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Gigantesco resgate de economias emergentes pelo FMI

Por Peter Symonds
6 de novembro de 2008

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Publicado originalmente em inglês em 1 de novembro de 2008.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), apoiado pelos bancos centrais dos EUA e da Europa, tomou medidas drásticas durante a semana passada para revigorar as chamadas economias emergentes de todo o mundo, como as da Ásia, Europa oriental e América Latina.

No início do mês, o FMI previu que as economias emergentes continuariam a crescer até 6% mesmo se os EUA, Europa e Japão caíssem numa recessão. Agora, muito desses países estão se deparando com o transtorno econômico — são atingidos pela turbulência dos mercados exportadores, pela baixa dos preços das commodities e pela quebra do crédito global. Investidores estrangeiros têm sacado dinheiro em busca de um porto seguro para lidar com a falta de dinheiro em caixa, levando o dinheiro circulante e as bolsas de valores ao colapso dentro dos vulneráveis mercados emergentes.

O Instituto de Finanças Internacionais de Washington estima que mais de US$ 20 bilhões saíram dos mercados de ações dos países emergentes somente no terceiro trimestre. O índice de medida MSCI dos mercados emergentes atingiu a maior baixa em quatro anos nsta terça-feira, caindo cerca de 45% desde o dia 15 de setembro, antes de saltar ao final da semana por conta da anunciação dos planos do FMI.

Escrevendo ontem pro Der Standard, o diretor do FMI, Dominique Strauss-Kahn disse que as economias emergentes "não só deverão enfrentar a baixa de suas exportações e a redução da confiança como também são as últimas vítimas de uma crise financeira que começou nos Estados Unidos, se estendeu à Europa e está transbordando agora para além das fronteiras européias". A seca do crédito global acertou em cheio esses países, explicou ele, alertando para possíveis quedas generalizadas dos salários, protecionismo e controles bancários. "Isso não servirá apenas para esses países, mas para toda a economia mundial por anos", acrescentou.

O FMI está em processo de finalização dos pacotes de emergência para Ucrânia (US$ 16.5 bilhões) e Finlândia (US$ 2.4 bilhões). A Hungria juntou-se a lista na terça-feira, com o resgate de US$ 25 bilhões do FMI, em conjunto com o Banco Mundial e instituições européias. Paquistão, Bielorússia e Sérvia estão negociando com o FMII a respeito de fundo emergenciais. Todos esses pacotes vêm com condições pesadas, incluindo o corte da despesa pública, que agravará a turbulência política em cada um desses países.

Não são, entretanto, apenas as economias mais fracas que as vulneráveis. O FMI anunciou um novo programa na quarta-feira no valor de US$ 100 bilhões para fortalecer as finanças dos países considerados estruturalmente sólidos. Conhecida como Linha de Liquidez de Curto Prazo (SLF, em inglês) permitirá que os países obtenham três meses de empréstimos até um limite fixo sem restrições. Para receber tais empréstimos, o país precisa provar ter aquilo que um alto funcionário do FMI denominou "uma boa conduta histórica" e garantir que continuará a ter "políticas fortes".

Em outras palavras, só aqueles países que já cumprem os critérios econômicos rigorosos do FMI terão acesso às novas facilidades. Paralelamente, o Federal Reserve americano anunciou na quarta-feira que concederá mais de US$ 30 bilhões para quatro países — Brasil, México, Coréia do Sul e Singapura — uma indicação de que esses países se beneficiarão de um empréstimo sem restrições do FMI. Anteriormente, o FED estendeu dinheiro para os bancos centrais da Europa e de outras economias desenvolvidas.

Todos esses quatro países têm sido fortemente atingidos pela crise financeira mundial, que tem efetivamente cortado seu acesso aos mercados do capital internacional. Na Coréia do Sul, os valores de ações e dos wons têm afundado com as preocupações crescentes sobre a estabilidade do setor bancário. Comentando sobre o Brasil, o Wall Street Journal escreveu na quinta-feira: "Nos últimos dias, a capital financeira do Brasil, São Paulo, foi influenciada pela especulação de que a falta de moeda circulante e a falta de dólar para financiamento poderiam impulsionar uma onda de quebras de corporações, inclusive podendo derrubar partes centrais do sistema financeiro... Mesmo empresas "saudáveis" encontram dificuldade em obter os dólares necessários para fazer seus negócios".

Os anúncios do FMI e do FED produziram um ressurgimento de dinheiro e ações nos mercados emergentes. O won sul-coreano, que tinha caído cerca de 30% contra o dólar americano nesse ano, aumentou 10% na quinta-feira. O florim húngaro, o rand Sul africano e o real brasileiro têm subido mais de 5% desde terça-feira. O índice MSCI dos mercados emergentes de ações tem disparado em mais de 24% desde sua baixa na terça-feira.

Na atual volatilidade dos mercados, esses ganhos podem evaporar rapidamente. Além disso, a divisão dos países dentro do que o Wall Street Journal denominou "uma lista-A, das nações que se qualificam para empréstimos sem restrições, e uma lista-B, para todos os outros" pode ser profundamente desestabilizadora. Uma razão para o vôo do capital das economias emergentes foi o anúncio de pacotes de resgate gigantescos nos EUA e na Europa, tornando aqueles mercados mais atrativos. Agora o guarda-chuva financeiro tem se estendido para poucos países, colocados na "Lista-A", o que lança um ponto de interrogação sobre aqueles países não inclusos.

Como disse Michael Hugman, estrategista do Standard Bank, ao Financial Times ontem: "Sempre há um perigo, particularmente dentro do mercado atual, de que qualquer intervenção (...) tenha efeitos negativos naqueles excluídos das novas facilidades". Assim, como aponta o jornal: "Exclusão pode sinalizar políticas insustentáveis, fraqueza ou falta de apoio internacional".

Economias vulneráveis

Aqueles países da "lista-B" forçados a buscar financiamento emergencial com o FMI serão obrigados a aceitar medidas severas. As condições aplicadas nos acordos com a Islândia, Ucrânia e Hungria não tornaram-se públicas, mas o impacto já é evidente.

A Islândia foi forçada a aumentar as taxas de juros essa semana de 6% para assustadores 18% — apenas duas semanas após ter caído para 3,5% na tentativa de estimular a economia. Brian Coulton, diretor da Fitch Ratings, disse ao Financial Times: "Elevar taxas de juros significa que irão enfrentar a maior de todas as recessões. Mas a chave é a estabilidade". Por inúmeras que sejam as estimativas, a economia espera contração de mais de 10%, com a inflação atingindo mais de 20% e o desemprego 8%.

O resgate financeiro ucraniano intensificou ainda mais a dura divisão política do país. Depois de grande atraso, o parlamento aprovou, ontem, a parte final da legislação que mudava as regulamentações bancárias — 243 a 0, com abstenção da oposição. O hrvynia, moeda local, bateu um recorde de baixa na quarta-feira, com queda de 7.2 em relação ao dólar americano. O mercado acionário caiu mais de 70% nesse ano e já espera pela queda do país em uma recessão no próximo ano. A produção de aço, que representa 6% do PIB e 40% das exportações, já está abaixo de 30%.

A Hungria será forçada a reduzir os gastos governamentais, baseados em cortes fiscais e aumento de taxas feitos anteriormente. Pagamentos extras aos aposentados e funcionários do setor público podem ser os primeiros alvos. Segundo o Financial Times, um excedente orçamental e uma redução de 3,7% no consumo estão em discussão nos círculos oficiais. O veredicto do público é resumido amplamente na frase — "os tempos negros ainda estão por vir". É esperado que a economia cresça 2% nesse ano e recue 1% ano que vem.

A lista das economias vulneráveis se estende além daquelas que estão em discussões imediatas com o FMI para financiamentos de emergência — ou seja, Paquistão, Bielorrúsia e Sérvia. Segundo o BusinessWeek, mercados emergentes devem cerca de US$ 4.7 trilhões em dívidas externas, mais 38% em relação ao últimos dois anos. A Europa Oriental, em particular, tem sido inundada por créditos baratos. Altos níveis de dívidas externas têm deixado muitas dessas economias emergentes com grande déficit comerciais, portanto, mal vistas pelo crédito global.

Empréstimos de pouco interesse em euro, iene e franco suíço foram disponibilizados na Europa Oriental não somente em bancos e empresas, como também para hipotecas. Como o valor da moeda local despencou, instituições financeiras, empresas e indivíduos têm se deparado com dívidas ainda maiores. Na Romênia, Hungria e Bulgária, mais da metade de todo o crédito é estrangeiro. Os três poderiam entrar em recessão, unindo-se aos pequenos Estados Bálticos. A crise financeira na Europa Oriental irá afetar enormemente os maiores bancos europeus. Agências de Rating recentemente reduziram suas perspectivas "negativas" para os três maiores credores estrangeiros — UniCredit da Itália e Erste Bank e Raiffeisen International da Áustria.

Neil Shearing, analista da Capital Economics, disse à Associated Press nessa semana que a Romênia, a Estônia, a Letônia e Bulgária seriam possíveis candidatas para o financiamento emergencial do FMI. Também discorreu sobre a Turquia, amplamente apontada como um grande negócio, dizendo que esta precisaria de aproximadamente US$ 190 bilhões em financiamento estrangeiro para 2008. "Uma recente visita a Istambul nos convenceu de que a Turquia está muito mais perto da necessidade de assistência financeira do que muitos no mercado acreditam", disse ele.

A crise financeira pode esgotar rapidamente os recursos do FMI, que situa-se aproximadamente em US$ 200 bilhões, mais um adicional de US$ 50 bilhões. O FMI já comprometeu US$ 50 bilhões em resgates financeiros emergenciais e US$ 100 bilhões em sua Linha de Liquidez de Curto Prazo. Como disse o ex-chefe economista do FMI, Simon Johnson, ao Financial Times na terça-feira: "Talvez, se o FMI tivesse US$ 2 trilhões, poderia ser um sério agente mundial. Mas US$ 200 bilhões podem desaparecer muito rapidamente. Há muitos países na mesma posição que a Ucrânia e você só precisa adicionar um ou dois países grandes para esgotar a fonte".

Seja qual for o resultado imediato das tempestades financeiras, o aprofundamento da recessão nos EUA, Europa e Japão terá um impacto devastador em muitas economias emergentes, com o recuo dos mercados de exportação. A contração da economia dos EUA no terceiro trimestre anunciada nesta quinta-feira irá ecoar por toda a Ásia, Europa e América Latina na forma de um abrandamento econômico, fechamento de fábricas e demissões em massa.

(Traduzido por movimentonn.org)