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Repressão em Denver evidencia ataque aos direitos democráticos nos EUA

Por Tom Eley
9 de setembro de 2008

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Publicado originalmente em inglês em 29 de agosto de 2008, no WSWS.

Na quarta-feira, 27.08, a polícia invadiu o centro de operações de um grupo — o Unconventional Denver [Denver Não-Convencional] — que protestava contra a Convenção Nacional Democrata, prendendo várias pessoas, destruindo e confiscando sua propriedade. O esforço calculista para intimidar os manifestantes e suprimir a manifestação passou despercebido pela mídia nacional, sem falar dos políticos do Partido Democrata, reunidos no Centro Pepsi em Denver.

A polícia agiu ilegalmente, sem produzir qualquer mandado antes de invadir o pequeno prédio e a área ao redor dele. Um trator levantou o material de fabricação de faixas e estandartes e o depositou num caminhão de lixo. Dois organizadores foram presos e acusados de desobediência da ordem legal. A polícia afirmou que um deles possuía uma faca; o manifestante respondeu que era uma pequena faca de bolso.

A polícia também afirma ter encontrado tijolos e pedras ao redor do prédio alugado pela organização. Os grupos de manifestação disseram que o material estava sendo usado para segurar estandartes e posteres que estavam sendo pintados para que não fossem levados pelo vento. Filmagens feitas pelo jornal independente Rocky Mountain News mostram que os destroços são típicos da desgastada área industrial, localizada ao lado dos trilhos da ferrovia.

A polícia de Denver disse que respondia a um telefonema sobre “dois grupos suspeitos” perto do local. A constante vigilância sobre o grupo e a presença do trator e do caminhão de lixo, porém, sugerem que a batida foi planejada com considerável antecedência.

Também na quarta-feira, um produtor da ABC News, Asa Eslocker, foi preso por tentar filmar lideranças políticas e grandes doadores do Partido Democrata saindo de um hotel próximo ao Pepsi Center. Num raro episódio de jornalismo investigativo pela mídia, Eslocker e sua equipe investigavam o papel dos lobistas corporativos no processo político para uma série chamada “Money Trail” [Trilha do Dinheiro]. Eslocker foi acusado de invasão de propriedade, interferência e falha em compactuar com uma ordem legal. Um video da prisão pode ser visto no site da ABC: http://abcnews.go.com/Blotter/Conventions/story?id=5668622&page=1

Antes da prisão, um xerife de Boulder County foi visto ordenando que Eslocker saísse da calçada em frente ao hotel e se dirigisse a uma entrada lateral. O escritório do xerife diz que a calçada é propriedade do hotel. Em seguida, ele é visto empurrando Eslocker — que afirma seu direito de estar em propriedade pública — para fora da calçada e na direção do tráfego. O policial observa, “Agora você está impedindo o tráfego”, antes de forçar o repórter para o outro lado da rua.

Duas horas depois, a polícia de Denver chegou para prender Eslocker, aparentemente com base numa reclamação do hotel Brown Palace. Um policial fumando um cigarro pode ser visto colocando suas mãos ao redor do pescoço de Eslocker e então torcendo seu braço, mesmo sem qualquer sinal de resistência por Eslocker. Um dos policiais diz a Eslocker: “A sua sorte é que eu não acabei com sua raça”.

Na noite de quarta, uma passeata de cinco mil, liderada pelo grupo Iraq Veterans Against the War [Veteranos do Iraque Contra a Guerra], foi impedida de aproximar-se do local da convenção por uma barricada policial.

A destruição dos direitos democráticos básicos durante a Convenção Nacional Democrata (DNC) de Denver foi extensa. Ela Incluiu:

* A formação de um novo aparato policial semi-legal e multi-nível, sob controle do ramo executivo do governo federal, possibilitada pelo estatuto da DNC enquanto um “Evento de Segurança Nacional,”, conforme designação estabelecida em 1997 pela “ordem executiva” (ou seja, o decreto presidencial) de Bill Clinton.

* A militarização de uma das principais cidades dos EUA. O tamanho da força policial dobrou com o recrutamento de pessoal vindo das áreas ao redor. Policiais com equipamentos anti-tumulto, armados com metralhadoras, cães policiais, torres de observação, helicópteros e transportadores blindados — visões comuns em Denver.

* A criação de um campo de prisioneiros (apelidado de “Guantánamo do Platte” pelos manifestantes, referência ao Rio Platte, em Denver) projetado para aprisionar milhares de pessoas.

* A implementação de um sistema de corte judicial em separado (“corte DNC”) projetado para processar milhares de prisioneiros secreta e rapidamente.

* A construção de uma “zona de livre expressão” especial, num estacionamento próximo à convenção, para limitar toda manifestação. A zona lembra um campo de prisioneiros. É uma pequena área contornada por cercas de aço montadas sobre barreiras de concreto; tudo coberto por arame farpado.

* Provocação policial, abuso, e intimidação dos manifestantes.

* A supressão da liberdade de expressão e liberdade de reunião através das barricadas policiais e exigências arbitrárias de desocupação de calçadas públicas.

* Violência policial contra manifestantes pacíficos. Isso incluiu o uso de spray de pimenta e cassetetes.

* A prisão em massa de aproximadamente 100 manifestantes, a maioria dos quais acusada de “se negar a compactuar com uma ordem legal”.

* A tentativa de processar prisoneiros sem fornecer a opção de defesa judicial.

* Busca e apreensão de propriedade, de forma arbitrária e sem mandado.

* A tolerância pela polícia da intimidação dos manifestantes de direita.

* Abuso policial e prisão contra a mídia.

Se tais eventos estivessem ocorrendo em países-alvo dos EUA, como Rússia ou Venezuela, certamente a mídia e os políticos estariam denunciando furiosamente a supressão da oposição política. Mas, a repressão está se dando numa importante cidade dos EUA, sob o patrocínio de um dos dois partidos da classe dominante no país.

A mídia nacional, deliberadamente, suprimiu qualquer cobertura sobre a atmosfera de estado policial em Denver e assumiu inteiramente a perspectiva de que a convenção — um teatro pago principalmente pela corporativa América e protegido da população pela polícia e forças armadas — é a expressão do processo democrático dos EUA em funcionamento. Nenhum representante significativo do Partido Democrata — que se passa por defensor dos direitos democráticos — denunciou a repressão política.

O que está acontecendo em Denver deve servir como um aviso para a classe trabalhadora. O vasto número de policiais e militares é desproporcional em relação ao pequeno número de manifestações pacíficas. A única explicação para essa mobilização é que se trata de um ensaio para medidas vindouras. É um exercício militar para a repressão da população civil através de uma nova combinação da polícia federal, estadual e municipal com agências militares e a burocracia. De fato, apesar da polícia de Denver parecer responsável pela maioria das ações mais ferrenhas, ela está na verdade operando sob o Serviço Secreto e o Departamento de Segurança Nacional.

As políticas consensuais da classe dominante — guerra imperialista no exterior e luta de classes no próprio país — são amplamente impopulares e irão eventualmente lançar milhões ao desafio. Os métodos policiais praticados em Denver terão pronta resposta das lutas de massa da classe trabalhadora.