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França: trabalhadores da Caterpillar detêm chefes

Por Antoine Lerougetel
14 de abril de 2009

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Publicado em inglês em nosso site em 2 de abril de 2009

Trabalhadores das duas plantas da Caterpillar em Grenoble, França, detiveram cinco de seus diretores em seus escritórios na terça-feira (31.03) de manhã e os mantiveram até a 1h da manhã do dia seguinte. Os trabalhadores estão em greve desde segunda-feira.

Na segunda-feira e também na terça-feira de manhã os diretores boicotaram a assembléia dos trabalhadores, convocada pelos sindicatos para discutir o plano envolvendo 733 demissões dentre os 2.800 trabalhadores nas unidades de Grenoble e Echirolles. Anteriormente, neste ano, a base da Caterpillar nos EUA, a maior fabricante de equipamentos de construção do mundo, anunciou que demitiria 22.000 trabalhadores em todo o mundo.

Os trabalhadores franceses tomaram os 5 diretores como reféns para forçar a companhia a negociar.

A ação dos trabalhadores da Caterpillar reflete uma oposição crescente ao ataque aos empregos e salários dos trabalhadores franceses. Aproximadamente 80.000 empregos foram perdidos nacionalmente em fevereiro, além dos 90.000 em janeiro. A última estimativa para o número de empregos que serão eliminados este ano é de 400.000, embora esta cifra esteja constantemente crescendo. Dois a três milhões de trabalhadores e jovens participaram das manifestações nacionais e das greves em janeiro e março para opor-se ao ataque aos empregos e programas sociais.

O seqüestro dos diretores da Caterpillar é uma dentre uma série de ações similares por toda a França. Em fevereiro de 2008, os trabalhadores da BRS em Devecey mantiveram seu chefe refém porque ele tentou mudar todas as máquinas de sua fábrica para a Eslováquia sem informá-los. No mês seguinte, trabalhadores da fábrica Kléber em Toul detiveram dois diretores a fim de obter melhores termos para a demissão.

Em março deste ano, o presidente da Sony na França foi forçosamente detido em sua planta em Pontons-sur-Adour. Duas semanas depois, foi a vez do diretor industrial da fábrica da 3M em Pithiviers, próximo a Orléans. Ambas as ações foram tentativas de obter concessões dos diretores sobre os termos de demissão.

Na terça-feira, François-Henri Pinault, o chefe executivo bilionário do luxuoso grupo varejista PPR, teve que ser resgatado pela polícia, depois que os trabalhadores da loja bloquearam seu taxi por mais de uma hora, assim que ele saiu de uma reunião.

A companhia German Continental fechou duas plantas na França e outra na Alemanha. Trabalhadores da planta de Clairoix, próxima a Paris, furiosos com a companhia, que revogou sua promessa de manter os empregos até 2012 depois que os trabalhadores fizeram consideráveis concessões em 2006, explodiram em uma reunião da diretoria em Reims, em 16 de Março e bombardearam seus chefes com ovos e sapatos. A companhia foi obrigada a realizar sua reunião do comitê central, na terça-feira, a 1.000 quilômetros de distância, em um hotel em Nice, sob rigorosas condições de segurança.

Na segunda-feira, delegados do sindicato negociando demissões planejadas e fechamentos na planta da FCI Microconnections em Mantes-la-Jolie próximo a Paris, mantiveram 2 de seus diretores em uma sala de reunião por 4 horas até que a polícia interveio. Os delegados foram apoiados por 40 dos 150 trabalhadores, que fizeram uma greve “preventiva” por 6 semanas e piquete de 24 horas, para obrigar a companhia a reabrir a planta.

O diretor da FCI recusou-se a dar qualquer garantia de emprego para além de 2010. Um dos trabalhadores disse: “A vida não pode ser reduzida a 2009-2010. Nós temos a vida inteira para viver”.

Estas ações refletem um desenvolvimento da revolta da classe trabalhadora, alimentada pelos acordos de indenização rescisória multimilionários, bônus e aposentadorias para os altos chefes da França.

A disputa na Caterpillar expôs a estratégia dos grandes negócios, na medida em que o capitalismo global afunda o mundo em uma depressão.

A companhia faz grandes maquinários de construção na França e também fornece veículos blindados para o exercito britânico e vários outros países. Ela produz as escavadoras blindadas D9 que têm sido usadas pelo exército israelense para derrubar as moradias palestinas.

O CEO da Caterpillar, James Owens, foi nomeado por George W. Bush para uma junta consultiva para negociações comerciais e é conhecido por sua desesperada caça ao lucro através de ataques aos empregos e condições. Ele era o 181º CEO na lista das rendas na Forbes, classificado com US$ 17 milhões. Ele apoiou o oponente republicano de Barack Obama, John McCain, na corrida para a Casa Branca. Isto não impediu Obama de apontá-lo para a Junta Consultiva de Recuperação da Economia, encarregado de restaurar a rentabilidade dos grandes negócios, através da destruição dos ganhos sociais e dos padrões de vida da classe operária.

Em janeiro, em resposta à agravante perspectiva econômica, a Caterpillar, que relatou um lucro de US$ 3.5 bilhões no ano passado, anunciou 5.000 cortes de emprego imediatos, incluindo 733 na França e a última eliminação de 22.000 posições em todo o mundo. Isso significa uma queda de 55% da sua força de trabalho entre 2008 e 2009.

Nicolas Polutnik, o diretor geral da Caterpillar na França, afirmou repetidamente que as plantas francesas só podem ser salvas por demissões. Ele disse à imprensa: “É absolutamente necessário para nós manter os interesses da companhia, sob a ameaça de ter que negociar não somente os 733 empregos perdidos, mas todos eles”.

Na quarta-feira, os diretores concordaram em retomar as negociações e ofereceram o pagamento dos salários pelos três dias de greve caso os sindicatos saíssem dela. O diretor está oferecendo como acerto 60% de um salário mensal por ano trabalhado, com teto de €10.000.

A disputa também demonstrou a completa falência do sindicato, em resposta à crescente catástrofe que afronta a classe operária.

Os delegados da Confederação Geral do Trabalho (CGT), vinculada ao Partido Comunista, disseram que estão mantendo suas exigências por um acerto de pagamento na soma de €30.000 para todos os trabalhadores que foram demitidos, qualquer que seja a sua categoria, mais três meses de salário para cada ano trabalhado e a promessa de manter a fábrica aberta.

Como fica claro nas reuniões entre os diversos sindicatos, eles não têm perspectiva de lutar contra os empregos perdidos. Sua bancarrota está manifestada no “solene apelo” a Sarkozy feito pela comissão do sindicato em Grenoble na quarta-feira de manhã. O apelo pede ao presidente da França que solicite fundos dos €500 milhões para as vítimas de demissão.

O apelo, lido para a imprensa, pedia que Sarkozy tomasse as rédeas da distribuição do fundo de forma que ele pudesse ser usado para financiar um contrato feito com a Caterpillar “na forma de empréstimo”. Atualmente, as regras limitam o uso do fundo para subsidiar novo treinamento aos trabalhadores demitidos.

O documento continua a declarar: “Sem um esforço do grupo americano e da União Européia nenhuma solução pode ser encontrada para a redução das demissões e para deixar os trabalhadores, que assim desejarem, saírem com dignidade”.

Sarkozy foi rápido ao responder ao apelo do comitê do sindicato da Caterpillar, prometendo na Radio Europe 1: “ Eu vou salvar a planta. Vou me encontrar com o comitê do sindicato porque eles solicitaram a minha ajuda. Nós não os despontaremos”.

Trabalhadores da Caterpillar França deveriam lembrar-se das promessas feitas por Sarkozy em 4 de fevereiro do ano passado para os trabalhadores da fundição de aço na Arcelor Mittal, em Gadrange, onde 575 precisaram ser demitidos. Esses mesmos trabalhadores agora perderam seus empregos e na terça-feira manifestaram-se, denunciando a “fraude e a traição” de Sarkozy e do presidente da Arcelor, Lakshmi Mittal.

Sarkozy declarou: “De todo modo, não é minha culpa... Como existe menor crescimento, existe menor demanda pelo aço”.

Mergulhado em uma cultura de “defesa” dos interesses dos trabalhadores através da defesa dos interesses dos patrões e dos representantes políticos do capital, os sindicatos avançam na perspectiva de que o caminho para opor-se ao desemprego é ajudando a classe capitalista a ser lucrativa.

Somente uma luta dos trabalhadores da Caterpillar para quebrar a conivência dos sindicatos com os governantes e os patrões pode ter um resultado de sucesso. Rejeitando todo acordo baseado em aceitar as perdas de emprego, os trabalhadores devem construir organizações independentes na luta de classes em suas fábricas e locais de trabalho, reunindo-se com outros trabalhadores além das fronteiras nacionais.

Tais organizações devem estar armadas com um programa para a reorganização socialista da economia e a ocupação de plantas como a Caterpillar para que funcione como utilidade pública sob o controle democrático dos trabalhadores.

[traduzido por movimentonn.org]