Este artigo apareceu no wsws.org originalmente em inglês
no dia 19 de dezembro de 2008.
Estudantes secundaristas protestaram por toda a França
na quinta-feira contra uma reforma das escolas planejada pelo
ministro nacional da Educação, Xavier Darcos. O
dia escolhido para a mifestação, 18, era também
em solidariedade aos estudantes gregos, que fizeram um chamado
por manisfestações em toda a Europa para o mesmo
dia.
As estimativas da imprensa sobre o número de manifestantes
vão de 80.000 a 160.000, números extraordinariamente
altos para uma manifestação de secundaristas. Isto
reflete o crescente inconformismo social, impulsionado pelas grandes
perdas financeiras e industriais decorrentes da atual crise econômica
e pela erupção dos protestos de massa anti-governo
na Grécia.
A reforma de Darcos criou uma grande oposição
geral porque resultará em 13.500 demissões na área
educacional e diminuirá o número de horas de diversas
matérias, como história e geografia.
Darcos anunciou no dia 15 de dezembro que adiará a aprovação
da lei na Assembléia Nacional, onde o partido conservador
UMP tem maioria suficiente para assegurar a aprovação.
Os estudantes estão amplamente cientes de que, apesar
do adiamento, o governo ainda planeja implementar a reforma Darcos.
Eles também se opuseram à convocação
de uma greve geral e um dia nacional de mobilização
somente em 29 de janeiro. Tal proposta foi amplamente negada,
pois em seu entendimento ela visou quebrar o movimento nas ruas,
atrasando em mais de um mês a próxima grande manifestação.
Discursando na quarta-feira ao Conselho dos Ministros, o presidente
Nicolas Sarkozy disse: "O trabalho das reformas irá
continuar. [...] Xavier decidiu, como vocês sabem, conceder
a si mesmo o tempo para explicar o motivo pelo qual as escolas
precisam ser reformadas e como isso deve ser feito. Eu aprovei
essa proposição porque acredito firmemente que a
reforma é essencial para a nossa juventude e precisa ser
implementada".
As manifestações aconteceram em todas as regiões
do país: 5.000 estudantes marcharam em Rennes e Nancy,
2.500 em Caen e Montpellier e 4.000 em Marseille. Em Lyon, onde
10.000 estudantes tomaram as ruas (5.000 de acordo com os relatórios
policiais), a polícia disparou cápsulas de gás
lacrimogêneo e, ao final da passeata, os estudantes reagiram
atirando pedras. Relatos indicam que dois carros foram virados
e que as janelas de um ônibus foram quebradas.
Em Paris, estudantes montaram barricadas em 40 escolas (de
um total de 105 na região). Estudantes do Maurice Ravel
e do Hélène Boucher bloquearam o tráfego
na Cours de Vincennes e um número estimado de 13.000 estudantes
marchou na principal manifestação ao longo da Boulevard
St. Michel, passando pelo Ministério Nacional da Educação.
Uma equipe de repórteres do WSWS compareceu à manifestação
na Boulevard St. Michel.
Uma delegação de professores da FSU (Federação
Sindical Única) encabeçava a coluna, junto com estudantes
secundaristas da UNL (União Nacional de Estudantes Secundaristas)
e da FIDL (Federação Democrática Independente
de Estudantes Secundaristas), que formavam o corpo principal.
Era notável a ausência da CGT (Confederação
Geral do Trabalho) e da CFDT (Confederação Francesa
Democrática do Trabalho), que normalmente enviam delegações
para apoiar manifestações como essa. Isso reflete
a desilusão e a hostilidade geral contra a colaboração
dessas centrais sindicais com Sarkozy, bem como o ânimo
popular, que se esquenta cada vez mais. Também não
estava presente a Liga Comunista Revolucionária (LCR),
cujo candidato presidencial, Olivier Besancenot, recebe atualmente
uma proeminente cobertura da mídia, que o caracteriza como
um oponente das políticas do livre-mercado.
O WSWS conversou com os manifestantes Quentin, Guillaume e
Yohan. Yohan explicou: "Somos contra a eliminação
de empregos de magistrados e as reformas curriculares, especialmente
porque já estamos esmagados em salas de aula com 50 alunos".
Ele disse que as manifestações na Grécia
são testemunho de "um sentimento geral de que já
basta: primeiro eram apenas os anarquistas nas ruas, agora é
toda a população. Então provavelmente [a
movimentação] se espalhará por toda a Europa".
Ele também disse que as manifestações
devem se alastrar para incluir "todas as profissões"
ameaçadas pela crise econômica e pelas reformas liberais
de Sarkozy.
Um repórter do WSWS observou que Sarkozy planeja segurar
a aprovação da lei para o momento em que as manifestações
estiveram diluídas, o que significa que uma luta vitoriosa
contra a lei requer uma perspectiva política de longo prazo
para levar abaixo o governo. Yohan respondeu: "É verdade
que o governo está completamente surdo ao que dizemos;
nos vê com nada além de desprezo".
Valoy e Darmaëlle, do Lycée Maurice Ravel, disseram
ser "contra Darcos, porque a lei pode ter sido postergada,
mas ainda está lá". Darmaëlle disse: "Os
diferentes cursos escolares acabam sendo muito diferentes entre
si. Por isso é difícil [o que é proposto
pelo governo]. Reduzir o número de horas durante as quais
recebemos instrução que tipo de idéia
é essa? Todas as matérias, como história
e geografia, são importantes".
Valoy disse: "Precisamos ter mais e mais manifestações,
precisamos esvaziar as escolas. Precisamos ter um movimento nacional
para ocupar as escolas".
Virginie disse: "Adiar a reforma não é o
suficiente ela precisa ser imediatamente retirada. Eles
poderiam retirá-la. [Esses cortes educacionais] não
são assunto de Darcos. Mas para eles [do governo] é
só uma questão de dinheiro".
E complementou: "Algo de real precisa ser feito em relação
a essa crise. Você não pode esperar 6 anos depois
de receber seu diploma escolar para conseguir um emprego. Existe
uma necessidade real pela mudança, pela ação.
Se as coisas mudarem, aí será uma coisa boa. Não
estamos aqui para quebrar as coisas, mas queremos mostrar que
não concordamos com o que está acontecendo. As pessoas
precisam perguntar nossa opinião".