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Relato de testemunha de Atenas, Grécia

22 de dezembro de 2008

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Protestos e manifestações continuam na Grécia devido o assassinato do jovem Alexis Grigoropoulos, de 15 anos. Vários grupos organizados reiniciaram os protestos na quarta e quinta-feira em Atenas e Salônica. Diversas universidades, colégios técnicos, escolas secundaristas públicas e privadas estão ocupadas. Incidentes ocorreram do lado de fora do Fórum de Salônica após ser suspendida a sentença de prisão a oito políciais acusados de espancar um jovem em 2006.

Na quarta-feira, manifestantes também fincaram duas bandeiras enormes nos escombros da Acrópole. A iniciativa foi destinada a mobilizar apoio em outros países europeus. Uma bandeira trazia a palavra "Resistência" escrita em grego, inglês, italiano e alemão e a segunda chamava por "Manifestações de solidariedade em toda Europa".

Em sequncia, cerca de 40 pessoas - incluindo trabalhadores, imigrantes e desempregados - ocuparam a central do principal sindicato do país, GSEE, para protestar contra as orientações a favor do governo dadas pelo sindicato. Já o líder do GSEE, Yiannis Panagopoulos, disse: "O GSEE não governa esse país".

Mais protestos tomaram conta do centro de Atenas na quinta-feira. Os sindicatos e o Partido Comunista Stalinista da Grécia (KKE) organizaram sua própria mobilização independente da dos estudantes. No entando, a grande maioria esteve com os estudantes. Dez mil participaram da principal manifestação, que saiu das universidades e caminhou até o parlamento grego. Quando chegaram, houve confrontos violentos entre os manifestantes e um grande número de policias paramilitares.

Todos os vôos vinculados ao aeroporto de Atenas foram paralisados por muitas horas na quinta-feira, pois os próprios controladores de vôo protestavam contra as políticas governamentais e exigiam aumento nos salários.

Incluímos abaixo um relato enviado a nós por um estudante de Atenas que participou da manifestação da segunda-feira.

Na segunda-feira, dia 15 de dezembro, entre 2.000 e 3.000 estudantes reuniram-se à tarde do lado de fora da delegacia geral de polícia da Ática (subdivisão grega que engloba Atenas) para conduzir um protesto pacífico contra a morte de Alexandros Grigopoulos e levantar suas reivindicações por um sistema educacional melhor.

A maioria dos estudantes desceu a avenida Alexandras, onde fica a delegacia de polícia, e protestou de forma pacífica. Alguns deles até ofereceram flores aos policias. No entanto, o ambiente ficou tenso quando um alto contingente de policiais das forças especiais (em seus uniformes verdes) juntou-se em torno do prédio da delegacia para "protegê-lo".

Alguns estudantes responderam jogando laranjas na polícia, que então forçou os manifestantes a recuar. Estes, em seguida, formaram sua própria linha de defesa contra um ataque das forças policiais, que estavam armadas com cassetetes e spray de pimenta. No auge da tensão, um homem de meia idade colocou-se entre os estudantes e a policia e começou a gritar aos policiais (veja a foto): "Vocês me fazem sentir vergonha de ser um cidadão grego com suas atitudes. Eles são apenas crianças. Vocês estão destruindo sua inocência com a brutalidade". Ele, então, se virou para os muitos aplausos da multidão. Inicialmente, a polícia não reagiu, mas, algum tempo depois, começou a atacar repentinamente a todos, usando gás lacrimogêneo e tentando prender alguns estudantes.

A agressão da polícia enfureceu os manifestantes, que começaram a responder com pedras. Mais e mais policiais chegaram e suas fileiras pareciam um exército. Mais uma vez, a polícia atacou a multidão para realizar detenções. O que dessa vez funcionou.

Um dos estudantes foi preso e espancado. Diversos cidadãos e outros estudantes tentaram resgatá-lo da polícia. Entretanto, esta começou a responder com gás lacrimogêneo a todos os que se aproximavam.

Alguns mapnifestantes começaram a atear fogo nas latas de lixo. A polícia reagiu imediatamente e fez um último ataque para prender o máximo que pudesse. Infelizmente, conseguiram prenderam um jovem adolescente que não percebeu muito bem o que estava acontecendo. Depois das prisões, dos ataques com gás e das ameaças da polícia, a maioria dos estudantes prosseguiu para a Universidade de Medicina.

No caminho para a Universidade de Medicina, passamos por alguns hospitais. Muitos médicos declararam seu apoio, dizendo que consideravam o movimento de massas como uma luta pela verdadeira democracia. Na entrada do hospital havia uma placa dizendo: "Não à privatização do sistema de saúde; não à privatização dos hospitais; mais médicos nos hospitais, melhores salários".

A decadência do sistema de saúde grego é um problema grave. Há poucos médicos, que são muito mal pagos e trabalham em hospitais muito velhos. Essas são as razões da corrupção do sistema, com alguns médicos pedindo dinheiro aos pacientes.

Vale comentar que a maioria dos policiais eram pessoas jovens como nós. Isso me faz sentir mal, porque, em outras circunstâncias, poderiam ser meus amigos, colegas de classe. Ao mesmo tempo, era claro que vários agentes da polícia secreta estavam infiltrados nos protestos estudantis, fazendo perguntas e entregando os estudantes às forças da repressão.

Na quinta-feira, o primeiro ministro, Kostas Karamanlis, fez um discurso ao seu time de governo, da Nova Democracia. Ele condenou os movimentos de massa da seguinte forma: "Nós repudiamos os acontecimentos dos últimos dias. Não apoiamos violência e não apoiamos essas atitudes que excedem os limites". Ele desculpou-se à família do jovem Alexandros, mas deixou claro que sua prioridade era a imagem internacional da Grécia e as implicações dos protestos para a economia. "Esses eventos estragaram a imagem do nosso país. Nosso país depende muito do turismo. Agora nós fizemos dele um país inseguro e isso pode afetar nossa economia no futuro".

Os protestos também se espalharam pela mídia. Na terça-feira, um grupo de estudantes ocupou um dos canais de TV do estado, a NET, para protestar contra a cobertura feita pela mídia do movimento e divulgar suas demandas. Seu protesto foi totalmente pacífico. No entanto, o presidente do canal, Christos Panagopoulos, declarou que pretende apresentar queixas.

Os estudantes carregavam um cartaz que dizia: "Pare de ver TV e vá para a rua", referindo-se às pessoas que somente assistiam os fatos pelo jornal. Os estudantes tinham um texto com suas exigências que pediram para ler na TV, o que não foi permitido. Os pontos principais levantados no texto eram:

"Nossa ação é resultado de uma pressão acumulada, que rouba nossas vidas, e não apenas uma erupção emocional devido a morte de Alexandros Grigoropoulos";

"Nós protestamos contra a cobertura dos eventos feita pela mídia. Acreditamos que a mídia cultiva sistematicamente o medo. Ao invés de informar, desinforma. Apresenta as várias revoltas como um reflexo cego. Nós denunciamos a violência da polícia e queremos a imediata libertação dos que foram preseos. Pela emancipação humana e liberdade".

Tal ação foi denunciada imediatamente pelo governo, que disse que ações como essa impedem a função independente da mídia.

[traduzido por movimentonn.org]