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Aumentam as demissões e despejos nos EUA

Por Patrick O'Connor
28 de outubro de 2008

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Publicado originalmente em inglês no wsws.org em 24 de outubro de 2008

Indicadores do agravamento da crise social nos EUA aparecem diariamente na medida em que a queda da economia acerta ainda mais empregos. Mais demissões foram anunciadas ontem nos EUA e em todo mundo. Novos dados também foram publicados, mostrando o aumento acentuado do número de famílias americanas que perderam seus imóveis através da execução das hipotecas, diminuindo ainda mais os preços imobiliários.

Um apanhado geral feito pela Reuters de algumas empresas que têm anunciado as maiores demissões nos dois últimos anos incluem:

— Chrysler, que anunciou mais 1.825 demissões na quinta-feira;

— Goldman Sachs, que anunciou que cortará 10% de seus funcionários, aproximadamente 3.300 empregos;

— A empresa de biotecnologia Maxygen, que cortará cerca de 30% de sua força de trabalho;

— Janus Capital Group, que está demitindo 9% de sua força de trabalho;

— Xerox disse ontem que cortará 5% de seus funcionários, ou 3.000 empregos;

— A produtora de equipamentos de mineração, Terex Corporation, que está demitindo centenas de seus trabalhadores;

— A United Parcel Service, que anunciou planos para cortar um número ainda não especificado de empregos no próximo ano;

— A Fidelity National Financial Inc., que anunciou que cortará 1.000 empregos e diminuirá o salário dos que ficarem em 10%;

— O conglomerado de serviços financeiros, Popular Inc., que está cortando 600 empregos e fechando mais de um quarto de suas seções nos EUA.

O Departamento de Trabalho dos EUA informou que os pedidos de Seguro Desemprego aumentaram de 15.000 para 478.000 na última semana de Outubro, significativamente maior do que o previsto pelos economistas. Um ano atrás, os pedidos estavam, no total, em 333.000.

O Departamento do Trabalho também revelou que o ajuste dos salários no período de inflação para trabalhadores de cargos mais baixos caiu cerca de 1.9% nos doze meses antes de setembro. Esse número extraordinário indica a extensão em que a classe trabalhadora está sendo cada vez mais fragilizada com a crise financeira e a recessão.

O Washington Post relatou ontem que as agências de empregos temporários estão recebendo números ainda maiores de solicitações de pessoas que procuram emprego, inclusive pessoas que têm trabalho atualmente, mas temem perder seus empregos. O artigo apontou que muitos trabalhadores desesperados "também estão dispostos a receber menos dinheiro, mesmo que o custo de vida suba". Um exemplo foi o "call center", que pagava US$ 9/hora no ano passado e agora paga US$ 8.50.

Trabalhadores da indústria automobilística continuam a suportar grande parte do peso crescente dos ataques aos empregos e condições de vida. A Chrysler anunciou 1.825 demissões através da eliminação de um turno em uma fábrica em Toledo, Ohio, e disse que anteciparia a data do fechamento de uma fábrica em Newark, Delaware, que tinha programado fechar em dezembro de 2009.

A Chrysler publicou números ontem que revelam ter perdido mais de US$1 bilhão nos primeiros seis meses de 2008. Standard and Poor's disse que tanto a Chrysler quanto a GM podem ficar sem dinheiro em 2009, por causa da maior queda nas vendas automobilísticas desde 1991.

A Daimler AG da Alemanha, que tem uma participação de 19,9% na Chrysler, disse ontem que revisava o valor de seus livros para zero. Trata-se de grande queda se comparado aos US$ 220 milhões de três meses atrás e US$ 1.2 bilhões ao final do ano de 2007.

A GM passa, igualmente, por forte crise. Um analista da JPMorgan disse à Reuters que espera que a empresa perca mais de US$ 12 bilhões no próximo ano. Assim como a Chrysler, a GM corta custos tendo em vista uma possível fusão entre as duas empresas.

A GM anunciou quarta-feira que pensa em vender a AC Delco, sua filial internacional, uma medida que conduzirá inevitavelmente a mais cortes de empregos. A empresa também suspenderá muitos benefícios dos funcionários.

Os cortes de empregos também aumentam na indústria automobilística européia. A Volvo AB da Suécia disse ontem que demitirá mais 850 trabalhadores em sua unidade de equipamentos de construção. Isso segue o anúncio anterior de 500 demissões na mesma unidade, assim como 1.400 notificações de demissões emitidas aos trabalhadores das fábricas de caminhões na Suécia e Bélgica.

O alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung relatou que a Volkswagen planeja cortar a maioria ou todos os seus 25.000 funcionários temporários. Um porta-voz da Volkswagen negou o dito pelo jornal, insistindo que ainda não havia sido tomada nenhuma decisão.

Conselheiros do governo polonês estimaram que um terço dos 1.2 milhões de trabalhadores poloneses na Inglaterra e Irlanda, ou seja, 400.000 pessoas, também retornará à Polônia, ou se mudará para outro país em busca de emprego. Segundo algumas reportagens, o êxodo já começou, com milhares de trabalhadores poloneses mudando-se em resposta às demissões ou à baixa taxa de troca da libra britânica, que tem reduzido drasticamente o valor do salário dos trabalhadores imigrantes mandados de volta às suas famílias.

Trabalhadores em países de toda Europa também são afetados com o rápido declínio dos preços imobiliários e o aumento dos despejos. Mas em nenhum outro lugar a crise está mais severa que nos EUA.

Uma pesquisa realizada ontem pela RealtyTrac revelou que o número de despejos ficou em 765.000 nos últimos três meses, totalizando em setembro um aumento de 71% em relação ao terceiro trimestre em 2007. Seis estados dos EUA — Nevada, Califórnia, Flórida, Ohio, Michigan e Arizona — são responsáveis por mais de 60% dos despejos. Nevada registrou a taxa de execução de hipoteca mais alta: uma em cada 82 propriedades sofreu despejo.

O relatório da RealtyTrac concluiu que os números do terceiro trimestre provavelmente subestimam a situação. Muitos estados aprovaram novas leis que suprimem artificialmente as hipotecas de setembro, adiando temporariamente o impacto completo. O aumento do desemprego acelerará ainda mais a catástrofe.

A empresa disse que 81.300 imóveis foram despejados em setembro e um total de 851.000 foram recuperadas pelos credores desde agosto de 2007.

Rod Dubitsky, diretor de valores imobiliários do Credit Suisse, disse ao BusinessWeek esperar que mais de 5 milhões de famílias americanas perderão seus imóveis até 2012. Disse ainda que 1.69 milhões de famílias perderá seus imóveis somente em 2008.

A queda nos valores das propriedades tem também atingido os proprietários. Ao longo do último período, o imóvel familiar foi amplamente considerado como o principal bem para gerar fundos para a aposentadoria das pessoas, para a educação universitária de seus filhos e até mesmo para cobrir despesas imprevistas de saúde. Mas, ontem, a Federal Housing Finance Agency relatou que os preços dos imóveis em agosto eram 5.6% mais baixos do que no ano anterior. A queda foi a maior registrada desde 1991, quando os dados foram coletados pela primeira vez.