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Queda de 159.000 postos de trabalho nos EUA aprofunda recessão

GM fechará a fábrica de Ohio ao final do ano

Por Barry Grey
7 de outubro de 2008

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Este texto foi publicado no WSWS originalmente em inglês no dia 4 de outubro de 2008.

O Departamento de Trabalho dos EUA divulgou na sexta-feira [3.10] a destruição de 159.000 empregos no mês de setembro, assim como a queda nos salários em praticamente todos os setores da economia privada. A pesquisa sobre o desemprego foi consideravelmente pior que aquela prevista pelos economistas e refletiu a força crescente de uma recessão de dimensões globais que tende a piorar.

O relatório do governo — baseado em pesquisa realizada antes do colapso dos mercados de crédito na manhã do dia 15 de setembro, arrastados pela falência do Lehman Brothers — não levou em consideração o impacto da ampla crise financeira sobre a economia como um todo. Muitos economistas previram que as demissões aumentarão nas próximas semanas, com o índice oficial de desemprego aumentando dos atuais 6.1% para 7% ou mais no início de 2009.

O implacável corte de empregos nos EUA — o relatório de setembro registrou o nono mês consecutivo de declínio nos postos de trabalho — é um indicativo de uma crise sistemática do sistema capitalista, que estourou primeiramente nos EUA mas ecoa cada vez mais pelo resto mundo. Os países da Zona do Euro estão em recessão e o número de demissões aumenta cada vez mais na maioria dos países industrializados, particularmente no setor financeiro e na indústria automobilística.

Somente nesta semana, o gigante banco suíço UBS anunciou que cortará mais 2.000 empregos — mais de 10% de seus investimentos bancários em força de trabalho. O banco, que perdeu US$ 43 bilhões em empréstimos de alto risco ao longo do ano passado, antes havia anunciado 4.000 cortes de empregos em seu banco de investimento.

O setor de renda-fixa do Lehmam Brothres europeu anunciou que diminuirá suas atividades, demitindo 750 trabalhadores.

Pesquisas recentes têm mostrado que manufatureiras das mais avançadas economias do planeta, incluindo EUA, Europa e Japão, estão cortando a produção. A queda atingiu fortemente o setor automobilístico.

Nesta semana, a Volvo Caminhões anunciou que cortará mais de 20% dos seus “colarinhos-azuis” europeus — cerca de 1.400 trabalhadores em suas três fábricas na Bélgica e Suécia. A Volvo Carros, cuja dona é a Ford, apressou seus planos no mês passado, cortou 2.000 empregos e disse que precisará cortar mais 900 no próximo ano. Fábricas automobilísticas que fornecem à Volvo também disseram estar cortando empregos.

A Ford e a Volkswagen tiveram ambas de cortar empregos em suas fábricas de carros na Bélgica.

Nos EUA, a General Motors anunciou na sexta-feira que fechará sua fábrica de veículos esportivos em Moraine, Ohio, aproximadamente ao final deste ano, demitindo 1.200 trabalhadores.

A queda nas vendas automobilísticas ao longo do verão têm sido intensificada pelo congelamento dos mercados de crédito, dificultando que os consumidores obtenham empréstimos para comprar novos carros. As vendas automobilísticas afundaram em setembro tanto nos EUA quanto na Europa. Elas caíram 32% na Espanha, 6% na Itália e 2% na Alemanha,

Empresas de automóveis na Inglaterra estão cortando a produção e introduzindo semanas de três ou quatro dias de trabalho em algumas fábricas. A Ford está reduzindo a produção por toda Europa.

Nos EUA, o número de vendas em Setembro foi ainda pior do que na Europa, afetando tanto as montadoras japonesas quanto as americanas. A venda de carros e caminhões pequenos caiu 27% no último mês, em comparação ao ano anterior.

A maior queda entre as três grandes empresas americanas foi na Ford, que relatou uma queda de 34%. As vendas da Chrysler caíram 33% e a GM relatou uma queda de 16%.

Entre as produtoras japonesas, as vendas da Toyota nos EUA caíram 32%, a Nissan Motors teve uma queda de 37% e as vendas da Honda caíram 24%.

As principais concessionárias dos EUA estão começando a abandonar as vendas. Alguns analistas acreditam, também, que a tendência é que isso piore.

O relatório sobre desemprego do Departamento de Trabalho dos EUA registrou o maior corte mensal nos postos de trabalho em mais de cinco anos. Isso trouxe a perda líquida, até esta altura do ano, de 760.000 empregos. A redução dos postos de trabalho tomou quase toda a economia.

O setor manufatureiro perdeu 51.000 empregos. A Construção perdeu cerca de 35.000 empregos. Varejo perdeu 40.000. Setores relacionados ao turismo cortaram 17.000 empregos. Serviços profissionais e comércio reduziram seus postos de trabalho em torno de 27.000.

O emprego no setor de serviços, que até recentemente viu uma queda menor em comparação com as indústrias produtoras de bens, perdeu 82.000 em setembro, a maior queda em mais de cinco anos.

Em um ano, o número de empregos nas manufaturas do EUA diminuiu em 442 mil. Destes, somente o setor automotivo perdeu 140 mil.

A taxa oficial de desemprego manteve-se em 6.1%, mas esta certamente está abaixo dos níveis reais de perdas de emprego, uma vez que não contabiliza as pessoas que pararam de procurar emprego, nem mesmo as que trabalham meio período por não conseguirem emprego de período completo.

O número de pessoas que trabalha meio-período por não conseguir encontrar emprego de período completo, ou por ter as horas diminuídas pelas reestruturações das empresas, aumentou de 337 mil para 6,1 milhões.

A medida mais exata do desemprego incluída no relatório do Departamento do Trabalho é a chamada taxa de subemprego, que aumentou de 10.7% para 11%, a mais alta porcentagem desde abril de 1994.

Outra evidência da destruição de empregos e do estresse crescente da economia, o índice de horas trabalhadas durante a semana, caiu 0.1, chegando a 33.6 horas. Um mero aumento de 3 cents no pagamento das horas de trabalho, combinado com uma diminuição das horas trabalhadas durante a semana, significa, na verdade, que a folha média de pagamento semanal do trabalhador diminuiu 81 cents [cerca de R$ 1,70 por semana], para US$ 610.

O desemprego entre os homens cresceu de 0.5% para 6.1%. A taxa de desemprego para homens negros cresceu de 1.6% para 11.9%, a maior desde fevereiro de 1994. O desemprego entre os que possuem segundo grau completo ficou em 9.6%

“A economia dos EUA está encolhendo e haverá muitos outros relatórios assustadores como esse”, disse Ian Shpherdson, economista chefe da americana High Frequency Economics.

Outro dado econômico publicado esta semana confirma o prognóstico. O Departamento de Comércio dos EUA relatou que a produção industrial do país diminuiu 4% em agosto, bastante abaixo do esperado pelos economistas, que era de 2.5%

O Institute for Supply Management (ISM) disse que suas pesquisas sobre a manufatura dos EUA indicam a mais acelerada queda desde outubro de 2001

O número de trabalhadores americanos que registrou pedido de auxilio desemprego se aproximou de meio milhão na última semana, batendo o recorde dos últimos sete anos.

No começo do mês de setembro, o consultor do setor de empregos da firma Challenger, Gray & Christmas relatou que o corte de empregos anunciados nas fábricas os EUA em agosto aumentou 12% se comparado com o ano anterior, tornando-se o verão com o maior corte de empregos nos últimos 6 anos.

Os empregadores anunciaram planos de reduzir sua força de trabalho em 88.700 em agosto. Para o período de verão que vai de maio a agosto, o total de trabalhos cortados foi de 337 mil, superior aos 249 mil no verão de 2007. Isso aumenta o total anunciado em 2008 para 668 mil, 29% maior do que nos oito primeiros meses de 2007.

O ciclo vicioso do crédito contraído — resultado da explosão das bolhas de crédito e hipotecas — e a criação de dispensas e estoques de comida diminuíram os gastos dos consumidores, piorando e aprofundando a crise.

Uma lista cada vez maior de “hedge funds”, contaminados pela exposição ao Lehman Brothers e outras firmas falidas, está enfrentando pedidos de retiradas crescentes e têm de dizer aos seus clientes que não há possibilidade de pagá-los de volta.

Bilhões de dólares em contratos sem crédito ligados a Fannie Mae, Freddie Mac, Lehman Brothers e Washington Mutual serão acertados este mês, resultando em novas perdas bilionárias para as maiores instituições financeiras.

A desconfiança na credibilidade dos créditos dos maiores bancos produziu um congelamento no mercado do papel comercial e nas dívidas de curto-prazo, emitidas por grande número das companhias para financiar suas operações diárias. O mercado do papel comercial nos EUA caiu de US$ 2,2 trilhões no último verão para US$ 1,6 trilhão hoje.

O desaparecimento do crédito está lançando as companhias pequenas e grandes, estatais e de governos locais, universidades e outras instituições, para dentro da crise, onde lhes falta dinheiro para acertar suas folhas de pagamentos, contas e compra de itens essenciais para sua manutenção. Uma gigantesca corporação cuja vitalidade agora é vista com desconfiança é a General Electric, que anunciou esta semana um plano de emergência para levantar capital, vendendo US$12 bilhões em ações. Como um sinal dos tempos, o bilionário investidor Warren Buffet concordou em injetar US$ 3 bilhões em capital na GE com a compra de ações preferenciais (em termos bastante favoráveis) em uma oferta para restaurar a credibilidade da empresa e reter o declínio de suas ações.

Como escreveu o Wall Street Journal: “Realmente, esta semana, a General Electric Co., por muito tempo saudada como uma das mais importantes companhias da América, foi forçada a levantar bilhões de dólares de capital em termos onerosos, parcialmente porque os investidores em dívidas corporativas de curto prazo da GE preocuparam-se com a queda em seus preços. Na quarta-feira, um fundo monetário voltado às instituições de ensino congelou o repasse a algumas delas — levando mais de 1000 escolas e universidades à incerteza no pagamento de seus professores e cobertura de suas despesas”.

Na quinta-feira, o governador da California, Arnold Schwarzenegger, enviou uma carta ao Secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, advertindo que o maior estado dos EUA poderia ser forçado a pedir um empréstimo emergencial de US$7 bilhões ao governo federal.

Há pouca crença dentro dos mercados financeiros de que o pacote de US$ 700 bilhões do governo dos EUA para Wall Street, aprovado no Congresso e erigido em lei pelo Presidente Bush na sexta-feira, resolverá a crise financeira ou evitará uma longa e profunda recessão. O Dow Jones Industrial Average estava abaixo dos 200 pontos pouco antes do pacote ser aprovado pela Câmara dos Representantes (Deputados) e, mesmo depois da aprovação, fechou em queda.