Publicado originalmente em inglês em 2 de setembro
de 2008, no WSWS.
Os dirigentes de duas centrais sindicais francesas, Jean-Claude
Mailly, da Force Ouvrière (FO, Força Operária),
e François Chérèque, da CFDT (Confederação
Francesa Democrática do Trabalho), recentemente deram entrevistas
alertando sobre a possibilidade de grandes lutas sociais eclodirem
ao final das férias de verão. O descontentamento
da classe trabalhadora cresce cada vez mais na França e
em toda Europa, por conta da diminuição do poder
de compra e da contração econômica.
Na edição do dia 25 de agosto, o Le Parisien
começou perguntando a Mailly: O período de
volta às aulas será quente socialmente? Ele
respondeu: Todas as estatísticas estão no
vermelho. Emprego, poder de compra, produção industrial,
crescimento econômico, exportações... Os trabalhadores
sentem que seus horizontes estão bloqueados. Isso sem mencionar
seus temores, preocupando-se com as pensões e o seguro
saúde.
Ele acrescentou: Há um sensação
geral de que os trabalhadores já sofreram o suficiente.
Não demorará muito tempo para que se inicie uma
movimentação.
Os anúncios de Mailly assumiram um caráter definitivamente
político. Em Maio e Junho, os sindicatos quebraram uma
onda de greves e manifestações contra os cortes
de pensão e abolição das 35 horas semanais
de trabalho, os limitando ao isolamento, a um dia de protestos
desprovido de qualquer perspectiva de luta política contra
o governo e à sua agenda anti-social. Isso é parte
da estreita colaboração entre os sindicatos e o
presidente Nicolas Sarkozy, desde a eleição em maio
de 2007. Seus alertas sobre o caráter explosivo das relações
de classe não são, portanto, para mobilizar a classe
trabalhadora, mas para alertar o governo dos riscos postos por
sua política.
Mailly notou que, embora haja descontentamento por parte dos
trabalhadores, a FO não tem planos para uma ampla mobilização
da classe trabalhadora: Por enquanto, não há
nenhuma reunião planejada com outros sindicatos. [...]
Os trabalhadores estão cansados de se manifestarem e não
receberem por esses dias parados. Mas o dia em que eles entrarem
em movimento... será muito violento.
Após explicar a frustração dos trabalhadores
ao não receberem pelos dias das isoladas e inúteis
movimentações, ele anunciou que a FO planejou
um dia de movimentação para 2 de outubro.
Ele disse que o dia de movimentação protestaria
por questões como a recente privatização
dos correios, as reformas na saúde e os cortes do governo
local.
Já o Journal du Dimanches começou
sua entrevista com Chérèque, publicada no dia 30
de agosto, perguntando como ele achava que seria o outono. Chérèque
respondeu: Os trabalhadores saíram de férias
ouvindo todas as frases proferidas nos últimos 18 meses.
Disseram-lhes: Nós corrigiremos tudo, tudo ficará
melhor. E eles estão voltando e ouvindo: As coisas
não estão melhorando. É um banho de
água fria. Mas eu não sei exatamente o que isso
pode gerar: desconforto ou tensões ainda maiores.
Perguntado sobre como planeja agir na reforma das 35 horas
semanais, Chérèque disse que não faria nada:
A lei passou. Acredito nos valores republicanos.
Chérèque assumiu a posição de conselheiro
do governo, buscando a melhor forma de proporcionar seus cortes
sociais e abafar a oposição da classe trabalhadora.
Ele disse: O que fez com que meus velhos amigos conversassem
comigo em Sisteron, nos Alpes da província de Haule [sudeste
da França]? O futuro dos hospitais, dos Correios, dos serviços
locais, transporte regional. [...] Ninguém pode executar
reformas, como aquela dos Correios, sem um debate público.
Sem isso, a população não entende e aceita
tal reforma. E isso abre o caminho para demagogos.
A referência de Chéréque aos demagogos
é altamente significante. Os sindicatos estão penosamente
conscientes da fragilidade da situação política
francesa e temem que um movimento espontâneo da classe trabalhadora
exponha a hierarquia absoluta das centrais sindicais.
Sua colaboração com Sarkozy tornou-se explicitamente
pública, como um ponto progressivo de Sarkozy. Em setembro
de 2007, antes da greve do transporte de outubro-novembro contra
os cortes de pensões, a pressão revelou que Chérèque
e Mailly se encontravam regularmente com Sarkozy. O local preferido
de Chérèque era, aparentemente, o prestigiado restaurante
Violon d Ingres, no centro de Paris. Numa tentativa
de justificar essas reuniões, a CFDT disse à Reuters
que os almoços entre Chérèque e Sarkozy eram
de forma nenhuma incomuns, uma vez que o presidente da França
já havia encontrado o secretário-geral da central
sindical Force Ouvrière (FO), Jean-Claude Mailly, em circunstância
similar.
Em abril, Sarkozy publicou um longo editorial no jornal Le
Monde, intitulado Para sindicatos fortes, onde
escreveu: Para conceder e realizar as reformas que nosso
país precisa, devemos nos aliar àqueles que representam
os interesses dos trabalhadores e dos empregadores. E acrescentou:
Logo após as eleições presidenciais,
e mesmo antes de entrar no Elysée [palácio presidencial],
me reuni com sindicatos e grupos empresariais, para ouvi-los e
perguntá-los sobre suas posições a respeito
das ações que planejava aplicar. Desde então,
continuei a encontrar-me regularmente com cada um de seus representantes.
Durante as manifestações de maio-junho, o governo
assistiu com preocupação o aumento da frustração
dos grevistas com os sindicatos. O Le Monde escreveu no
dia 24 de junho: [O palácio presidencial, Elysée]
está atento como nos disse o conselheiro do presidente
para questões sociais, Raymound Soubie para prevenir
o enfraquecimento dos sindicatos e o aparecimento de movimentos
fora do controle.
Com esse eufemismo burocrático, Soubie expressava o
medo da burguesia de que os trabalhadores levassem as greves políticas
independentemente das desacreditadas centrais sindicais. Tais
medos são intensificados pela brusca queda econômica
na França e em toda Europa, assim como pela a determinação
do governo em pressionar o avanço de reformas impopulares.
Segundo estatísticas mais recentes, a economia francesa
contraiu cerca de 0.3% no segundo semestre de 2008, parte da queda
geral de 0.2% de toda economia da zona do Euro.
Essa contração econômica irá reduzir
substancialmente as despesas estatais. Alexander Law, da empresa
analista de mercado Xerfi, escreveu: O orçamento
de 2008 foi baseado num percentual de crescimento anual no GDP
de 2.25%. O governo já foi forçado a revisar essa
queda para 1.7% e os cálculos recentes agora o colocam
em 0.9%, implicando numa perda enorme de rendimentos esperados.
O déficit do orçamento da França já
está perto dos 3% limites exigidos pelo Pacto de Estabilidade
e Crescimento da União Européia.
A combinação de uma contração econômica
e a inflação tem provocado a destruição
do poder de compra dos trabalhadores. Segundo estudo do Instituto
Nacional de Consumo (INC), citado por Law: Uma comparação
do equivalente de um dia de salário entre 2000 e 2008 [...]
revela que trabalhadores compram menos comida, habitações
e combustível do que há oito anos atrás,
devido à inflação.
E a reportagem do INC continua: Se um trabalhador podia
comprar 49 litros de diesel com o salário de um dia em
2000, em 2008 ele compra apenas 38 litros. Ele também comprará
menos laranjas (-14%), batatas (-14%), carne (-13%), alface (-11%),
pão (-11%) e manteiga (-7%).
O desemprego está aumentando, pela primeira vez desde
o segundo semestre de 2003. No segundo semestre de 2008, 12.200
empregos foram perdidos (0.1% do total). Essa queda foi imensa,
devido à perda de 6.8% de empregos temporários no
segundo semestre. No setor de serviços, o crescimento de
emprego veio com um estacionamento virtual, de 0.1%. A força
de trabalho industrial diminuiu 0.3% no segundo semestre.
A crise imobiliária internacional também está
atingindo a França, com as vendas das casas caindo 34%
nos últimos 12 meses.
No dia 18 de agosto, o primeiro ministro, François Fillon,
confirmou novamente que a resposta do Governo à queda econômica
é limitar as despesas e impor a severidade social. Ele
disse: O objetivo do governo, sob a autoridade do presidente
da República, é o de restabelecer a competição
na economia francesa. Ele propõe fazer isso conjuntamente
com ataques, cada vez maiores, aos direitos legais dos trabalhadores
através das reformas estruturais do mercado
de trabalho, da organização do trabalho e da legislação
do trabalho.