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França: sindicatos alertam governo contra explosão social

Por Antoine Lerougetel e Alex Lantier
11 de setembro de 2008

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Publicado originalmente em inglês em 2 de setembro de 2008, no WSWS.

Os dirigentes de duas centrais sindicais francesas, Jean-Claude Mailly, da Force Ouvrière (FO, Força Operária), e François Chérèque, da CFDT (Confederação Francesa Democrática do Trabalho), recentemente deram entrevistas alertando sobre a possibilidade de grandes lutas sociais eclodirem ao final das férias de verão. O descontentamento da classe trabalhadora cresce cada vez mais na França e em toda Europa, por conta da diminuição do poder de compra e da contração econômica.

Na edição do dia 25 de agosto, o Le Parisien começou perguntando a Mailly: “O período de volta às aulas será quente socialmente?” Ele respondeu: “Todas as estatísticas estão no vermelho. Emprego, poder de compra, produção industrial, crescimento econômico, exportações... Os trabalhadores sentem que seus horizontes estão bloqueados. Isso sem mencionar seus temores, preocupando-se com as pensões e o seguro saúde”.

Ele acrescentou: “Há um sensação geral de que os trabalhadores já sofreram o suficiente. Não demorará muito tempo para que se inicie uma movimentação”.

Os anúncios de Mailly assumiram um caráter definitivamente político. Em Maio e Junho, os sindicatos quebraram uma onda de greves e manifestações contra os cortes de pensão e abolição das 35 horas semanais de trabalho, os limitando ao isolamento, a um dia de protestos desprovido de qualquer perspectiva de luta política contra o governo e à sua agenda anti-social. Isso é parte da estreita colaboração entre os sindicatos e o presidente Nicolas Sarkozy, desde a eleição em maio de 2007. Seus alertas sobre o caráter explosivo das relações de classe não são, portanto, para mobilizar a classe trabalhadora, mas para alertar o governo dos riscos postos por sua política.

Mailly notou que, embora haja descontentamento por parte dos trabalhadores, a FO não tem planos para uma ampla mobilização da classe trabalhadora: “Por enquanto, não há nenhuma reunião planejada com outros sindicatos. [...] Os trabalhadores estão cansados de se manifestarem e não receberem por esses dias parados. Mas o dia em que eles entrarem em movimento... será muito violento”.

Após explicar a frustração dos trabalhadores ao não receberem pelos dias das isoladas e inúteis movimentações, ele anunciou que “a FO planejou um dia de movimentação para 2 de outubro”. Ele disse que o dia de movimentação protestaria por questões como a recente privatização dos correios, as reformas na saúde e os cortes do governo local.

Já o “Journal du Dimanche’s” começou sua entrevista com Chérèque, publicada no dia 30 de agosto, perguntando como ele achava que seria o outono. Chérèque respondeu: “Os trabalhadores saíram de férias ouvindo todas as frases proferidas nos últimos 18 meses. Disseram-lhes: Nós corrigiremos tudo, tudo ficará melhor. E eles estão voltando e ouvindo: ‘As coisas não estão melhorando’. É um banho de água fria. Mas eu não sei exatamente o que isso pode gerar: desconforto ou tensões ainda maiores”.

Perguntado sobre como planeja agir na reforma das 35 horas semanais, Chérèque disse que não faria nada: “A lei passou. Acredito nos valores republicanos”.

Chérèque assumiu a posição de conselheiro do governo, buscando a melhor forma de proporcionar seus cortes sociais e abafar a oposição da classe trabalhadora. Ele disse: “O que fez com que meus velhos amigos conversassem comigo em Sisteron, nos Alpes da província de Haule [sudeste da França]? O futuro dos hospitais, dos Correios, dos serviços locais, transporte regional. [...] Ninguém pode executar reformas, como aquela dos Correios, sem um debate público. Sem isso, a população não entende e aceita tal reforma. E isso abre o caminho para demagogos”.

A referência de Chéréque aos demagogos é altamente significante. Os sindicatos estão penosamente conscientes da fragilidade da situação política francesa e temem que um movimento espontâneo da classe trabalhadora exponha a hierarquia absoluta das centrais sindicais.

Sua colaboração com Sarkozy tornou-se explicitamente pública, como um ponto progressivo de Sarkozy. Em setembro de 2007, antes da greve do transporte de outubro-novembro contra os cortes de pensões, a pressão revelou que Chérèque e Mailly se encontravam regularmente com Sarkozy. O local preferido de Chérèque era, aparentemente, o prestigiado restaurante “Violon d’ Ingres”, no centro de Paris. Numa tentativa de justificar essas reuniões, a CFDT disse à Reuters que os almoços entre Chérèque e Sarkozy eram “de forma nenhuma incomuns, uma vez que o presidente da França já havia encontrado o secretário-geral da central sindical Force Ouvrière (FO), Jean-Claude Mailly, em circunstância similar”.

Em abril, Sarkozy publicou um longo editorial no jornal Le Monde, intitulado “Para sindicatos fortes”, onde escreveu: “Para conceder e realizar as reformas que nosso país precisa, devemos nos aliar àqueles que representam os interesses dos trabalhadores e dos empregadores”. E acrescentou: “Logo após as eleições presidenciais, e mesmo antes de entrar no Elysée [palácio presidencial], me reuni com sindicatos e grupos empresariais, para ouvi-los e perguntá-los sobre suas posições a respeito das ações que planejava aplicar. Desde então, continuei a encontrar-me regularmente com cada um de seus representantes”.

Durante as manifestações de maio-junho, o governo assistiu com preocupação o aumento da frustração dos grevistas com os sindicatos. O Le Monde escreveu no dia 24 de junho: “[O palácio presidencial, Elysée] está atento — como nos disse o conselheiro do presidente para questões sociais, Raymound Soubie — para prevenir ‘o enfraquecimento dos sindicatos e o aparecimento de movimentos fora do controle’”.

Com esse eufemismo burocrático, Soubie expressava o medo da burguesia de que os trabalhadores levassem as greves políticas independentemente das desacreditadas centrais sindicais. Tais medos são intensificados pela brusca queda econômica na França e em toda Europa, assim como pela a determinação do governo em pressionar o avanço de reformas impopulares. Segundo estatísticas mais recentes, a economia francesa contraiu cerca de 0.3% no segundo semestre de 2008, parte da queda geral de 0.2% de toda economia da zona do Euro.

Essa contração econômica irá reduzir substancialmente as despesas estatais. Alexander Law, da empresa analista de mercado Xerfi, escreveu: “O orçamento de 2008 foi baseado num percentual de crescimento anual no GDP de 2.25%. O governo já foi forçado a revisar essa queda para 1.7% e os cálculos recentes agora o colocam em 0.9%, implicando numa perda enorme de rendimentos esperados”. O déficit do orçamento da França já está perto dos 3% limites exigidos pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento da União Européia.

A combinação de uma contração econômica e a inflação tem provocado a destruição do poder de compra dos trabalhadores. Segundo estudo do Instituto Nacional de Consumo (INC), citado por Law: “Uma comparação do equivalente de um dia de salário entre 2000 e 2008 [...] revela que trabalhadores compram menos comida, habitações e combustível do que há oito anos atrás, devido à inflação”.

E a reportagem do INC continua: “Se um trabalhador podia comprar 49 litros de diesel com o salário de um dia em 2000, em 2008 ele compra apenas 38 litros. Ele também comprará menos laranjas (-14%), batatas (-14%), carne (-13%), alface (-11%), pão (-11%) e manteiga (-7%)”.

O desemprego está aumentando, pela primeira vez desde o segundo semestre de 2003. No segundo semestre de 2008, 12.200 empregos foram perdidos (0.1% do total). Essa queda foi imensa, devido à perda de 6.8% de empregos temporários no segundo semestre. No setor de serviços, o crescimento de emprego veio com um estacionamento virtual, de 0.1%. A força de trabalho industrial diminuiu 0.3% no segundo semestre.

A crise imobiliária internacional também está atingindo a França, com as vendas das casas caindo 34% nos últimos 12 meses.

No dia 18 de agosto, o primeiro ministro, François Fillon, confirmou novamente que a resposta do Governo à queda econômica é limitar as despesas e impor a severidade social. Ele disse: “O objetivo do governo, sob a autoridade do presidente da República, é o de restabelecer a competição na economia francesa”. Ele propõe fazer isso conjuntamente com ataques, cada vez maiores, aos direitos legais dos trabalhadores — através das “reformas estruturais do mercado de trabalho, da organização do trabalho e da legislação do trabalho”.