Publicado em inglês em nosso site em 2 de abril de
2009
Trabalhadores das duas plantas da Caterpillar em Grenoble,
França, detiveram cinco de seus diretores em seus escritórios
na terça-feira (31.03) de manhã e os mantiveram
até a 1h da manhã do dia seguinte. Os trabalhadores
estão em greve desde segunda-feira.
Na segunda-feira e também na terça-feira de manhã
os diretores boicotaram a assembléia dos trabalhadores,
convocada pelos sindicatos para discutir o plano envolvendo 733
demissões dentre os 2.800 trabalhadores nas unidades de
Grenoble e Echirolles. Anteriormente, neste ano, a base da Caterpillar
nos EUA, a maior fabricante de equipamentos de construção
do mundo, anunciou que demitiria 22.000 trabalhadores em todo
o mundo.
Os trabalhadores franceses tomaram os 5 diretores como reféns
para forçar a companhia a negociar.
A ação dos trabalhadores da Caterpillar reflete
uma oposição crescente ao ataque aos empregos e
salários dos trabalhadores franceses. Aproximadamente 80.000
empregos foram perdidos nacionalmente em fevereiro, além
dos 90.000 em janeiro. A última estimativa para o número
de empregos que serão eliminados este ano é de 400.000,
embora esta cifra esteja constantemente crescendo. Dois a três
milhões de trabalhadores e jovens participaram das manifestações
nacionais e das greves em janeiro e março para opor-se
ao ataque aos empregos e programas sociais.
O seqüestro dos diretores da Caterpillar é uma
dentre uma série de ações similares por toda
a França. Em fevereiro de 2008, os trabalhadores da BRS
em Devecey mantiveram seu chefe refém porque ele tentou
mudar todas as máquinas de sua fábrica para a Eslováquia
sem informá-los. No mês seguinte, trabalhadores da
fábrica Kléber em Toul detiveram dois diretores
a fim de obter melhores termos para a demissão.
Em março deste ano, o presidente da Sony na França
foi forçosamente detido em sua planta em Pontons-sur-Adour.
Duas semanas depois, foi a vez do diretor industrial da fábrica
da 3M em Pithiviers, próximo a Orléans. Ambas as
ações foram tentativas de obter concessões
dos diretores sobre os termos de demissão.
Na terça-feira, François-Henri Pinault, o chefe
executivo bilionário do luxuoso grupo varejista PPR, teve
que ser resgatado pela polícia, depois que os trabalhadores
da loja bloquearam seu taxi por mais de uma hora, assim que ele
saiu de uma reunião.
A companhia German Continental fechou duas plantas na França
e outra na Alemanha. Trabalhadores da planta de Clairoix, próxima
a Paris, furiosos com a companhia, que revogou sua promessa de
manter os empregos até 2012 depois que os trabalhadores
fizeram consideráveis concessões em 2006, explodiram
em uma reunião da diretoria em Reims, em 16 de Março
e bombardearam seus chefes com ovos e sapatos. A companhia foi
obrigada a realizar sua reunião do comitê central,
na terça-feira, a 1.000 quilômetros de distância,
em um hotel em Nice, sob rigorosas condições de
segurança.
Na segunda-feira, delegados do sindicato negociando demissões
planejadas e fechamentos na planta da FCI Microconnections em
Mantes-la-Jolie próximo a Paris, mantiveram 2 de seus diretores
em uma sala de reunião por 4 horas até que a polícia
interveio. Os delegados foram apoiados por 40 dos 150 trabalhadores,
que fizeram uma greve preventiva por 6 semanas e piquete
de 24 horas, para obrigar a companhia a reabrir a planta.
O diretor da FCI recusou-se a dar qualquer garantia de emprego
para além de 2010. Um dos trabalhadores disse: A
vida não pode ser reduzida a 2009-2010. Nós temos
a vida inteira para viver.
Estas ações refletem um desenvolvimento da revolta
da classe trabalhadora, alimentada pelos acordos de indenização
rescisória multimilionários, bônus e aposentadorias
para os altos chefes da França.
A disputa na Caterpillar expôs a estratégia dos
grandes negócios, na medida em que o capitalismo global
afunda o mundo em uma depressão.
A companhia faz grandes maquinários de construção
na França e também fornece veículos blindados
para o exercito britânico e vários outros países.
Ela produz as escavadoras blindadas D9 que têm sido usadas
pelo exército israelense para derrubar as moradias palestinas.
O CEO da Caterpillar, James Owens, foi nomeado por George W.
Bush para uma junta consultiva para negociações
comerciais e é conhecido por sua desesperada caça
ao lucro através de ataques aos empregos e condições.
Ele era o 181º CEO na lista das rendas na Forbes, classificado
com US$ 17 milhões. Ele apoiou o oponente republicano de
Barack Obama, John McCain, na corrida para a Casa Branca. Isto
não impediu Obama de apontá-lo para a Junta Consultiva
de Recuperação da Economia, encarregado de restaurar
a rentabilidade dos grandes negócios, através da
destruição dos ganhos sociais e dos padrões
de vida da classe operária.
Em janeiro, em resposta à agravante perspectiva econômica,
a Caterpillar, que relatou um lucro de US$ 3.5 bilhões
no ano passado, anunciou 5.000 cortes de emprego imediatos, incluindo
733 na França e a última eliminação
de 22.000 posições em todo o mundo. Isso significa
uma queda de 55% da sua força de trabalho entre 2008 e
2009.
Nicolas Polutnik, o diretor geral da Caterpillar na França,
afirmou repetidamente que as plantas francesas só podem
ser salvas por demissões. Ele disse à imprensa:
É absolutamente necessário para nós
manter os interesses da companhia, sob a ameaça de ter
que negociar não somente os 733 empregos perdidos, mas
todos eles.
Na quarta-feira, os diretores concordaram em retomar as negociações
e ofereceram o pagamento dos salários pelos três
dias de greve caso os sindicatos saíssem dela. O diretor
está oferecendo como acerto 60% de um salário mensal
por ano trabalhado, com teto de 10.000.
A disputa também demonstrou a completa falência
do sindicato, em resposta à crescente catástrofe
que afronta a classe operária.
Os delegados da Confederação Geral do Trabalho
(CGT), vinculada ao Partido Comunista, disseram que estão
mantendo suas exigências por um acerto de pagamento na soma
de 30.000 para todos os trabalhadores que foram demitidos,
qualquer que seja a sua categoria, mais três meses de salário
para cada ano trabalhado e a promessa de manter a fábrica
aberta.
Como fica claro nas reuniões entre os diversos sindicatos,
eles não têm perspectiva de lutar contra os empregos
perdidos. Sua bancarrota está manifestada no solene
apelo a Sarkozy feito pela comissão do sindicato
em Grenoble na quarta-feira de manhã. O apelo pede ao presidente
da França que solicite fundos dos 500 milhões
para as vítimas de demissão.
O apelo, lido para a imprensa, pedia que Sarkozy tomasse as
rédeas da distribuição do fundo de forma
que ele pudesse ser usado para financiar um contrato feito com
a Caterpillar na forma de empréstimo. Atualmente,
as regras limitam o uso do fundo para subsidiar novo treinamento
aos trabalhadores demitidos.
O documento continua a declarar: Sem um esforço
do grupo americano e da União Européia nenhuma solução
pode ser encontrada para a redução das demissões
e para deixar os trabalhadores, que assim desejarem, saírem
com dignidade.
Sarkozy foi rápido ao responder ao apelo do comitê
do sindicato da Caterpillar, prometendo na Radio Europe 1:
Eu vou salvar a planta. Vou me encontrar com o comitê do
sindicato porque eles solicitaram a minha ajuda. Nós não
os despontaremos.
Trabalhadores da Caterpillar França deveriam lembrar-se
das promessas feitas por Sarkozy em 4 de fevereiro do ano passado
para os trabalhadores da fundição de aço
na Arcelor Mittal, em Gadrange, onde 575 precisaram ser demitidos.
Esses mesmos trabalhadores agora perderam seus empregos e na terça-feira
manifestaram-se, denunciando a fraude e a traição
de Sarkozy e do presidente da Arcelor, Lakshmi Mittal.
Sarkozy declarou: De todo modo, não é minha
culpa... Como existe menor crescimento, existe menor demanda pelo
aço.
Mergulhado em uma cultura de defesa dos interesses
dos trabalhadores através da defesa dos interesses dos
patrões e dos representantes políticos do capital,
os sindicatos avançam na perspectiva de que o caminho para
opor-se ao desemprego é ajudando a classe capitalista a
ser lucrativa.
Somente uma luta dos trabalhadores da Caterpillar para quebrar
a conivência dos sindicatos com os governantes e os patrões
pode ter um resultado de sucesso. Rejeitando todo acordo baseado
em aceitar as perdas de emprego, os trabalhadores devem construir
organizações independentes na luta de classes em
suas fábricas e locais de trabalho, reunindo-se com outros
trabalhadores além das fronteiras nacionais.
Tais organizações devem estar armadas com um
programa para a reorganização socialista da economia
e a ocupação de plantas como a Caterpillar para
que funcione como utilidade pública sob o controle democrático
dos trabalhadores.