O texto abaixo é a segunda parte (em três)
de artigo baseado numa palestra apresentada pelo autor no verão
de 2007.
Os eventos do Ruhr
Retomemos alguns eventos de 1923.
Um ano e meio após o Terceiro Congresso da Internacional
Comunista (Comintern ou III Internacional), os conflitos internos
ao Partido Comunista Alemão (KPD) ainda não estavam
resolvidos. Após a ocupação do Ruhr pelo
exército francês, os conflitos entre a direção
majoritária do partido e a oposição de esquerda
irromperam novamente e com toda a força. As diferenças
emergiram sobre a questão do apoio dado pelo KPD ao governo
da ala esquerda do Partido Social-Democrata Alemão (SPD)
na Saxônia, bem como sobre a política a ser adotada
na região do Ruhr, ocupada pelos franceses.
No momento, o partido era dirigido por Heinrich Brandler, membro
fundador da Liga Espártaco [Spartakusbund]. Enquanto
muitos dos esquerdistas passavam para a direita, uma nova facção
de esquerda se agrupava sob direção de Ruth Fischer,
Arkadi Maslow e em menor grau Ernst Thälmann.
Fischer e Maslow eram ambos jovens intelectuais que ingressaram
no movimento após a guerra. Tinham a maioria da seção
de Berlin atrás de si. Thälmann era um trabalhador
que ingressara no KPD por meio do SPD-Independente (USPD) e era
dirigente do partido em Hamburgo.
No dia 10 de Janeiro, caiu o governo do SPD na Saxônia
e o KPD conduziu uma campanha por uma frente única e um
governo dos trabalhadores. Enquanto isso, a maioria do SPD defendia
uma coalizão com partidos burgueses e apenas uma minoria
de esquerda defendia a aliança com o KPD. Este, por sua
vez, desenvolveu uma forte e vigorosa agitação e
publicizou um "Programa dos Trabalhadores" que incluía
as seguintes demandas: confisco das propriedades da antiga família
real; armamento dos trabalhadores; desmantelamento do judiciário,
da polícia e da administração governamental
(parlamento); chamado por um congresso dos conselhos de fábricas
e pelo controle dos preços pelos comitês eleitos.
Tais reivindicações ganharam apoio dentro do
SPD, onde a ala esquerda tornou-se maioria. Ela aceitava o "Programa
dos Trabalhadores" com apenas uma exceção:
a dissolução do parlamento e a convocação
de um congresso de conselhos de fábricas. Com base nisso,
retirando esses pontos do programa, um governo do SPD foi criado
com apoio do KPD.
Esse passo foi apoiado pela maioria do KPD, inclusive por Karl
Radek, no momento uma importante figura dirigente da Internacional,
mas bastante denunciado pela esquerda do KPD. Estes viam seu apoio
ao governo da Saxônia não como uma tática
momentânea para ganhar os trabalhadores social-democratas,
mas como uma adaptação aos social-democratas de
esquerda, os quais consideravam iguais aos de direita. Suas suspeitas
não eram sem razão. Como mostraram os eventos ulteriores,
em 21 de Outubro, Brandler desmantelou a insurreição
em preparo porque os social-democratas diziam não estar
prontos para apoiá-la.
No Ruhr, o KPD distanciava-se bastante do SPD, que dava amplo
apóio à campanha de "resistência passiva"
do governo de Wilhelm Cuno. O Governo Cuno, por sua vez, colaborava
com as gangues paramilitares apoiadas secretamente pelo
exército e composta de elementos claramente fascistas
encorajando-as a realizar atos de sabotagem contra os franceses.
Tais medidas atraíam reacionários e fascistas de
toda Alemanha para o Ruhr. O SPD encontrou-se, portanto, em verdadeira
aliança com tais forças.
O KPD denunciou o nacionalismo do SPD como um repetição
de sua política de 1914, quando votou pelos créditos
da guerra imperialista, e opôs-se fortemente a ela. Chamava
pela luta tanto contra a ocupação francesa quanto
contra o governo berlinense. Uma edição do Rote
Fahne [Bandeira Vermelha Jornal do KPD] trazia
como manchete: "Lutar contra Poincaré e Cuno no Ruhr
e em Spree". Tais linhas logo se confirmaram, quando os trabalhadores
começaram a se rebelar contra as insuportáveis condições
sociais, protestando contra a ocupação francesa,
contra os industrialistas locais, bem como contra o governo de
Berlin.
Mas, logo os líderes da esquerda do KPD assumiram uma
posição diferente, agitando-a nos encontros do partido
em Ruhr. Ruth Fischer defendia um chamado para que os trabalhadores
tomassem as fábricas e minas; pela tomada do poder político
e o estabelecimento da República Democrática dos
Trabalhadores do Ruhr. Esta República poderia, então,
tornar-se base para um exército dos trabalhadores que,
por sua vez, iria "marchar até a Alemanha central,
tomar o poder em Berlin e destruir de uma vez por todas a contra-revolução
nacionalista". [1]
Sua linha era, na verdade, aventureira, repetição
da ação de Março de 1921. Um levante no Ruhr
teria permanecido isolado e sem apoio no resto da Alemanha. Além
disso, o Ruhr estava cheio de organizações fascistas
e paramilitares que não aceitariam passivamente um levante
operário. Os franceses, por sua vez, olhavam com bons olhos
os protestos contra o governo alemão, mas assumiriam outra
posição em relação a uma insurreição
operária.
Diante do crescimento da briga entre as facções
do KPD, Zinoviev, então secretário da Internacional
Comunista, convidou ambos os lados para Moscou, onde assumiram
um compromisso. Assim, a Internacional concordava com o apoio
dado ao SPD, embora criticasse algumas formulações
do apoio, indicando que essa deveria ser uma tática apenas
momentânea. Em relação ao Ruhr, rejeitou os
planos de Fischer.
A resolução acordada, aprovada por unanimidade,
não dava indicações de que a direção
da Internacional estava atenta à velocidade dos eventos
na Alemanha, ou mesmo que tirava muitas conclusões de tais
eventos. Pelo contrário, a resolução dizia:
"As diferenças surgidas do lento desenvolvimento revolucionário
da Alemanha e das dificuldades objetivas às quais conduz,
alimentam, simultaneamente, divergências de direita e de
esquerda". [2]
A "Linha Schlageter"
Em junho, Radek introduziu uma nova linha que, posteriormente,
confundiu e desorientou o KDP era a chamada "Linha
Schlageter".
O KPD preocupava-se, há certo tempo, com o crescimento
do fascismo na Alemanha. Em 22 de outubro, Mussolini tomou o poder
em Roma, após uma campanha violenta de seus destacamentos
armados, os fasci, contra as organizações
operárias e trabalhadores militantes.
Na Alemanha, anteriormente, a extrema-direita limitava-se apenas
a remanescentes do exército imperial e a pequenos partidos
anti-semitas. Mas, em 1923, começava a crescer e ganhar
base social, embora muito menor que a de Hitler na década
de 1930. Atividades contra os "Criminosos de novembro",
contra os judeus e estrangeiros encontraram apoio entre elementos
deslocados da pequeno-burguesia, bem como entre alguns trabalhadores
pauperizados pelo impacto da inflação. No Ruhr,
membros da extrema-direita apresentavam-se como heróicos
combatentes contra a ocupação francesa.
A Baviera, em particular, com suas largas áreas rurais,
tornou-se praticamente um baluarte da extrema-direita. Após
a repressão sangrenta à Republica Soviética
de Munique, em 1919, a região tornou-se antro de organizações
nacionalistas, fascistas e paramilitares.
Em 7 de abril, Albert Schlageter, um membro da Freikorps, foi
preso pelo exército francês em Düsseldorf porque
tinha participado de ataques com bomba a estradas de ferro. Foi
sentenciado à morte por uma corte militar e executado em
26 de maio. A direita imediatamente o tornou um mártir.
Na reunião do Comitê Executivo da Internacional Comunista
(ECCI), em junho, Radek propôs que o KPD disputasse os trabalhadores
e os elementos pequeno-burgueses seduzidos pelo fascismo, juntando-se
a essa campanha e adaptando-se ao nacionalismo dos fascistas.
"As massas pequeno-burguesas, os intelectuais e técnicos
que desempenharão um importante papel na revolução
assumem a posição de um antagonismo nacional ao
capitalismo, que os está relegando", defendeu Radek.
"Se nós queremos ser um partido dos trabalhadores,
capaz de empreender a luta pelo poder, temos que achar um caminho
que possa nos aproximar das massas, e devemos encontra-lo não
por meio da diminuição de nossas responsabilidades,
mas pela defesa de que a classe trabalhadora sozinha pode salvar
a nação". [3]
Mais tarde, na reunião, elogiou solenemente Schlageter
que, enquanto "um valente soldado da contra-revolução",
ainda "merece sinceras homenagens da nossa parte, como soldados
da revolução." "O ocorrido a este mártir
do nacionalismo alemão não deve ser esquecido, ou
meramente honrado em breves palavras", disse Radek. "Nós
precisamos fazer de tudo para proteger os homens que, como Schlageter,
estão prontos para dar suas vidas por uma causa comum,
vindo a ser não viajantes no vazio, mas viajantes na direção
de um futuro melhor para toda a humanidade".
A Linha Schlageter foi eleita pela Rote Fahne e predominou
por diversas semanas. Ela criou uma grande confusão entre
as fileiras comunistas, as quais tinham resistido até então
às pressões nacionalistas. Por outro lado, não
há a mínima indicação de que tenha
enfraquecido as fileiras nazistas com a exceção
de alguns poucos e desorientadas nacional-bolcheviques, que entraram
para o KPD e criaram muitos problemas antes que fosse possível
livrar-se deles novamente. A campanha-Schageter proveu de ampla
munição a propaganda anticomunista do SPD e tornou
muito difícil para o Partido Comunista Francês (PCF)
organizar a solidariedade entre os soldados franceses para com
os trabalhadores alemães.
A greve contra Cuno
Enquanto Radek desenvolveu a Linha Schlageter, a luta de classes
na Alemanha se intensificou. Em junho e julho, agitações
e greves contra a alta dos preços estouraram por todo o
país. Participavam com freqüência centenas de
milhares de trabalhadores, entre eles setores que nunca antes
tinham participado de uma luta social. Para dar um exemplo: No
começo de junho, 100.000 trabalhadores rurais e 10.000
diaristas entraram em greve em Brandenburgo
Em 8 de agosto, o Chanceler Cuno se dirigiu ao Reichstag
[Parlamento]. Exigia novos cortes e ataques sobre a classe trabalhadora
e combinava tais demandas com voto de confiança. O SPD
buscava salvar-se abstendo-se de votar. Em seguida, tendo início
em Berlim, desenvolveu-se uma espontânea onda de greves
exigindo a renúncia do governo de Cuno. Em 10 de agosto,
uma conferência de representantes de sindicatos, sob pressão
do SPD, rejeitou o chamado por uma greve geral. Mas, no dia seguinte,
uma conferência de conselhos de fábrica, apressadamente
convocada pelo KPD, tomou a iniciativa e anunciou uma greve geral.
Três milhões e meio de trabalhadores participaram.
Em diversas cidades, aconteceram batalhas com os policiais e dezenas
de trabalhadores mortos. No dia seguinte, o governo Cuno renunciou.
As leis burguesas foram profundamente abaladas. "Nunca houve
um período na história moderna alemã que
foi tão favorável para uma revolução
socialista como no verão de 1923", escreveu Arthur
Rosenberg. Momentaneamente, o SPD salvou a burguesia. Contra considerável
resistência nas suas próprias fieiras, entrou num
governo de coalizão liderado por Gustav Stresemenn do Deutsche
Volkspartei (DVP Partido Popular Alemão), um
grande partido de negócios.
Preparando a revolução
Somente então, após as greves contra Cuno, em
agosto, o KPD e a Internacional Comunista percebeu a oportunidade
revolucionária que havia se desenvolvido na Alemanha. Em
21 de agosto ou seja, exatamente dois meses antes da insurreição
cancelada por Brandler o Bureau Político do Partido
Comunista Russo decidiu preparar-se para uma revolução
na Alemanha. Formou uma "Comissão de Obrigações
Internacionais" para supervisionar o trabalho na Alemanha.
Ela era composta por Zinoviev, Kamenev, Radek, Stalin, Trotsky
e Chicherin e, depois, Dzerzhinsky, Pyatakov e Skolnikov.
Nos dias e semanas que se seguiram, houve numerosas discussões
e contínua correspondência com os líderes
do KPD, que freqüentemente viajavam a Moscou. Suporte financeiro,
logístico e militar foi organizado para armar centenas
de operários, preparados nos meses anteriores. Em outubro,
Radek, Pyatakov e Skolnikov foram mandados para a Alemanha, para
preparar o levante.
Mas foi Trotsky, acima de tudo, quem lutou incansavelmente
para superar o fatalismo e a complacência existentes na
seção alemã e no Partido Russo. Enquanto
isso, Stalin escreveu a Zinoviev: "Na minha opinião,
os alemães precisam ser contidos e não encorajados",
e "Para nós, seria uma vantagem os fascistas entrarem
em greve antes". Trotsky insistiu que e insurreição
devia ser preparada em um período de semanas, ao invés
de meses, e a data definitiva devia ser escolhida. [4]
O que a primeira vista parecia apenas uma proposta organizativa
a escolha de uma data era, na realidade, uma grande
proposta política. De acordo com a preocupação
de Trotsky, a principal tarefa no momento era concentrar todas
as energias e atenções do partido no preparo da
revolução. De uma preparação propagandística
mais geral, ela tinha de passar à preparação
prática da insurreição.
Durante o encontro do Bureau Político do Partido Russo,
em 21 de agosto, Trotsky disse: "O quão longe vai
o ânimo das massas revolucionárias alemãs?
A sensação de que estão no caminho da revolução
tal sentimento existe. O problema posto é o problema
da preparação. O caos revolucionário não
pode ser selado com borracha. A questão é: ou começamos
a revolução, ou a organizamos". Trotsky alertou
sobre o perigo de que fascistas bem organizados poderiam esmagar
ações descoordenadas de trabalhadores, e exigiu:
"O KPD precisa escolher um tempo limite para a preparação,
para a preparação militar e em tempo correspondente
para agitação política".
Tal linha sofreu maior oposição por parte de
Stalin. Este argumentava contra um tempo planejado, alegando que
"os trabalhadores continuam acreditando na Social-democracia"
e que o governo poderia durar por outros oito meses. [5]
Brandler, em uma carta para o Comitê Executivo da Internacional
datada de 28 de agosto, também sustentava um longo período:
"Eu não acredito que o governo Stresemann vai viver
muito mais", escreveu. "Entretanto, não acredito
que a próxima onda, que já se aproxima, vai decidir
a questão do poder. (...) Nós devemos tentar concentrar
nossas forças para que possamos, se for inevitável,
assumir a luta em seis semanas. Mas, ao mesmo tempo, fazer os
preparativos para estarmos prontos com o trabalho mais sólido
em cinco meses". Além disso, acrescentou que acreditava
que um período de seis a oito meses seria o mais provável.
[6]
Em discussões posteriores entre a comissão russa
e a liderança alemã, um mês depois, Trotsky
voltou ao assunto do cronograma. Interrompeu a discussão
sobre a posição a respeito do problema do Ruhr,
e disse: "Eu não compreendo por que tanta relevância
é dada para o caso Ruhr. (...) O problema, agora, é
tomar o poder na Alemanha. Essa é a tarefa, o restante
decorrerá disso".
Trotsky respondeu, então, às preocupações
de que os trabalhadores alemães lutariam por reivindicações
econômicas, mas não tão facilmente por objetivos
políticos. "A inibição política
é nada mais que certa dúvida, por conta das marcas
que as derrotas anteriores deixaram no cérebro das massas",
disse. "O partido só pode ganhar a classe trabalhadora
alemã para a luta revolucionária decisiva
e a situação está aqui, agora , se
convencer uma larga seção da classe trabalhadora,
sua direção, de que também é organizacionalmente
capaz de liderar a vitória no sentido mais concreto da
palavra... A expressão de tendências fatalistas pelo
partido, aí é que está o grande perigo".
Trotsky explicou, em seguida, que o fatalismo pode assumir
diferentes formas: primeiro, se diz que a situação
é revolucionária, o que é repetido todos
os dias. Isso se torna usual e a política passa a ser esperar
pela revolução. Então, se dá armas
aos trabalhadores e se diz que isso levará ao conflito
armado. Mas, ainda assim, é apenas o "fatalismo armado".
Através da informação repassada por seus
camaradas alemães, Trotsky concluiu que eles concebiam
a tarefa como fácil demais. "Se a revolução
é para ser mais do que uma perspectiva confusa", disse
ele, "se é para ser a tarefa principal, deve ser tomada
por uma tarefa prática, organizativa... É preciso
estabelecer uma data, preparar e lutar." [7]
Em 23 de setembro, Trotsky publicou, inclusive, um artigo no
Pravda: "Pode uma Contra-revolução ou Revolução
ser Feita com Tempo Marcado?" Trotsky discutia a questão
em termos gerais, sem mencionar a Alemanha, já que o pedido
de definição de uma data para a revolução
alemã por um representante-chave da direção,
como ele, poderia provocar uma crise internacional ou mesmo uma
guerra. Mas, mesmo assim, o artigo é uma contribuição
à discussão sobre a Alemanha.
A revolução perdida
Uma data para o levante foi finalmente definida: 9 de novembro.
Mas, os eventos ganhavam velocidade.
Em 26 de setembro, o chanceler Stresemann anunciou o fim da
resistência passiva contra a ocupação francesa
do Vale do Ruhr. Argumentou que não havia outra maneira
de controlar a hiperinflação. Isso provocou a extrema-direita.
No mesmo dia, o governo da Baviera decretou estado de emergência
e instalou uma ditadura liderada por Ritter von Kahr. Von Kahr
colaborou com os nazistas de Hitler e, imitando a marcha de Mussolini
sobre Roma, planejou uma marcha em Berlim para instalar uma ditadura
nacional. Kahr tinha o apoio do comandante das tropas da Reichswehr
[Defesa do Império], posicionadas na Baviera.
O governo de Berlim reagiu estabelecendo sua própria
forma de ditadura. Todo o poder executivo foi transferido ao Ministro
da Defesa, que o delegou ao General Hans von Seeckt, comandante
da Reichswehr. Seeckt simpatizava com a extrema-direita
e se recusava a disciplinar os comandantes bávaros rebelados.
Líderes industriais, como Hugo Stinnes, apoiavam o plano
de uma ditadura nacional, optando por Seeckt como ditador.
Em 13 de outubro, o Reichstag, depois de vários
dias de discussão, aprovou um ato autorizando a abolição
pelo governo das conquistas sociais da revolução
de novembro, incluindo a jornada de 8 horas. O SPD votou a favor
do ato. Enquanto os ministros do SPD e outros planejavam novos
ataques aos direitos dos trabalhadores, um golpe que lhes poderia
custar a vida era preparado.
A Saxônia e a Turíngia eram os centros da resistência
da classe trabalhadora contra tais preparações contra-revolucionárias.
Nos dois estados, em 10 e 16 de outubro, respectivamente, o KPD
juntou-se aos governos da esquerda do SPD. Isso era parte do plano
elaborado em Moscou. Pela entrada em um governo de coalizão,
o KPD esperava fortalecer sua posição e ter acesso
a armas.
Mas, apesar do fato de que ambos os governos eram formados
de acordo com a lei existente e dirigidos por uma maioria parlamentar,
o comandante da Reichswehr na Saxônia, General Müller,
se recusava a reconhecer a autoridade de ambos os governos. Em
concordância com o governo berlinense, submeteu a polícia
ao seu próprio comando.
Ameaçado pela Baviera, que faz fronteira com a Saxônia
e a Turíngia no sul, e pelo governo central em Berlim,
situado ao norte, o KPD teve de adiantar seus planos para a revolução.
Chamou um congresso de conselhos de fábrica em Chemnitz,
Saxônia, no dia 21 de outubro. O congresso deveria convocar
uma greve geral e dar o sinal para a insurreição
em toda a Alemanha.
Mas, como os social-democratas de esquerda não concordavam,
Brandler cancelou os planos e interrompeu o levante. A maioria
dos delegados teriam apoiado a convocação da greve
geral, como Brandler escreveu em uma carta privada a Clara Zetkin,
sua confidente próxima. Mas, mesmo assim, ele não
quis agir sem o apoio dos social-democratas de esquerda.
"Durante a conferência de Chemnitz eu percebi que
não poderíamos, sob quaisquer circunstâncias,
partir para a luta decisiva, uma vez que não havíamos
conseguido convencer a esquerda do SPD a assinar a decisão
de greve geral", escreveu Brandler. "Contra a massiva
resistência, eu mudei o curso e evitei que nós, Comunistas,
fossemos ao combate sozinhos. É claro que poderíamos
ter recebido uma maioria de dois terços em favor de uma
greve geral na conferência de Chemnitz. Mas, o SPD teria
deixado a conferência, e seus slogans confusos, sobre como
a intervenção do Reich contra a Saxônia tinha
simplesmente o propósito de ocultar a intervenção
do Reich contra a Baviera, teriam quebrado nosso espírito
de luta. Então, eu conscientemente lutei por um compromisso
desagradável". [8]
A decisão de cancelar a revolução não
chegou em Hamburgo a tempo. Lá, uma insurreição
foi organizada, mas permaneceu isolada e foi derrotada dentro
de 3 dias.
Embora o congresso de Chemnitz ainda estivesse reunido, o Reichswehr
começou a ocupar a Saxônia. Conflitos armados causaram
a morte de vários trabalhadores. Em 28 de outubro, o presidente
Friedrich Ebert um social-democrata deu ordens ao
Reichsexekution contra a Saxônia. Ordenou a remoção
forçada do governo da Saxônia encabeçado
por Erich Zeigner, também um social-democrata pelo
Reichswehr. A indignação pública foi
tão massiva, que o SPD foi obrigado a retirar-se do governo
Stresemann em Berlim. Alguns dias depois, o Reichswehr
entrou na Turíngia e removeu o governo local.
A deposição desses dois governos de esquerda
por Ebert e Seeckt encorajou a extrema-direita da Baviera. No
dia 8 de novembro, Adolf Hitler proclamou a "revolução
nacional" em Munique e ensaiou um golpe. Seu objetivo era
forçar o ditador da Baviera, Kahr, a marchar em Berlim
e, lá, tomar o poder. Hitler foi apoiado pelo General Ludendorff,
um dos mais altos comandantes militares da Primeira Guerra Mundial.
O golpe Hitler-Ludendorff falhou. Berlim já havia se
movido tanto para a direita que a direita da Baviera não
precisava mais de uma figura tão dúbia como Hitler.
Ebert se acomodou ao golpe, delegando o comando sobre todas as
forças armadas e o poder executivo a Seeckt. Embora as
instituições da República de Weimar ainda
existissem formalmente, a Alemanha seria, então, governada
por uma ditadura militar de facto até março de 1924.
Continua
[traduzido por movimentonn.org]
Notas:
1. Citado por Pierre Broué (The German
Revolution 1917-1923, Haymarket Books: 2006) p. 702.
2. Citado por Broué, ibid., p. 705.
3. Citado por Broué, ibid., p. 726.
4. Bernhard H. Bayerlein u.a. Hsg., (Deutscher Oktober 1923.
Ein Revolutionsplan und sein Scheitern, Berlin: 2003) p. 100.
5. Ibid., pp. 122-27.
6. Ibid., pp. 135-136.
7. Ibid., pp. 165-167.
8. Ibid., pp. 359.