Publicado originalmente em inglês no WSWS em 3 de
Abril de 2009
O encontro do G20, que terminou na quinta-feira, dia 02.04,
falhou em adotar as principais medidas defendidas pelos EUA e
Inglaterra, que participaram do encontro em Londres demandando
um estímulo fiscal para a economia mundial; e as principais
medidas defendidas pelo bloco liderado pela Alemanha e França,
que demandava uma regulação internacional das maiores
instituições bancárias do planeta.
Apesar disso, ambos os lados, superando as diferenças,
prepararam um comunicado de nove páginas que consistia
apenas em frases de impacto vazias de conteúdo, como a
de que todos os chefes de estado reunidos concordavam sobre
a necessidade de um novo consenso global a respeito dos valores
centrais e dos princípios que promoverão a atividade
econômica sustentável.
Também era esperado por praticamente toda a mídia
que o encontro concordara em um programa adicional
de US$ 1,1 trilhão para apoiar a restauração
do crédito, aumento dos empregos e aceleração
da economia mundial.
O Financial Times de Londres trouxe um dos poucos relatos
que tratou a questão da forma cética que merecia.
A falência do encontro do G20 é muito dolorosa
para os líderes mundiais. [O Primeiro Ministro Britânico
Gordon] Brown terminou o encontro lançando grandes números
para dissimular o fato de que os líderes mundiais não
haviam concordado com a proposta de um novo stimulo fiscal, defendida
pelo Sr. Obama e pelo Sr. Brown.
Além disso, o jornal ainda comentou: Muito do
US$ 1,1 trilhão prometido para ajudar a retomada da economia
mundial representam acordos existentes ou promessas de fundos
futuros que ainda nem mesmo foram submetidos.
O Comunicado afirma que os governantes reunidos deverão
aumentar as reservas do Fundo Monetário Internacional (FMI)
em US$ 500 bilhões, destinados ao mercado dos chamados
países emergentes. De acordo com os relatos
iniciais, onde este dinheiro deverá ser aplicado ainda
não fica claro.
O Japão repassou US$ 100 bilhões; a União
Européia outros US$ 100bi e a China cerca de US$ 40 bi.
Em sua conferência após o encontro, o presidente
dos EUA, Barack Obama, não deu nenhuma indicação
de que Washington dispenderia dinheiro com tal intuito, no entanto,
notificou que planeja submeter ao congresso a proposta de liberar
US$ 448 bilhões para ajudar populações
vulneráveis da África à América
Latina
Mesmo que se realize a liberação dos US$ 1,1
trilhão o que não é impossível
seria algo como colocar um Band-Aid em uma hemorragia.
No último ano, o derretimento do mercado de ações
mundial, a queda no preço das comodites e o colapso da
economia real são contabilizados em cerca de US$ 50 trilhões.
Além disso, o governo dos EUA e o FED (Banco Central dos
EUA) gastaram, sozinhos, US$ 12,8 trilhões para salvar
os bancos norteamericanos, não tendo nenhum efeito real
para impedir o avanço das demissões.
Gordon Brown evidencia ainda outros pontos do acordo do G20
que, também, são muito mais aparência do que
essência.
Uma medida que apenas realça a falência
da política liderada pelo bloco franco-alemão de
tentar regular as instituições financeiras em nível
mundial consiste em transformar o atual Forum de Segurança
Financeira em um Conselho de Estabilidade Financeira. A mudança
central, além da mudança no nome, foi a inclusão
da China, da Índia e do Brasil, membros do G20 que ainda
não faziam parte de tal órgão. Entretanto,
continua inofensivo, sem poder para impor sanções
sobre bancos privados ou instituições financeiras
que pratiquem algum mal para a economia mundial.
O presidente Francês, Nicolas Sarkozy, elogiou Obama
e Brown ao final do encontro, enquanto tirava sua parte do que
chamou de a reforma financeira mais importante desde Bretton
Woods.
Na realidade, os EUA rejeitaram qualquer tentativa internacional
de regulação de seu sistema bancário. A declaração
dos líderes do G20 afirmava: Todos nós concordamos
que garantir nosso próprio sistema regulatório é
importante
Uma ponto importante, sobre os ativos tóxicos
que paralizaram o sistema financeiro, foi tratado apenas de forma
superficial, sendo afirmado na declaração que todas
as ações necessária para restabelecer o fluxo
de crédito serão tomadas.
Os líderes do G20 também refizeram a promessa
solene de não desenvolver medidas protecionistas. De acordo
com o Banco Mundial, desde o último em encontro, 17 dos
20 países adotaram medidas protecionistas.
Foram Obama e Brown que defenderam mais fervorosamento o encontro.
Obama o chamou de um ponto de virada na retomada da economia
global. Gordon Brown, por sua vez, afirmou que o encontro
do G20 significava que uma nova ordem econômica mundial
surgia com a fundação de uma nova cooperação
progressiva mundial.
Tudo isso não passa de nonsense. É evidente
que a situação se agrava ainda mais. Nos EUA foi
relatado na última semana que mais 742.000 empregos foram
cortados em março. Na Espanha, o Ministério do Trabalho
relatou que a taxa de desemprego atingiu 15,5%, a pior da Europa,
com 3,6 milhões de espanhois desempregados. Na própria
Inglaterra, que sediou o encontro, novos cortes massivos de empregos
foram anunciados, com duas empresas, a gigante de seguros Norwich
Union e a frabricante de aviões Bombardier, cortando juntas
mais 2.500 empregos.
A destruição mundial de empregos continuará
e se intensificará, ameaçando centenas de milhões
de pessoas de serem lançadas na pobreza e na fome. O Banco
Mundial lançou uma nova estimativa que prevê uma
contração econômica de 1.7%. O Presidente
do Banco, Robert Zoellick, disse à BBC: Nós
não vemos números como esses desde a II Guerra Mundial
ou seja, desde a Grande Depressão.
Ele alertou: Nós estimativas são de que
com o menor desenvolvimento cerca de 200.000 a 400.000 bebês
morrerão neste ano. Portanto, os efeitos da crise são
dramáticos.
Mesmo tendo sido afirmado que o encontro assinalou a emergência
de uma nova ordem mundial baseada na cooperação
internacional, a realidade demonstra que o encontro apenas confirmou
o colapso da antiga ordem mundial, estabelecida após a
II Guerra Mundial e baseada na invencível supremacia política
e financeira do capitalismo norteamericano e no sistema monetário
internacional baseado no dólar.
Obama afirmou no encontro que aqueles que essencializam os
maiores conflitos e desacordos entre os vários líderes
criam confusão sobre um debate amplo e honesto com
diferenças imperceptíveis.
Na realidade, os antagonismos inter-imperialistas se manifestaram
no encontro e inevitavelmente se acenturão com o aprofundamento
da crise. Longe de ter traçado um programa mundial coordenado
para resgatar o capitalismo mundial, o encontro londrino apenas
demonstrou a inconciliável contradição entre
a economia integrada mundial e o sistema de estados-nação,
evidenciando a impossibilidade de nações rivais
adotarem um abordagem realmente internacional para a crise. No
final das contas, o encontro do G20 se assemelha muito ao encontro
realizado em Londres em 1933 com o mesmo propósito e que
foi apenas mais um passo no caminho da bancarrota mundial do capitalismo.