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Pior semana para os mercados mundiais desde 1929

Por Barry Grey
14 de outubro de 2008

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Publicado originalmente em inglês no WSWS.org em 11 de outubro de 2008

O mercado mundial de ações afundou nessa sexta-feira [10.10], terminando uma semana que viu a maior quebra nos valores das ações desde 1929. A ameaça iminente de depressão mundial serviu de cenário para uma reunião dos ministros financeiros dos países industrializados do G7, que se encontraram emergencialmente em Washington para conversar com o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, e o diretor do Federal Reserve Board, Ben Bernanke.

Depois de um dia de pânico nas vendas dos mercados da Ásia, Europa e América Latina, e depois da violenta oscilação no mercado de ações dos EUA, o G7 publicou uma declaração em que se compromete a colocar os recursos de seus respectivos países à disposição dos bancos mais poderosos, mas não conseguiu esboçar qualquer ação específica ou coordenada para evitar um desastre econômico.

Paulson publicou uma declaração e realizou uma coletiva de imprensa para anunciar que o governo dos EUA usaria a autoridade praticamente ilimitada do resgate financeiro de US$ 700 bilhões votado uma semana antes pelo Congresso Democrático, para começar diretamente, assim, a comprar ações em bancos e empresas financeiras, uma expansão da transferência governamental dos fundos dos contribuintes para as mais poderosas seções da aristocracia financeira.

As principais bolsas de valores na Ásia e Europa registraram perdas na sexta-feira maiores que a de 7,3% do Dow Jones Industrial Average (DJIA) na quinta-feira. O índice Nikkei do Japão caiu 9,6%, seu nível mais baixo em cinco anos. Desde o começo da semana, perdeu 24% de seu valor. As ações da Toyota caíram cerca de 6,2% e a principal empresa de seguro japonesa declarou falência.

O índice do Hang Seng de Hong Kong afundou 7,2%. O índice S&P/ASX 200 da Austrália caiu 8,3% e o índice mais amplo All Ordinaries teve uma queda de 8,2%. O índice Shanghai Composite caiu 3,6%, ficando 12,8% mais baixo que na semana anterior. A bolsa de valores da Indonésia, que fechou no início da semana em pânico devido às vendas, permaneceu suspensa.

Na Europa, o índice pan-europeu Dow Jones Stoxx 600 caiu 7,5%, e ficou entre os piores lugares nas performances diárias no histórico do índice.

O FTSE de Londres terminou a sexta-feira com queda de 8.9%. Desde seu último pico em Junho de 2007, caiu 43%. Sexta-feira, o índice britânico marcou a quinta vez consecutiva de perdas num dia, no qual perdeu 20% de seu valor.

O índice CAC-40 da França caiu 6,8% e o DAX 30 da Alemanha despencou 7%. As negociações na Itália, Rússia e Áustria foram interrompidas. O último dos principais bancos da Islândia quebrou e foi tomado pelo governo — todas as ações comerciais do país permaneceram suspensas.

Os mercados latino-americanos foram ainda mais baixos. O banco central mexicano foi forçado a leiloar 6,4% em reservas cambiais para revigorar o peso.

O índice mundial MSCI — uma medida internacional dos preços das ações — caiu 19% durante a semana, sua pior performance desde que começaram a ser registrados em 1970.

Uma indicação de que a crise está agora afundando a economia mundial numa grande recessão é o fato de que, ao lado de ações bancárias, ações em petróleo, metal e outros recursos básicos de empresas caíram rapidamente.

“O que vemos é a massa de vendas em escala mundial, devido a uma combinação de puro pânico e medo, combinados com a completa incerteza sobre o futuro das principais economias do mundo”, disse Matin Slaney, chefe dos derivativos da GFT.

Nos EUA, a maioria das ações terminaram mais baixas depois das mais vorazes guinadas diárias na história. Pela primeira vez em seus 112 anos de existência, o Dow Jones Industrial Average variou numa escala de mais de 1.000 pontos.

O Dow Jones caiu 696 pontos durante os primeiros 15 minutos, indo para baixo da marca dos 8000. Mais tarde subiu mais de 320 pontos, mas fechou com uma perda de 128 pontos, ou 1,5%, terminando em 8451 pontos.

Isso marcou a oitava sessão de perdas consecutiva para o índice, que perdeu mais de 1870 pontos, ou 18,2%, no decurso da semana. A perda semanal superou aquela da semana que terminou em 22 de julho de 1933, nas profundezas da Grande Depressão, quando se registrou uma queda de 17% — numa época em que havia seis dias comerciais por semana.

Desde sua alta recorde há um ano, o Dow perdeu 40,3%, aniquilando US$ 8,4 trilhões em ações.

O índice Standard & Poor’s 500 afundou 10,7 pontos, baixando da marca de 900 para a de 899. O S&P está 42,5% abaixo do seu pico de 2007. O índice composto Nasdaq terminou o dia com um pequeno ganho de 4,4 pontos, mas acumulou uma queda de 15% na semana.

Foi a pior semana de todos os tempos para Wall Street, com o Dow e o S&P 500 registrando suas maiores perdas semanais tanto em termos de pontos quanto de porcentagem.

A maioria dos títulos financeiros subiu, na expectativa de que o G7 e Paulson anunciassem novas medidas de resgate. Mas o Morgan Stanley, que muitos vêem como o provável próximo banco a falir, caiu 22%. Já o Goldman Sachs perdeu 12%.

As ações da Ford caíram outros 4,33% e a ExxonMobil finalizou com queda de 8,29%.

O mercado de ações de Toronto caiu 535 pontos.

“Há uma espiral declinante de medo”, disse Richard Sparks, analista sênior de equidades na Schaeffer, agência de pesquisa de investimento.

A paralisação nos mercados de crédito não deu qualquer sinal de estar terminando. Os bancos estão protegendo seu dinheiro e recusando empréstimos a outros bancos, ou cobrando taxas de juro usurárias, pois não têm qualquer confiança na solvência dos colegas.

O índice trimestral Libor, um parâmetro chave para empréstimos em dólares entre bancos, subiu para 4,82%, o maior patamar em quase 10 meses. O vôo do capital rumo ao que julgou o porto seguro da dívida do governo dos EUA se intensificou, fazendo o rendimento de notas do Tesouro entre um mês e três meses quase atingir o zero.

Os “hedge funds”, cujos lucros exagerados se converteram em perdas, estão contribuindo para o pânico da venda em massa de ações. Os clientes dessas firmas estão exigindo a recaptura de seus títulos e os bancos fornecedores de crédito reivindicam maiores montantes de garantia e uma maior margem de segurança nos empréstimos. As firmas estão vendendo ações para levantar dinheiro.

Em meio ao caos do mercado, a realidade do declínio do capitalismo americano foi sintetizada pelo fato da General Motors (GM) ter se sentido obrigada a anunciar que não contemplava um pedido de falência. Após décadas de fechamento de fábricas, cortes salariais e ataques aos benefícios e pensões de trabalhadores, justificados pela afirmação de que eram necessários para restaurar a lucratividade da maior montadora dos EUA e melhorar sua posição em termos de competitividade, a empresa — um ícone do capitalismo americano — está beirando o colapso.

O anúncio da GM aponta para o novo estágio da crise econômica, que se aprofundou para muito além da situação que existia mesmo há três semanas, quando a administração Bush anunciou seu plano de resgate aos bancos e insistiu que era único modo de evitar um derretimento do mercado e uma recessão severa. Essa panacéia — projetada para cobrir as perdas dos maiores bancos e facilitar uma maior consolidação do poder financeiro em suas mãos — não fez nada para estancar a crise. Nem poderia, já que não tratou da podridão subjacente na base industrial do capitalismo americano.

Agora, a crise atinge rapidamente a economia como um todo, gerando uma onda de fechamentos de fábricas e cortes de trabalho em todos os ramos da vida econômica.

O Wall Street Journal noticiou nessa sexta-feira ser consenso entre os economistas entrevistados que o grosso da produção nacional se contrairia ainda mais no terceiro e quarto trimestres do ano, assim como no primeiro trimestre de 2009. “Esta é a primeira vez que as pesquisas para esta época do ano dão negativas”, escreveu o jornal. “Se essas previsões estiverem corretas, será a primeira vez que o PIB contraiu três semestres consecutivos em mais de meio século”.

O Presidente Bush fez outra declaração na Casa Branca nessa sexta-feira de manhã, numa tentativa inútil de aumentar a confiança nos mercados financeiros. Além de deixar claro que sua administração decidiu comprar porcentagens das empresas para injetar mais capitais nos bancos americanos, não tinha nada a adicionar aos seus pronunciamentos anteriores sobre a crise.

Declarou que o “governo federal tem uma estratégia abrangente” para superar a crise, sem explicar a falência completa de sua “estratégia” anterior — o pacote de resgate de US$ 700 bilhões — para conter o pânico financeiro.

Bush começa a simbolizar a desordem não apenas no mercado financeiro, como também nas mais altas camadas do governo. Mesmo enquanto falava, o Dow Jones continuava caindo — e ficou abaixo dos 300 pontos minutos após terminar seu discurso.

Resumindo a atitude prevalecente diante de Bush e outros líderes políticos, o analista de indicadores sênior da Standard & Poor’s, Howard Silverblatt, disse: “As pessoas estão assustadas. Ninguém acredita no que está saindo das bocas dos políticos ou dos principais executivos”.

Existe uma forte evidência de que as medidas mais caras para sustentar os bancos estão abaixo do considerado, inclusive a proposta do governo de garantia de centenas de bilhões para a dívida bancária, empréstimos inter-bancos e seguro para todos os depósitos bancários.

Todas as propostas para enfrentar a pior crise econômica desde a Grande Depressão, sejam do governo Bush, dos Democratas ou Republicanos nos EUA, sejam dos governos da Europa e da Ásia, têm em comum uma coisa: todas provêm da necessidade de manter e defender os interesses da aristocracia financeira.

Nenhuma das medidas atinge o “tsunami” social que está a ponto de afundar a classe trabalhadora.

Quanto aos multimilionários e bilionários que monopolizam a economia e dominam o governo dos Estados Unidos, permanecerão tão cruelmente preocupados com o seu enriquecimento pessoal como sempre. Como o New York Times informou sexta-feira, um ponto determinante no plano do governo para comprar porcentagens dos bancos com dinheiro do contribuinte é a existência de certas provisões na conta do resgate, ou seja, a imposição de certas limitações nos salários dos maiores executivos. Como escreveu o Times: “Não é evidente, disseram os oficiais da administração, que os maiores bancos americanos concordariam com isso, particularmente considerando as restrições nos salários dos executivos”.

Os acontecimentos dessa sexta-feira, culminando duas semanas de elevada crise financeira e a rajada de medidas dos governos para sustentar os seus sistemas bancários, confrontam trabalhadores de todo o mundo com o rápido e crescente desemprego, a pobreza e a miséria social. Levantam urgentemente a necessidade de uma estratégia socialista internacional coordenada para defender os interesses das pessoas do mundo contra as elites financeiras responsáveis pela catástrofe que se abre e que procuram jogar o peso da crise na classe trabalhadora.