Publicado originalmente em inglês, no WSWS, em 27
de Setembro de 2008.
Outro gigante bancário dos EUA quebrou nesta quinta-feira,
com a tomada do Washington Mutual pelo Governo e a compra de suas
operações e ativos pelo JPMorgan Chase.
A quebra do banco de Seattle, o sexto maior dos EUA e o maior
no ramo de poupanças e empréstimos no país,
foi a maior falência bancária na história
americana.
Com US$ 307 bilhões em ativos, US$ 188 bilhões
em depósitos e mais de 2.200 sucursais, a falência
do Washington Mutual bateu de longe o recorde da falência
bancária anterior do Continental Illinois, em 1984. Esse
último tinha US$ 40 bilhões em ativos na época
de sua falência.
O Washington Mutual, fundado em 1889, foi o mais recente dominó
a cair na série das falências bancárias que
está eliminando os ícones do capitalismo americano,
como Bears Stearns, Lehman Brothers e Merril Lynch. Num espaço
menor que três semanas, Lehman, Merril e WaMu desapareceram
e o governo tomou o controle das gigantes hipotecárias
Fannie Mae e Freddie Mac, além do imenso conglomerado dos
seguros, a American International Group, AIG.
Dois meses atrás outro grande banco de poupanças
e empréstimos, com base na Califórnia, o IndyMac,
foi fechado por reguladores federais. Aquela falência drenou
US$ 8,9 bilhões dos US$ 45,2 bilhões dos fundos
de depósito da Federal Deposit Insurance Corporation, a
agência federal que garante depósitos de até
US$100.000 em bancos regulamentados. A FDIC não era capaz
de vender imediatamente as operações comercias do
WaMu e as depositou em outra instituição, pois a
falência do banco de Seattle consumiria outros US$ 20 bilhões
ou US$ 30 bilhões, aniquilando as reservas de seguro da
FDIC.
WaMu foi um dos maiores produtores de dinheiro durante o boom
especulativo imobiliário, colhendo enormes retornos provenientes
da venda de alto risco, alto interesse de empréstimos imobiliários
para compradores com crédito instável. O banco era
especializado em tais empréstimos intrinsecamente predatórios
e instáveis, com o único interesse de juros e taxas
ajustáveis de hipotecas.
Teve perdas grandes e crescentes desde a quebra da bolha de
crédito e imobiliária no verão de 2007, anulando
bilhões em déficits hipotecários e seguros
apoiados por empréstimos imobiliários. Relatou sua
maior perda trimestral até hoje, US$ 3,3 bilhões,
no segundo trimestre deste ano, e anunciou que esperava perder
US$ 19 bilhões em seus papeis hipotecários ao longo
dos próximos dois anos e meio.
O Wall Street Jounal na sexta-feira chamou o desaparecimento
do WaMu de um novo ponto baixo na crise financeira do país
uma quebra sistemática sem precedentes desde a Grande
Depressão de 1930. Há todas as probabilidades que
mais falências de grandes bancos aconteçam.
Os preços das ações dos dois maiores bancos
que sofreram grandes perdas afundaram ainda mais na sexta-feira.
As ações do Wachovia caíram 30% e as do National
City 26%, atingindo a marca mais baixa já vista de 2 dólares
por ação. O Wachovia, o quarto maior banco americano
em termos de patrimônio, indicou que estava se colocando
à venda e dialogando com potenciais compradores.
A paralisação dos mercados de crédito,
que na semana passada levou os EUA e o sistema financeiro mundial
à beira do colapso, não cessou. Na sexta, o custo
de empréstimos entre bancos continuou a subir, refletindo
uma erosão geral da confiança na habilidade dos
bancos e outras instituições financeiras em pagarem
seus débitos.
As coisas congelaram novamente, disse Steve Van
Order, estrategista-chefe de renda fixa do Calvert Funds. Os
bancos estão nervosos a respeito dos empréstimos
a outros bancos e o mercado de papéis comerciais atingiu
a paralisia total.
Novos dados divulgados pelo governo esta semana mostram um
novo declínio nas vendas de imóveis e preços
e uma alta aguda no número de novos requerentes do seguro
desemprego.
Em 7 de setembro, a direção do Washington Mutual
demitiu o presidente Kerry Killinger e contratou o banqueiro do
Brooklyn Alan Fishman. Depois que o Lehman Brothers se candidatou
à proteção contra falência, em 15 de
setembro, clientes apreensivos do WaMu começaram a retirar
seus depósitos em debandada. Nos 10 dias seguintes eles
retiraram US$ 16,7 bilhões, que em 30 de junho constituíam
cerca de 9% dos depósitos do banco.
O WaMu se pôs à venda e iniciou uma busca desesperada
por um comprador, mas suas ações continuaram a mergulhar
e nenhum banco ou firma de equidade privada deu um lance. Na última
quinta-feira, o Office of Thrift Supervision declarou o banco
enfermo, confiscou-o e contratou o FDIC para vender as operações
e patrimônio do banco ao JPMorgan Chase.
O JPMorgan que comprou o Bear Stearns em março
passado por um preço de queima de estoque depois que o
Federal Reserve Board concordou em garantir US$ 29 bilhões
das dívidas do Bear Stearns assumiu os depósitos,
filiais e patrimônios do WaMu por um preço nominal
de US$ 1,9 bilhões. A compra faz do JPMorgan já
concentrando em si bilhões de dólares em títulos
de dívida tóxicos apoiados nas hipotecas
a maior instituição depositária dos EUA,
com mais de US$ 900 bilhões em depósitos de consumidores.
Acionistas do Washington Mutual e alguns portadores de títulos
serão aniquilados pela transação.
O WaMu demitiu 4200 empregados no começo do ano e sua
queda com a tomada de controle pelo JPMorgan provavelmente resultará
em mais cortes de pessoal. Em 30 de junho o banco empregava 43000
pessoas.
Neste ano 150000 empregados de bancos americanos perderam seus
empregos como resultado do colapso das bolhas especulativas do
mercado imobiliário e do crédito.
O ex-presidente do WaMu, Killinger, recebeu US$ 14,4 milhões
como compensação em 2007. Já seu sucessor,
Fishman, espera receber um pacote no valor de US$ 18 milhões
por três semanas no cargo.