World Socialist Web Site
 

WSWS : Portuguese

A Falência do Encontro do G20

Por Chris Marsden e Bill Van Auken
14 de abril de 2009

Utilice esta versión para imprimir | Enviar por email | Comunicar-se com

Publicado originalmente em inglês no WSWS em 3 de Abril de 2009

O encontro do G20, que terminou na quinta-feira, dia 02.04, falhou em adotar as principais medidas defendidas pelos EUA e Inglaterra, que participaram do encontro em Londres demandando um estímulo fiscal para a economia mundial; e as principais medidas defendidas pelo bloco liderado pela Alemanha e França, que demandava uma regulação internacional das maiores instituições bancárias do planeta.

Apesar disso, ambos os lados, superando as diferenças, prepararam um comunicado de nove páginas que consistia apenas em frases de impacto vazias de conteúdo, como a de que todos os chefes de estado reunidos “concordavam sobre a necessidade de um novo consenso global a respeito dos valores centrais e dos princípios que promoverão a atividade econômica sustentável”.

Também era esperado — por praticamente toda a mídia — que o encontro concordara em “um programa adicional de US$ 1,1 trilhão para apoiar a restauração do crédito, aumento dos empregos e aceleração da economia mundial”.

O Financial Times de Londres trouxe um dos poucos relatos que tratou a questão da forma cética que merecia. “A falência do encontro do G20 é muito dolorosa para os líderes mundiais. [O Primeiro Ministro Britânico Gordon] Brown terminou o encontro lançando grandes números para dissimular o fato de que os líderes mundiais não haviam concordado com a proposta de um novo stimulo fiscal, defendida pelo Sr. Obama e pelo Sr. Brown”.

Além disso, o jornal ainda comentou: “Muito do US$ 1,1 trilhão prometido para ajudar a retomada da economia mundial representam acordos existentes ou promessas de fundos futuros que ainda nem mesmo foram submetidos”.

O Comunicado afirma que os governantes reunidos deverão aumentar as reservas do Fundo Monetário Internacional (FMI) em US$ 500 bilhões, destinados ao mercado dos chamados “países emergentes”. De acordo com os relatos iniciais, onde este dinheiro deverá ser aplicado ainda não fica claro.

O Japão repassou US$ 100 bilhões; a União Européia outros US$ 100bi e a China cerca de US$ 40 bi. Em sua conferência após o encontro, o presidente dos EUA, Barack Obama, não deu nenhuma indicação de que Washington dispenderia dinheiro com tal intuito, no entanto, notificou que planeja submeter ao congresso a proposta de liberar US$ 448 bilhões para ajudar “populações vulneráveis — da África à América Latina”

Mesmo que se realize a liberação dos US$ 1,1 trilhão — o que não é impossível — seria algo como colocar um Band-Aid em uma hemorragia. No último ano, o derretimento do mercado de ações mundial, a queda no preço das comodites e o colapso da economia real são contabilizados em cerca de US$ 50 trilhões. Além disso, o governo dos EUA e o FED (Banco Central dos EUA) gastaram, sozinhos, US$ 12,8 trilhões para salvar os bancos norteamericanos, não tendo nenhum efeito real para impedir o avanço das demissões.

Gordon Brown evidencia ainda outros pontos do acordo do G20 que, também, são muito mais aparência do que essência.

Uma medida — que apenas realça a falência da política liderada pelo bloco franco-alemão de tentar regular as instituições financeiras em nível mundial — consiste em transformar o atual Forum de Segurança Financeira em um Conselho de Estabilidade Financeira. A mudança central, além da mudança no nome, foi a inclusão da China, da Índia e do Brasil, membros do G20 que ainda não faziam parte de tal órgão. Entretanto, continua inofensivo, sem poder para impor sanções sobre bancos privados ou instituições financeiras que pratiquem algum “mal” para a economia mundial.

O presidente Francês, Nicolas Sarkozy, elogiou Obama e Brown ao final do encontro, enquanto tirava sua parte do que chamou de “a reforma financeira mais importante desde Bretton Woods”.

Na realidade, os EUA rejeitaram qualquer tentativa internacional de regulação de seu sistema bancário. A declaração dos líderes do G20 afirmava: “Todos nós concordamos que garantir nosso próprio sistema regulatório é importante”

Uma ponto importante, sobre os ativos “tóxicos” que paralizaram o sistema financeiro, foi tratado apenas de forma superficial, sendo afirmado na declaração que “todas as ações necessária para restabelecer o fluxo de crédito serão tomadas”.

Os líderes do G20 também refizeram a promessa solene de não desenvolver medidas protecionistas. De acordo com o Banco Mundial, desde o último em encontro, 17 dos 20 países adotaram medidas protecionistas.

Foram Obama e Brown que defenderam mais fervorosamento o encontro. Obama o chamou de “um ponto de virada na retomada da economia global”. Gordon Brown, por sua vez, afirmou que o encontro do G20 significava que “uma nova ordem econômica mundial surgia com a fundação de uma nova cooperação progressiva mundial”.

Tudo isso não passa de nonsense. É evidente que a situação se agrava ainda mais. Nos EUA foi relatado na última semana que mais 742.000 empregos foram cortados em março. Na Espanha, o Ministério do Trabalho relatou que a taxa de desemprego atingiu 15,5%, a pior da Europa, com 3,6 milhões de espanhois desempregados. Na própria Inglaterra, que sediou o encontro, novos cortes massivos de empregos foram anunciados, com duas empresas, a gigante de seguros Norwich Union e a frabricante de aviões Bombardier, cortando juntas mais 2.500 empregos.

A destruição mundial de empregos continuará e se intensificará, ameaçando centenas de milhões de pessoas de serem lançadas na pobreza e na fome. O Banco Mundial lançou uma nova estimativa que prevê uma contração econômica de 1.7%. O Presidente do Banco, Robert Zoellick, disse à BBC: “Nós não vemos números como esses desde a II Guerra Mundial — ou seja, desde a Grande Depressão”.

Ele alertou: “Nós estimativas são de que com o menor desenvolvimento cerca de 200.000 a 400.000 bebês morrerão neste ano. Portanto, os efeitos da crise são dramáticos”.

Mesmo tendo sido afirmado que o encontro assinalou a emergência de uma “nova ordem mundial” baseada na cooperação internacional, a realidade demonstra que o encontro apenas confirmou o colapso da antiga ordem mundial, estabelecida após a II Guerra Mundial e baseada na invencível supremacia política e financeira do capitalismo norteamericano e no sistema monetário internacional baseado no dólar.

Obama afirmou no encontro que aqueles que essencializam os maiores conflitos e desacordos entre os vários líderes “criam confusão sobre um debate amplo e honesto com diferenças imperceptíveis”.

Na realidade, os antagonismos inter-imperialistas se manifestaram no encontro e inevitavelmente se acenturão com o aprofundamento da crise. Longe de ter traçado um programa mundial coordenado para resgatar o capitalismo mundial, o encontro londrino apenas demonstrou a inconciliável contradição entre a economia integrada mundial e o sistema de estados-nação, evidenciando a impossibilidade de nações rivais adotarem um abordagem realmente internacional para a crise. No final das contas, o encontro do G20 se assemelha muito ao encontro realizado em Londres em 1933 com o mesmo propósito e que foi apenas mais um passo no caminho da bancarrota mundial do capitalismo.

[traduzido por movimentonn.org]