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Alemanha: Trabalhadores da Telekom começam greve contra o rebaixamento dos salários e o aumento da jornada

Por Brigitte Fehlau
19 de maio de 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 15 de maio de 2007.

No dia 11 de maio, 11.000 trabalhadores da Deustche Telekom começaram uma greve por toda a Alemanha, que fazia parte de uma campanha nacional de protestos e greves. Na segunda-feira (14), mais 3.000 trabalhadores juntaram-se à greve da maior companhia de telecomunicações da Europa. As ações foram dirigidas contra os planos de reestruturação elaborados pela companhia, que resultarão em gigantescos cortes salariais para os trabalhadores da Telekom e futuras perdas de empregos na companhia de telecomunicações.

Um representante do sindicato Verdi afirmou que, surpreendentemente, a disposição para a greve está bem alta. No dia 3 de maio, centenas de trabalhadores da Telekom aproveitaram o encontro geral anual da companhia para manifestar a sua revolta em relação ao plano de corte de custos divulgado pela administração. Como acionistas, os trabalhadores da Telekom tiveram a permissão de participar do encontro. Quando o chefe executivo, René Obermann, falou sobre a necessidade de cortar drasticamente os custos de pessoal, ele foi interrompido por cornetas ao pé do ouvido e gritos que o acusavam de "devorador de empregos".

Em fevereiro, a administração da Telekom anunciou que mais de 50.000 trabalhadores poderiam ser transferidos para as três novas subsidiárias, sob o nome de "T-service". Nas novas unidades, os salários poderiam ser cortados e as horas de trabalho estendidas.

Desde este anúncio, mais detalhes do plano foram divulgados. Os salários serão cortados em 9% e a jornada será aumentada em 4 horas de trabalho semanais - de 34 para 38. Os salários dos trabalhadores recém contratados serão 40% menores, chegando em torno de 20-22 mil euros por ano. Além disso, só há garantia de emprego para os próximos três anos, o que significa que, em 2011, a T-service provavelmente será vendida ao seu maior concorrente.

De acordo com o sindicato, essas medidas representam uma redução total de pagamentos em torno de 30-40%.

A crueldade da atitude da administração da Telekom e da Obermann - a quem os trabalhadores chamam de "buldogue" ou "doberman" - é um reflexo das práticas das empresas nos EUA. Métodos como este estão se tornando, com uma rapidez incrível, a norma em todo o mundo. Firmas de investimentos e fundos de risco compram empresas apenas para se apropriar de seus ativos, e depois vendê-las ou fechá-las.

O grupo Blackstone é um exemplo dessas companhias de investimentos. Em abril de 2006 ele comprou 4,5% da Deutsche Telekom do Instituto de Crédito da Reconstrução (KfW), pertencente ao governo. Desde então, a Blackstone se tornou a terceira maior acionista da companhia e possui um lugar no comitê supervisor da empresa.

A iniciativa deste investimento da Blackstone partiu do governo de coalizão da Alemanha, que consiste na união de partidos conservadores tradicionais - a União Democrática Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU) - com o Partido Social Democrata (SPD). A operação foi pessoalmente supervisionada pelo ministro das finanças, Peer Steinbrück (SPD).

Com isso, os Sociais Democratas tornam-se diretamente responsáveis pelos atuais movimentos rumo ao desmantelamento da Deutsche Telekom e destroem dezenas de milhares de empregos.

O governo alemão ainda é o maior acionista na companhia, possuindo 14,8%, mais um adicional de 16,9% indiretamente, através do Instituto de Crédito para Reconstrução.

O Grupo Blackstone investe em companhias de todo o mundo, nos ramos da manufatura, saúde, energia, tratamento de lixo, mídia e entretenimento, e indústria de alimentação.

Na Alemanha, o grupo Blackstone comprou, de companhias de construção civil, um grande número de apartamentos nas cidades de Kiel, Wuppertal e Mönchengladbach. Ela é representada na Alemanha por Roland Berger e Ron Sommer. Este último foi membro da administração da Telekom de 1995 a 2002.

Desde a compra de ações da Telekom, a Blackstone vêm trabalhando pesado pela reestruturação da companhia, e estava por trás da eleição de Obermann para o cargo de chefe executivo. Seu objetivo é vender os setores não-lucrativos da antiga empresa estatal e ficar apenas com aqueles que geram retorno significativo. Em relação a tudo isso, os atuais planos de reestruturação são apenas o começo.

Alguns artigos publicados na imprensa observam que Obermann tem planos de longo prazo para a Telekom. Uma nova subsidiária está para ser fundada para a divisão T-Systems, que é, dentre outras coisas, responsável por clientes empresariais. A Telekom poderá assegurar apenas uma pequena parcela na T-Systems. De acordo com o site de notícias Netzeitung, "... a divisão terá somente contribuintes financeiros - em apenas um só golpe dezenas de milhares de empregos serão destruídos na Telekom".

Desde que a Deutsche Telekom foi privatizada em 1995, e colocada no mercado de ações no ano seguinte, a companhia teve nada menos que 16 reestruturações, resultando numa perda total de 120.000 empregos. Cada reestruturação foi justificada pela necessidade de implementar "medidas necessárias para assegurar empregos e melhorar o serviço ao cliente". Entretanto, o resultado sempre foi o oposto. Os trabalhadores foram obrigados a pagar o custo da reestruturação, enquanto o comitê administrativo recompensava a si próprio com altos salários e bônus.

Um técnico da Telekom de Berlim descreveu essa história numa carta de protesto ao comitê administrativo, representando o pensamento de muitos trabalhadores: " vocês vêm e reestruturam, com arrogância e se sentindo importantes, sem se referirem ao fato de que a qualidade e a confiabilidade não podem ser mantidas, e nem melhoradas, sozinhas. Nenhum de você está preocupado com as conseqüências de seus atos. Vocês simplesmente procedem dessa maneira, enquanto enchem seus próprios bolsos e vão fazer a mesma coisa na próxima companhia. Sem seguir princípio algum, vocês deixam tudo para trás, numa grande pilha de ruínas".

A greve assinala o início de um novo estágio na luta dos trabalhadores da Deutsche Telekom e coloca tarefas que vão muito além daquelas das lutas tradicionais. O fato de o Governo Federal ser, de longe, o maior acionista e possuir um controle minoritário na Telekom deixa claro que os ataques planejados aos trabalhadores foram preparados em colaboração direta com o governo. Eles agora serão implementados.

A greve significa um confronto político com a grande coalizão do CDU/CSU e SPD, mas o sindicato Verdi é veementemente contrário a esse tipo de luta - possivelmente porque a grande maioria dos dirigentes do Verdi são membros do SPD. Atualmente estes dirigentes possuem uma boa experiência em sabotar protestos que se colocam contra o governo de coalizão.

O maior sindicato da Alemanha, o IG Metall, acabou de fechar um acordo para por fim ao conflito em relação aos salários, impedindo, assim, o desenvolvimento de uma luta conjunta dos trabalhadores da engenharia e dos trabalhadores da Telekom, que poderia se transformar num grande movimento contra o governo.

Com a decisão de iniciar a greve, os trabalhadores da Telekom acabaram assumindo uma batalha contra políticos oportunistas de seu próprio sindicato, que desejam usar a greve como um motivo para "fritar" os trabalhadores, servindo somente para fechar um "compromisso", que na verdade somente dará continuidade à espiral de rebaixamento dos salários e das condições de trabalho.

Muito mais do que nos conflitos anteriores, a atual campanha levanta a necessidade dos trabalhadores adotarem uma estratégia política inteiramente nova, que não se restrinja ao que é possível dentro do confinamento do sistema capitalista, mas que seja baseado num programa internacional e socialista.