Publicado originalmente em inglês no wsws.org em 24
de outubro de 2008
Indicadores do agravamento da crise social nos EUA aparecem
diariamente na medida em que a queda da economia acerta ainda
mais empregos. Mais demissões foram anunciadas ontem nos
EUA e em todo mundo. Novos dados também foram publicados,
mostrando o aumento acentuado do número de famílias
americanas que perderam seus imóveis através da
execução das hipotecas, diminuindo ainda mais os
preços imobiliários.
Um apanhado geral feito pela Reuters de algumas empresas que
têm anunciado as maiores demissões nos dois últimos
anos incluem:
Chrysler, que anunciou mais 1.825 demissões na
quinta-feira;
Goldman Sachs, que anunciou que cortará 10% de
seus funcionários, aproximadamente 3.300 empregos;
A empresa de biotecnologia Maxygen, que cortará
cerca de 30% de sua força de trabalho;
Janus Capital Group, que está demitindo 9% de
sua força de trabalho;
Xerox disse ontem que cortará 5% de seus funcionários,
ou 3.000 empregos;
A produtora de equipamentos de mineração,
Terex Corporation, que está demitindo centenas de seus
trabalhadores;
A United Parcel Service, que anunciou planos para cortar
um número ainda não especificado de empregos no
próximo ano;
A Fidelity National Financial Inc., que anunciou que
cortará 1.000 empregos e diminuirá o salário
dos que ficarem em 10%;
O conglomerado de serviços financeiros, Popular
Inc., que está cortando 600 empregos e fechando mais de
um quarto de suas seções nos EUA.
O Departamento de Trabalho dos EUA informou que os pedidos
de Seguro Desemprego aumentaram de 15.000 para 478.000 na última
semana de Outubro, significativamente maior do que o previsto
pelos economistas. Um ano atrás, os pedidos estavam, no
total, em 333.000.
O Departamento do Trabalho também revelou que o ajuste
dos salários no período de inflação
para trabalhadores de cargos mais baixos caiu cerca de 1.9% nos
doze meses antes de setembro. Esse número extraordinário
indica a extensão em que a classe trabalhadora está
sendo cada vez mais fragilizada com a crise financeira e a recessão.
O Washington Post relatou ontem que as agências de empregos
temporários estão recebendo números ainda
maiores de solicitações de pessoas que procuram
emprego, inclusive pessoas que têm trabalho atualmente,
mas temem perder seus empregos. O artigo apontou que muitos trabalhadores
desesperados "também estão dispostos a receber
menos dinheiro, mesmo que o custo de vida suba". Um exemplo
foi o "call center", que pagava US$ 9/hora no ano passado
e agora paga US$ 8.50.
Trabalhadores da indústria automobilística continuam
a suportar grande parte do peso crescente dos ataques aos empregos
e condições de vida. A Chrysler anunciou 1.825 demissões
através da eliminação de um turno em uma
fábrica em Toledo, Ohio, e disse que anteciparia a data
do fechamento de uma fábrica em Newark, Delaware, que tinha
programado fechar em dezembro de 2009.
A Chrysler publicou números ontem que revelam ter perdido
mais de US$1 bilhão nos primeiros seis meses de 2008. Standard
and Poor's disse que tanto a Chrysler quanto a GM podem ficar
sem dinheiro em 2009, por causa da maior queda nas vendas automobilísticas
desde 1991.
A Daimler AG da Alemanha, que tem uma participação
de 19,9% na Chrysler, disse ontem que revisava o valor de seus
livros para zero. Trata-se de grande queda se comparado aos US$
220 milhões de três meses atrás e US$ 1.2
bilhões ao final do ano de 2007.
A GM passa, igualmente, por forte crise. Um analista da JPMorgan
disse à Reuters que espera que a empresa perca mais de
US$ 12 bilhões no próximo ano. Assim como a Chrysler,
a GM corta custos tendo em vista uma possível fusão
entre as duas empresas.
A GM anunciou quarta-feira que pensa em vender a AC Delco,
sua filial internacional, uma medida que conduzirá inevitavelmente
a mais cortes de empregos. A empresa também suspenderá
muitos benefícios dos funcionários.
Os cortes de empregos também aumentam na indústria
automobilística européia. A Volvo AB da Suécia
disse ontem que demitirá mais 850 trabalhadores em sua
unidade de equipamentos de construção. Isso segue
o anúncio anterior de 500 demissões na mesma unidade,
assim como 1.400 notificações de demissões
emitidas aos trabalhadores das fábricas de caminhões
na Suécia e Bélgica.
O alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung relatou que
a Volkswagen planeja cortar a maioria ou todos os seus 25.000
funcionários temporários. Um porta-voz da Volkswagen
negou o dito pelo jornal, insistindo que ainda não havia
sido tomada nenhuma decisão.
Conselheiros do governo polonês estimaram que um terço
dos 1.2 milhões de trabalhadores poloneses na Inglaterra
e Irlanda, ou seja, 400.000 pessoas, também retornará
à Polônia, ou se mudará para outro país
em busca de emprego. Segundo algumas reportagens, o êxodo
já começou, com milhares de trabalhadores poloneses
mudando-se em resposta às demissões ou à
baixa taxa de troca da libra britânica, que tem reduzido
drasticamente o valor do salário dos trabalhadores imigrantes
mandados de volta às suas famílias.
Trabalhadores em países de toda Europa também
são afetados com o rápido declínio dos preços
imobiliários e o aumento dos despejos. Mas em nenhum outro
lugar a crise está mais severa que nos EUA.
Uma pesquisa realizada ontem pela RealtyTrac revelou que o
número de despejos ficou em 765.000 nos últimos
três meses, totalizando em setembro um aumento de 71% em
relação ao terceiro trimestre em 2007. Seis estados
dos EUA Nevada, Califórnia, Flórida, Ohio,
Michigan e Arizona são responsáveis por mais
de 60% dos despejos. Nevada registrou a taxa de execução
de hipoteca mais alta: uma em cada 82 propriedades sofreu despejo.
O relatório da RealtyTrac concluiu que os números
do terceiro trimestre provavelmente subestimam a situação.
Muitos estados aprovaram novas leis que suprimem artificialmente
as hipotecas de setembro, adiando temporariamente o impacto completo.
O aumento do desemprego acelerará ainda mais a catástrofe.
A empresa disse que 81.300 imóveis foram despejados
em setembro e um total de 851.000 foram recuperadas pelos credores
desde agosto de 2007.
Rod Dubitsky, diretor de valores imobiliários do Credit
Suisse, disse ao BusinessWeek esperar que mais de 5 milhões
de famílias americanas perderão seus imóveis
até 2012. Disse ainda que 1.69 milhões de famílias
perderá seus imóveis somente em 2008.
A queda nos valores das propriedades tem também atingido
os proprietários. Ao longo do último período,
o imóvel familiar foi amplamente considerado como o principal
bem para gerar fundos para a aposentadoria das pessoas, para a
educação universitária de seus filhos e até
mesmo para cobrir despesas imprevistas de saúde. Mas, ontem,
a Federal Housing Finance Agency relatou que os preços
dos imóveis em agosto eram 5.6% mais baixos do que no ano
anterior. A queda foi a maior registrada desde 1991, quando os
dados foram coletados pela primeira vez.