Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 19de setembro de 2007.
A Internacional Estudantil pela Igualdade Social (ISSE-
International Students for Social Equality) condena o ataque
brutal realizado na segunda-feira (17/09) a um estudante na Universidade
da Flórida como sendo uma escandalosa violação
dos direitos democráticos e da liberdade de expressão.
O estudante de jornalismo foi imobilizado, algemado, atacado com
uma arma de choques elétricos e preso pela polícia
universitária durante um fórum promovido por John
Kerry, senador do Partido Democrata e candidato à presidência
em 2004.
O ataque ao estudante Andrew Meyer, um veterano de 21 anos
da Faculdade de Jornalismo e Comunicações, ocorreu
depois de Meyer questionar explicitamente Kerry acerca de sua
recusa e do Partido Democrata em promover ações
judiciais contra a fraude eleitoral nas eleições
de 2004, pelo impeachment do presidente Bush, ou de se opor às
preparações para a guerra do Irã.
Kerry permaneceu calado, enquanto seis policiais imobilizaram
o estudante durante seu questionamento ao senador, e usaram pelo
menos uma vez uma arma de choques elétricos. Na terça-feira,
Kerry recusou-se a condenar as ações da polícia.
A polícia deve ter tido uma razão para tomar
esta atitude, disse Kerry, acrescentando que o ataque ao
estudante era uma questão de aplicação
da lei.
O incidente começou quando Meyer aproximou-se de um
microfone aberto ao público durante uma seção
de perguntas-e-respostas. Citando um livro do jornalista Greg
Palast, que denunciou irregularidades eleitorais nas eleições
de 2004, Meyer disse: [Palast] afirmou que você ganhou
as eleições de 2004 - não é maravilhoso?
Existiram múltiplos relatos de cassação de
eleitores negros no dia da eleição em 2004 na Flórida
e em Ohio.
Kerry rapidamente o interrompeu: Então, qual é
a pergunta, qual é a pergunta? Um policial de um
grupo da polícia universitária que estava diretamente
atrás de Meyer o abordou e pediu que deixasse o microfone.
Dirigindo-se ao policial, Meyer disse: Ele esteve falando
por duas horas - eu acho que eu posso ter dois minutos, muito
obrigado. Ele perguntou ao senador como, com tantos exemplos
impressionantes de fraudes sendo relatados durante a votação,
ele pôde ceder no dia?
Em seguida Meyer perguntou ao senador: se você
se opõe tanto à invasão do Irã, como
você não está dizendo: vamos exigir
o impeachment de Bush agora? Votemos o impeachment
de Bush agora antes que ele invada o Irã! Meyer
lembrou que quando o Congresso era dominado pelo Partido Republicano,
foi pedido o impeachment de Bill Clinton com argumentos
completamente levianos.
Ele perguntou então: você era um membro
da Skull and Bones na faculdade com o Bush?
Naquele momento, o microfone foi cortado e a polícia
segurou Meyer pelos braços e começou a empurrá-lo
para fora do auditório.
Meyer protestou gritando: Eu não fiz nada! Eles
estão me prendendo! Eu não fiz nada!
Depois de ser levado até o fundo do auditório,
Meyer conseguiu liberar seus braços por alguns instantes,
antes de ser seguro pelo pescoço e imobilizado pelos policiais.
Eles começaram a aplicar-lhe choques elétricos,
empurraram-no para fora do auditório e prenderam-no.
O ataque dos policiais registrado em várias gravações
de vídeo, provocou nervosismo, gritos e protestos do público.
Kerry, ao contrário, permaneceu completamente indiferente.
Enquanto Meyer estava no chão pedindo ajuda, Kerry comentou
sarcasticamente: depois que o tirarem de lá eu responderei
a sua pergunta. Infelizmente, ele não pode vir aqui e me
xingar como um presidente.
Fora do auditório, a polícia do campus disse
a Meyer que ele estava preso por provocar a desordem.
Ele foi levado para a prisão do condado de Alachua e acusado
de resistir com violência à prisão - um delito
grave - de perturbar a paz e interferir nas funções
administrativas da faculdade - crimes pouco graves. As acusações
podem levá-lo a 5 anos de prisão.
Esse ataque fascista a um estudante que estava simplesmente
exercendo sua liberdade de expressão e de forma alguma
ameaçando o senador ou perturbando o encontro faz parte
da política que procura criar um clima de medo, intimidação
e repressão nas universidades do país.
Nos últimos meses, um grande número de professores
tem sido demitido ou forçado a se afastar mediante campanhas
realizadas por organizações de direita. Norman Finkelstein,
um respeitadíssimo acadêmico e crítico do
sionismo foi impedido de dar aulas na Universidade DePaul por
causa de suas opiniões. Ward Churchill, professor da Universidade
do Colorado, foi demitido em julho com a alegação
de que as suas interpretações a respeito da história
dos EUA constituíam falsificação histórica.
O campus da Universidade da Califórnia em Irvine anulou
na semana passada uma oferta para o cargo de reitor feita ao professor
Erwin Chemerinsky, jurista eminente e crítico do governo
Bush, tendo depois que refazer a oferta por causa da pressão
pública.
Esses são apenas os episódios mais flagrantes
de uma campanha generalizada. Organizações como
a CampusWatch estão realizando uma caça às
bruxas com relação a acadêmicos que defendem
posições de esquerda e fazem críticas às
políticas militaristas e anti-democráticas do governo.
Eles estão fazendo isso numa situação na
qual crescentes parcelas dos estudantes e da juventude estão
se direcionando para a oposição a todo o regime
político.
As questões levantadas por Meyer refletem os sentimentos
de enormes setores da população. Sua prisão
provocou um protesto de centenas de estudantes na Universidade
da Flórida na terça-feira.
Todo estudante deveria se perguntar: se é assim que
as autoridades reagem a um estudante que faz perguntas em um fórum
público, qual será a reação ao desenvolvimento
de protestos de massas? O tratamento recebido por Meyer é
um alerta a estudantes de todo o país.
Por trás do ataque aos direitos democráticos
está a crescente polarização social nos EUA
- um país onde os estudantes são forçados
a ter grandes despesas, um número recorde de famílias
da classe trabalhadora está sendo despejado de seus lares,
e milhões são levados à miséria em
conseqüência do enxugamento das empresas, enquanto
pouquíssimos gerentes de fundos apropriam-se de bilhões
de dólares por ano. A indiferença de Kerry ao tratamento
dado a Meyer reflete a postura real dos políticos dos dois
partidos - muitos deles milionários como Kerry - em relação
à população.
Com o aumento da oposição à guerra do
Iraque e a futuras guerras, combinada à insatisfação
social por causa da crescente desigualdade e insegurança
econômica, a resposta do regime político será
a repressão. O aparato já foi montado, com o apoio
dos dois partidos, por meio do aumento da espionagem doméstica
e dos poderes policiais do governo.
A ISSE exige que todas as acusações contra Andrew
Meyer sejam retiradas. Exigimos também uma investigação
criminal a respeito da conduta da polícia da Universidade
da Flórida. Este não é o primeiro incidente
que envolve o uso de uma arma de choques elétricos contra
um estudante desarmado. Em novembro de 2006, a polícia
da Universidade da Califórnia Los Angeles (UCLA) agiu dessa
forma com um estudante que deixava a biblioteca.
A ISSE, a organização estudantil do Partido da
Igualdade Socialista (Socialist Equality Party - SEP),
lançou uma campanha pela construção de núcleos
por todo o país. Estamos lutando pelo desenvolvimento de
um movimento internacional contra as guerras do Afeganistão
e do Iraque e a crescente ameaça de guerra contra o Irã,
baseado numa ruptura com o Partido Democrata e todos os partidos
da elite.
Nós consideramos que é impossível acabar
com essas guerras por meio de apelos ao Congresso ou ao Partido
Democrata. Elas somente serão encerradas por meio da mobilização
independente da classe trabalhadora, dos estudantes e da juventude,
numa luta contra o sistema capitalista, que é a origem
de toda a guerra. Nós chamamos os estudantes da Universidade
da Flórida e de todo o mundo a construir a Internacional
Estudantil para a Igualdade Social e juntar-se à luta pelo
socialismo internacional.
Vídeos do incidente estão circulando amplamente
pela Internet(Student Brutally Tasered by Police at John
Kerry Q&A; UF Student Tasered at John Kerry Q & A)