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Federal Reserve dos EUA injeta 85 bilhões de dólares para salvar a gigante dos seguros AIG

Por Bill Van Auken
24 de setembro de 2008

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Publicado originalmente em inglês, no WSWS, em 17 de Setembro de 2008.

Seguindo as consultas de emergência entre o Federal Reserve, o Departamento de Tesouro dos EUA e os líderes democratas das duas casas do Congresso, o Federal Reserve anunciou, na terça-feira à noite, o resgate da gigante dos seguros de Wall Street, a American Internacional Group (AIG).

Segundo reportagens do New York Times e do Wall Street Journal, com o plano de emergência o Fed fornecerá US$85 bilhões à empresa prestes a falir. Em troca, dominará 80% de seus ativos.

O resgate financeiro anunciado é uma reversão da política adotada pelo governo federal no último final de semana, quando se negou a intervir e impedir a falência do Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimento do país. Segundo o Journal, os funcionários do governo acreditavam que “seria catastrófico permitir a falência da AIG”.

O jornal noticiou que o presidente do Fed, Ben Bernanke, e o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, “concluíram que a assistência federal seria necessária para evitar a falência na AIG, que temiam ter repercussões desastrosas em todo o mercado financeiro”.

O resgate financeiro é mais uma demonstração da crise sistemática pela qual passam todos os americanos e o mundo capitalista. É sem precedentes e, em alguns aspectos, vai além da nacionalização da Fannie Mae e Freddie Mac, realizada cerca de uma semana atrás. Diferentemente das duas gigantes hipotecárias, a AIG não é uma instituição apoiada pelo governo e não é regulada, diretamente, pelo governo federal.

A pressão pelo resgate da AIG cresceu após ter sua classificação diminuída por três grandes agências de rating na segunda-feira à noite, aumentando a perspectiva de que perdesse muitos empréstimos.

Era temido que a falência da AIG, com US$1 trilhão em ativos, desencadeasse um efeito dominó, ameaçando falências bancárias e corporativas por todo o mundo. A AIG é uma das maiores empresas no mercado mundial não regulamentado (estimado em US$ 62 trilhões) que trabalha com créditos de risco, ou seja, contratos privados onde empresas como a AIG garantem a dívida, incluindo obrigações hipotecárias, detida por outras empresas.

Enquanto uma companhia de seguros, a AIG empenhou-se no mesmo parasitismo financeiro que todo o resto de Wall Street, investindo pesado em seguros de hipotecas e escrituras derivadas da Obrigação com Dívida Colateralizada (CDO’s, na sigla em Inglês) manchadas pela exposição ao subprime.

Agora, mais uma vez, milhões de trabalhadores comuns serão forçados a pagar o preço por essa absurda especulação em busca de lucros gigantescos.

A AIG foi forçada, nas últimas semanas, a adquirir massivas quedas em seus ativos. Em agosto, a companhia anunciou os resultados de seu segundo trimestre, que incluíam perdas incríveis de US$25 bilhões em seus derivativos.

A intervenção do governo na AIG seguiu a falência, durante o final de semana, de dois dos maiores bancos de investimentos de Wall Street. A falência do Lehman Brothers e a aquisição da Merrill Lynch pelo Bank Of America lançaram ondas de choque nos mercados financeiros de todo o mundo, levantando o temor do desencadeamento de falências bancárias.

Uma fuga de capitais a nível mundial expressou-se, terça-feira, na queda de 504 pontos nas bolsas de Wall Street, a maior em um único dia desde os ataques de 11 de setembro de 2001.

Em resposta à crise financeira que se aprofunda, o Federal Reserve e seus respectivos na Europa e Ásia despejaram milhares de bilhões de dólares em crédito na economia. Entre eles, o Fed, o Banco Central Europeu, o Banco da Inglaterra e o Banco do Japão puseram $210 bilhões nos mercados na terça-feira, numa tentativa de prevenir uma explosão do sistema de crédito global. Bancos Centrais na Índia e Austrália também realizaram grandes injeções em seus sistemas bancários.

O sinal imediato para a massiva infusão de dinheiro vivo foi a duplicação da taxa de empréstimo interbancário ao início da falência do Lehman Brothers. O aumento agudo nas taxas de empréstimos a curto prazo, que bateu a alta de 6.79% em sete anos, gerou a preocupação de que a AIG seguiria o Lehman na falência, arrastando instituições do mundo financeiro com milhares de bilhões de dólares em perdas de créditos derivativos.

O aumento da taxa dos empréstimos interbancários levou ao declínio do mercado de ações, com os investidores desfazendo-se dos fundos financeiros. Na terça-feira, o FTSE 100 de Londres caiu quase 5.000 pela primeira vez em sete anos e o HBOS, o maior concessor de empréstimos hipotecários da Inglaterra, viu suas ações caírem cerca de 40%.

O mercado de ações de Tóquio caiu mais de 4%, enquanto em Paris e Frankfurt os mercados caíram mais de 2%. Na Rússia, o mercado de ações mais importante do país interrompeu seus negócios depois de sofrer perdas de 11.47%.

A diretoria do Federal Reserve chocou Wall Street na tarde de terça-feira [16.09] deixando inalteradas as taxas de juros dos EUA. Especulava-se nos mercados financeiros que o Fed cortaria suas taxas de juros federais em mais de 75 pontos-base, tendo em conta o aprofundamento da crise de créditos.

A declaração emitida pelo Banco Central dos EUA, anunciando sua decisão, criou uma imagem terrível da economia norte-americana. “A tensão dos mercados financeiros aumentaram significantemente e o mercado de trabalho se enfraqueceu ainda mais”, afirmou o banco. “Condições estreitas de crédito, diminuição progressiva nos contratos imobiliários e alguns abrandamentos no crescimento de exportação são como um peso para o crescimento da economia ao longo dos próximos trimestres.”

Os igualmente citados “aumentos nos preços da energia e algumas outras commodities” deixaram a perspectiva de inflação “altamente incerta”. Concluiu-se que os “riscos de queda no crescimento, bem como os riscos de aumento da inflação, são bastante significativos”.

A decisão de não atender as demandas do mercado de ações foi atribuída por alguns analistas à convicção do Fed de que, dada a profundidade da crise bancária, baixar a taxa de juros teria um pequeno ou nenhum efeito em termos de geração de crédito para a economia.

“Você poderia cortar a taxa de juros do Fed de 2% para 1.5%. Não gerará mais nenhum empréstimo. O Sistema bancário não tem capital base para emprestar”, disse George Feiger, chefe executivo do Contango Capital Advisors em Berkley, Califórnia, à agencia de notícia Reuters.

O anúncio da decisão da Fed provocou vaias sustentadas da New York Stock Exchange (NYSE). As ações reiniciaram sua queda antes de saltarem novamente ao fim da tarde. O índice Dow Jones Industrial Average conseguiu fechar em 1.3%, ou 141.5 pontos, ao fim do dia.

A maioria dos analistas, desde segunda-feira, viu o controle do declínio dramático do mercado como uma resposta às previsões de que o governo promoveria o resgate da AIG.

Nervosas negociações das ações da empresa agitaram o mercado. Num dado momento do dia, as ações da AIG perderam 74%, caindo para $1.25, se comparados à alta de US$70 de um ano atrás. Ao final do dia, fecharam em queda de 21.2%.

Diante desses acontecimentos, houve o reconhecimento de setores da elite dominante, bem como da grande mídia internacional, de que o capitalismo enfrenta uma crise de dimensões históricas.

Comparações com o princípio da Grande Depressão dos anos 30 foram freqüentes.

O Financial Times de Londres, a voz sóbria do capital financeiro britânico, comentou em seu editorial na terça-feira: “O mundo não acabou. A economia internacional ainda não faliu. Mas uma coisa agora está muito clara: o sistema bancário, como nós o conhecemos, faliu”.

Denúncias do sistema financeiro americano, bem como da ideologia de “livre mercado” que Washington tentou impor ao resto do mundo durante várias décadas, também foram preponderantes.

Na Alemanha, o Frankfurter Rundschau afirmou: “Os americanos estão expondo o mundo a um experimento perigoso. Por razões ideológicas, eles não querem salvar outro banco com dinheiro de contribuintes e nacionalizá-lo. Estão aceitando o risco de que essa política poderá custar mais dinheiro e gerar revoltas que ninguém nunca sequer ousou imaginar”.

O jornal alemão acrescentou: “Se as coisas piorarem rapidamente, os contribuintes europeus... terão de pagar bilhões de euros para salvar bancos locais. Os retornos ao seguro de vida e outras provisões cairão rapidamente e a crise trará à Europa milhões de desempregados. Obrigado América!”.

Por seu lado, o Wall Street Journal, o firme defensor do “livre mercado” capitalista, publicou um editorial intitulado “Sobrevivendo ao pânico”. Defendia uma massiva intervenção do governo para comprar todos os ativos sem valor das imobiliárias de Wall Street e garantir, assim, seus lucros conjuntamente aos milhões de dólares vindos dos rendimentos de seus principais executivos.

O jornal alertou de maneira preocupante: “A falência dos principais bancos é certa, incluindo alguns muito grandes”.

A solução? Segundo o jornal: A reestruturação de uma nova Resolution Trust Corporation, similar àquela criada durante a crise de poupança e empréstimos dos anos 80, que “proveria um comprador de seguros inexistente no mercado”. Em outras palavras, o artifício do Tesouro dos EUA seria preparar o resgate dos maiores investidores de Wall Street e dos CEOs que fizeram bilhões com a bolha especulativa imobiliária, que agora explodiu e precipitou a maior crise financeira desde os anos 30, afetando milhões de trabalhadores com a perda de seus empregos e suas casas.

O jornal de Wall Street não forneceu nenhuma indicação de como pagaria tal socorro aos ricos. Sem dúvida, a resposta virá após as eleições de novembro, sob a forma de um feroz ataque aos padrões de vida da classe trabalhadora e a destruição do restante da rede de seguro social americana, incluído, no âmbito da saúde, o Medicare e o Medicaid.