Publicado originalmente em inglês no WSWS em 16 de
setembro de 2008.
Nos meses em que retornou ao poder, a ala direita do governo
italiano tem aumentado, explicitamente, o número de pronunciamentos
políticos. Membros proeminentes da coalizão majoritária,
liderada por Silvio Berlusconi (Primeiro-ministro da Itália)
têm recentemente lançado uma articulada campanha
de reabilitação do facismo.
Foi Beslusconi quem disparou o primeiro tiro, pouco após
assumir o cargo de primeiro ministro. Em 25 de Abril, feriado
nacional italiano que marca a libertação do país
contra o fascismo, Berlusconi declarou que, mesmo sendo apropriado
reconhecer o valor da resistência antifascista (Resistenza),
também é necessário entender os motivos dos
Ragazzi di Salò [Rapazes de Saló].
Beslusconi se referia aos soldados italianos que defenderam
a República de Saló, de Benito Mussolini.
A assim chamada República Social Italiana,
estabelecida pelos fascistas, existiu de 1943 a 1945, sob a proteção
militar do regime nazista alemão no norte da Itália.
Comentários similares foram feitos na primavera, durante
a campanha eleitoral do empresário e senador Giuseppe Ciarrapico,
amigo próximo de Berlusconi. A República Social
Italiana nunca enviou ninguém a campos de concentração;
os alemães é que são os culpados, declarou
Ciarrapico.
Agora, o secretário de defesa Ignazio La Russa também
expressou sua admiração pelos fascistas italianos.
De forma provocativa, na cerimônia em comemoração
aos lutadores da resistência de Roma de setembro de 1943,
La Russa evocou a memória dos fascistas que ficaram ao
lado de Mussolini após a tomada de Roma.
Assim, em 8 de Setembro, durante a cerimônia em que o
Presidente Giorgio Napolitano afixou a coroa de louros no memorial
dos partidários de Roma, na Porta San Paolo, La
Russa declarou que, de sua parte, sentiu-se obrigado a também
recordar a importância dos soldados que serviram à
República Social Italiana.
Disse ele: Eu não estaria respeitando minha consciência
caso não oferecesse meu prestígio aos soldados da
República Social de Saló, os quais do seu
ponto de vista também lutavam por valores de sua
terra natal e resistiram ao avanço dos Anglo-Americanos
na Itália. Eles também ganham respeito de todos
aqueles que consideram objetivamente a história da Itália.
Uma pequena revisão histórica: Em 8 de Setembro
de 1943, o cabeça do Estado italiano, Pietro Badoglio,
acordou um armistício com as forças aliadas, que
estavam na Sicília e no sul da Itália. O exército
alemão reagiu cercando Roma, libertando Mussolini da fortaleza
onde estava detido e colocando-o a frente da nova República
de Saló, fundada no norte da Itália. Enquanto Badoglio
e o Rei fugiam para o sul, sob o controle dos aliados, 800 mil
soldados italianos eram desarmados pelas tropas nazistas.
Restou aos partidários defender a capital italiana,
numa série de heróicas campanhas contra as tropas
nazistas. Lutaram por nove meses até que Roma fosse libertada
pelo avanço das tropas aliadas. Durante esse tempo, também
aumentaram grandemente as deportações de judeus
italianos para os campos de concentração alemães
(debaixo do nariz do vaticano!).
Ignacio Benito Maria La Russa, cujo nome do meio é o
mesmo do ditador fascista Benito Mussolini, é o presidente
da Aliança Nacional, um dos partidos da aliança
de direita de Beslusconi, Povo da Liberdade (PDL).
Em maio, foi apontado para o cargo de secretário de defesa.
Como seu pai, La Russa foi ativo no principal partido fascista
do pós-guerra, o Movimento Social Italiano (Movimento Sociale
Italiano MSI), precursor da Aliança Nacional.
La Russa é o ministro no governo de Berlusconi atualmente
responsável por colocar soldados em todo o país,
transformando antigos quartéis militares em campos de internação
para imigrantes ilegais, onde são vigiados
pelo exército.
Seguindo a reeleição de Berlusconi, membros do
pós-fascista Aliança Nacional têm assumido
altas posições dentro do país. La Russa é
o secretário de defesa, enquanto o presidente da AN, Gianfranco
Fini, é também o presidente da Câmara de Deputados
italiana. O novo prefeito de Roma é Gianni Alemanno, também
de passado fascista.
Alemanno, inclusive, também defendeu recentemente o
fascismo. Numa entrevista ao jornal Corriere della Será,
antes de ir para Israel visitar o santuário memorial do
Holocausto, Yad Vashem, Alemanno declarou que o fascismo também
possuiu um lado bom e que foi a Alemanha de Hitler que realizou
o verdadeiro estrago, ao impor para a Itália as leis raciais
de 1938.
Fascismo foi um fenômeno mais complexo, declarou
Alemanno. Muitos [de seus apoiadores] eram de boa fé.
Absolutamente ruins foram as leis raciais adotadas pelo fascismo,
que selou seu destino cultural e político. Essas
leis, segundo ele, foram uma concessão ao nazismo,
e não se originaram do fascismo.
Quando jovem, Gianni Alemanno foi membro da frente jovem
do MSI, partido que representava a ligação direta
com o fascismo de Benito Mussolini. Foi casado com a filha de
Pino Rauti, um membro fundador do MSI, e, em 1956, montou a organização
terrorista de direita Ordine Nuovo. Alemanno foi eleito
como o primeiro prefeito de direita de Roma desde a Segunda Guerra
Mundial, apenas duas semanas após a eleição
parlamentar trazer o poder para a coalizão de Berlusconi.
As declarações de La Russa e Alemanno refutam
o pretexto oficial de que a Aliança Nacional, sob da presidência
de Gianfrando Fini, passou por uma limpeza e subsequentemente
se dissociou do fascismo. Em 2003, Fini declarou, durante uma
visita a Yad Vashem, que o fascismo é absolutamente
mau, numa tentativa de dar um caráter mais respeitável
ao seu partido.
A última tentativa de reabilitar o fascismo é
baseada em premissas inteiramente fraudulentas. Não somente
Mussolini perseguiu brutalmente seus oponentes políticos,
aboliu as eleições livres e os sindicatos italianos,
conduziu uma sangrenta guerra colonial e militarizou toda a sociedade
a descriminação racial também é
um componente integral do fascismo italiano. Italianos arianos
e descendentes de judeus foram proibidos de viverem juntos, eslavos
foram considerados inferiores e o regime de Mussolini tentou introduzir
um controle de natalidade, buscando uma pureza racial.
No curso de conduzir a guerra contra a Abissínia, o governo
fascista de Roma tentou, também, justificar seu ataque
com gás contra a população nativa argumentando
que os abissínios eram uma raça inferior.