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Mercados globais afundam com temores de deflação e depressão econômica

Por Mike Head
25 de novembro de 2008

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Publicado originalmente em inglês no dia 21 de novembro de 2008

Com temores de que uma espiral deflacionária leve toda a economia à depressão, mais perdas multi-bilionárias derrubaram os mercados acionários globais nos últimos dois dias. O governo e os comentadores da mídia ainda tentam assegurar ao público de que não haverá uma repetição da década de 30, mas os mercados financeiros nos dizem outra coisa.

Nas páginas da imprensa financeira já se reconhece abertamente que todas as garantias oficiais, todas as intervenções governamentais e pedidos por cooperação internacional, falharam em estancar o desastre econômico. No Wall Street Journal do último dia 20, Peter A. McKay observa que o "governo está ficando sem munição para estabilizar o sistema financeiro e a economia".

No mesmo sentido, John Durie escreveu para o Australian: "Finalmente foi dito — NADA FUNCIONA — e, como resultado, os mercados acionários globais estão em queda livre". Durie observou que a administração dos EUA e o governo chinês adiantaram, cada um, cerca de 1 trilhão de dólares em pacotes de resgate e, mesmo assim, "o mundo ainda está afundando".

A queda foi ainda maior quando os executivos da General Motors, Ford e Chrysler, junto aos chefes do sindicato United Auto Workers (UAW), não conseguiram apoio do congresso dos EUA para o resgate das "Big Three" [como são chamadas as 3 grandes montadoras norte-americanas], um valor sem precedentes de 25 bilhões de dólares. Após dois dias de discussões em Washington, o resgate foi rejeitado, ao menos em sua forma inicial, apesar de todos os participantes, incluindo o UAW, concordarem que nenhum pacote de resgate pode prescindir dos cortes nos empregos e condições de trabalho.

Além das quedas de mais de 5% na quarta-feira, as ações norte-americanas despencaram ao final da quinta-feira, após terem subido por um breve período com base em rumores de um acordo na questão das montadoras. Ao final do dia, o Dow Jones Industrial Average havia caído quase 445 pontos, ou 5,6%, atingindo a marca de 7,552.29. O índice Standard & Poor's 500 continuou caindo, perdendo 54,14 pontos, ou 6,7%, e atingindo 752,44 pontos — o nível mais baixo em 11 anos.

As bruscas mudanças de rumo trouxeram à tona elementos de puro pânico e instabilidade. Na quarta-feira, o Chicago Board Options Exchange Volatility Index (índice de volatilidade), conhecido como o medidor do medo de Wall Street, subiu 10,1%, para 74,45 pontos, indicando aumento da tensão.

Preocupações em torno da possibilidade de uma recessão mais longa e profunda que a que se temia anteriormente catalisaram a venda desesperada de ações. Outro fator relevante foi aquele que Sheryl King, economista sênior da Merril Lynch, chamou de "fase deflacionária corrosiva". A deflação é vista como precursora da depressão, já que preços em queda podem gerar uma espiral interminável de perdas corporativas, cortes na produção, demissões em massa e redução na demanda.

Como foi o caso nos últimos 16 meses, os EUA permaneceram o epicentro da desordem global, com novos dados mostrando aumento da perda de empregos, declínio na área da construção civil, preços em queda e crises afligindo gigantes financeiros como o Citigroup e a GE. Relatos do último encontro de políticas do Federal Reserve predizem contração econômica ao menos até o final de 2009. "É uma tempestade econômica perfeita, uma combinação de recessão comum, colapso da habitação, crise do crédito e grande deflação de bens", disse aos jornalistas Barry Ritholtz, presidente e diretor de pesquisas em eqüidade da Fusion IQ.

As dimensões globais da crise foram demarcadas por dados do ministério de finanças japonês, que anunciou que as exportações da segunda maior economia do mundo caíram 7,7% em outubro, em relação ao mesmo mês do ano anterior. Foi a maior queda em quase 7 anos. Sublinhando a dependência do capitalismo japonês e asiático quanto ao mercado dos EUA, os números do relato colocaram ontem as ações asiáticas num mergulho em parafuso pelo segundo dia sucessivo.

O índice de referência Nikkei, de Tóquio, perdeu 570,18 pontos e atingiu os 7,703.04, a marca mais baixa desde 28 de outubro — o dia em que tocou o menor nível em 26 anos, atingindo os 6,994.90 pontos. Foi a maior perda percentual em um dia desde 22 de outubro. Até agora, o Nikkei caiu 9% esta semana e 10% este mês. Os economistas agora prevêem outros três trimestres de contração econômica no Japão, trazendo o período de declínio para cinco trimestres consecutivos, maior período contínuo de perdas jamais registrado.

Bombardeado por quedas mais profundas na economia financeira e na mineração, o índice australiano S&P/ASX 200 fechou com queda de 4,2%, em 3,252.90, o nível mais baixo desde o início de 2004. O Seng Index de Hong Kong fechou com queda de 4,3%, em 12,264.34. O Kospi sul-coreano finalizou com queda de 6,7%, em 948,69, marcando sua oitava sessão de perdas consecutiva.

As bolsas européias também caíram conforme os temores de uma recessão profunda acertaram títulos de bancos e produtores de matéria-prima. O FTSEurofirst 300, medidor das melhores ações européias, fechou em 781,07 pontos, pior nível desde abril de 2003. As firmas mais expostas à economia, como mineradoras e bancos, lideram as perdas; essas firmas foram abaladas quando as ações do Citigroup apresentaram problemas e os investidores questionaram as possibilidades de sobrevivência do banco norte-americano.

As ações da ArcelorMittal, maior fabricante de aço do mundo, caíram 12,4%. As da Aviva, seguradora britânica que administrava 359 bilhões de libras em bens, caíram 15,5%. Com os futuros do petróleo chegando aos 50 dólares/barril, produtores como a Royal Dutch Shell e distribuidoras como a E.On tiveram declínios acentuados.

Sublinhando as tendências sombrias, demissões entre 1400-2700 empregados foram anunciadas na quinta-feira pela AstraZeneca, Rolls Royce, Sandvik e Peugeot Citroen. Na Grã-Bretanha, a BAE Systems, a fabricante de materiais de construção SIG e a firma de investimentos Fidelity International também anunciaram demissões significativas. As vendas inglesas de artigos de consumo caíram mais 0,1% em outubro.

Foram os EUA, porém, que continuaram a produzir as piores notícias. O número de trabalhadores americanos que fizeram novos requerimentos de seguro-desemprego subiu em 27.000 na semana passada, número maior que o esperado e o mais alto em 16 anos, relatou o Departamento Trabalhista. Estimativas iniciais do número de novos beneficiados pelo seguro-desemprego apontam um número sazonalmente ajustado de 542.000 na semana, após os 515.000 da semana anterior. Foi maior que a previsão dos analistas de 505,000 novos requerimentos. Os requerimentos contínuos permaneceram em 4,012 milhões na semana terminada em 8 de novembro, mais alto nível desde dezembro de 1982. Na semana anterior o número de requerimentos contínuos era 3,903 milhões.

Notas do encontro do Federal Reserve mostraram, segundo alguns, que o desemprego poderia atingir os 8% até o próximo ano. (A taxa oficial de desemprego chegou aos 6,5% em outubro).

As notas revelam preocupações com uma espiral deflacionária, que o Fed não seria capaz de contrabalançar com taxas de juro já tão baixas. Tal desenvolvimento "colocaria importantes desafios regulamentais", segundo o Fed. Alimentando esses temores, os preços de artigos de consumo caíram 1% em outubro, a queda mais brusca desde que o governo começou a fazer registros mensais, em 1947, segundo relatado pelo Departamento de Comércio dos EUA.

Os números da moradia também são desoladores. Construtoras americanas divulgaram em outubro a venda de casas numa taxa anual de 791.000, menor número desde que o Birô do Censo começou a registrar os índices de moradia em 1959, quando havia 50% menos famílias no país. Em setembro, havia 394.000 casas não-vendidas e mais de 4 milhões de casas disponíveis no mercado (muitas das casas existentes eram propriedades hipotecadas).

Durante a semana, houve sinais de que a implosão financeira está longe de acabar. As ações do Citigroup caíram 24,2% para 4,85 dólares ontem, depois de uma queda de 23% no dia anterior, após o banco ter assumido mais de 17 bilhões em bens dúbios. O Citi também fechou mais um hedge fund, que chegou a possuir mais de 4 bilhões em bens. Seu valor, desde então, passou a menos de 60 milhões de dólares, enquanto sua dívida é de cerca de 880 milhões.

A General Electric pretende encolher a GE Capital, uma grande provedora de crédito para consumidor, numa operação que poderá acarretar num corte de custos em torno de 2 bilhões de dólares, a venda de 90 bilhões em ações de alta alavancagem e uma redução significativa de seu efetivo de 75.000 empregados. O JPMorgan Chase planeja cortar 10% de sua equipe de investimentos bancários, cerca de 3.000 empregados.

Enquanto esses gigantes financeiros lutam para se desvencilhar da bancarrota completa cortando todos seus gastos, fica cada vez mais claro que o capitalismo experimenta uma crise fundamental na escala da Grande Depressão da década de 1930, ameaçando devastar as condições sociais de centenas de milhões de trabalhadores em todos os países.

[traduzido por movimentonn.org]