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França: greve e ocupação da fábrica da FCI chegam ao 45º dia

Por Kumaran Ira e Antoine Lerougetel
16 de abril de 2009

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Publicado originalmente em inglês em nosso site em 2 de Abril de 2009.

Duzentos operários da fábrica da FCI Microconnections, em Mantes-la-Jolie, nos subúrbios de Paris, França, estão em greve em defesa de seus empregos e já ocupam a fábrica por 45 dias. Representam metade dos 400 operários da planta.

A ameaça aos empregos na fábrica é parte de um processo internacional de corte de custos que envolve o fechamento da planta da FCI em Ferté-Bernard, com corte de mais de 280 postos de trabalho e de 90 cargos similares na filial de Besançon.

A FCI é uma companhia global que projeta, fabrica e fornece equipamentos eletro-eletrônicos. Emprega 12.500 pessoas em 30 complexos de produção ao redor do mundo. Possui cinco fábricas na França, onde emprega 2.000 trabalhadores. Em 2005 foi vendida pelo grupo do setor de energia Areva à Bain Capital, firma privada estadunidense de investimentos.

A Bain Capital foi formada por Mitt Romney, possível canditado republicano em 2008 para as eleições presidenciais dos EUA. A Bain Capital administra diversas categorias de capital, incluindo eqüidade privada, bens de alto rendimento, capital de mezanino, capital de risco e eqüidade pública, lidando com mais de 20 bilhões de euros em bens. Desde sua criação em 1984, a Bain Capital fez investimentos de eqüidade privada e aquisições em mais de 230 companhias e indústrias ao redor do mundo. Ela toma o controle acionário de companhias em dificuldades, as recupera e então as vende, obtendo lucro.

Esse tipo de política tem resultado em verdadeiras catástrofes para os trabalhadores. O controle da montadora americana Chrysler pelo firma de eqüidade privada Cerberus Capital Management causou fechamento de fábricas, além de cortes em salários e benefícios para trabalhadores e aposentados.

Os trabalhadores iniciaram a greve em Mantes-la-Jolie em 24 de fevereiro. Eles suspeitavam que a companhia pretendia realocar sua produção de cartões inteligentes para Singapura, onde abrira uma fábrica similar em 2002.

A companhia ainda não fez qualquer anúncio sobre seu plano de restruturação na planta de Mantes-la-Jolie. Em uma declaração em 26 de março, a administração disse: “Não há qualquer plano de realocação”. Além disso, prometeu não cortar empregos em 2009 e 2010.

Entretando, os trabalhadores mantiveram suas suspeitas. A produção na fábrica declinou gradualmente desde 2007. Em sua projeção para o primeiro trimestre deste ano, a companhia estimou que o complexo está super-empregado funcionários. Em 16 de fevereiro, a empresa anunciou maiores medidas restritivas: congelamento nas contratações, o fim dos contratos de trabalho temporário e o adiamento dos aumentos salariais.

De acordo com a CGT (Confederação Geral do Trabalho, vinculada ao Partido Comunista Francês), principal sindicato da planta de Mantes-la-Jolie, a produção aumentou em Singapura desde meados de 2008. “Dois terços das encomendas são produzidos em Singapura e um terço na França, o que afeta os resultados da fábrica francesa e, em última análise, deve levar a cortes nos empregos”, disse um porta-voz do sindicato.

Em 30 de março, quando os representantes do sindicato negociavam com os chefes da FCI na administração da empresa, cerca de 100 grevistas de Mantes-la-Jolie detiveram três diretores por quatro horas em uma tentativa de forçá-los a revelar os planos da companhia. Ao mesmo tempo em que reiteravam as declarações anteriores, de que os empregos na fábrica estariam seguros em 2009 e 2010, os diretores, contraditoriamente, se recusaram a dar quaisquer garantia estável aos trabalhadores.

Um operário disse aos diretores: “A vida não pode ser reduzida a 2009-2010. Temos nossas vidas inteiras para viver.”

Um relatório reproduzido no Médiapart em 16 de abril revelou um documento administrativo interno confirmando os maiores temores dos trabalhadores: a companhia planeja impor um plano de demissões em novembro e se prepara ativamente para contornar a greve que resultaria disso. A companhia acreditava até novembro que, com a fábrica de Singapura, coseguiria manter seus lucros. O documento também revelou que a administração planejava remover o delegado da CGT, Eric Scheltienne, com a instrução: “Pressão sobre os sindicatos — se livrem do Eric”.

A situação explosiva criada pelas revelações levou o oficial regional do governo, o préfet, a pedir que os empresários e representantes sindicais mediassem a luta entre operários e chefes.

Os sindicatos, liderados pela CGT, apenas reivindicam a negociação das condições das demissões e pedem que a produção seja mantida na planta de Mantes-la-Jolie, em vez de ser alocada para Singapura. Na verdade, não assumem nenhuma medida para conter as demissões.

Em 23 de março, depois de um mês de greve, o delegado da planta de Mantes-la-Jolie, Eric Scheltienne, disse ao Le Monde, “Queremos negociar grandes compensações no caso de um plano de demissões futuro. Porque amanhã, quando Singapura tiver o controle de todo o processo, não estaremos mais em uma forte posição de barganha para fazermos isso.”

A CGT não faz menção a qualquer tentativa de contatar os trabalhadores da FCI de Singapura para organizar uma luta conjunta e, em vez disso, debate com a companhia sobre que fábrica continuará o trabalho, colocando assim os trabalhadores de fábricas e países uns contra os outros . Isso é coerente com o nacionalismo econômico posto em prática pelo presidente Nicolas Sarkozy, com o apoio total da CGT e outros sindicatos, como foi tão abertamente ilustrado pelo plano de estímulo que o governo concedeu à indústria automotiva francesa.

O trabalhador que apoia a CGT disse: “Nossa exigência central é o aumento da produção na filial para preservar nossos emprego, que correm o risco de serem transferidos para Singapura. Estamos pedindo a nossos chefes uma garantia de manutenção dos empregos aqui. Não obtivemos resposta.”

Ele complementou: “Mesmo se a fábrica estiver trabalhando normalmente, não há garantia que os empregos não serão cortados. Antes que isso aconteça, estamos exigindo uma quantia mínima com a qual cada um de nós pode sair.”

Na época da aquisição, a companhia garantiu a manutenção de suas cinco filiais francesas e os empregos correspondentes por três meses. Operários da filial de Mantes-la-Jolie disseram ao WSWS que essa garantia foi aceita pelos sindicatos, que conclamou os trabalhadores a aceitá-la. Quando o período de três anos acabou novembro passado, retornaram os medos de que a companhia iniciasse demissões na França.

Uma matéria do jornal local Le Courrier de Mantes, datada de 28 de setembro de 2005, quando a venda da FCI por sua antiga proprietária Areva à Bain Capital estava quase completada, deixa claro que os sindicatos sabiam bem das perspectivas futuras para os trabalhadores da FCI. O artigo cita um delegado do sindicato que declara: “No contrato entre Areva e Bain Capital, há cláusulas para manter a equipe administrativa do grupo FCI, continuar as atuais políticas e práticas de relações trabalhistas e manter a filial francesa aberta por um mínimo de três anos. Isso é muito parecido com comprar paz industrial, já que um conflito poderia ter ferido a Areva e a negociação. Não temos qualquer garantia sobre os empregos, porque manter as plantas funcionando não significa que não haverá plano de demissões ou restruturação.”

O Libération de 24 de maio de 2008 entrevistou representantes do sindicato na fábrica da FCI em Ferté-Bernard. Eles estavam plenamente cientes dos planos da Bain Capital para a FCI e a cumplicidade do Estado francês para a Bain Capital. Nasser Hamrani, o delegado sindical do Force Ouvrière, declarou que uma vez vendida a firma para a Bain Capital, “nenhum investimento foi feito, nenhum trabalhador desafiado. Eles fizeram de tudo para tornar-nos mais lucrativos, antes de começar a mandar as máquinas para a Ásia.”

Michel Divaret, do sindicato CGC de pessoal administrativo, disse: “A Areva queria se livrar da FCI. Mas como a firma [Areva] é propriedade do Estado, era necessário manter as aparências e evitar sujar as mãos. Então eles decidiram passar a batata quente para um fundo de investimento, uma `lavagem´, com a garantia de não vender por três anos.”

Apenas a recusa dos trabalhadores em aceitar a negociação pelos sindicatos de qualquer perda de emprego, com uma luta para defender os empregos dos trabalhadores que perpasse todas as localidades e fronteiras nacionais pode unificar a classe trabalhadora. Em toda fábrica e local de trabalho os trabalhadores precisam desenvolver organizações de luta de classes independentes dos sindicatos, vinculando-se a outras seções da classe trabalhadora sobre a base do internacionalismo socialista, da reorganização da economia sob o controle democrático dos trabalhadores e da rejeição de todas as tentativas de dividir os trabalhadores e fazê-los pagar pela crise.

[traduzido por movimentonn.org]