Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 25 de setembro de 2007.
Uma equipe de repórteres do World Socialist Web Site
(www.wsws.org) esteve numa planta de montagem da GM na cidade
de Hamtramck, em Detroit, na segunda-feira de manhã (24/09),
quando os trabalhadores deixaram a fábrica. A fábrica
produz os modelos de luxo Buick Lucerne e Cadillac DTS.
Os trabalhadores que deixavam a fábrica diziam que não
haviam sido avisados pelo Sindicato dos Trabalhadores da Indústria
Automobilística dos Estados Unidos e Canadá (UAW
- United Auto Workers) que haveria uma greve e se queixaram
de terem ficado desinformados durante todo o período de
negociações.
Às 11h da manhã, Frank Moultrie, presidente do
sindicato regional de número 22 apareceu no portão.
Questionado por um repórter do WSWS quais questões
estavam em negociação, respondeu: não
temos detalhes.
Ao ser perguntado por que o sindicato não estava dando
nenhuma informação para os trabalhadores, Moultrie
argumentou: nós não podemos falar com a mídia.
Quando chegar a hora [o presidente do UAW, Ron] Gettelfinger fará
um pronunciamento. Eles nos darão detalhes quando estiverem
prontos.
Logo após o anúncio da greve, os trabalhadores
deixaram a fábrica de Hamtramck e se juntaram a outros
nas dependências do sindicato regional 22, no sudoeste de
Detroit. Em frente ao edifício, do outro lado da rua, fica
um enorme terreno vazio onde uma vez funcionava a fábrica
de montagem do Cadillac. A fábrica, que já empregou
10.000 trabalhadores, fechou em 1987 e foi posteriormente demolida.
Sua fábrica irmã - a Fleetwood Body - onde já
trabalharam, ao mesmo tempo, 6.000 filiados do UAW, também
fechou naquele ano. A fábrica de Hamtramck em Detroit,
construída com a demolição do bairro de Poletown,
hoje emprega menos de 3.000 trabalhadores.
Os fechamentos da GM devastaram a área. Uma em cada
três pessoas no sudoeste de Detroit vive atualmente abaixo
da linha nacional de pobreza.
No sindicato, os trabalhadores demonstravam raiva pela falta
de informação. Expressavam, também, ceticismo
com relação à proposta de criação
de um fundo conhecido como Associação Voluntária
de Benefício dos Empregados (VEBA -Voluntary Employees
Benefit Association). Através deste fundo as empresas
passariam para o sindicato o controle das responsabilidades com
a assistência médica dos aposentados, pagando apenas
uma porcentagem por dólar devido.
Reginald, um trabalhador com 22 anos de casa na fábrica
de Hamtramck, Detroit, disse ao WSWS: eu não quero
a VEBA. Eles têm uma associação dessas na
Goodyear há apenas um ano e já estão processando.
O sindicato deveria cuidar de coisas do sindicato e a empresa
de coisas da empresa.
Eu estou vendo o sindicato ficar cada vez mais fraco.
Agora parece que o sindicato e a diretoria da empresa estão
juntos e parece que é isso mesmo que eles querem.
A gente só recebe partes da informação
pelo sindicato. Eu consigo a maior parte da informação
que eu tenho na internet. O melhor a fazer e se informar o máximo
possível.
John, empregado há 28 anos na fábrica disse:
há dois anos a GM começou a falar que não
estava dando dinheiro o suficiente. Como você continua sendo
a número um por 50 anos sem dar dinheiro?
Eles têm lucro estando ou não estando no
nível das japonesas.
Os grandes investidores dizem que terão mais lucro
demitindo e cortando os salários dos trabalhadores. Cada
um desses executivos quer ganhar milhões e milhões.
Eles estão ganhando mais dinheiro do que se pode gastar
em toda uma vida.
Os aposentados trabalharam sob as piores condições
trinta anos atrás, com ferramentas que tinham um torque
máximo. Eles fizeram a parte deles e agora a empresa quer
tirar os benefícios deles.
Quanto a essa VEBA, eu não quero que o sindicato
controle os benefícios. Nós achamos que é
uma piada. Olha o que aconteceu na Caterpillar. Eles ficaram sem
dinheiro e começaram a cortar benefícios.
Dentro da fábrica dizemos que o sindicato e a
diretoria estão rindo juntos. Todo mundo sabe que o sindicato
é parte da administração da empresa. Olha
os dirigentes saindo e indo para festas no clube de Black Lake.
Eu acho que essa greve é só uma enganação
para fazer de conta que o sindicato está lutando.
Kelly Williams, que trabalha na Livonia Engine, uma fábrica
de motores da GM na cidade de Livonia, comenta: eu entrei
na Delphi depois da greve de 1998 e fui transferida para a GM.
Eu não quero nenhum corte salarial e não vou votar
a favor de nada que se pareça com essa VEBA, que for tirar
benefícios dos aposentados.
Na Delphi os trabalhadores tiveram um corte salarial
de US$ 7 a hora. Não se sustenta uma família com
isso. Eu sou mãe solteira de dois filhos. Se eles cortam
o meu salário seria uma desgraça. Eu venho de Toledo
[a mais de 95 km de distância] todos os dias. Eu pagava
US$ 200 de gasolina por mês. Agora eu pago US$ 400. Talvez
eu tenha que vender a minha casa.
A fábrica Livonia Powertrain talvez seja fechada
se eles não conseguirem mais um modelo de motor para produzir.
Quando eu fui contratada, em 1999, havia 1.100 trabalhadores empregados
lá. Agora são 290, com todo mundo se aposentando,
assinando demissões voluntárias e sendo transferidos.
Robert Kirby, outro filiado do sindicato regional número
22, que está a 27 anos na GM, observa: essa VEBA
vai ser paga pela empresa, que vai dar bilhões de dólares
para o sindicato. As pessoas não confiam no sindicato.
Eu ouvi que eles vão ganhar milhões só para
administrar o fundo.
Nos últimos 10 anos o sindicato decaiu. Eles não
lutam mais como costumavam. Antigamente quando você ligava
para um representante do sindicato para pedir ajuda ele vinha
para o chão da fábrica e conversava com você
antes de ir até a diretoria. Agora eles falam com o chefe
primeiro e fazem um acordo ou simplesmente falam para você
esperar um mês para ter uma resposta.
A empresa e o sindicato põe as fábricas
umas contra as outras. Um modelo novo de carro vai para a fábrica
que aceitar mais reduções, não para a que
fizer o melhor produto. Você tem que abrir mão do
salário ou do intervalo para manter o emprego. Se não,
eles fecham a sua fábrica.
Eles querem que a gente trabalhe sempre por menos dinheiro.
Mas nós não vivemos num estado de custo de vida
baixo. Eles sempre falam que recebemos US$ 30 por hora, mas, e
os US$ 600 por mês que gastamos com gasolina ou os US$ 4.000
que pagamos de impostos sobre as nossas casas?
O sindicato não entra em greve na hora certa,
quando iria realmente atrapalhar a companhia. Eles deixam a empresa
acumular toneladas de carros. A GM diz que a greve é boa
porque eles podem reduzir o estoque.
A companhia diz que está quebrada, mas eles estão
ganhando dinheiro a rodo. É possível que eles queiram
voltar para o tempo da escravidão quando os ricos ficavam
sentados e nós trabalhávamos de graça. Eu
temo pelos meus netos e o pelo mundo no qual eles vão crescer.
Tem bilhões de dólares para a Guerra e
nada para as 50 milhões de pessoas que não têm
plano de saúde. O presidente é sócio de empresas
de petróleo e todo mundo sabe que essa guerra é
por petróleo. Se não tivesse petróleo no
Oriente Médio os EUA não estariam preocupados com
o terrorismo.
Outro trabalhador antigo da fábrica de Hamtramck disse
ao WSWS: há somente 2.500 trabalhadores na fábrica
agora, incluindo os qualificados. Nós percebíamos
que alguns empregos seriam eliminados por causa da tecnologia,
mas parece que, independente do que a gente faça para torná-los
mais competitivos, nunca é o suficiente. Já fizemos
concessões e ainda não é o suficiente. Não
entendo como um executivo da empresa ganha um bônus de US$
10 milhões e a companhia ainda tem prejuízo.
Esse sistema de dois níveis de salário
não é nada novo. Nós temos trabalhadores
temporários que ganham US$ 18 sem benefícios. Eles
trabalham como temporários indefinidamente. Se eles reclamam,
contratam outro. Temos uma linha inteira que só tem temporários
e, acredite, eles trabalham duro.