Publicado originalmente em inglês no WSWS.org em 11
de outubro de 2008
O mercado mundial de ações afundou nessa sexta-feira
[10.10], terminando uma semana que viu a maior quebra nos valores
das ações desde 1929. A ameaça iminente de
depressão mundial serviu de cenário para uma reunião
dos ministros financeiros dos países industrializados do
G7, que se encontraram emergencialmente em Washington para conversar
com o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, e o
diretor do Federal Reserve Board, Ben Bernanke.
Depois de um dia de pânico nas vendas dos mercados da
Ásia, Europa e América Latina, e depois da violenta
oscilação no mercado de ações dos
EUA, o G7 publicou uma declaração em que se compromete
a colocar os recursos de seus respectivos países à
disposição dos bancos mais poderosos, mas não
conseguiu esboçar qualquer ação específica
ou coordenada para evitar um desastre econômico.
Paulson publicou uma declaração e realizou uma
coletiva de imprensa para anunciar que o governo dos EUA usaria
a autoridade praticamente ilimitada do resgate financeiro de US$
700 bilhões votado uma semana antes pelo Congresso Democrático,
para começar diretamente, assim, a comprar ações
em bancos e empresas financeiras, uma expansão da transferência
governamental dos fundos dos contribuintes para as mais poderosas
seções da aristocracia financeira.
As principais bolsas de valores na Ásia e Europa registraram
perdas na sexta-feira maiores que a de 7,3% do Dow Jones Industrial
Average (DJIA) na quinta-feira. O índice Nikkei do Japão
caiu 9,6%, seu nível mais baixo em cinco anos. Desde o
começo da semana, perdeu 24% de seu valor. As ações
da Toyota caíram cerca de 6,2% e a principal empresa de
seguro japonesa declarou falência.
O índice do Hang Seng de Hong Kong afundou 7,2%. O índice
S&P/ASX 200 da Austrália caiu 8,3% e o índice
mais amplo All Ordinaries teve uma queda de 8,2%. O índice
Shanghai Composite caiu 3,6%, ficando 12,8% mais baixo que na
semana anterior. A bolsa de valores da Indonésia, que fechou
no início da semana em pânico devido às vendas,
permaneceu suspensa.
Na Europa, o índice pan-europeu Dow Jones Stoxx 600
caiu 7,5%, e ficou entre os piores lugares nas performances diárias
no histórico do índice.
O FTSE de Londres terminou a sexta-feira com queda de 8.9%.
Desde seu último pico em Junho de 2007, caiu 43%. Sexta-feira,
o índice britânico marcou a quinta vez consecutiva
de perdas num dia, no qual perdeu 20% de seu valor.
O índice CAC-40 da França caiu 6,8% e o DAX 30
da Alemanha despencou 7%. As negociações na Itália,
Rússia e Áustria foram interrompidas. O último
dos principais bancos da Islândia quebrou e foi tomado pelo
governo todas as ações comerciais do país
permaneceram suspensas.
Os mercados latino-americanos foram ainda mais baixos. O banco
central mexicano foi forçado a leiloar 6,4% em reservas
cambiais para revigorar o peso.
O índice mundial MSCI uma medida internacional
dos preços das ações caiu 19% durante
a semana, sua pior performance desde que começaram a ser
registrados em 1970.
Uma indicação de que a crise está agora
afundando a economia mundial numa grande recessão é
o fato de que, ao lado de ações bancárias,
ações em petróleo, metal e outros recursos
básicos de empresas caíram rapidamente.
O que vemos é a massa de vendas em escala mundial,
devido a uma combinação de puro pânico e medo,
combinados com a completa incerteza sobre o futuro das principais
economias do mundo, disse Matin Slaney, chefe dos derivativos
da GFT.
Nos EUA, a maioria das ações terminaram mais
baixas depois das mais vorazes guinadas diárias na história.
Pela primeira vez em seus 112 anos de existência, o Dow
Jones Industrial Average variou numa escala de mais de 1.000 pontos.
O Dow Jones caiu 696 pontos durante os primeiros 15 minutos,
indo para baixo da marca dos 8000. Mais tarde subiu mais de 320
pontos, mas fechou com uma perda de 128 pontos, ou 1,5%, terminando
em 8451 pontos.
Isso marcou a oitava sessão de perdas consecutiva para
o índice, que perdeu mais de 1870 pontos, ou 18,2%, no
decurso da semana. A perda semanal superou aquela da semana que
terminou em 22 de julho de 1933, nas profundezas da Grande Depressão,
quando se registrou uma queda de 17% numa época
em que havia seis dias comerciais por semana.
Desde sua alta recorde há um ano, o Dow perdeu 40,3%,
aniquilando US$ 8,4 trilhões em ações.
O índice Standard & Poors 500 afundou 10,7
pontos, baixando da marca de 900 para a de 899. O S&P está
42,5% abaixo do seu pico de 2007. O índice composto Nasdaq
terminou o dia com um pequeno ganho de 4,4 pontos, mas acumulou
uma queda de 15% na semana.
Foi a pior semana de todos os tempos para Wall Street, com
o Dow e o S&P 500 registrando suas maiores perdas semanais
tanto em termos de pontos quanto de porcentagem.
A maioria dos títulos financeiros subiu, na expectativa
de que o G7 e Paulson anunciassem novas medidas de resgate. Mas
o Morgan Stanley, que muitos vêem como o provável
próximo banco a falir, caiu 22%. Já o Goldman Sachs
perdeu 12%.
As ações da Ford caíram outros 4,33% e
a ExxonMobil finalizou com queda de 8,29%.
O mercado de ações de Toronto caiu 535 pontos.
Há uma espiral declinante de medo, disse
Richard Sparks, analista sênior de equidades na Schaeffer,
agência de pesquisa de investimento.
A paralisação nos mercados de crédito
não deu qualquer sinal de estar terminando. Os bancos estão
protegendo seu dinheiro e recusando empréstimos a outros
bancos, ou cobrando taxas de juro usurárias, pois não
têm qualquer confiança na solvência dos colegas.
O índice trimestral Libor, um parâmetro chave
para empréstimos em dólares entre bancos, subiu
para 4,82%, o maior patamar em quase 10 meses. O vôo do
capital rumo ao que julgou o porto seguro da dívida do
governo dos EUA se intensificou, fazendo o rendimento de notas
do Tesouro entre um mês e três meses quase atingir
o zero.
Os hedge funds, cujos lucros exagerados se converteram
em perdas, estão contribuindo para o pânico da venda
em massa de ações. Os clientes dessas firmas estão
exigindo a recaptura de seus títulos e os bancos fornecedores
de crédito reivindicam maiores montantes de garantia e
uma maior margem de segurança nos empréstimos. As
firmas estão vendendo ações para levantar
dinheiro.
Em meio ao caos do mercado, a realidade do declínio
do capitalismo americano foi sintetizada pelo fato da General
Motors (GM) ter se sentido obrigada a anunciar que não
contemplava um pedido de falência. Após décadas
de fechamento de fábricas, cortes salariais e ataques aos
benefícios e pensões de trabalhadores, justificados
pela afirmação de que eram necessários para
restaurar a lucratividade da maior montadora dos EUA e melhorar
sua posição em termos de competitividade, a empresa
um ícone do capitalismo americano está
beirando o colapso.
O anúncio da GM aponta para o novo estágio da
crise econômica, que se aprofundou para muito além
da situação que existia mesmo há três
semanas, quando a administração Bush anunciou seu
plano de resgate aos bancos e insistiu que era único modo
de evitar um derretimento do mercado e uma recessão severa.
Essa panacéia projetada para cobrir as perdas dos
maiores bancos e facilitar uma maior consolidação
do poder financeiro em suas mãos não fez
nada para estancar a crise. Nem poderia, já que não
tratou da podridão subjacente na base industrial do capitalismo
americano.
Agora, a crise atinge rapidamente a economia como um todo,
gerando uma onda de fechamentos de fábricas e cortes de
trabalho em todos os ramos da vida econômica.
O Wall Street Journal noticiou nessa sexta-feira ser
consenso entre os economistas entrevistados que o grosso da produção
nacional se contrairia ainda mais no terceiro e quarto trimestres
do ano, assim como no primeiro trimestre de 2009. Esta é
a primeira vez que as pesquisas para esta época do ano
dão negativas, escreveu o jornal. Se essas
previsões estiverem corretas, será a primeira vez
que o PIB contraiu três semestres consecutivos em mais de
meio século.
O Presidente Bush fez outra declaração na Casa
Branca nessa sexta-feira de manhã, numa tentativa inútil
de aumentar a confiança nos mercados financeiros. Além
de deixar claro que sua administração decidiu comprar
porcentagens das empresas para injetar mais capitais nos bancos
americanos, não tinha nada a adicionar aos seus pronunciamentos
anteriores sobre a crise.
Declarou que o governo federal tem uma estratégia
abrangente para superar a crise, sem explicar a falência
completa de sua estratégia anterior
o pacote de resgate de US$ 700 bilhões para conter
o pânico financeiro.
Bush começa a simbolizar a desordem não apenas
no mercado financeiro, como também nas mais altas camadas
do governo. Mesmo enquanto falava, o Dow Jones continuava caindo
e ficou abaixo dos 300 pontos minutos após terminar
seu discurso.
Resumindo a atitude prevalecente diante de Bush e outros líderes
políticos, o analista de indicadores sênior da Standard
& Poors, Howard Silverblatt, disse: As pessoas
estão assustadas. Ninguém acredita no que está
saindo das bocas dos políticos ou dos principais executivos.
Existe uma forte evidência de que as medidas mais caras
para sustentar os bancos estão abaixo do considerado, inclusive
a proposta do governo de garantia de centenas de bilhões
para a dívida bancária, empréstimos inter-bancos
e seguro para todos os depósitos bancários.
Todas as propostas para enfrentar a pior crise econômica
desde a Grande Depressão, sejam do governo Bush, dos Democratas
ou Republicanos nos EUA, sejam dos governos da Europa e da Ásia,
têm em comum uma coisa: todas provêm da necessidade
de manter e defender os interesses da aristocracia financeira.
Nenhuma das medidas atinge o tsunami social que
está a ponto de afundar a classe trabalhadora.
Quanto aos multimilionários e bilionários que
monopolizam a economia e dominam o governo dos Estados Unidos,
permanecerão tão cruelmente preocupados com o seu
enriquecimento pessoal como sempre. Como o New York Times informou
sexta-feira, um ponto determinante no plano do governo para comprar
porcentagens dos bancos com dinheiro do contribuinte é
a existência de certas provisões na conta do resgate,
ou seja, a imposição de certas limitações
nos salários dos maiores executivos. Como escreveu o Times:
Não é evidente, disseram os oficiais da administração,
que os maiores bancos americanos concordariam com isso, particularmente
considerando as restrições nos salários dos
executivos.
Os acontecimentos dessa sexta-feira, culminando duas semanas
de elevada crise financeira e a rajada de medidas dos governos
para sustentar os seus sistemas bancários, confrontam trabalhadores
de todo o mundo com o rápido e crescente desemprego, a
pobreza e a miséria social. Levantam urgentemente a necessidade
de uma estratégia socialista internacional coordenada para
defender os interesses das pessoas do mundo contra as elites financeiras
responsáveis pela catástrofe que se abre e que procuram
jogar o peso da crise na classe trabalhadora.