A declaração a seguir está sendo distribuída
pela ISSE durante a semana dos calouros nos campi de universidades
por todo Reino Unido
Um novo ano universitário inicia-se inserido num ataque
sem precedentes aos direitos democráticos dos estudantes
e acadêmicos.
Desde os ataques terroristas nos EUA de setembro de 2001 e
particularmente após os bombardeios em Londres de julho
de 2005, os campi têm sido oficialmente declarados, pelo
Governo Trabalhista, como pontos de insurgência do terrorismo
e do extremismo.
Sob o pretexto de guerra ao terror, o Governo Trabalhista tem
cortado os direitos democráticos com a Lei de Prevenção
ao Terrorismo de 2005, a Lei do Terrorismo de 2006 e, agora, a
legislação anti-terror introduzida em
2007 e 2008. A mais recente legislação, a Lei
Contra o Terrorismo, de 2008, aumentou o período
máximo em que um suspeito pode ficar detido sem acusação
de 28 para 42 dias, eliminou a proibição de interrogatório
após acusação e retirou o direito ao silêncio
de proteção. Dentro dessa legislação,
o hábeas corpus nenhuma prisão sem julgamento
foi revogado.
Em setembro de 2005 o professor Anthony Glees, diretor do Brunel
Centre for Intelligence and Security Studies (BCISS) da Universidade
de Brunel, foi co-autor de um boletim publicado pela Social
Affairs Unit (unidade do serviço de inteligência
britânico) intitulado Quando estudantes inclinam-se
ao Terror: atividade terrorista e extremista nos campi britânicos.
Glees é um acadêmico proeminente no campo de inteligência
e segurança e seu trabalho é estudado de perto pelo
Governo Trabalhista.
Seu boletim afirma que um bom número de universidades
britânicas deve tornar-se, e deve continuar a ser,
um porto seguro, livre das idéias e recrutas terroristas.
Dos 195 incidentes citados no boletim, no qual uma ameaça
terrorista ou extremista foi detectada
no campus, cerca de 100 dessas citações são
baseadas em boletins de jornais sensacionalistas. Lista um número
de casos em que os estudantes, ao final, não foram acusados
de qualquer crime ou foram absolvidos de todas as acusações.
Ilegitimamente, quase toda atividade política é
considerada como terrorista em potencial desde as atividades
dos grupos fundamentalistas islâmicos, aquelas do fascista
Partido Nacional Britânico até os grupos de proteção
animal.
Na verdade, visam especificamente a esquerda, as idéias
socialistas, como podemos ver na afirmação do boletim:
Ao invés de incentivar os estudantes a refletirem
sobre os valores e virtudes da democracia liberal, as universidades
ensinam temas ou ferramentas teóricas para a compreensão
do mundo como o marxismo, por exemplo que encoraja
os estudantes a acreditar que a Inglaterra e outros estados do
oeste estão em seu declínio final. Saindo do campus
para a mesquita, os estudantes, influenciados por seu professores,
podem cair sob influência dos mullahs [religiosos islâmicos]
radicais.
O boletim recomenda, também, que as universidades revejam
todos os cursos que possam enaltecer ou glorificar uma revolução
violenta.
A proibição das discussões políticas
não são meramente verbais, estão acompanhadas
da retirada das liberdades democráticas. Em outubro de
2006, Glees escreveu: Os acadêmicos devem pensar o
impensável. Nós não devemos cegar-nos pelo
politicamente correto. As pessoas precisam falar. A Inglaterra
é um país que está em guerra,
continuou ele, alegando que a Convenção Européia
dos Direitos Humanos deve ser jogada fora e modificada internamente:
A modificação deve ser discutida. Nela não
haveria coisas que não seriam consideradas se elas
podem ajudar.
O Governo somente tem agradecido. Com o lançamento do
boletim de Glees, a então secretária da educação,
Ruth Kelly, declarou que as universidades agora têm
o dever de informar à polícia onde acreditam
que os estudantes ou docentes estariam infringindo a lei ou cometendo
possíveis atos criminais.
Um documento guia de 2006 do Departamento da Educação
e Habilidades afirmou que as instituições de ensino
superior tinham a responsabilidade de relatar e contatar a Special
Branch (divisão da polícia britânica que lida
com questões de segurança nacional) em relação
a atividades relacionadas ao terrorismo, acrescentando:
A Special Branch está consciente de que muitas HEIs
[instituições de ensino superior] terão um
bom número de preocupações para trabalhar
conjuntamente com ela. Em algumas preocupações comuns,
as instituições serão vistas como colaboradoras
da polícia secreta.
Ao final de 2007, o governo lançou uma emenda dizendo
como as universidades deveriam trabalhar com a polícia
para cortar pela raiz o terrorismo dos campi. O documento
afirmava: Se uma universidade ou qualquer instituição
de ensino superior suspeitar que um crime tem sido ou é
possível de ser cometido, então um boletim deve
ser feito à polícia. Os servidores educacionais
devem ter uma política de liberação das informações
do estudante que deve ser seguida.
Prisões de estudantes e grupos universitários
O resultado é que as universidades estão, agora,
intimamente envolvidas na espionagem e monitoramento rotineiro
das atividades políticas dos estudantes.
Os estudantes de islâmicos foram os alvos imediatos dessa
vigilância. Muitos estudantes têm sido presos sob
a seção 41 da Lei do Terrorismo suspeito
de incitação, preparação e execução
de atos terroristas.
Tal linguagem está deliberadamente em aberto e tem sido
utilizada para prender multidões de suspeitos de
terror com os pretextos mais falsos. Nesse ano, Hammaad
Munshi foi a pessoa mais jovem a ser presa sob a Lei do Terrorismo.
Munshi tinha apenas 16 anos e estava nas provas finais do ano
quando foi preso depois da polícia achar em seu computador
um manual de como fazer napalm.
O perfil mais alto das prisões foram aquelas de Rizwaan
Sabir e Hitcham Yezza. O estudante de Universidade de Nottingham,
Rizewaan Sabir, e o funcionário da universidade, Hicham
Yezza, foram ambos presos no dia 14 de maio de 2008, sob a Lei
de Terrorismo de 2000.
Sabir também é um estudante de Política,
que planeja terminar seu mestrado sobre o extremismo islâmico
e a rede internacional terrorista. Pesquisava sobre A aproximação
americana ao Al Qaeda no Iraq. Como parte de seu estudo,
ele fez o download do site do governo dos EUA de uma cópia
do manual de treinamento da Al Qaeda. O documento pode ser adquirido
no Amazon.com.
Sabir não foi autorizado a imprimir o documento por
si só, então ele mandou o documento ao seu amigo
Yezza. Algum tempo depois, um membro do corpo docente da universidade
contatou a polícia afirmando que o manual fora visto no
computados de Yezza.
A polícia prendeu Sabir e Yezza e eles foram mantidos
presos por seis dias antes de serem liberados sem qualquer acusação.
Yezza foi interrogado na prisão por aproximadamente 20
horas. Foi então preso novamente sob acusações
da imigração e mantido por mais 31 dias na detenção.
Agora está sendo ameaçado de deportação
para Argélia e aguarda o julgamento.
As autoridades da Universidade de Nottingham têm sistematicamente
recusado defender ou ao menos perdoar Sabir ou Yezza e tem repetidamente
afirmado seu apoio às ações da polícia.
O vice-reitor, Sir Colin Campbell, afirmou que outras prisões
com o mesmo pretexto são possíveis de acontecer
e tomar lugar nas universidades. Não há direito
para quem acessa ou pesquisa materiais terroristas, disse
ele. Aqueles que o fazem, sofrem o risco de serem investigados
e processados sob acusação de terrorismo.
A defesa dos direitos democráticos baseada
numa perspectiva socialista.
A Internacional Estudantil pela Igualdade Social, ISSE, é
uma organização estudantil do Comitê Internacional
da Quarta Internacional, o movimento trotskista mundial. A ISSE
tem o objetivo de construir um movimento socialista internacionalista
de estudantes e trabalhadores em oposição à
violência militar, desigualdade social e ataque aos direitos
democráticos.
A ISSE chama pelo fim de toda a legislação anti-terror,
da espionagem patrocinada pelo Estado e da perseguição
e prisão dos estudantes e acadêmicos no campus.
Este amplo ataque às liberdades civis está diretamente
ligado à transferência sem precedentes dos bens da
classe trabalhadora aos ricos e à agenda relacionada ao
militarismo e ao novo estilo colonial de guerras de conquista.
O trabalhismo do primeiro ministro Tony Blair e Gordon Brown
já colocou a Inglaterra em três grandes aventuras
militares na ex-Iugoslávia, no Afeganistão
e no Iraque. Hoje está conspirando ativamente com Washington
em sua escalada de confrontos contra o Irã e a Rússia.
Essas guerras estão assegurando o controle do petróleo
e outros recursos essenciais para o financiamento da elite financeira
mundial.
A política interna também é ditada pela
mesma elite e por suas demandas impostas pelos governos nacionais,
tais como os cortes nos salários, aumento na exploração,
corte dos serviços públicos e condições
de bem-estar social.
A oligarquia financeira, representada pelos principais partidos
parlamentares, está plenamente consciente de que uma agenda
profundamente impopular só poderá ser implementada
através de formas ditatoriais de governo.
No período próximo, as leis aprovadas em nome
da luta contra o terrorismo serão utilizadas contra a maioria
da população primeiramente contra aqueles
que procurarão defender sua sobrevivência contra
as grandes corporações e o governo.
Como é possível defender os direitos democráticos
e as liberdades civis? A ISSE insiste que isso não poder
ser feito somente pelos estudantes. Os estudantes devem combinar
suas lutas com os trabalhadores.
Esses direitos fundamentais só foram obtidos depois
de amargas lutas políticas da classe trabalhadora no desenrolar
de muitos séculos. Em todas essas lutas sociais, desempenharam
um papel imprescindível porque entenderam que a extensão
da democracia genuína significa a criação
de uma sociedade livre de opressão, pobreza e miséria.
Hoje, a defesa dos direitos democráticos requer, acima
de tudo, a construção de um novo e genuíno
partido socialista. A ISSE está determinada a construir
tal movimento, o Partido da Igualdade Social e seu braço
internacional, o Comitê Internacional da Quarta Internacional.
Chamamos todos os estudantes a apoiarem a ISSE e tomar a decisão
de unir-se a nós pela construção de comitês
da ISSE em suas universidades ou colégios.