outras seções da
classe trabalhadora sobre a base do internacionalismo socialista,
da reorganização da economia sob o controle democrático
dos trabalhadores e da rejeição de todas as tentativas
de dividir os trabalhadores e fazê-los pagar pela crise.