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Governador de Nova Iorque Eliot Spitzer é forçado a renunciar após escândalo sexual

Por David Walsh
21 de março 2008

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia de Março de 2008.

Sob alegações de que teria se envolvido com uma prostituta de luxo em um hotel em Washington DC no dia 13 de fevereiro, o governador democrata de Nova Iorque, Eliot Spitzer, anunciou sua renúncia-efetivada no dia 17- na última quarta-feira dia 12 de março.

A retirada do governador do estado de Nova Iorque em meio a um sórdido escândalo sexual é um fato político de grande importância. Em questão de dias, os resultados das eleições de 2006, em que Spitzer venceu com 69% dos votos-a mais alta margem de votos para Nova Iorque e a segunda mais alta entre todos os estados americanos-sofreu uma virada como resultado de uma operação policial dentro do próprio governo e com a conivência da mídia.

O governo de Nova Iorque é uma das posições políticas mais importantes nos EUA. O estado, com uma população de cerca de 20 milhões de habitantes, é lugar de poderosos interesses industriais e de grandes corporações, e continua sendo um dos principais centros financeiros mundiais. O governo de Nova Iorque já provou ser uma excelente plataforma de campanha para quatro presidentes americanos, seis vice-presidentes, dois chefes de justiça da Suprema Corte e três secretários de Estado.

Era sabido que Spitzer tinha ambições de ascensão política. Em sua breve declaração de renúncia na quarta-feira, ele anunciou sua intenção de deixar por completo a vida política.

Spitzer é-ou era-um "político de grandes negócios", um multi-milionário, mas sem carisma entre a classe trabalhadora. Não há qualquer indicação de que ele tivesse quaisquer preocupações com os princípios democráticos, ou de que ele fosse ao menos uma pessoa "amigável"- ele referia a si próprio como o "rolo compressor". No seu curto período de governo, o governador de Nova Iorque propôs e realizou cortes de centenas de milhões de dólares no orçamento para programas sociais.

De qualquer forma, isso não altera o fato de que questões de grande importância foram levantadas pela sua saída.

A verdadeira preocupação nesse episódio está centrada nos métodos usados pelo Departamento de Justiça do governo Bush e suas implicações para a totalidade do sistema político. O que os fatos e seu contexto sugerem fortemente é que Spitzer tenha sido alvejado por poderosos inimigos no governo, que agem sem constrangimentos em favor de seus interesses políticos.

Com seus infindáveis recursos tecnológicos e financeiros, e poderes recém descobertos após as leis criadas sob a farsa da "guerra contra o terror", o governo federal tem os meios de "dar o troco" em seus oponentes, podendo tanto intimidá-los a silenciarem e destruir suas carreiras, quanto trancafiá-los na prisão. Manobras políticas são estabelecidas dessa maneira, e assim figuras proeminentes são eliminadas sem que se verta uma só gota de sangue.

Quantos mais estão sob investigação? Que tipo de impacto terá a cilada armada para Spitzer na vida política americana, em que aqueles que levam uma vida "sem culpa" são pouquíssimos?

Spitzer claramente não estava só no patrocínio ao Emperor´s Club Vip e outros "serviços de acompanhante". Considerando os preços cobrados, os negócios deviam ir muito bem no Emperor´s Club. O governador de Nova Iorque era "cliente-9", e nós ainda não temos informações sobre quem eram os clientes de 1 a 8, que aparentemente seriam advogados de grande reputação e outros "jogadores" importantes.

A aparente predileção de Spitzer por prostitutas expressa profundos e não-resolvidos problemas em seus próprios traços psicológicos e, acima de tudo, dos traços psicológicos de uma certa camada da sociedade cuja imensa riqueza pessoal assumiu dimensões patológicas. Para colocar a questão de maneira simples, Spitzer e as pessoas de seu meio social têm dinheiro demais, o que não pode ser saudável para eles próprios!

Porque para toda essa riqueza e poder, e em um grau significativo por causa dessa riqueza e poder, Spitzer é claramente um indivíduo seriamente desorientado. Apesar de sua aparente arrogância, percebe-se que por trás disso está o mais profundo ódio por si próprio. Trata-se de um homem que precisa de ajuda.

Existem, evidentemente, sérios problemas sociais levantados pela compra dos serviços de outro ser humano para objetivos de satisfação pessoal. Mas não há indicação de que a mídia, ou a política a que ela serve, esteja particularmente interessada em abordar o caso Spitzer por esse ponto de vista. Ao contrário, nesse caso como em tantos outros o uso de um escândalo sexual está inevitavelmente ligado à degradação da vida política oficial e sua virada cada vez mais à direita.

Muitas questões permanecem sobre o caso. Ao contrário das alegações de vários comentadores de que as autoridades estariam investigando um esquema de prostituição e acidentalmente "esbarraram" em Spitzer, a investigação parece certamente ter começado por causa dele.

De acordo com o Washington Post "A investigação criminal sobre Spitzer começou quando o North Folk Bank notificou o departamento financeiro de crimes do Tesouro sobre atividade suspeita em uma das contas pessoais do governador. Outra fonte familiarizada com o caso afirmou:

`Neste caso, a notificação do banco foi engatilhada pela tentativa de Spitzer de realizar uma transação em dinheiro de $10 000 em três parcelas, de acordo com um oficial de justiça sênior familiarizado com as provas do caso. Quando os investigadores investigaram mais profundamente as transações, descobriram que os beneficiados eram aparentemente empresas laranja associadas ao Emperor´s Club [o alegado serviço de prostituição].´"

A ABC News declarou: "A investigação federal sobre um esquema de prostituição nova iorquino foi engatilhada pelas transferências suspeitas de dinheiro do gov. Eliot Spitzer, que inicialmente levaram os agentes federais a suspeitar que Spitzer estaria escondendo subornos, de acordo com os oficiais federais."

"Foi apenas meses depois que o IRS [receita federal] e o FBI determinaram que Spitzer não estava escondendo subornos, mas sim pagamentos para uma empresa denominada QAT, que os promotores dizem ser uma operação de prostituição operando sob o nome do Emperor´s Club."

O analista legal Scott Horton do site da Harper´s Magazine observa: "O Departamento de Justiça tem na verdade que dar uma justificativa completa de porque estava investigando os pagamentos de Spitzer, justamente porque a sugestão na versão da ABC é de que eles não teriam nada a ver com uma rede de prostituição. A sugestão de que isso foi sugerido por um inquérito do IRS envolvendo um banco pode aumentar, mais do que apaziguar, preocupações sobre uma perseguição de motivações políticas".

"Todos esses fatos são consistentes com um tipo de processo que não é uma investigação de um crime, mas na verdade uma tentativa de construir um caso contra um indivíduo."

De fato é necessário que se pergunte em que nível a operação investigativa teria sido aprovada. Teria ela sido aprovada pelo advogado geral Michael Mukasey? Estaria George W. Bush envolvido?

O caso se tornou propriedade da Seção de Integridade Pública do Departamento de Justiça, notória no governo Bush por investigar 5,6 vezes mais democratas do que republicanos. De acordo com o seu web site, a Seção de Integridade Pública "coordena os esforços federais para combater a corrupção através de processos contra todo tipo de figuras públicas eleitas ou indicadas em todas as esferas governamentais." A investigação de Spitzer não tinha nada a ver com com corrupção ou conflito de interesses, outra das supostas preocupações da seção.

Ter relações com uma prostituta é considerado um crime menor na maioria das jurisdições dos EUA, mas o Departamento de Justiça fez ainda assim uma dispendiosa operação investigativa. De acordo com o Washington Post, o FBI começou a "espionar Spitzer" em janeiro, colocando uma "equipe de vigilância" no Mayflower Hotel em Washington.

Quando Spitzer supostamente pagou uma garota de programa para viajar de Nova Iorque a Washington em fevereiro, oficiais de justiça ressuscitaram o famigerado Mann Act, a "Lei do Tráfico de Escravas Brancas" de 1910, que baniu o transporte interestadual de mulheres para "propósitos imorais" e que tem sido usado numerosas vezes para propósitos reacionários, incluindo os casos do boxeador negro Jack Johnson, Charlie Chaplin e o músico Chuck Berry.

Nenhum dos relatórios da Seção de Integridade Pública para 2006, 2005 ou 2004, que citam dúzias de casos de recebimento de propina e tráfico de influência, tem sequer uma referência sobre o Mann Act.

O caso se refere justamente à política nos EUA e como ela é conduzida atualmente. Com grande alarde, o governo americano iniciou a "guerra contra o terror", estreitou as regras que regulam atividades bancárias para combater "as finanças terroristas", e o que ele alcançou com isso? Alcançou o envolvimento do governador de Nova Iorque num sórdido escândalo sexual!

A resposta da imprensa rasteira era previsível, um misto de obscenidade e moralização. O New York Post de Rupert Murdoch publicou em sua primeira página a chamada "Eu dormi com Spitzer", juntamente com uma fotografia de uma loira em lingeries mínimas e manchetes como "Como o cão safado armou o clima" e "Delícias para viajem põe governador em má companhia", ao mesmo tempo em que afirmava que o comportamento de Spitzer era "tão barato, tão degradante para o cargo que ocupa, tão pouco merecedor da confiança do público, que as palavras faltam."

A resposta da imprensa liberal e liberal de esquerda era talvez igualmente previsível. O New York Times foi quem publicou o furo, somando mais uma a seu currículo de facilitador para escândalos-fofoca da ala-direita. O Times emprestou sua credibilidade ao caso Whitewater nos anos 90, alvejou os Clinton, deu todo espaço para o escâdalo Mônica Lewinsky e legitimou a inquisição sobre Kenneth Starr, e mais tarde iniciou uma caça às bruxas ao cientista nuclear de Los Alamos Wen Ho Lee. O Times está repetidamente envolvido nesse tipo de operação, por oportunismo e cegueira política.

Os liberais de esquerda do Nation reagiram ao escândalo Spitzer com sua costumeira superficialidade. O colunista John Nichols apenas conseguia escrever sobre o caso do ponto de vista do impacto supostamente negativo nas aspirações presidenciais da senadora de Nova Iorque Hillary Clinton, a quem Spitzer estava apoiando contra o senador de Illinois Barack Obama. A equipe editorial do Nation apóia amplamente a Obama.

Berrava Nichols: "Ano passado a Clinton falava e fala [sic] sobre como ela queria tanto o apoio de Spitzer e quão importante ela achava que isso era para sua campanha presidencial..."

"Clinton achara seu homem. Depois de muita bajulação, ele endossou sua candidatura."

"Agora ele é outra dor de cabeça para a Clinton..."

"ui."

"ui para Spitzer."

"ui para todos os democratas de Nova Iorque, incluindo uma certa senadora Nova Iorquina."

A derrubada politicamente objetivada do governador de Nova Iorque é um incidente significativo, parte da transformação da cena política americana. A resposta de Nichols é de uma total falta de seriedade. Será que essas pessoas pensam sobre o que escrevem? A citação acima e a que se seguia a ela, em que Nichols faz alarde da necessidade de louvar o novo governador, David Paterson, um hesitante político democrata, como um "ativista" e um "progressista", são respostas banais a certas preocupações políticas imediatas do corpo editorial do Nation.

O caso Spitzer é terrivelmente americano, reflexo de um país onde questões sociais e de classes não se desenvolvem ainda numa luta aberta, mas através de mensagens codificadas, metáforas e escândalos. Enquanto isso, a população trabalhadora não tem outra opção senão escolher entre este ou aquele político milionário.

A crescente recorrência aos métodos de estado policial para a regulação das diferenças políticas demonstra que as questões sociais e de classe estão ameaçando cada vez mais fortemente emergir à superfície.