Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 7 de junho de 2008.
A economia dos EUA perdeu 49000 empregos em maio, levando a
um aumento de mais 0,5% na taxa de desemprego oficial -o maior
aumento de um mês ao outro desde 1986, de acordo com os
dados divulgados pelo Labour Department. Os preços
do petróleo subiram violentamente no mesmo dia do anúncio,
resultando num aumento de mais de US$ 10 o barril.
Os mercados financeiros, por sua vez, também reagiram
violentamente aos fatos, com o New York Stock Exchange
e o NASDAQ despencando imediatamente logo após a abertura
dos mercados, ambos fechando em baixa de aproximadamente 3%. As
taxas de câmbio pareciam relativamente estáveis,
com o boato de que o Federal Reserve poderia aumentar as
taxas de interesse, mas caíram em relação
ao Euro assim que o preço do petróleo atingiu novo
recorde.
O acentuado aumento no desemprego -de 5 para 5,5%- surpreendeu
os analistas, que vinham prevendo um aumento de apenas 0,1%. A
redução de empregos em maio seguiu a redução
de 28 mil empregos em abril, e foi na verdade o quinto mês
consecutivo de queda. Desde o início do ano, desapareceram
324 mil postos de trabalho nos EUA.
26 mil empregos industriais foram perdidos em maio, logo após
a perda de 49 mil empregos em abril. A redução média
dos empregos no setor manufatureiro será ainda exacerbado
pelos cortes na General Motors, que irá cortar quase 19
mil postos de trabalho com o PDV (Plano de Demissões Voluntárias)
que se inicia a partir do dia 1º de julho.
A crise no mercado imobiliário e financeiro também
repercutiu nos empregos; o setor da construção civil
demitiu 34 mil, logo após uma queda de 52 mil postos em
abril. O setor de serviços perdeu 8 mil empregos e o varejo
demitiu 27 mil, enquanto aproximadamente mil postos de trabalho
foram perdidos no setor financeiro. Esses números já
estão refletindo nas pesquisas de opinião com o
consumidor, que mostram que os índices de confiança
na economia chegaram ao seu nível mais baixo nos últimos
15 anos. Desse modo, o consumo também chegou ao seu nível
mais baixo desde a recessão de 2001.
Também tem ocorrido aumento semelhante nas reduções
da força de trabalho a longo prazo, como vimos com o recente
anúncio da firma Challenger, Gray & Christmas
de que ao todo 100 mil cortes de empregos foram anunciados em
maio, um número 17% maior do que no mesmo mês de
2007. Várias das maiores companias aéreas anunciaram
cortes significativos nessa semana; mais recentemente, a Continental
Airlines, que afirmou na quinta-feira que irá cortar
3 mil postos de trabalho, número equivalente a 7% da sua
força de trabalho.
O aumento inesperadamente alto nas taxas de desemprego -que
se reflete não apenas no número de desempregados,
mas também no número de pessoas procurando emprego-
parece ter sido afetado pelo influxo de estudantes buscando os
chamados summer jobs (empregos temporários nas férias).
Economistas entrevistados pela grande imprensa dizem esperar que
parte do aumento no desemprego irá ser reduzido mais pra
frente, e observam que os salários tem sido até
mais favoráveis do que o esperado.
Mas ainda assim os anúncios geraram um frenesi em Wall
Street, já que os especuladores passaram a vender seus
dólares e investir em petróleo, levando o preço
do barril ao pico de US$ 139,12 pouco antes dos mercados fecharem
com um aumento de US$ 10,75, ao preço de US$ 138,54 o barril.
Outras commodities sofreram menores aumentos, e o EURO
aumentou 1% em relação ao dólar, atingindo
US$ 1,58. A inesperada agressividade das negociações
forçou o New York Mercantile Exchange a paralisar
temporariamente algumas de suas operações.
O aumento constante no desemprego e a queda nos salários
revelam a possibilidade de que se materialize nos próximos
meses uma severa recessão nos EUA -algo que muitos analistas
já vêem há um bom tempo ignorando- e que irá
aprofundar os problemas para o Federal Reserve, que na
última semana deu indicações de que poderia
aumentar os juros para fortalecer o dólar e limitar a exposição
dos EUA à alta dos preço das commodities.
A reação frenética de Wall Street às
notícias pode ser atribuída ao papel fundamental
do consumo interno na alimentação da economia dos
EUA. Já que os consumidores estão pesadamente endividados
e perderam economias com a desvalorização de suas
casas gerada pelo colapso da bolha imobiliária, qualquer
descréscimo no número de empregos -e logo da renda-
provavelmente se manifestará em concordatas e falências.
Isso, por sua vez, irá desestabilizar os mercados de crédito,
restringindo empréstimos e levando a mais demissões.
James Knightle, do ING Group, disse ao Financial
Times: A expectativa é de que os mercados financeiros
irão continuar a se enfraquecer... Isso é má
notícia para o setor imobiliário, que já
está tendo que lidar atualmente com rebaixamento dos salários,
queda no preço de imóveis e empréstimos ainda
mais caros. Isso certamente continuará a reduzir os gastos
do consumidor e irá, em nossa opinião, ajudar a
manter a depressão econômica por mais tempo do que
os mercados financeiros estão considerando.
O índice Dow Jones sofreu sua pior queda em 15
meses, fechando em queda de 394 pontos ou 3,13%, enquanto o NASDAQ
caiu 2,96%. O S & P Financials Index foi especialmente
atingido, caindo 5%. O índice caiu ao seu nível
mais baixo desde março, apesar dos empréstimos emergenciais
e dos cortes nas taxas de interesse realizadas pelo FED furante
os três últimos meses. A Lehman Brothers,
sobre a qual houve rumores de falência durante a crise do
Bear Stearns 3 meses atrás e que é considerada
particularmente vulnerável aos maus empréstimos
hipotecários, respondeu à diminuição
no seu nível de crédito no início dessa semana
com a preparação para aumentar seu capital em mais
5 bilhões de dólares.
Indo atrás das estatísticas de desemprego, as
execuções hipotecárias atingiram seu nível
mais alto na primeira quinzena. De acordo com dados divulgados
pela Mortgage Bankers Association, 8,82% de todas as hipotecas
americanas já foram ou estão sendo executadas. A
associação divulgou que 2,47% das hipotecas foram
executadas no primeiro bimestre, quase o dobro dos 1,28% de hipotecas
executadas no mesmo bimestre de 2007. A porcentagem de hipotecas
sem pagamento -isto é, aquelas cujos donos não pagaram
suas dívidas mas que ainda não foram executadas-
pulou de 4,84% para 6,35% no mesmo período. Isso mesmo
com o FED cortando as taxas de interesses pela metade no mesmo
período.
Como os devedores têm ficado cada vez mais sem opção
para refinanciamento dos valores de suas casas, e como os preços
das casas têm se desvalorizado constantemente, uma grande
proporção daqueles que não pagam suas dívidas
acabam tendo suas hipotecas executadas. Dessa forma, os dados
mais recentes já indicam que as hipotecas antes consideradas
de baixo risco, hoje já mostrar aumentados níveis
de execução. Christopher Mayer, professor de Mercado
Imobiliário na Columbia Business School, disse ao
Washington Post: Os recentes aumentos [na execução
de hipotecas] têm vindo dos grupos de clientes considerados
mais seguros. Eles serão os próximos na queda.