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Itália: Governo Berlusconi busca reabilitar o fascismo

Por Marianne Arens
24 de setembro de 2008

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Publicado originalmente em inglês no WSWS em 16 de setembro de 2008.

Nos meses em que retornou ao poder, a ala direita do governo italiano tem aumentado, explicitamente, o número de pronunciamentos políticos. Membros proeminentes da coalizão majoritária, liderada por Silvio Berlusconi (Primeiro-ministro da Itália) têm recentemente lançado uma articulada campanha de reabilitação do facismo.

Foi Beslusconi quem disparou o primeiro tiro, pouco após assumir o cargo de primeiro ministro. Em 25 de Abril, feriado nacional italiano que marca a libertação do país contra o fascismo, Berlusconi declarou que, mesmo sendo apropriado reconhecer o valor da resistência antifascista (Resistenza), também é necessário entender os motivos dos “Ragazzi di Salò” [Rapazes de Saló].

Beslusconi se referia aos soldados italianos que defenderam a “República de Saló”, de Benito Mussolini. A assim chamada “República Social Italiana”, estabelecida pelos fascistas, existiu de 1943 a 1945, sob a proteção militar do regime nazista alemão no norte da Itália.

Comentários similares foram feitos na primavera, durante a campanha eleitoral do empresário e senador Giuseppe Ciarrapico, amigo próximo de Berlusconi. “A República Social Italiana nunca enviou ninguém a campos de concentração; os alemães é que são os culpados”, declarou Ciarrapico.

Agora, o secretário de defesa Ignazio La Russa também expressou sua admiração pelos fascistas italianos. De forma provocativa, na cerimônia em comemoração aos lutadores da resistência de Roma de setembro de 1943, La Russa evocou a memória dos fascistas que ficaram ao lado de Mussolini após a tomada de Roma.

Assim, em 8 de Setembro, durante a cerimônia em que o Presidente Giorgio Napolitano afixou a coroa de louros no memorial dos partidários de Roma, na Porta San Paolo, La Russa declarou que, de sua parte, sentiu-se obrigado a também recordar a importância dos soldados que serviram à “República Social Italiana”.

Disse ele: “Eu não estaria respeitando minha consciência caso não oferecesse meu prestígio aos soldados da República Social de Saló, os quais — do seu ponto de vista — também lutavam por valores de sua terra natal e resistiram ao avanço dos Anglo-Americanos na Itália. Eles também ganham respeito de todos aqueles que consideram objetivamente a história da Itália”.

Uma pequena revisão histórica: Em 8 de Setembro de 1943, o cabeça do Estado italiano, Pietro Badoglio, acordou um armistício com as forças aliadas, que estavam na Sicília e no sul da Itália. O exército alemão reagiu cercando Roma, libertando Mussolini da fortaleza onde estava detido e colocando-o a frente da nova República de Saló, fundada no norte da Itália. Enquanto Badoglio e o Rei fugiam para o sul, sob o controle dos aliados, 800 mil soldados italianos eram desarmados pelas tropas nazistas.

Restou aos partidários defender a capital italiana, numa série de heróicas campanhas contra as tropas nazistas. Lutaram por nove meses até que Roma fosse libertada pelo avanço das tropas aliadas. Durante esse tempo, também aumentaram grandemente as deportações de judeus italianos para os campos de concentração alemães (debaixo do nariz do vaticano!).

Ignacio Benito Maria La Russa, cujo nome do meio é o mesmo do ditador fascista Benito Mussolini, é o presidente da Aliança Nacional, um dos partidos da aliança de direita de Beslusconi, “Povo da Liberdade” (PDL). Em maio, foi apontado para o cargo de secretário de defesa. Como seu pai, La Russa foi ativo no principal partido fascista do pós-guerra, o Movimento Social Italiano (Movimento Sociale Italiano — MSI), precursor da Aliança Nacional.

La Russa é o ministro no governo de Berlusconi atualmente responsável por colocar soldados em todo o país, transformando antigos quartéis militares em campos de internação para imigrantes “ilegais”, onde são vigiados pelo exército.

Seguindo a reeleição de Berlusconi, membros do pós-fascista Aliança Nacional têm assumido altas posições dentro do país. La Russa é o secretário de defesa, enquanto o presidente da AN, Gianfranco Fini, é também o presidente da Câmara de Deputados italiana. O novo prefeito de Roma é Gianni Alemanno, também de passado fascista.

Alemanno, inclusive, também defendeu recentemente o fascismo. Numa entrevista ao jornal Corriere della Será, antes de ir para Israel visitar o santuário memorial do Holocausto, Yad Vashem, Alemanno declarou que o fascismo também possuiu um lado bom e que foi a Alemanha de Hitler que realizou o verdadeiro estrago, ao impor para a Itália as leis raciais de 1938.

“Fascismo foi um fenômeno mais complexo”, declarou Alemanno. “Muitos [de seus apoiadores] eram de boa fé. Absolutamente ruins foram as leis raciais adotadas pelo fascismo, que selou seu destino cultural e político”. Essas leis, segundo ele, foram uma “concessão ao nazismo”, e não se originaram do fascismo.

Quando jovem, Gianni Alemanno foi membro da ”frente jovem” do MSI, partido que representava a ligação direta com o fascismo de Benito Mussolini. Foi casado com a filha de Pino Rauti, um membro fundador do MSI, e, em 1956, montou a organização terrorista de direita Ordine Nuovo. Alemanno foi eleito como o primeiro prefeito de direita de Roma desde a Segunda Guerra Mundial, apenas duas semanas após a eleição parlamentar trazer o poder para a coalizão de Berlusconi.

As declarações de La Russa e Alemanno refutam o pretexto oficial de que a Aliança Nacional, sob da presidência de Gianfrando Fini, passou por uma “limpeza” e subsequentemente se dissociou do fascismo. Em 2003, Fini declarou, durante uma visita a Yad Vashem, que o fascismo é “absolutamente mau”, numa tentativa de dar um caráter mais respeitável ao seu partido.

A última tentativa de reabilitar o fascismo é baseada em premissas inteiramente fraudulentas. Não somente Mussolini perseguiu brutalmente seus oponentes políticos, aboliu as eleições livres e os sindicatos italianos, conduziu uma sangrenta guerra colonial e militarizou toda a sociedade — a descriminação racial também é um componente integral do fascismo italiano. Italianos arianos e descendentes de judeus foram proibidos de viverem juntos, eslavos foram considerados inferiores e o regime de Mussolini tentou introduzir um controle de natalidade, buscando uma “pureza racial”. No curso de conduzir a guerra contra a Abissínia, o governo fascista de Roma tentou, também, justificar seu ataque com gás contra a população nativa argumentando que os abissínios eram uma raça “inferior”.