Ao final da quarta-feira, dia 10, cerca de 250 trabalhadores
da Republic Windows and Doors terminaram uma ocupação
de 5 dias de uma fábrica em Chicago, EUA, após muita
luta e ter sua principal reivindicação atendida.
A ação dos trabalhadores da Republic foi um grande
passo a frente para os trabalhadores e a primeira ação
independente da classe trabalhadora em resposta a crise econômica
mundial. Os trabalhadores lutaram com determinação
e coragem, insistindo que não deixariam a fábrica
enquanto não recebessem os benefícios pelos quais
tinham direito legalmente.
Sua luta em pouco tempo se tornou referência para trabalhadores
de todo o país ? e de todo o mundo ? como revolta e resistência
diante dos cortes massivos de empregos e da política do
governo de despejar trilhões de dólares para salvar
os bancos e as instituições financeiras. Sua luta
suscitou apoio por todo os EUA.
Eles saíram da fábrica na quarta-feira à
noite, declarando vitória em relação a sua
luta. Cada trabalhador receberá US$ 6.000, incluindo oito
semanas de indenização, pagamento das férias
e dois meses de seguro de saúde cobertos.
Enquanto que do ponto de vista dos trabalhadores o atendimento
de suas reivindicações seja uma vitória,
é bastante limitada. Os trabalhadores da Republic perderão
seus empregos num momento em que nenhum outro decente será
encontrado. Em dois meses, não terão nenhum seguro
de saúde. A economia dos EUA e mundial entrou na sua pior
crise econômica e os trabalhadores da Republic engrossarão
as fileiras dos milhões de desempregados que enfrentarão
a crise.
O caráter limitado de sua luta ? por não ter
se contraposto abertamente ao fechamento da fábrica ? se
deve somente à United Electric Workers (UE), o sindicato
da categoria, e não aos trabalhadores.
A fábrica Republic Windows and Doors, em Chicago, foi
ocupada por 250 trabalhadores. Em 2 de dezembro, trabalhadores
foram informados que a fábrica seria fechada permanentemente
dentro de três dias e que eles seriam despedidos. Eles,
então, ocuparam a fábrica e exigiram aindenização
e o pagamento das férias como restituição
pela violação de uma lei federal, que estipula que
os trabalhadores devem ser avisados com 69 dias de antecedência
sobre o fechamento das fábricas. Os patrões alegam
que não podem pagar os trabalhadores porque o Bank of America,
um de seus maiores credores, havia cortado sua linha de crédito.
A greve dos trabalhadores da Republic atraíu apoio difuso.
Desde que a ocupação começou, trabalhadores
e estudantes de Chicago e muitos outros lugares visitaram a fábrica,
expressando sua solidariedade através de mensagens de apoio
e doações.
O Bank of America emitiu um pronunciamento na segunda-feira
(07), no meio das negociações, indicando que desejava
fazer um empréstimo para que a Republic ajustasse sua folha
de pagamento. Além disso, disse estar "preparado para
fornecer um limite adicional de empréstimo" e lamentou
"a incapacidade da Republic em pagar seus funcionários".
Contudo, em seguida, como noticiou o sindicato dos trabalhadores
(United Electrical Workers, UE), o próprio banco voltou
atrás e relatou que seu pronunciamento do dia anterior
tinha sido um erro.
A administração da fábrica tinha intenção
de fechá-la desde outubro. No mês, começou
a retirar equipamentos da fábrica, transferindo-os para
outra em Iowa. Os trabalhadores perceberam que ferramentas não
eram mais encontradas na fábrica. Segundo eles, os equipamentos
eram transportados na calada da noite.
A fábrica alegou que seus pedidos caíram acentuadamente
nos mês passado. Entretanto, os trabalhadores desconfiavam
que a fábrica estivesse realmente falida.
A Republic pertence a Richard Gillman. Anteriormente, Gillman
era um investidor da companhia, mas a comprou por completo em
2006. Ele se orgulha de que, sob sua liderança, a Republic
reduziu suas despesas em 47% e aumentou a produtividade em 30%.
No entanto, lamenta que a companhia tenha sido punida com o colapso
do mercado imobiliário.
Uma equipe do World Socialist Web Site (wsws.org) visitou
a fábrica ocupada para falar com trabalhadores e aqueles
que lá prestavam apoio. A fábrica fica numa zona
industrial na margem noroeste do centro de Chicago, perto do Chicago
Tribune, que acabou de pedir proteção por falência.
Na entrada da fábrica havia diversas dúzias de
trabalhadores, um ratazana gigante inflável ? simbolizando
os donos da Republic ? assim como diversas vans que pertenciam
a jornais.
Muitos trabalhadores contaram ao WSWS que não podiam
falar com a mídia. O sindicato deles, a União dos
Eletricistas (UE), havia limitado o contato com a mídia,
selecionando um punhado de trabalhadores para a comunicação
e permitindo o acesso da mídia somente a períodos
limitados. Leah Fried, uma dirigente da UE, assumiu a maior parte
da comunicação com os jornais, especialmente com
aqueles de dimensão nacional.
Os trabalhadores são, em grande parte, latinos. Há
também um grande número de afro-americanos empregados
na fábrica. Estão bastante revoltados com a contradição
gritante entre os bilhões dados pelo governo para salvar
Wall Street e o crescente corte de empregos. Eles vêem a
luta que protagonizaram como algo histórico e sabem que
utrapassa os muras da fábrica.
Como dissemos acima, a ocupação da fábrica
Republic representa a primeira reação independente
da classe trabalhadora americana diante do aprofundamento da crise
econômica. Ao ocupar a Republi,c os trabalhadores transgrediram
a mais sagrada das leis oficiais dos EUA ? a santidade da propriedade
privada e a ditadura capitalista sobre a produção.
O exemplo dos trabalhadores da Republic mantém um acentuado
contraste com a posição da burocracia sindical da
UAW (United Auto Workers) diante da ameaça de falência
das Três Grandes montadoras dos EUA (Ford, GM e Chrysler).
A UAW já indicou que tudo está certo na sua luta
por ressuscitar as margens de lucro das grandes produtoras de
carros. Isto inclui o fechamento de fábricas, demissões
em massa, cortes nos salários e benefícios dos operários.
Com o desdobramento da ocupação em Chicago, trabalhadores
do setor automotivo e outros têm agora um exemplo de luta
a ser seguido, que evoca as greves com ocupação
dos anos 30, que levaram à sindicalização
da indústria automobilística em 1937.
É preciso dizer novamente: se, em algum sentido, a luta
dos trabalhadores da Republic foi limitada, é por conta
das limitações do seu sindicato. Essa limitação
não vem da luta dos trabalhadores em si ? que é
corajosa a sem precedentes na história recente dos EUA.
Para lutar contra a destruição dos empregos e
dos fechamentos das fábricas, trabalhadores precisam se
armar com novas perspectivas políticas independentes dos
dois maiores partidos políticos e derrubar a burocracia
sindical. Juntos, os dois partidos e a burocracia sindical, defendem
apenas o sistema de lucro que tem produzido a crise econômica
atual.
Implicitamente, a ocupação da fábrica
Republic propõe uma luta pelo socialismo. A indústria
e o sistema finaceiro devem ser tomadas das mãos dos capitalistas
e reorganizadas, em todo mundo, buscando defender os empregos
e os níveis de vida dos trabalhadores, atendendo suas necessidades
sociais.